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terça-feira, 27 de setembro de 2011

As insurreições árabes e o mundo - Uma útil reflexão.

Pelo interessante material informativo que contém, abaixo se publica uma reflexão de um autor(*) conhecedor da realidade árabe, organizada para uma conferência recentemente realizada na UniSanta, Santos, SP, Brasil, com o título "A Revolução no Mundo Árabe e a Nova Geopolítica Mundial". Espelhando no seu próprio conteúdo (e em algumas opiniões do autor) o carácter muito contraditório da situação actual no norte de África e no Médio Oriente, tem o mérito de procurar olhar a realidade com uma perspectiva confiante nas energias transformadoras dos povos árabes, não obstante as muitas debilidades políticas e orgânicas das forças revolucionárias respectivas e a violência da contra-ofensiva desencadeada pelo imperialismo. E, na verdade, tudo continua em aberto.  


O MUNDO ÁRABE

 São 21 países árabes, mais a Palestina (ocupada por Israel) e o Sarauí (ocupado por Marrocos);
 Desses países, oito são monarquias absolutistas (ou chamadas petromonarquias) e 13 são “repúblicas” (de fachada);
 As potências imperiais França, Inglaterra e Itália dominaram diversos desses países a partir do século XIX;
 As “independências” nacionais iniciam-se em 1922 e concluem-se em 1977.

Dados Económicos e Populacionais

 Os árabes são 347 milhões no mundo, ou 5,18% do total (de 6.710.926 habitantes do planeta);
Seu PIB somado é de 2,477 trilhões de dólares (um PIB brasileiro), ou 4% do PIB da terra (que é de 61,963 trilhões de dólares no total);
 Suas reservas de petróleo são da ordem de 685,11 bilhões de barris, ou 50,81% do total do planeta (que é de 1,348 trilhões de barris – reservas provadas);
 Sua produção diária visando a exportação é de 22,967 milhões de barris/dia ou 27,26% do total do planeta (que é da ordem de 84,24 milhões de b/d).

Árabes ou Muçulmanos?


• Nem todo árabe é muçulmano e vice-versa, ou seja, milhões de muçulmanos não são árabes;
• Países árabes são 21 e islâmicos são 47;
• Existem hoje no mundo 1,6 bilhões de muçulmanos, dos quais 1,4 bilhões são sunitas e 0,2 bilhões são xiitas;
• Apenas 8% dos árabes não são muçulmanos (27,76 milhões). Maioria desses são cristãos cooptas ou ortodoxos;
• Em relação ao mundo, apenas 19,95% dos muçulmanos do planeta são árabes (um em cada cinco).


A QUESTÃO CENTRAL É O PETRÓLEO

 Os EUA consomem todos os dias 19,497 milhões de barris de petróleo. Produzem, porém, apenas 7,27 milhões de barris (37,42%). Dessa forma, importam todos os dias 12,22 de milhões de barris! (Fonte: US Energy Information Administration 2010);
 Dados de 2009 indicavam que esse país possui uma frota de 250 milhões de veículos movidos a derivados de petróleo. Toda a sua economia é movida a petróleo. Não possuem nenhuma alternativa energética que vá superar o petróleo pelo menos num prazo de 30 a 50 anos.


Importadores Não Produtores de Petróleo

Japão – 5,57 milhões de barris por dia
Alemanha – 2,677 milhões de barris por dia
 Coreia – 2,061 milhões de barris por dia
 França – 2,060 milhões de barris por dia
 Itália – 1,874 milhões de barris por dia
 Espanha – 1,537 milhões de barris por dia
      (Fonte: CIA World FactBook de 2010)


Países Exportadores de Petróleo

 Arábia Saudita – 8,651 milhões de barris por dia
 Rússia – 6,65 milhões de barris por dia
 Noruega – 2,542 milhões de barris por dia
 Irão – 2,519 milhões de barris por dia
 Emirados Árabes – 2,515 milhões de barris por dia
 Venezuela – 2,203 milhões de barris por dia
 Kuwait – 2,146 milhões de barris por dia
 Argélia – 1,847 milhões de barris por dia
 Líbia – 1,525 milhões de barris por dia
 Iraque – 1,438 milhões de barris por dia
(Fonte: US Energy Information Administration de 2010).


