Céu vivo
Não poderei queixar-mese não encontrei o que buscava.
Perto das pedras sem sumo e dos insectos ocos
não verei o duelo do sol com as criaturas em carne viva.
Mas irei à primeira paisagem
de choques, líquidos, rumores,
que ressuma criança recém-nascida
e onde toda a superfície é evitada,
para entender o que busco terá seu alvo de alegria
quando eu voar misturado com o amor e as areias.
Ali não chega a geada dos olhos apagados
nem o mugido da árvore assassinada pela lagarta.
Ali todas as formas guardam enlaçadas
uma única expressão frenética de avanço.
Não podes avançar pelos enxames de corolas
porque o ar dissolve teus dentes de açúcar.
Nem podes acariciar a fugaz folha do feto
sem sentir o assombro definitivo do marfim.
Ali sob as raízes e na medula do ar
compreende-se a verdade das coisas equivocadas.
O nadador de níquel que espreita a onda mais fina
e o rebanho de vacas nocturnas com rubras patinhas de mulher.
Não poderei queixar-me
se não encontrei o que buscava
mas irei à primeira paisagem de humidades e latejos
para entender que o que busco terá seu alvo de alegria
quando eu voar misturado com o amor e as areias.
Voo fresco de sempre sobre leitos vazios.
Sobre grupos de brisas e barcos encalhados.
Tropeço vacilante pela dura eternidade fixa
e amor ao fim sem alva. Amor. Amor visível!