SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O Reformismo Pequeno-Burguês de Fachada Socialista


Muitos dos visitantes deste blog decerto identificam o título deste post, como uma paráfrase do título de uma das obras de Álvaro Cunhal, intitulada "O Radicalismo Pequeno-Burguês de Fachada Socialista", editado em 1970.
A escolha deste título e o presente post radicam-se num  evento político, realizado este sábado em Lisboa, tendo como pretexto a comemoração dos 80 anos de vida de um trânsfuga do comunismo, Carlos Brito, ex-dirigente do PCP, durante décadas membro do seu Comité Central, da sua Comissão Política e ao longo de quinze anos líder do Grupo Parlamentar comunista na Assembleia da República.

De uma notícia do dia, da TSF, sobre o evento, além da referência à participação de alguns filiados no PCP na homenagem, pode ler-se: «Carlos Brito, antigo dirigente do PCP, faz hoje 80 anos. Uma década depois da dissidência e do afastamento do partido, o antigo líder parlamentar do PCP afirma-se membro da família comunista, e classifica o afastamento como 'uma pequena zanga familia'. Em entrevista à TSF, Carlos Brito defende o fim dos sectarismos entre PS, PCP e Bloco, e a criação de uma plataforma das esquerdas para combater o actual governo. 'O Marxismo continua uma proposta muito poderosa'».

Para além, muito para além, de um juízo sobre o papel sujo a que o homenageado pressurosamente se prestou mais uma vez, é-nos mais útil e necessário avaliar os intuitos políticos da manobra, os objectivos dos reais mandantes de tal iniciativa.
A presença de destacados dirigentes do PS e do Bloco de Esquerda - José Seguro, Manuel Alegre, Ferro Rodrigues, Jorge Sampaio, João Semedo, João Proença - , de ex-comunistas "reformadores", depois ministros e deputados socialistas - Pina Moura, Mário Lino, José Magalhães, Raimundo Narciso - , de alguns (ainda) filiados no PCP - é o caso de Manuel Carvalho da Silva, ex-Secretário-Geral da CGTP, entre outros -, tal como as declarações encomendadas ao homenageado e as dos seus convidados (p.ex., a de Jorge Sampaio), mostram claramente qual o objectivo político central da iniciativa: promover, com a generosa colaboração das televisões do grande capital, o lançamento de uma "plataforma das esquerdas" - sob a óbvia liderança do PS! -, na linha do recente "congresso das alternativas", encenar uma "aliança" de socialistas com bloquistas e com "renovadores comunistas", e apresentá-los unidos no "convite" envenenado aos comunistas para que se integrem nessa mirífica "plataforma das esquerdas", formalizando assim uma grande "maioria de esquerda"! Um "projecto" tão mentirosamente de esquerda como ilusório no seu anunciado propósito de combater as políticas do actual governo.
Nesta encenação serôdia, qual gato escondido com o rabo de fora, unem-os dois propósitos evidentes: um, reformarem pela "esquerda" o esgotado e corrupto regime político português actual; outro, claramente anti comunista, tentar envolver na manobra o PCP, visando castrar o seu papel de partido de classe e liquidando a sua função de partido dirigente do Movimento Operário, de partido agregador e mobilizador dos trabalhadores e construtor da aliança destes com as outras  classes laboriosas e sectores sociais anti-monopolistas, este sim, o caminho verdadeiro para uma mudança do "status quo" actual e do paradigma de alternâncias dos últimos 37 anos. 