Outros Dados do Petróleo
 Das 130 empresas petrolíferas existentes no mundo, 35 são estatais (25,92%), mas estas detêm o controle de 75% de toda a produção mundial;
 Todas as 10 maiores empresas petrolíferas do planeta são estatais;
 As “seis irmãs” privadas da indústria do petróleo (não são mais sete), são: ExxonMobil (EUA); ChevronTexaco (EUA); Shell (Holanda); British Petroleum – BP (Inglaterra); Total S/A (França) e ConnocoPhillips (EUA);
 Estas empresas privadas possuem apenas 10% das reservas de petróleo do mundo; empregam 514 mil trabalhadores e faturaram em 2010 1,697 trilhões de dólares.


REVOLTA OU REVOLUÇÃO ÁRABE?

 Não tenho dúvida sobre isso: estamos vivendo uma revolução em curso. Mas que não sabemos ainda onde vai desembocar. Disputa-se a liderança com os Estados Unidos, a maior potência do planeta.  Vladimir Ilich Ulianov, o Lénine da Revolução Bolchevique de Outubro de 1917, disse que as condições objectivas para uma revolução ocorrem quando “os de cima não conseguem mais governar como antes e os de baixo não aceitam mais ser governados como antes” (Fonte: “Bancarrota da II Internacional”, escrita entre Maio e Junho de 1915). Isso está verificando-se ;
 Entende-se por condições objetivas o desemprego, miséria, fome, baixa salarial, repressão policial. Todos esses elementos estão presentes em praticamente todos os países árabes;
 Resta-nos o debate sobre o caráter da revolução, seus compromissos, seus rumos, suas tarefas, os possíveis acordos internacionais que ela estabelecerá com outros países, se levará o mundo árabe a se afastar do Ocidente ou não.


Comentários sobre a Líbia
Nunca confiámos na chamada “oposição líbia”. Estes possuem escritório de “representação” em Washington. Restabeleceram a bandeira da monarquia do rei Idris, derrubado em 1969. Nunca tiveram expressão política nenhuma, internamente. Imploraram para o Ocidente bombardear o seu próprio país;
 Os EUA continuam a usar a política do canhão. Agora ela vem travestida de ajuda humanitária. Se os EUA estivessem mesmo preocupados com um povo que vem sendo massacrado por um governo, deveria estar neste momento bombardeando sem nenhuma dó o Estado de Israel. Isso é hipocrisia pura! Política de dois pesos e duas medidas.
 A guerra contra a Líbia é a 1ª do chamado AFRICOM – African Commander, que fica sediado na cidade alemã de Stutgard e é comandado pelo general norte-americano Carter Ham. Essa estrutura é parte do Comando Unificado das Forças Armadas dos EUA, composta por seis frotas navais operacionais em todo o mundo, com 11 porta-aviões nucleares, quatro mil aviões caças e quatro milhões de homens no activo;
 Infelizmente, como diz Fiori (UFRJ), temos muita gente que ainda acredita que a guerra contra a Líbia ocorre por “causas humanitárias e pelos direitos humanos” e para “levar democracia” para esse país;
 Não tenhamos dúvidas: a intervenção na Líbia extrapola todos os limites do direito internacional e a Carta das Nações. A NATO agora chega ao Mediterrâneo e dentro da África. Faz parte da estratégia do EUA para tentar “moldar” um novo Médio Oriente;
 Obama tem dito que essa é uma “operação militar por tempo limitado”. Puro jogo de palavra. Isto é uma guerra! É preciso dizer que esta é a 3ª guerra contra países muçulmanos na qual Obama se mete (Afeganistão, Iraque e, agora com ele, a Líbia);
 O que se previu há três anos, quando os estatutos da NATO foram modificados, autorizando que ela actuasse fora da Europa, quando se dizia que era para atacar países “rebeldes” em qualquer parte do mundo, vem se confirmando. Tenta-se agora fazer com que a guerra contra a Líbia seja uma “guerra da NATO”;
 O que temos percebido é já uma profunda divisão, tanto entre os países árabes como nos governos europeus. A resolução da ONU vem sendo desrespeitada completamente. O objectivo claro é instalar um governo dos tais “rebeldes” que já esta sendo rapidamente reconhecido por boa parte do mundo. Vão apoderar-se do petróleo líbio.


