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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Eleições na Alemanha e em Portugal: A cartilha única do capital


Como uma linha de fundo da acção ideológica mistificadora do capital, todos os dias constatamos que está em desenvolvimento uma campanha mundial, usando os grandes meios de comunicação ao seu serviço, visando persuadir os trabalhadores e os povos que a crise do sistema é conjuntural e que está a terminar, para tal encenando massivamente "dados", "sinais", "indicativos", índices da propalada "retoma".

Devemos reconhecer que esta "retoma" é em parte verdadeira; para os grandes banqueiros e grupos económicos, à custa de colossais recursos financeiros públicos que os governos lhes entregaram de bandeja, a crise (a deles!) vai sendo "debelada". Prossegue o saque e a concentração e centralização típicas do capitalismo, agora enormemente aceleradas pelo fenómeno da crise sistémica em curso.

Entretanto, no outro pólo social, constituído pelos assalariados, pelos pequenos agricultores, pelos pequenos empresários - afinal, a imensa maioria da população mundial - a crise prossegue. Aprofunda-se, desenvolve-se regionalmente, atingindo o tecido económico-financeiro real e desencadeando, no seu inevitável percurso de destruição de forças produtivas - com maior violência nas economias periféricas e dependentes do sistema global -, crescentes e dramáticas consequências sociais para os países e povos.

Por coincidência, estão convocadas para o mesmo dia (27/Set) eleições legislativas na Alemanha e em Portugal. No jornal "Avante!", na sua última edição (27/8), saiu publicada a notícia que se transcreve:
"Crise na Alemanha. Patrões admitem despedimento em massa. Despedimentos depois do voto.
O governo alemão tem um acordo tácito com a indústria para evitar despedimentos até às legislativas de 27 de Setembro, mas depois haverá reduções de postos de trabalho. «De momento, a Alemanha está preservada contra mudanças, mas depois das eleições a mensagem será outra, o que é normal», reconheceu Hakan Samuelsson, presidente executivo da MAN, uma das 30 maiores empresas germânicas, ao jornal Financial Times Deutschland.
O matutino recorda, na sua edição de segunda-feira, 24, que já nas legislativas de 2005 foram tomados cuidados especiais com a questão do desemprego, embora o governo da altura, liderado pelo social-democrata, Gerhard Schroeder, tenha acabado derrotado nas urnas. Evitando sobressaltar a opinião pública em vésperas de eleições, empresas como a Siemens, o maior empregador alemão, esperaram que o sufrágio se realizasse para, no dia seguinte, anunciarem o despedimento de milhares de trabalhadores.
O mesmo está a verificar-se neste momento, alerta o FTD, notando que continua a haver um excesso de mão-de-obra e de capacidade de produção, sobretudo na indústria automóvel e na metalomecânica, expoentes da economia germânica e a base das suas exportações.Recorrer ao regime de trabalho parcial, como já aconteceu em milhares de empresas alemãs, afectando cerca de um milhão de trabalhadores, já «não basta, porque as empresas estão a sofrer», disse ao FTD o empresário Reinhold Wuerth, dono da grande fábrica de parafusos com o mesmo nome. Segundo cálculos da Agência Federal de Trabalho (BA), as empresas alemãs já gastaram este ano entre 4,2 e 6,2 mil milhões de euros para evitar despedimentos e financiar o trabalho parcial, apesar de este regime também ser fortemente apoiado por verbas do Estado. Porém, as empresas também beneficiam com o trabalho parcial, porque de outra forma teriam de pagar em média indemnizações de sete mil euros para despedir um trabalhador com pouca qualificação e 32 mil euros para despedir um operário especializado, ainda de acordo com o estudo citado pelo jornal alemão.
A agência estatal calcula que ao longo do ano haverá 1,1 milhões de trabalhadores em regime de trabalho parcial e que o número de horas trabalhadas no país diminuirá 38 por cento. Partindo de uma média anual de 1500 horas por trabalhador, tal quebra corresponderá a uma redução de 630 milhões de horas laborais, calculou a agência."


Anos atrás, quando os comunistas portugueses desmascararam corajosamente as mentiras da propaganda socialista e apontaram as consequências profundamente negativas para o seu povo que resultariam da integração de Portugal na C.E.E. - hoje U.E. -, caracterizaram simbolicamente essa integração com a célebre fábula infantil (mas carregada de sentido para os mais velhos) da panela de ferro e a panela de barro(1), de La Fontaine, afirmando que a frágil economia portuguesa, ligada/subordinada às economias europeias mais fortes, sairia irremediavelmente a perder. Os acontecimentos posteriores vêm-lhes dando inteira razão. Voltando à notícia, transcrita do nosso "Avante!": se o que está a tramar-se pelo grande capital na Alemanha (aqui, a nossa panela de ferro), descaradamente anunciado por elementos seus, é um aumento dos despedimentos logo a seguir às eleições, é fácil perspectivar o que irá passar-se em Portugal (a panela de barro da história).


Aqui fica a chamada de atenção, dirigida principalmente aos trabalhadores portugueses, e em especial àqueles politicamente menos preparados, mais ingénuos, para que meditem sobre o significado daquelas veladas ameaças do grande patronato alemão, sobre o que farão por lá depois das eleições de 27 de Setembro. Porque, sendo a cartilha deles a mesma, vale a pena interrogar o que farão também os grandes grupos económicos em Portugal.


E já agora, por falar em ingénuos, aproveito ainda para transcrever um trecho do editorial do mesmo jornal comunista "Avante!", publicado nesta mesma edição de 27/8:



"Por isso, é tempo de esses ingénuos (sinceros ou não) demonstrarem o suposto erro de análise do PCP e de explicitarem de uma vez por todas a que «diferenças substanciais» se referem, que «diferenças» concretas descobrem entre a política praticada, por exemplo e para não irmos mais longe, pelos governos de António Guterres e José Sócrates e os governos de Cavaco Silva e Durão Barroso - para além, é claro, das ligeiras e cada vez mais ténues diferenças de método que de forma alguma escondem a convergência total no conteúdo e nas consequências. A verdade é que, como há dias sublinhou o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, em matéria de política governamental, PS e PSD são «farinha do mesmo saco» - o «saco» da submissão total do poder político ao poder económico; o «saco» da destruição do aparelho produtivo nacional; o «saco» do desprezo pelos direitos e interesses dos trabalhadores e da reverência absoluta aos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros; o «saco» do desemprego, do emprego precário, do lay-off, dos salários em atraso, das pensões e reformas de miséria, das brutais injustiças sociais, do agravamento sistemático das condições de trabalho e de vida da imensa maioria dos portugueses; o «saco» da subserviência aos ditames do imperialismo, do envolvimento em criminosas guerras de ocupação com centenas de milhares de mortos e da venda a retalho da soberania e da independência nacional; o «saco» do desrespeito frontal pela Constituição da República Portuguesa; o «saco» do empobrecimento constante do conteúdo democrático do regime nascido da revolução de Abril."




(1) Nota: Já agora, vale a pena recordar esta fábula e a sua moral final, p. ex., aqui:










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