SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Luta de classes e diversão

Este é o título de um artigo hoje publicado no jornal "Avante!", da autoria do camarada Filipe Diniz, que mais adiante se reproduz e no qual faz uma oportuna e acertada crítica às posições de puro oportunismo político de um conhecido "militante" das "causas sociais", uma das figuras de proa das sucessivas edições do Forum Social Mundial, sempre com as portas abertas para escrever e publicar nos orgãos de comunicação "social" dominantes.
Boaventura Sousa Santos é, de facto, um caso verdadeiramente paradigmático. Trata-se de alguém que, com origem no meio académico, tem praticado uma autêntica "cruzada" contra o "radicalismo" dos comunistas e a determinação destes no combate ao sistema capitalista. Nada que lhe "cheire" a contestação o deixa tranquilo. Os Sindicatos que representem os interesses de classe dos seus associados e não aceitem desempenhar o papel de "amarelos", conciliando com o capital, são alvo da sua professoral condenação.
Para ele, bons mesmo são os "movimentos", as "grandes causas" mais ou menos "fracturantes", as ONG's de variado tipo, as personalidades que, tal como ele, defendam reformas/remendos no capitalismo, que lhe dêem um rosto humano, que o façam bonzinho para as pessoas - afinal, ricos e pobres podem conviver bem, exploradores e explorados são igualmente cidadãos, tudo se pode resolver a contento nos marcos da democracia burguesa, a única que assegura a liberdade, o crescimento económico e a estabilidade social para todos, blá,blá,blá -, numa palavra, contestar sim, mas pelas bordas, pela rama, nada de pôr em causa o cerne da organização social e política dominante do capital. Verdadeiramente "ecléctico", tanto aborda com desenvoltura os temas da sua área como as mais variadas questões históricas, económicas, políticas, culturais, éticas, enfim, tudo "o que vier, morre!", conquanto lhe sirva de mote para as suas dissertações socializantes...
É, assim, natural e compreensível a sua preocupação, aliás mal dissimulada, com o actual curso dos acontecimentos nos países submetidos ao jugo da UE.

A luta dos trabalhadores e dos povos contra a implacável ofensiva capitalista actualmente em curso exige uma muito vigorosa resistência ideológica.
E há que ter em conta não apenas o ataque que vem abertamente do campo do inimigo de classe. Há que ter em conta igualmente as palavras de alguns que, proclamando estar ao lado dos trabalhadores e ser até «marxistas», têm a surpreendente habilidade tanto de desfocar as frentes de combate como de desvalorizar os nós essenciais - realmente existentes – de luta e de organização.
Veja-se uma recente crónica (Visão, 2.06.2010) de Boaventura Sousa Santos. Este «marxista» faz a extraordinária descoberta de que «a luta de classes está de volta à Europa». A luta de classes «enquanto prática política (sic)» está de volta, imagine-se, depois de anos em que esteve «institucionalizada» sob a forma de concertação social. Cujos resultados foram, entre outros, «o modelo social europeu», a «paz social», os «baixos níveis de desigualdade social». E regressa «em termos tão novos que os actores sociais estão perplexos e paralisados».
BSS publica este texto cinco dias depois daquela que provavelmente terá sido a maior manifestação realizada em Portugal desde 1974. Mais de 300 mil trabalhadores «perplexos e paralisados», convocados por sindicatos «em crise».
Felizmente têm em BSS uma luz que os alumia e lhes explica que a luta de classes regressou sob «uma nova forma: [….] desta vez é o capital financeiro quem declara guerra ao trabalho» (para BSS, o capital financeiro é uma classe…).
O movimento de luta que se levanta por toda a Europa, com a magnífica expressão de massas que tem vindo a alcançar, deveria deter-se e ouvir o sábio conselho de BSS: este movimento será «bem frágil se não for partilhado [….] em pé de igualdade por movimentos de mulheres, ambientalistas, de consumidores, de direitos humanos, de imigrantes, contra o racismo, a xenofobia e a homofobia». E, sobretudo, não ter ilusões: «a resistência ou é europeia ou não existe», decreta BSS.
Mal estariam os trabalhadores portugueses, gregos, romenos, espanhóis, se alimentassem expectativas em tais conselhos amigos.
Cresce um grande movimento de massas, patriótico e internacionalista. Não exclui ninguém. Mas, francamente, não precisa de conselhos destes.

("Avante!", n° 1906, de 09.Junho.2010)


A actual situação nos países periféricos, submetidos à ditadura da U.E. e do FMI, exige sem dúvida o prosseguimento, o alargamento e a intensificação da luta dos trabalhadores destes países. Mas uma luta conduzida com independência de classe e sem conciliações ou concertações com os governos que estão a tentar aplicar a cartilha do capital, lançados numa ofensiva contra o trabalho sem precedentes e visando instalar regimes laborais e sociais de excepção, assentes na mais brutal exploração dos trabalhadores europeus e na supressão das próprias liberdades políticas, atropelando todas as próprias regras das suas democracias parlamentares burguesas. Uma luta que, partindo da iniciativa e combatividade dos assalariados, se alargue a todas as outras classes laboriosas e segmentos sociais anti-monopolistas, a todas as camadas exploradas e populares, a todos os verdadeiros democratas. O futuro destes países e povos joga-se agora, em função da envergadura e determinação que assumam as suas lutas actuais e no futuro próximo-imediato.

2 comentários:

Anónimo disse...

"(...) a ciência moderna não é a única explicação da realidade e não há sequer qualquer razão científica (sic!) para a considerar melhor que as explicações alternativas da metafísica, da astrologia. da religião, da arte ou da poesia."

Esta afirmação inacreditável foi retirada do livro Um Discurso sobre as Ciências de Boaventura S. Santos.
Em 2002 António Manurel Baptista ex-prof. universitário de Física e Medicina Nuclear publicou um livro intitulado, Obscurantismo e Irresponsabilidade, que visa precisamente o charlatão que só agora os intelectuais do PCP descobrem. Enfim, DISTRACÇÕES...

Elisa no blog disse...

Esse é um assunto difícil.
Obrigada pelo comentário no meu blog. Graças à sua indagação, acabei fazendo um post onde consegui explicar sobre essas crateras que aparecem de repente.
comecei a te seguir.
Obrigada,
Elisa