"Desconfiai do mais trivial ,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.
(Bertolt Brecht)
Este apelo que Brecht nos deixou tem, nos tempos actuais, plena actualidade e tem destinatários prioritários: somos nós próprios, todos quantos intervêm e se batem por uma ruptura revolucionária, perante o actual quadro político português. Sobretudo constitui uma chamada de atenção para a imperiosa necessidade de avaliarmos sempre - mas sempre! - todos os acontecimentos sociais e políticos a partir de uma perspectiva de classe.
Tal como ocorre na actividade siderúrgica, quando a temperatura da fornalha aquece, quando no cadinho o metal fica em fusão pronto para ser moldado em formas novas, à sua superfície surgem sempre as escórias, com aparência de coisas fortes, duráveis, ocultando o verdadeiro material em acelerada transformação física. Afastar essa escória e observar a realidade da matéria em transformação é o procedimento certo para usar adequadamente o metal, para o moldar e construir os novos instrumentos e meios de produção transformadores da vida material.
Assim é também na luta política, na luta de classes, indispensável discernir os sinais e significados mais profundos dos acontecimentos, evitando cair no erro de palmatória de tomar as suas manifestações na superestrutura, as manobras e mistificações políticas dos protagonistas "institucionais" da democracia burguesa, como espelho da realidade objectiva.
A grandiosidade das manifestações populares que ocorreram no passado sábado (15/9), em quatro dezenas de localidades, tal como a dimensão da vigília nesta sexta-feira frente ao palácio de Belém (21/9), mostram que a atitude política de centenas de milhares de portugueses está alterada, emergindo uma impressionante vontade das massas populares de uma mudança profunda, orientada contra o regime vigente - "contra os partidos, contra os políticos" - gritando nas ruas consignas que recordam os tempos de Abril de 74, numa poderosa condenação do actual rumo de desastre que o governo de turno das troikas (externa e interna) vem impondo aos trabalhadores e ao país, a continuidade lógica das malfeitorias e crimes de lesa-povo que já se prolongam por longos 38 anos, sempre pela mão dos mesmos partidos do grande capital - PS, PSD, CDS - que se vêm revezando no poder.
Sabemos que as estruturas promotoras destas novas acções da luta de massas são organizações de recorte esquerdista e social-democrata. Os seus dirigentes, na sua grande maioria, não querem uma transformação revolucionária do "status quo". Originariamente, visavam o protesto contra a "troika" ocupante, contra o aumento da Taxa Social Única imposta aos salários e rendimentos do trabalho, apontando para um "Basta!" genérico e sem qualquer conteúdo programático. As suas componentes "apartidárias" e as suas manifestações anti-Movimento Operário - "Não queremos os partidos, não queremos os Sindicatos -, revelam a sua matriz pequeno-burguesa. Mas os acontecimentos acabaram por os ultrapassar a todos, deixando-os boquiabertos, quais aprendizes de feiticeiro surpreendidos pelas avassaladoras consequências das suas práticas de feitiçaria.
Nestes dias em curso, marcados por uma aceleração magnífica na aprendizagem política de muitos portugueses, muitos são os enganos, as ilusões que já estão a ser profusamente espalhadas; muitas declarações, muita conversa, muitos debates e análises, reuniões institucionais, tudo está a ser feito para desarmar a disposição combativa das massas populares, para mascarar as soluções que neste momento o grande capital (interno e externo) já terá em andamento, evidentemente com o envolvimento directo do PS (com o BE à ilharga).
É fundamental, é decisiva a nossa intervenção actuante, afirmando e demonstrando que a luta, a verdadeira, a luta realmente transformadora, aquela que vale a pena, é a luta para todos juntos e organizados corrermos com as duas troikas, a externa e a interna. E para tal é necessário unir vontades, congregar em volta de objectivos comuns os segmentos mais conscientes e combativos - militantes comunistas, sindicalistas da CGTP, Comissões de Trabalhadores, organizações profissionais e sectoriais, movimentos e comissões de utentes, etc - e estes novos milhares de manifestantes que vêm agora à luta, no imediato engrossando a grande manifestação operária e popular que a CGTP tem convocada para sábado, dia 29/9.
