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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Desenvolvimentos da crise do capitalismo - uma ofensiva do capital já anunciada

A crise capitalista alarga-se e aprofunda-se
No mesmo dia em que os meios de comunicação internacionais divulgam despachos e imagens das grandes greves e manifestações realizadas pelos trabalhadores gregos - carregando as tintas, como sempre fazem, nas acções de enfrentamento dos manifestantes com as forças repressivas e nas depredações originadas pelos esquerdistas - a agência de rating "Moody's Investors Service" anuncia que considera rever em baixa a avaliação às contas do Estado português.
Trata-se, como é sabido, de uma das três maiores agências (as outras, são a "Standard&Poor's" e a "Fitch") do grande capital internacional, usada para condicionar as políticas governamentais, influir no comportamento dos pequenos e médios investidores e, sempre, aumentar os juros do capital especulativo. A sua total falta de credibilidade ficou irremediável e escandalosamente comprovada aquando da "quebradeira" financeira em finais de 2008, ao atribuirem notações máximas (AAA) aos bancos e agências financeiras que acabaram falidos naquela época. São uma espécie particular das chamadas "entidades reguladoras", de facto meras assalariadas das entidades "reguladas" e inteiramente ao seu serviço...
Mas o que chama a atenção e merece reflexão - e, sobretudo, acções de resposta - é esta aparente coincidência de notícias, sobre a luta dos trabalhadores gregos e as ameaças de más notas da Moody's para Portugal, notas más que já antes estiveram na origem da ofensiva contra a Grécia. Torna-se agora patente, aquilo que há três meses estava anunciado, com o lançamento da ofensiva capitalista contra aqueles países aos quais passaram a chamar, depreciativamente e de modo ofensivo, os PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha). Ou seja, o país de vez a fazer ajoelhar, a seguir à Grécia, é Portugal.
Já antes neste espaço se assinalou este previsível desenvolvimento da ofensiva do capital internacional. Um ano e meio após o estoiro da maior crise do sistema, que deixou momentâneamente paralisados os seus mecanismos de dominação ideológica e política, com tudo o que eram partidos e individualidades do reformismo e da conciliação e de aparência social-democrática a fingirem grande indignação e a barafustarem que era necessário assegurar o controle do capital financeiro - postulando o regresso a Keynes e a um "capitalismo bom" e com "preocupações com o social" - eis agora em pleno desenvolvimento a retomada da ofensiva pelas forças organizadas sob a bandeira de um neoliberalismo revivido, após um período de laboriosa "recuperação" encubada em reuniões dos G-20's, nas quais se decidiu manter inalterada a existência e a actividade predadora do FMI e do Banco Mundial.
Mascarando a realidade com sucessivos anúncios de "recuperação", de "gradual retoma", os centros de comando e de dominação ideológica do sistema mais não visaram (e visam) que paralisar os movimentos de resposta e de contra-ofensiva da forças e organizações operárias, ao mesmo tempo que vão "entretendo" significativos segmentos da pequena burguesia, persuadindo-os que também são parte interessada na manutenção do "status quo".
Entretanto, a realidade prossegue a sua marcha dialéctica e os últimos desenvolvimentos da crise sistémica do capitalismo mundial revelam que os alvos prioritários imediatos são agora os trabalhadores e povos destes países da U.E. meridional - Grécia, Portugal, Espanha -, aos quais se deverão seguir os restantes, depois de um adequado compasso de avaliação, nomeadamente a Itália, a França e a Grã-Bretanha, esta última já com um défice fiscal muito semelhante ao grego.
Evidenciando o carácter imperialista e transnacional da actual etapa desta ofensiva, bastará observarmos o comportamento da Alemanha e da França nesta crise, pressionando os seus parceiros mais fracos da UE, em total sintonia com o FMI, mandando às malvas as aparências de independência face aos EUA. Tornando meridianamente claro que as apregoadas políticas de "solidariedade" e os princípios da "subsidiariedade" na integração europeia são mero fogo-de-vista, para iludir papalvos. Disputando fatias do banquete global, o subimperialismo franco-alemão, embora com débeis resmungos, vai submetendo-se à batuta imperial dos EUA. Estes, com um déficite público já superior a 1,6 trilhão de dólares (em 2009) e com uma dívida pública muito próxima dos 15 trilhões de dólares, nunca é questionado pelos dirigentes europeus, porque isso é do seu interesse imediato, sacrificando na mesma lambança imperialista os países seus parceiros(?!) na UE. E tudo isto, assinale-se, a confirmar-nos que o papel dominante no sistema capitalista global continua a ser desempenhado pelo segmento financeiro/especulativo, subalternizando os sectores do capital dito produtivo.
