Ano novo, crise nova
«Dinheiro fácil» só existiu para os grandes banqueiros e capitalistas. Na semana passada (18.1.16), a organização de caridade inglesa Oxfam publicou um relatório com o título «Uma economia para os 1%». Cita o gigante financeiro Credit Suisse para afirmar que os 1% mais ricos detêm hoje mais riqueza do que os restantes 99% da população mundial. A Oxfam acrescenta outros números impressionantes: em 2015, 62 indivíduos possuem a mesma riqueza que 3,6 mil milhões de pessoas (metade da população do planeta). Desde 2010, a riqueza destes 62 multi-milionários aumentou 44%, enquanto que para a metade mais pobre da Humanidade se verificou uma quebra de 41%. A crise não foi, seguramente, para todos. Não só não houve “sacrifícios repartidos”, como a crise do capitalismo foi usada para promover uma autêntica pilhagem de classe que engordou muito o grande capital à custa dos povos. Os orçamentos do Estado são usados para salvar os banqueiros (o Banif é o mais recente exemplo no nosso País), mas os banqueiros nem sequer pagam impostos para financiar os orçamentos do Estado. O Jornal de Negócios online publicou (12.12.16) uma notícia sobre o nosso País com o título «As 1000 famílias que mandam nisto tudo (e não pagam impostos)». Não é um problema só nosso. A Reuters noticiou (22.12.15) que «Sete dos maiores bancos de investimento que operam em Londres pagaram poucos ou nenhuns impostos na Grã-Bretanha no ano passado». Os sete referidos gigantes financeiros tiveram em 2014 lucros de 5,3 mil milhões de dólares naquele país, mas pagaram de imposto apenas 31 milhões, ou seja, menos de 0,006% dos seus lucros. Cinco dos sete nem pagaram um penny. Quem esteja à espera que o problema se resolva com «mais regulação» ou «mais Europa» bem pode esperar sentado: entre os sete mega-caloteiros encontra-se a Goldman Sachs, de onde saiu o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi.
A nova explosão de crise em 2016 vai agravar todas as já agudíssimas contradições no seio do capitalismo mundial. Conscientes de que uma nova ronda de «austeridade» para os trabalhadores e povos e «maná do céu» para os multimilionários não é compatível com a democracia, as liberdades e a paz, sectores importantes da classe dominante preparam a via da repressão, do autoritarismo e da guerra. Para os trabalhadores e povos não há outra opção, senão preparar-se para o embate.
(Artigo de Jorge Cadima, no "Avante!" Nº 2200, de 28/1/2016)