É fundamental, é decisiva a nossa intervenção actuante, afirmando e demonstrando que a luta, a verdadeira, a luta realmente transformadora, aquela que vale a pena, é a luta para todos juntos e organizados corrermos com as duas troikas, a externa e a interna. E para tal é necessário unir vontades, congregar em volta de objectivos comuns os segmentos mais conscientes e combativos - militantes comunistas, sindicalistas da CGTP, Comissões de Trabalhadores, organizações profissionais e sectoriais, movimentos e comissões de utentes, etc - e estes novos milhares de manifestantes que vêm agora à luta, no imediato engrossando a grande manifestação operária e popular que a CGTP tem convocada para sábado, dia 29/9.
A divulgação há dois dias atrás de uma sondagem, realizada pela Universidade Católica, não é de todo uma acção inocente. Os números divulgados destinam-se a "públicos-alvo" múltiplos e com intuitos evidentes: aos partidos do governo, mostrar-lhes o risco eminente de serem apeados do poder; ao PS, dizer-lhe que não crescerá numas eleições antecipadas imediatas e que o "perigo comunista" - que tanto teme - o espreita, ameaçando-o com um crescimento para os dois dígitos; finalmente, aos partidos à esquerda do PS, enviar-lhes um engodo eleitoralista, acenando-lhes com uma irreal e ilusória "maioria de esquerda", que só esperaria que "finalmente (PCP, PS e BE) se entendam".
A muitos militantes e filiados nestes partidos, este autêntico "canto da sereia" vai entrar-lhes pelos ouvidos como música celestial, depois de tantos anos de renhida oposição (sobretudo os comunistas), tornando-os vulneráveis à manobra e amolecendo-lhes as forças, "embalando-os" no sonho das "unidades" e "coligações" que cantam!...
Neste novo - e exaltante! - quadro que se abre e desenvolve para o combate e a actividade política revolucionárias, a atitude certa, o posicionamento acertado passa pela unificação de energias e vontades em torno de um projecto transformador, com os eixos fundamentais de um programa de real re-democratização do país, expulsando do poder os partidos dos banqueiros e monopolistas, reimplantando as liberdades políticas destruídas, restituindo os salários e as pensões dos roubos cometidos contra os rendimentos do trabalho, repondo as prestações e apoios sociais espoliados, nacionalizando de novo a banca e as empresas estratégicas, restaurando a Saúde e o Ensino públicos e universais, reabrindo o crédito às actividades produtivas, recuperando a Justiça democrática, apoiando a Cultura e reapossando-se para o povo da soberania política, económica e monetária e da independência nacional, esbulhadas pelos vendilhões do país à troika estrangeira.
Urge a tarefa de promover/congregar/organizar, como uma verdadeira urgência e emergência nacionais, uma "frente democrática e patriótica", onde caibam todos os verdadeiros democratas interessados neste projecto de autêntica salvação nacional, apontando-lhe os objectivos e as formas orgânicas que lhe permitam vingar e constituir-se como solução de poder. Uma frente contra os propósitos e os crimes continuados dos componentes da troika liquidacionista e traidora - PS/PSD/CDS - acobertados por um PR violador dos seus deveres constitucionais, uma frente que trave e derrote todas as manobras que se desenham para salvar e impor pela força o actual regime de capitalismo monopolista (e terrorista) de Estado.
Os caminhos da revolução portuguesa serão construídos caminhando, com as massas e com elas aprendendo, apoiados no Movimento Sindical de Classe e em amplas alianças sociais, unificando vontades, organizando a unidade na luta. Nos tempos presentes, a ruptura revolucionária, democrática e patriótica que almejamos, exige-nos muita determinação, muita criatividade, muita audácia!