Comentários sobre a Síria
• As ruas sírias, como as ruas árabes em geral, clamam por mudanças. Mas, a situação desse país e do governo do presidente Dr. Bashar Al Assad tem particularidades que as distingue de outros países árabes do Oriente Médio;

• A Síria e seu governo tem inimigos antigos e poderosos no OM e no mundo. Entre eles estão os Estados Unidos, a Arábia Saudita e Israel;
• A Síria forma hoje com o Irão e a Turquia, uma poderosa aliança que apoia a luta pela libertação da Palestina (com o Hamas e o Fatah) e a Independência do Líbano (com o Hezbolláh);
• A queda do atual governo sírio e a entrada de Damasco no campo ocidental é uma imensa e significativa vitória estadunidense e imperialista. Praticamente enterra a revolução e a primavera árabe;
• Não tem grau de comparação entre a importância estratégica que tem a Líbia e a Síria no cenário do OM. Derrubar hoje Kadafi e colocar um aliado americano na Líbia quase nada muda. A Líbia já era aliada americana e da Europa desde 2002

A Síria forma com os governos do Irão e da Turquia um sólido eixo que evita um controle total dos EUA no MO; o objectivo do imperialismo é quebrar esse eixo;
 A derrubada do governo sírio actual seria para colocar no poder um subserviente a Washington e à sua política;
 Está em jogo a retirada de Damasco e o encerramento dos escritórios de todas as organizações guerrilheiras e revolucionárias que actuam nos países do Médio Oriente, em especial da Palestina e do Líbano. A Síria concede democraticamente abrigo a estas organizações (Hamas, Hezbolláh, Fatah, FDLP, FPLP, PCP, PCL, Jihad Islâmica entre outras);
Procuram isolar ainda mais o Irão, enfraquecendo o Hezbolláh, que agora formou um novo governo no Líbano, com Nagib Mikat como 1º Ministro;


Comentários sobre a Palestina
Obama tem feito discursos dirigidos ao mundo árabe. Não nos iludamos. Nada de novo no front. Vejamos algumas conclusões preliminares:
Tem dito que a ONU não deve proclamar o Estado Palestino na sua 66ª Assembleia Geral que se inicia em 21 de Setembro;
Continua apontando o dedo contra o Irão;
 Voltou as suas baterias contra o acordo entre a Fatah e o Hamas (e mais 11 outros grupos palestinos que lutam contra a ocupação israelense);
 Tem falado de forma clara sobre o carácter judaico do Estado de  Israel, coisa que nenhum outro presidente havia feito de forma tão enfática;
 Confessou em público que os Estados Unidos continuarão tentando controlar todas as rebeliões, revoltas, para manter o seu domínio naquela estratégica região. Os EUA tornam-se assim a maior força contra a democracia no Oriente Médio.
 Na próxima semana [no passado dia 21/9] instala-se em NY, às 15h (16h em Brasília), a 66ª Assembleia Geral das Nações Unidas. Será a 1ª vez que uma mulher discursará na abertura e será a presidente Dilma. Ela abrirá os trabalhos apoiando que a ONU aceite e admita a Palestina como seu 194º Estado-Membro;
 Essa votação é crucial e estratégica. Não só para reparar uma injustiça que já totaliza quase 64 anos (desde que a ONU aprovou dois estados pela Resolução 181 de 29/11/1947), como para impor uma derrota ao imperialismo estadunidense e ao sionismo direitista de Israel;
 Mesmo que os EUA vetem a Resolução dos palestinos, a AG pode votar o tema e eles serão admitidos como estado não-membro (igual ao status do Vaticano). Ainda assim, isso é extremamente positivo, pois tem todos os direitos que um estado normal, assina convénios com todos os países, recebe recursos, vota em tudo na ONU (menos na AG) e passa a ser membro do TPI, podendo pleitear, inclusive, a prisão de Netanyahú por crimes contra a humanidade cometidos contra os palestinos. Esse é o grande medo e pavor dos sionistas.

