SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

A crise do capitalismo arrasta a Humanidade para o abismo

Duas notícias recentes são bem reveladoras da actual situação mundial do sistema capitalista e da dimensão do cataclismo social que se abate sobre os povos sujeitos à desapiedada dominação imperialista:


- O sector financeiro internacional recebeu, apenas em 2008, quase dez vezes mais recursos públicos do que todos os países pobres do planeta nos últimos cinquenta anos. O dado foi divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), na campanha Metas do Milénio, destinada a combater a fome e a pobreza no mundo. Enquanto os países pobres receberam, ao longo de meio século, cerca de US$ 2 trilhões em doações de países ricos, bancos e outras instituições financeiras ganharam, em apenas um ano, US$ 18 trilhões em ajuda pública.


- A ONU alertou que a crise económica mundial piorará ainda mais a situação dos países mais pobres, lembrando que, na semana passada, a Organização para a Agricultura e Alimentação (FAO) afirmou que a crise deixará cerca de 1 bilião de pessoas passando fome no mundo.Do total de pessoas subnutridas hoje no mundo, 642 concentram-se na Ásia e na região do Pacífico e outras 265 milhões vivem na África Subsariana. Na América Latina e Caribe, esse número é de 53 milhões de pessoas.


A dimensão da drenagem das colossais verbas retiradas aos orçamentos dos Estados capitalistas, para entrega ao capital financeiro especulador que os dirige, atingiu dimensões inimagináveis apesar de nada resolver, como há muito se sabe. A crise estrutural do capitalismo segue o seu curso destrutivo, perante a incapacidade de auto-reforma do sistema. Sucedem-se no calendário as reuniões dos representantes das maiores potências capitalistas - G-20, G-8, BRIC's -, todos disputando o maior quinhão no processo de redistribuição de recursos e poderes que a crise precipitou, mas totalmente incapazes de solucionar os enormes estrangulamentos económico-financeiros operados pela profunda crise sistémica em desenvolvimento. A lógica interna do capitalismo - insaciável, depredador, concentracionário, anti-democrático - impossibilita a "reforma" com que ainda sonham muitos democratas "distraídos", persuadidos pela campanha mediática que tudo vai acabar em bem. E, de facto, nada acabará bem no âmbito estrito e restrito dos marcos do capitalismo. Aliás, o sistema nunca esteve tão fraco e indefeso como o está na actualidade: a reforma do FMI e das instituições de governação mundial anunciada no G20 de Londres permanece letra morta; o G8, de novo reunido nestes dias, parece cada vez mais um clube moribundo, com os seus membros digladiando-se e contestando a sua própria existência; a liderança americana, enfraquecida, tenta perigosa e desesperadamente, pela via militar e pelo contínuo recurso a manobras e acções desestabilizadoras, conservar o seu anterior domínio incontestado (vide o seu envolvimento no golpe nas Honduras); o sistema monetário mundial está em plena desintegração com a Rússia e a China, nomeadamente, a actuarem para derrubarem a hegemonia do dólar; as grandes empresas monopolistas, a par da estratégia de sugarem o máximo de fundos financeiros públicos, aumentam os despedimentos e degradam as condições de trabalho, enquanto em cada mês milhares de pequenas e médias encerram, com um efeito multiplicador no aumento do desemprego; os Estados vacilam sob o peso da dívida que acumularam para "salvar bancos" e numerosos deles correm o risco real da sua própria falência.
Para retomar o processo de extorsão do dinheiro dos poupadores crédulos, nestes últimos meses tem-se assistido a uma persistente campanha de "embelezamento" dos mercados financeiros, mas a dura perspectiva das insolvências em breve retornará, porque nenhuma operação financeira poderá substituir a real e generalizada degradação das capacidades produtivas na generalidade dos países integrantes do sistema.

A estimativa da queda do PIB global em 2009, realizada pelo Banco Mundial, acaba de ser corrigida: de -1,7%, em Março, para -2,9%, no final de Junho. Também os dados divulgados pela OCDE, quanto às estimativas de crescimento do PIB para este ano e para 2010, confirmam este cenário de queda. Assim, com saldo positivo, a China crescerá 7,7% este ano e 9,3% no próximo; a Índia, respectivamente, 5,9% e 7,2%; o Brasil pouco mais que 0% e 4%; a Rússia continuará e regredir e talvez atinja saldo positivo em 2010. Em contrapartida, os países do centro do capitalismo, neste ano de 2009, continuarão mergulhados na recessão: os EUA recuarão -2,8% , a Zona Euro deverá afundar -4,8% e o Japão -6,8%.
As consequências sociais serão devastadoras. No decurso deste ano mais 40 milhões de seres humanos passarão fome; quatrocentas mil crianças, até aos 5 anos de idade, deverão morrer vítimas de desnutrição; na América Latina, 40 milhões de pessoas são obrigadas a sobreviver com 1,25 dólares por dia.

No último Boletim do GEAB, afirmava-se: "Para centenas de milhões de habitantes da América, Europa, Ásia e África, o Verão de 2009 vai ser uma terrível transição rumo a um empobrecimento duradouro devido à perda do seu emprego sem perspectiva de reencontrar outro antes de dois, três ou quatro anos; ou devido à evaporação das suas economias aplicadas directamente na bolsa, em fundos de aposentadoria por capitalização ou em aplicações bancárias ligadas à bolsa ou denominadas em US dólar ou na libra britânica; ou ainda devido ao seu investimento em empresas forçadas a aguardar desesperadamente uma melhoria da situação que não se verificará antes de longo tempo."
Face à recusa da adopção de medidas efectivas de apoio à produção e à efectiva criação de riqueza, estas expectativas negativas são infelizmente bem verosímeis.


A grande lição - e conclusão - que devemos tirar deste panorama sobre a realidade do capitalismo contemporâneo parece óbvia, por muito desagradável que possa surgir aos olhos das mais "ingénuas" e "distraídas" pessoas de esquerda: na actualidade, na qual nos cabe viver e lutar, o capitalismo tornou-se irreformável e incapaz de inverter a sua própria marcha para o abismo, arrastando com ele a Humanidade, os trabalhadores e os povos que explora, subjuga e humilha. O socialismo vai perdendo as suas características utópicas e emerge, cada dia com mais força, como o sistema social e político portador do novo, do transformador, o único capaz de mobilizar os assalariados e os povos para um projecto revolucionário e inovador, libertando as imensas energias e capacidades criadoras dos homens por todo o planeta. Para o concretizar, o papel principal cabe aos revolucionários, aos homens e mulheres consequentes e coerentes, lançados nessa aventura exaltante de, contra todos os obstáculos e ardis que o inimigo n° 1 da Humanidade continuará a esgrimir, apontarem aos seus iguais - sem soberba nem ambições pessoais - o caminho da revolução.

Parafraseando o dito recente de um camarada, o "tratamento" do capitalismo é geriátrico, enquanto a construção do socialismo é um empolgante e enriquecedor trabalho pediátrico.





Sem comentários: