SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Gritantes disparidades exigem a ruptura democrática e patriótica

Um estudo recentemente publicado, denominado «Novos factos sobre a pobreza em Portugal» e da insuspeita autoria do economista Nuno Alves, do Departamento de Estudos Económicos do Banco de Portugal, veio confirmar - mais uma vez - haverem em Portugal cerca de 2 milhões de pobres, dos quais perto de 300.000 são crianças, 596.000 são reformados e - confirmando que a condição de pobre no país é já condição de pessoas socialmente activas - cerca de 586.000 são trabalhadores por conta de outrem, todos números calculados na base das respectivas despesas familiares.
Este estudo, baseado em inquéritos realizados pelo INE em 2005/6, confirma que a pobreza é uma realidade persistente e transversal a todo o território nacional, atingindo sobretudo aqueles que, trabalhando, ganham salários de miséria e aqueles que, tendo no passado trabalhado toda a vida, usufruem hoje em dia de pensões miseráveis. Acrescentemos a estes dois grupos sociais as crianças e os desempregados e estaremos a falar de 81% dos pobres, isto num país que tem as mais elevadas assimetrias, desde logo na repartição da riqueza, com os 20% mais ricos a dispor de um rendimento 6,5 vezes maior que os 20% mais pobres, relação bem acima da relação média europeia, que é de 4,8 vezes, facto que nos faz ocupar o último lugar entre os 27 membros da União Europeia.
Daqui resulta que a pobreza não tem aquela conexão que os meios de comunicação dominantes lhe pretendem dar, associando-a à chamada exclusão social. A pobreza em Portugal é, na sua maior expressão, a pobreza dos baixos salários, das baixas reformas, do desemprego, das reduzidas prestações sociais, a que se junta parte significativa de famílias numerosas, de famílias monoparentais e de agregados familiares constituídos por apenas um elemento, frequentemente habitando em áreas degradadas e sem quaisquer expectativas de melhoria das suas condições de vida.

Contrastando com estas realidades sociais, os media têm procurado fazer passar a mensagem de que os bancos tiveram uma grande descida nos seus lucros em 2008, devido à crise. No entanto, de acordo com os dados da Associação Portuguesa de Bancos, os lucros da banca, em 2008, foram de 2.051 milhões de euros, ou seja, 5,6 milhões euros/dia (sábados e domingos incluídos!!). Como se tudo isto já não fosse suficientemente chocante, em 2008 a taxa efectiva de imposto paga pela banca é apenas de 13% — inferior à de 2007 que foi de 13,6%. Se a banca tivesse pago pelo menos a taxa legal, como qualquer pequeno empresário tem que pagar (25% de IRC mais 1,5% de derrama para a autarquias), ela teria pago em 2007 mais 366 milhões de euros de imposto sobre os lucros e, em 2008, mais 318 milhões de euros, o que somado dá 684 milhões de euros roubados legalmente, só nestes dois anos, aos cofres do Estado português.
E já temos dados do ano em curso: os quatro maiores bancos privados anunciaram que os lucros obtidos no primeiro trimestre subiram em relação a igual período do ano anterior, com o BCP a sextuplicar os seus lucros! Pudera, com os generosos - e subservientes - apoios deste governo PS, a crise não é com eles, a crise não é para eles.
Se avaliarmos igualmente os lucros líquidos de nove dos principais grupos económicos (EDP, REN, GALP, PT, SONAE, Jerónimo Martins, CIMPOR, SEMAPA, PORTUCEL), verificamos que, também em 2008, estes apresentaram 4,2 mil milhões de euros de lucros! Tudo isto em tempos de crise, com o governador do Banco de Portugal e os ministros do actual governo PS defendendo, despudoradamente, a redução dos salários e a retirada de direitos contratuais aos trabalhadores, enquanto eles próprios, administradores do capital, recebem os vencimentos mais elevados de entre os seus congéneres de toda a U.E..
Entretanto, sendo indispensáveis, não bastam as denúncias. Estas e outras denúncias, que vão revelando até onde desceram e foram degradadas as condições de vida dos trabalhadores, do povo e do país. São mais de trinta anos de contra-revolução e recuperação de posições pelo grande capital, liquidando as conquistas democráticas e populares da Revolução de Abril. As denúncias são necessárias, mas como suporte para a construção de um caminho novo e radicalmente diferente, um caminho que em cada dia que passa se torna mais urgente e irrecusável. Com a unidade e as lutas dos trabalhadores na vanguarda, é indispensável e urgente que os verdadeiros democratas e patriotas se aliem aos trabalhadores, em plataformas e em acções concretas, exigindo e finalmente impondo uma ruptura política com o actual regime autocrático, relançando Abril de Novo. A unidade e a acção de todos é uma exigência e um imperativo patriótico e nacional.
Portugal, os portugueses, nós, os nossos filhos, todos e tudo nos reclama passarmos à acção transformadora e revolucionária. Basta de exploração desapiedada, de humilhações, de carências de todo o tipo, de ataques e limitações às liberdades, de corrupção, de injustiças, de servil sujeição às ordens iníquas desta U.E. dos monopólios. Este regime anti-democrático, anti-operário, anti-patriótico, sempre contra os trabalhadores e contra todas as camadas e classes laboriosas, é um regime esgotado, sem soluções, sem forças, sem remédio e sem saída. Está velho e caduco e está na hora de dar lugar ao novo e ao futuro. Um futuro que está ao nosso alcance, que está nas mãos dos trabalhadores e dos democratas construir e conquistar, com determinação, com coragem, com convicção, com ideais - com os ideais de Abril, de novo e sempre.

3 comentários:

Cidadão do Mundo disse...

Obrigado pela visita ! quando olho para trás e vejo no que poderiam ter sido estes últimos 34 anos que a contra-revolução primeiro e o neoliberalismo selvagem depois, trataram de transformar no país desigual e injusto que ele é hoje, fico desalentado, triste, revoltado, pela traição que consistiu para todos que lutaram contra o regime fascista de Salazar. Mas...lutar é preciso, sempre !!

Grande abraço!

CRN disse...

Camarada,

Com 1/3 do monto que o BCP evadiu ao fisco, com a conivência de um governo de sabujos do imperialismo, podiamos ter evitado que mais de metade da população desempregada perdesse a protecção económica.
Por outra parte, o que mais faz fervilhar é o ministro de turno vir para a imprensa dizer que vê com bons olhos que as crianças, menores de 16 anos, crianças, trabalhem, sempre que tenham alcançado a escolaridade minima obrigatória, quando sabemos que no imediato essa premissa não é prioritária para os pais, primando assim o apoio da corja como legitimação para o trabalho infantil.

A revolução é hoje!

Nelson Ricardo disse...

Ao ver estes números percebe-se porque com tanta insistência os liberais e os adeptos do Capital clamam «liberdade» a cada parágrafo e meio. A ganância deles é um poço sem fundo que só consegue ser preenchido à custa do esforço dos trabalhadores.