Reivindicações Unificadas das Revoluções no Mundo Árabe

1 – Revogação do Estado de Emergência;
2 – Libertação dos presos políticos;
3 – Liberdade de organização partidária;
4 – Liberdade sindical e social;
5 – Liberdade da imprensa e de expressão;
6 – Eleições livres em todos os níveis;
7 – Convocação de Assembleias Constituintes Livres, Democráticas e Soberanas.


UMA CONTRA-REVOLUÇÃO EM MARCHA

 O dedo do imperialismo norte-americano está tentando de todas as formas barrar a Revolução Árabe. Alguns sinais disso podemos observar:
1. A invasão do Bahrein pela Arábia Saudita, com apoio americano para proteger a sede da 5ª Frota e o massacre do povo bareinita;
2. A intervenção imperial directa na Líbia, instaurando um governo aliado e subserviente aos EUA;
3. A tentativa de manipulação e o controle da revolução no Egipto e na Tunísia;
4. Apoio total e integral dos EUA a Israel opondo-se a que a ONU proclame o Estado Palestino seu membro agora em Setembro. Obama reconheceu o caráter judaico de Israel;
5. Manobras para derrubar o governo da Síria e colocar no poder um governo aliado de Washington.
Tudo isso, se consumado, colocará em risco os rumos da revolução árabe que poderá ser derrotada.



CONCLUSÕES
1. Obama perde neste processo.  O seu discurso do Cairo, de Julho de 2009, estendendo a mão para os muçulmanos, provou-se ser uma farsa. Não deu passo algum para respeitar os muçulmanos e os árabes em geral. Insiste em classificar partidos políticos como o Hamas e o Hezbolláh como “terroristas” e não o são. Vai-se antagonizando com mais de 1,6 bilhões de muçulmanos em todo o mundo. Vetar a Palestina na ONU ampliará o fosso entre os EUA e as nações árabes e muçulmanas.
Os novos governos árabes não serão tão subservientes com os norte-americanos. Aquilo de que os Estados Unidos sempre tiveram pavor poderá acontecer, que é a participação, com destaque, da Irmandade Muçulmana nos governos árabes. Estes países tendem a afastarem-se da órbita da NATO, da União Europeia e mesmo dos Estados Unidos.
Israel poderá sair derrotado. Perdeu com o seu discurso de que o maior inimigo é o Irão, que este precisaria ser derrotado e bombardeado e que seu programa nuclear visa a construção da bomba atómica. Seu veto e suas ameaças à criação do Estado da Palestina vai deixá-lo cada dia mais isolado do mundo árabe e islâmico.

Um novo Oriente Médio será construído. Deverá crescer a democracia, os partidos terão maiores liberdades, bem como a imprensa. Eleições gerais devem ocorrer em curto prazo no Egipto e na Tunísia. O Médio Oriente nunca mais será o mesmo depois deste imenso tremor político ocorrido.
O inimigo central continuará sendo os Estados Unidos. Por isso a batalha pelos novos rumos e o controle para onde vai a revolução árabe é dificílima.

O islão não é a solução. Dificilmente veremos um Egipto, uma Tunísia ou qualquer outro país árabe como repúblicas islâmicas. Os países continuarão sendo laicos em toda a região, tal qual o Iraque e a Síria sempre foram.
Novas alianças surgem no Oriente Médio. Está em curso uma nova e histórica aliança política e sindical, envolvendo a juventude, os estudantes e os movimentos sociais em geral. Será preciso que seculares, nacionalistas e patriotas (nasseristas), socialistas e comunistas, muçulmanos e cristãos progressistas, se unam numa plataforma comum, para fazer valer as suas reivindicações históricas. É crucial que as organizações de massa, os sindicatos, os partidos políticos organizados mantenham a pressão das ruas lutando pela verdadeira democratização dos países árabes.