Se porventura algum jornalista sério os questionasse sobre a questão, todos os participantes se diriam, sem nunca corarem,  "marxistas", todos parentes chegados da grande "família" anunciada pelo homenageado. Com reduzido risco de errarmos, é de admitir que seriam até capazes de afirmar, sem pestanejarem, partilhar as ideias do "pensamento económico do jovem Marx" e assim se confirmando com "marxistas" de gema!  Evidentemente, logo em seguida teriam o cuidado, neles uma preocupação constante, de sublinhar a sua enorme repulsa pela "luta de classes", a sua "vigorosa" recusa das "leituras revolucionárias" e mesmo "subversivas" do marxismo sobre o papel do Estado, abjurando essa horrorosa e anquilosada ideia sobre a ditadura do proletariado!
E assim se revelaria o cimento agregador de todos eles, autêntico denominador comum, verdadeira profissão de fé, a saber: a sua rejeição indefectível e militante do marxismo-leninismo, esse "maldito" conjunto de teorias que visam a transformação revolucionária das sociedades humanas e a liquidação do sistema capitalista!

Ao lermos ou ouvirmos algum deles citarem Marx, mentindo com a boca toda e com citações sempre bem "empacotadas" com algumas tiradas sociológicas ou fraseados de "economês", dir-se-ia que falam ou escrevem sobre um qualquer outro autor reformista ou social-democrata... Claro, tudo dito e escrito em moldes muito modernos, pois afinal - dizem-no a toda a hora -, o mundo mudou muito. Sim, de facto mudou, mas em aspectos essenciais, civilizacionais, para pior! -  devemos nós acrescentar.


Em ano de comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal, é útil relermos mais um importante texto contido na "Introdução" que escreveu, em 1997, para publicação no I volume da edição dos materiais do IV Congresso do PCP, publicados pelas Edições Avante! e que já justificou neste blog uma outra citação anterior (http://oassaltoaoceu.blogspot.pt/2013/01/centenario-de-um-revolucionario-paginas_13.html). 
A relação estreita desses parágrafos com os propósitos da "homenagem" acima descrita, parece óbvia. Para além dos ensinamentos gerais que contêm, não só para os comunistas portugueses mas também para todos os PC's e todos os marxistas-leninistas, independentemente das latitudes onde travam as suas lutas de revolucionários. 
Vejamos, então, o mencionado texto:

 "(...) Trata-se de duas experiências e lições verificadas ao longo da história do movimento comunista, desde o Manifesto Comunista de 1848 até aos dias de hoje. Uma, que entre as concepções e actividade comunistas e as concepções e actividade reformistas pode haver acordos, alianças e acção comum, não fusão ideológica. Outra: que, quando, em tal ou tal partido, se manifestam tendências reformistas que contrariam aspectos fundamentais da identidade partidária, a situação não é de consagração de tal divergência como característica do Partido, mas de efectivo confronto podendo conduzir à ruptura.
A criação do movimento comunista partiu da necessidade objectiva, para o proletariado e os trabalhadores em geral, de uma organização política capaz de assegurar a defesa dos interesses de classe e portadora do projecto de superar o sistema capitalista por um novo sistema socioeconómico, pela revolução socialista e a construção de uma sociedade nova sem exploradores nem explorados.
Daí a definição de duas características identificadoras dos partidos comunistas e do movimento comunista em geral. Uma, a completa independência dos interesses, da política, da ideologia, das pressões, ameaças e medidas repressivas das forças do capital. Outra, a par da luta com objectivos imediatos, a luta pela transformação revolucionária da sociedade, pelo socialismo e o comunismo.
Desde as origens do movimento comunista até à actualidade, desenvolveram-se no movimento operário duas principais correntes. Uma, a comunista, tendo como eixo as apontadas características da sua identidade. Outra, uma corrente reformista, com expressões oportunistas, não tendo ou abandonando a natureza de classe e o objectivo, a perspectiva e a confiança na construção de uma sociedade socialista.
Nos partidos comunistas, nunca foi característico da sua identidade a coexistência reconhecida dessas duas correntes num processo em que os "consensos" se convertessem em regra. A história do movimento comunista mostra que quando surgem por vezes, nos próprios partidos comunistas, concepções e orientações que contrariam os elementos fundamentais da identidade comunista, mesmo que se estabeleça (em circunstâncias conjunturais) uma coexistência declarada ou admitida, a batalha ideológica está presente, latente ou expressa e acaba, não por consenso, mas por ruptura.
Então, ou o partido comunista continua a sê-lo com as suas características fundamentais, ou se transforma num partido social-democratizante, ou, como sucedeu em alguns casos, acaba por dissolver-se. Há exemplos desses vários resultados.
A génese dos partidos comunistas foi muito diversa de país para país.
Alguns resultaram da junção de grupos com tendências políticas diversas que conseguiram unificar-se ideologicamente. Outros da ruptura verificada em partidos socialistas e social-democratas. O partido bolchevique, depois Partido Comunista da União Soviética, surgiu da ruptura ideológica e política no seio do Partido Operário Social Democrata da Rússia (Conferência de Praga, 1912). O Partido Comunista Francês fundou-se pela ruptura no Partido Socialista (Congresso de Tours, 1920).
A história mostra que a identidade comunista, definida nos dois elementos fundamentais referidos e ideologicamente inspirada e ancorada no marxismo-leninismo, tem sido a raiz mais sólida da sua própria existência e da sua própria luta.
Não sem dificuldades internas. Em determinados momentos históricos, a influência política e ideológica da burguesia, ou a falta de perspectivas a médio prazo, provocam posições, atitudes, ideias, teorizações, projectos, de carácter reformista e revisionista. É uma velha história.
A esta luz pode, por exemplo, considerar-se o "eurocomunismo", fase de uma evolução ideológica e política que acabou por conduzir logicamente alguns dos seus principais ideólogos à conversão noutros partidos e alguns partidos comunistas, nomeadamente o grande Partido Comunista Italiano, à sua autotransformação num partido reformista, embora neste caso um convicto e combativo sector do Partido, discordando de tal caminho, tenha criado a Refundação Comunista, mantendo em Itália importante influência comunista.
Citando como exemplo a seguir as concepções e política do PC Italiano, já no caminho que o havia de conduzir à autotransformação, novas expressões do reformismo e oportunismo de direita se manifestaram também no PCP após o 25 de Abril, com o chamado "grupo dos seis" e depois com o que veio a chamar-se a "Plataforma de Esquerda".
Nestes dois casos, verificou-se, não apenas a ruptura ideológica e a saída do Partido de alguns membros, mas também a passagem de alguns dos seus destacados autores para o PS, seu grupo parlamentar, seu governo e outros postos responsáveis, tornando-se assim defensores e executantes da política, não já reformista nem de "esquerda", mas política de direita, ao serviço da restauração do capitalismo monopolista e do agravamento da exploração e de liquidação dos direitos dos trabalhadores, como se está vendo.
A contestação da identidade comunista no movimento comunista internacional não aparece apenas expressa nestes casos de ruptura de triste memória.
Aparece com frequência em numerosos partidos, na segunda metade do século XX, em afloramentos ideológicos, em omissões significativas, em orientações avulsas, que contestam ou contrariam os três elementos fundamentais da natureza comunista: natureza de classe do partido, ideologia, objectivo da construção da sociedade socialista.
Esses afloramentos ligam-se com frequência a uma posição negativa em relação à experiência e significado da construção do socialismo no século XX, nomeadamente na União Soviética; ao abandono do património de luta comunista e vontade de esquecer e romper com o passado; ao afastamento das teorias de Marx nas análises a que se procede; à omissão ou mesmo rejeição explicitada do papel de Lenine e da sua obra teórica. Quando tais concepções se desenvolvem num partido comunista, contestando abertamente as características essenciais da sua identidade, é inevitável, mais tarde ou mais cedo, a conflitualidade insanável e a ruptura.
Na segunda metade do século que agora finda, verificaram-se (e verificam-se ainda) em diversos partidos situações de coexistência. Nos casos de ruptura observaram-se três resultados. Em alguns casos, transformaram-se em partidos social-democratas integrados no sistema capitalista e seus defensores. Noutros casos, mudaram o nome, seguiram caminhos e compromissos com a política do capital, mas conservaram potencialidades e mesmo vontade de evolução positiva. Finalmente, noutros casos, souberam defender a sua natureza de classe, os seus objectivos, a sua identidade comunista.
O IV Congresso foi exemplo confirmado em numerosas ocasiões, e 50 anos mais tarde no XV Congresso, de como os comunistas portugueses, nas situações mais complexas, têm sabido defender a identidade comunista e com ela o futuro comunista do seu Partido.(...)" 