Sabemos, depois de Marx e de Lénine o terem evidenciado, que o capital só sobrevive às suas próprias crises pela intensificação da exploração da força de trabalho, pela espoliação/desapropriação da pequena propriedade e, em situações de crise sistémica geral, pela destruição em massa de grandes segmentos das forças produtivas mundiais. Como sistema, o capitalismo tornou-se irreformável, obrigando-se para sobreviver a prosseguir imparável a sua irracionalidade congénita, a sua marcha de destruição, miséria e morte. Tem assim como objectivo oculto - se não for travado antes -, fazer regredir as relações de produção a níveis semelhantes aos pré-existentes no início do século passado. Depois de operar a depredação das riquezas naturais de continentes inteiros (processo em curso), depois de forçar a pauperização dos povos africanos e asiáticos, conduzindo à fome (e à morte) centenas de milhões de seres humanos, depois de moldar em seu benefício os modelos de "crescimento" dos chamados "países emergentes", forçando-os à aceitação de taxas de sobre-exploração das suas forças de trabalho e usando os seus vastos (embora empobrecidos) mercados internos para se reproduzir, para o capital chegou a hora de direccionar a sua acção predatória para os povos europeus, para os salários, reformas e conquistas sociais dos trabalhadores dos países chamados "desenvolvidos".
Tempos de intensificação e alargamento da luta de classes
Por estes dias, os trabalhadores gregos prosseguem a sua luta contra estes objectivos do capital internacional. Sob a direcção política dos comunistas, o proletariado grego dá mostras de grande combatividade e determinação. Durante semanas sucessivas e ao longo dos últimos meses, as greves e manifestações alastram e ganham um número crescente de assalariados, mesmo nos sectores mais recuados dos serviços.
Hoje mesmo, como resposta à morte de três trabalhadores bancários, vítimas inocentes dos confrontos e das acções violentas ocorridas em Atenas, os sindicatos do sector decidiram aderir à luta em curso, convocando uma greve nacional para amanhã (6/5), juntando-se assim aos trabalhadores da administração pública, dos transportes, do ensino (com professores realizando a ocupação de uma estação de TV, para transmitirem um manifesto), da imprensa e de outros sectores, já em greve geral de 48 horas hoje iniciada.
As manifestações em várias cidades revelam uma grande adesão, com muitas dezenas de milhares de participantes em cada uma delas. Numa das reportagens televisionadas, vêem-se militares da Armada grega, desfilando fardados, integrando-se no protesto geral. Segundo os sindicatos e os próprios correspondentes da imprensa, a Grécia vive uma fase de grande agudização das lutas, incorporando-se nelas crescentes segmentos da sociedade grega e radicalizando o combate às medidas anti-operárias e anti-populares do governo "socialista" do PASOK.
Ganhando as primeiras páginas dos noticiários e jornais em todo o mundo, uma foto emblemática: a ocupação pelos militantes comunistas do KKE do monte da clássica Acrópole ateniense, com a afixação de grandes faixas com frases escritas em grego e em inglês, apelando à mobilização dos outros povos europeus para que se juntem na luta contra a actual ofensiva do capital.
Têm razão os nossos camaradas gregos. A hora é de luta. Com ligeiras colorações diversas, as medidas que os governos de serviço estão a tentar impor são no fundamental as mesmas, sejam ensaiadas na Grécia, em Portugal, na Islândia (que, em parte, as rejeitou num recente referendo), em Espanha ou na Irlanda. Todas têm a mesma e única marca de classe: sacrificar os trabalhadores e outras camadas laboriosas no altar dos lucros escorchantes para o capital bancário/financeiro, obtidos pela espoliação dos rendimentos do trabalho e ao preço do alargamento da miséria e da degradação das condições de vida a novas centenas de milhões de pessoas.
Cada um dos países visados constitui, sem dúvida, uma realidade social e política distinta, com processos e antagonismos de classes diferenciados. Os momentos escolhidos para a ofensiva são igualmente diferenciados, até por razões tácticas do capital. Mas os seus propósitos finais são exactamente os mesmos e, à medida que se intensificar esta ofensiva de classe, ficarão cada dia mais próximas as condições objectivas do ataque, aproximando ainda mais as distintas situações nacionais.
Este quadro de luta europeu não deixa margem para ilusões aos trabalhadores de cada um dos países envolvidos. Tal como não permite hesitações ou compassos de espera, aguardando o evoluir dos acontecimentos. A evolução dos acontecimentos é unívoca, colocando aos movimentos sindicais e operários dos países da UE uma grande responsabilidade e uma tarefa central e imediata: a denúncia e o activo desmascaramento da presente ofensiva do capital e uma empenhada e militante mobilização dos trabalhadores para a luta.