O Irão e a Turquia fortalecem-se no Médio Oriente. Por razões diversas, mas em especial por sempre terem apoiado a causa palestina. O Irão em particular sempre apoiou todos os movimentos revolucionários antiamericanos na região. Programa nuclear para fins pacíficos do Irão segue firme. A Turquia, que rompeu com Israel e se aproxima dos árabes, sai como grande líder no processo de reconfiguração do MO.
Crescerá o nacionalismo árabe. Fundado por Gamal Abdel Nasser, poderá ganhar papel preponderante. Esse nacionalismo defende a soberania e a independência dos países árabes, respeito aos direitos dos seus povos e solidariedade ao povo palestino. A esquerda poderá crescer, em especial comunistas e socialistas.

Al Qaeda, uma das grandes derrotadas. O fundamentalismo não foi e não será alternativa. A organização Al Qaeda sempre pregou a violência e o estado islâmico. O que se tem visto, além da rejeição ao estado teocrático, é uma revolução de carácter mais insurrecional e urbana, com baixa violência por parte das massas árabes.
Modelo neoliberal em xeque. Difícil que os rumos da revolução árabe substituam o modelo capitalista pelo socialismo. No entanto, encontra-se em xeque o modelo de capitalismo financeiro denominado neoliberal.

Mentiras que caíram por terra. A primeira é que as redes sociais da Internet e os celulares foram os grandes responsáveis pela revolução árabe. Apenas 20% da população egípcia têm acesso à Internet (em outros países, ainda menos) e apenas um terço possui celulares. A segunda, que não houve líderes e o processo foi espontâneo. É diferente não aparecerem do que não terem lideranças.
Teorias que caíram por terra. Pelo menos duas. A de Francis Fukuyama (O Fim da história). E a de Samuel Huntington (Choque de civilizações). A de Fukuyama já estava desmoralizada há uma década. Agora, enterra-se de vez a de Huntington.

Uma revolução ainda não concluída. Chu En Lai, líder revolucionário chinês, ao ser indagado em 1970 sobre o que achava da revolução francesa de 1789 respondeu: “ainda é cedo para avaliarmos”. Isso vale para o MO.
Como disse Danton, líder dessa revolução, “precisamos de audácia, mais audácia e sempre audácia”. É verdade. Ele foi guilhotinado e quem o guilhotinou também morreu dessa forma. São as idas e vindas de uma revolução. Depois disso veio Napoleão (1800), a Restauração (1814), a Revolução de 1848 (incendiou parte da Europa), a Comuna de Paris (em 1871). Por isso, muita cautela ao avaliarmos a Revolução Árabe.

Crise e declínio dos Estados Unidos. Os EUA sofrem o maior aprofundamento e desestabilização no seu processo de declínio da sua posição hegemónica no sistema de relações internacionais com a presente Revolução Árabe, que tem um sentido democrático, popular e anti-imperialista. Como diz Lawrence Summers, ex-reitor de Harvard e chamado “declinista”: “como pode o maior devedor do planeta continuar sendo a maior potência económica”? De fato, não é possível.

Democracia se constrói pela soberania de um povo. Os EUA passaram anos afirmando que devem levar a “democracia” para o Médio Oriente. Fico com o Prof. Andrew Bacevich, da Universidade de Boston, que afirma: durante nove anos os EUA forçaram uma porta (democracia no MO), que só se abre para fora. E mais: essa porta só se abre por vontade própria. Os acontecimentos das últimas semanas demonstraram com clareza que não apenas partes importantes do Médio Oriente estão prontas para a mudança, mas também que esse impulso vem de dentro.

(*)Prof. Lejeune Mirhan – Sociólogo, Escritor e Arabista. Membro da Academia de Altos Estudos Ibero-Árabes de Lisboa e Director do Instituto Jerusalém do Brasil. Colunista de Oriente Médio do Portal da Fundação Maurício Grabois – FMG. Colaborador da Revista Sociologia da Editora Escala. Presidente do Sindicato dos Sociólogos do Estado de SP (2007-2010), Presidente da Federação Nacional dos Sociólogos – Brasil – FNSB (1996-2002) e Vice-Presidente da Confederação Nacional das Profissões Liberais – CNPL (2002-2005). Foi professor de Sociologia, Ciência Política e Métodos e Técnicas de Pesquisa da Unimep entre 1986 e 2006.

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