Para terminar, voltando à jogada conduzida pelo PS e seus apêndices políticos com a jantarada do último sábado, transcreve-se um parágrafo contido na Resolução Política do XIX Congresso do PCP (ponto 3.8.), recentemente realizado:

"Partido da política de direita, mascarado com um discurso de «esquerda» para iludir os muitos milhares de eleitores socialistas que aspiram sinceramente a uma ruptura com a política de direita, o PS encontra, no quadro mediático orientado para perpetuar a política ao serviço do grande capital, o espaço para, sem deixar de colaborar e fazer avançar medidas antipopulares, se apresentar como «alternativa» ao actual governo. O que, a verificar-se, não só não corresponderia à necessária viragem de fundo nas políticas e orientações governativas como abriria uma nova fase na promoção e prosseguimento dos objectivos inscritos no Pacto de Agressão.
Sem desvalorizar ou subestimar possíveis movimentações de sectores do PS de aparente distanciamento ou incómodo com a linha colaboracionista com o actual governo, elas próprias inseparáveis das inevitáveis contradições que o desenvolvimento da luta induzirá, o que hoje prevalece não são quaisquer atitudes ditadas por uma genuína vontade de romper com a política de direita, mas sim o propósito de animar e promover soluções destinadas a alimentar ilusões e falsas alternativas, e a criar dificuldades à afirmação do PCP e às reais possibilidades de crescimento que a sua acção coerente e determinada suscita em vastos segmentos da população."

As posições e atitudes do PS nestas últimas semanas, não obstante o quadro de degradação acelerada das condições de vida dos trabalhadores e do povo, uma degradação social e económica conjugada com a activa destruição dos fundamentos democráticos do regime político, comprovam e confirmam-no como um partido do grande capital, praticando sempre as mesmas políticas anti-operárias e anti-patrióticas. Políticas que se prepara - mais uma vez! - para servir num próximo governo, quando a oligarquia monopolista mandante entender ser chegado o momento de voltar a ser "preciso mudar alguma coisa, para que tudo fique na mesma"
Esquecê-lo, subestimá-lo, branqueá-lo, ir nas melodias de sereia da sua "ala esquerda(?!)" e seus apaniguados oportunistas, seria o caminho dos comunistas para o pântano, para o suicídio.

1 comentário:

José Gonçalves Cravinho disse...

Eu,um simples operário emigrante na Holanda desde 1964 e já velhote (quase 89 anos),digo mais uma vez que o PS e o PSD são como dois irmãos gémeos que se guerreiam na disputa da herança da Quinta-Portugal,pois o PS que usa abusivamente o rótulo de socialista tal como o PSD que usa abusivamente o rótulo de social democrata,ambos quando alternadamente estão ao leme da Nau Portugal praticam a Política liberal DITADA de Bruxelas e ambos são apoiantes da Horda mercenária da NATO e de suas guerras de rapina e destruição.Mas o PSD leva muita vantagem sôbre o PS porque tem a acolitá-lo o CDS/PP,o Partido da chamada «democracia»cristã em que há ainda gente saudosa da DITADURA clerical-fascista do Estado Novo.À Esquerda que infelizmente está desunida,só lhe resta continuar esclarecendo o Povo para que êle veja quem é que lhe atira as pedradas e que em vez de morder na pedra,deve morder quem a atira.
A Pátria-Mãe p'ra mim madrasta/ empurrou-me p'rà emigração/
e maldita seja a Governação/
que Portugal p'rà miséria arrasta.