Luta cada dia mais urgente e irrecusável. Por razões de indeclinável solidariedade para com os que caminham actualmente nas primeiras linhas do combate - os trabalhadores gregos -, mas também por razões próprias. Atitudes expectantes ("ver o que dá, para ver como fica"), jogando polidamente nos diálogos institucionais, só conduzirão à desmobilização, à descrença e à derrota, o que constituiria uma traição dos dirigentes aos interesses de classe dos assalariados, dos explorados. Para isso, já bastam (e sobram!) as actividades conciliatórias dos sindicatos e centrais sindicais amarelas, pois para tal existem e por tal são mantidos pelo capital.
Perante a acção de ontem dos camaradas gregos na Acrópole, acção que os confirma como um grande e combativo partido comunista marxista-leninista, todos os comunistas, todos os revolucionários, somos chamados a agir, actuantes e solidários, não deixando isolados os camaradas gregos no seu combate nacional. Muito podemos - e devemos! - fazer, acompanhando-os e secundando-os nos nossos próprios países. A obrigatoriedade política de ser a vanguarda exige-nos que caminhemos sempre na primeira linha. Tendo presente um velho ensinamento: o argumento persuade, mas o exemplo arrasta. No quadro actual, na Europa desta UE e no mundo, o momento é de acção e de luta, exigindo-nos redobradas energias e acções e iniciativas mobilizadoras, insuflando confiança e determinação aos restantes trabalhadores e camadas aliadas.
Perante a dimensão do embate em preparação, os próprios dirigentes da grande burguesia europeia estão preocupados, e justificadamente. Face aos desenvolvimentos da resistência e da luta na Grécia, o tom de preocupação prevalecia, nas declarações de hoje, entre todas as autoridades na UE. "Há a ameaça de um efeito de contágio sério para outros países da zona do euro", afirmou Axel Weber, um dos conselheiros do BC europeu. "Precisamos conseguir evitar um contágio", declarou o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn. Um e outro, ao falarem no risco de "contágio", certamente não estavam a pensar somente no aspecto financeiro da situação.
O dilema, de facto, está colocado: ou a luta dos trabalhadores derrota esta violenta ofensiva do capital, travando-a ainda nesta fase do seu desenvolvimento, ou um novo período de dominação do capital, marcado por grandes retrocessos civilizacionais, virá ocupar a actual etapa histórica dos povos europeus, impondo-lhes regimes autoritários e neofascistas. Não há já espaço, objectivamente considerado, para soluções de relativo equilíbrio, de manutenção do quadro existente. Compreender esta equação, tornou-se decisivo para levar as massas trabalhadoras a agirem imediatamente em sua própria defesa, antes que viessem a querer reagir mais adiante, mas já demasiado tarde.
Visivelmente, a seguir à Grécia, Portugal é "a bola de vez", como alvo imediato da ofensiva capitalista. Também aqui, antecipemo-nos às medidas de espoliação e saque que os banqueiros e o seu governo "socialista" estão tramando contra os trabalhadores e o povo, intensificando as lutas e unificando os seus objectivos políticos. Alargando as acções de luta a mais e mais trabalhadores, a mais e mais democratas sinceros.
Um apontamento final, a par de um apelo: os aparelhos ideológicos do sistema vão prosseguir a sua acção e, a par da difusão acrítica e conivente das ameaças do "mercado" sobre os portugueses, vão continuar as suas iniciativas "informativas" de diversão, difundindo muitas notícias, muitos "fait divers" da política de pacotilha, com a declaração de A contra o B, com o processo contra o C e a opinião acerca do D, com a candidatura do E e o comentário de F, etc, etc. Não nos deixemos envolver e iludir por essa política-espectáculo mediática. Questão prioritária, assunto de primeira linha, justificando e exigindo a nossa atenção e discussão antes de quaisquer outros, é analisarmos esta actual fase da ofensiva do capital contra o trabalho e a resposta enérgica que é necessário e urgente darmos-lhe, antecipando-nos aos ulteriores acontecimentos. E para essa resposta, cada um de nós pode ter - melhor, deve ter - um papel importante a desempenhar, ajudando a centrar a discussão nesta urgente prioridade política, enriquecendo-a com novos e melhores argumentos.

1 comentário:

Nelson Ricardo disse...

Numa altura em que o Estado Social criado pela Social-Democracia está moribundo, deparamo-nos com dois possíveis futuros: Socialismo ou Capitalismo a toda a brida, tal qual como houve no séc. XIX ou inícios de séc. XX.

E com o aprofundar das condições de vida, quem diz se a UE e o FMI não se lembram de assegurar o silêncio dos povos à força?

Um Abraço