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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O exemplo belga de um governo "socialista" de cócoras

Pelo seu significado exemplar, por aquilo que transmite quanto às características políticas dos partidos hoje já inapropriadamente chamados "social-democratas", transcreve-se a seguir uma notícia publicada no jornal "Avante!", na sua última edição (15/10):

"O governo belga anunciou a intenção de exigir uma contribuição do sector financeiro para o orçamento de 2010, para compensar os cofres do Estado da sangria de recursos públicos provocada pelas sucessivas intervenções de salvamento dos principais bancos do país.«Os bancos devem pagar pela crise que provocaram. Não pedimos um gesto simbólico, para nós, 500 milhões de euros é o mínimo», afirmou, no domingo, 11, a vice-primeira-ministra, Laurette Onkelinx, no congresso do Partido Socialista Belga. Depois da falência, há um ano, do banco norte-americano, Lehman Brothers, o governo belga destinou mais de 20 mil milhões de euros para injecções de capital e garantias aos bancos Fortis, Dexia e KBC entre outras entidades financeiras, resultando daí um agravamento do défice e da dívida públicos."

Esta senhora, vice-primeira-ministra "socialista" do governa belga, decerto procurando fazer um brilharete no congresso do seu partido, afirmou com todas as letras que a crise foi provocada pela especulação financeira do segmento bancário do grande capital e, seguindo "heroicamente" em frente, exigiu que os bancos devam pagar pela crise que provocaram, concluindo pela "reivindicação" aos banqueiros que destinem ao orçamento do (seu) Estado belga, 500 milhões de euros, no mínimo(?!). Ou seja, depois de o governo belga, à semelhança do que fizeram todos os governos de serviço ao capital, ter destinado aos bancos do país mais de 20.000 milhões de euros no início da crise, a governante "socialista" reclama-lhes um donativo no valor de 1/40 avos do que receberam antes!
Este episódio, pelo seu carácter bufo, faz lembrar a velha anedota (algo machista, deve assinalar-se...) do sujeito que no cinema, no decurso da projecção, lança a mão à perna da senhora sentada ao seu lado e, perante a rejeição do seu "avanço" e o sonoro bofetão que ela lhe dá, levanta-se, compõe um ar de grande dignidade e, ao sair da fila e do cinema, diz em voz alta: "E, em casa, levas mais!"

Em Portugal, a verba destinada pelo governo "socialista" para "ajuda" aos bancos privados também totaliza mais de 20.000 milhões de euros (24.000 milhões, segundo dados do governo). Estabelecendo um paralelo com o exemplo belga, vejamos no caso português como evoluíram os lucros dos cinco maiores bancos -BES, BCP, BPI, Santander Totta e CGD - a operarem em Portugal, no decurso dos últimos anos: em 2005, os lucros obtidos suplantaram os do ano anterior em mais 42,6%; em 2006, mais 30%; em 2007, mais 9,1% (pobrezinhos...); em 2008, os lucros contabilizados caíram 16,5% - vá lá perceber-se com que contabilidades... -, totalizando 2.051 milhões de euros; finalmente, no decurso do 1° semestre já deste ano, ano da "crise", os lucros dos quatro privados (sem a CGD, pública), em relação ao período homólogo, voltaram a crescer 17,4%, somando 760,7 milhões de euros. Dito por outro modo, estes quatro bancos privados, saldadas todas as despesas - instalações, equipamentos, salários, amortizações, etc - lucraram em média a módica quantia de 4,2 milhões de euros por dia (contados os sábados e domingos), qualquer coisa como 175.000 euros por hora (dia e noite)!

Sabemos que a actual crise do capitalismo - ainda em curso - resulta da baixa progressiva das taxas de lucro do capital, fazendo-o "transitar" para as aplicações financeiras especulativas, com a correspondente sobre-produção e as modificações político-sociais operadas pela globalização neoliberal, com a acentuada redução dos rendimentos do trabalho e a liquidação dos direitos sociais conquistados nas décadas anteriores. E as respostas dos governos capitalistas seguiram um modelo generalizado: a injecção maciça de capitais públicos no sistema financeiro e nos caixas dos maiores monopólios transnacionais, recusando ir às origens da crise e inverter as políticas imperialistas dominantes, iniciadas com Reagan e Tatcher e intensificadas após a derrota da União Soviética e o fim do equilíbrio vivido entre os dois sistemas, desde os meados do século XX .
Cabe deixar assinalada aqui, uma curiosidade: contrariamente às afirmações de muitos partidos e teóricos comunistas, teorizando contra um modelo único de socialismo - afirmações e teses que hoje são consideradas sinónimo de "independência" - e defendendo sonoramente modelos diferenciados, autonómicos, respaldados na afirmação da emergência dos "socialismos do século XXI" e com "as cores nacionais", o capital antagónico, pelo contrário, não hesitou um só segundo para responder à sua própria "crise", implementando um modelo único de políticas e acções económico-financeiras, visando preservar a continuação e sobrevivência do seu sistema explorador e de opressão sobre os trabalhadores e os povos - sobre todos os povos, sobre todos os países, e, sem atender a colorações nacionais...
Um modelo único que operou a destruição das economias nacionais independentes e soberanas, a redução contínua dos rendimentos do trabalho em benefício do aumento constante dos rendimentos do capital, a liquidação dos sistemas públicos de saúde, de ensino, de segurança social para os entregar de bandeja aos grandes grupos económicos privados, o desmantelamento dos aparelhos dos estados e das políticas públicas, para os subordinar totalmente aos interesses globalizados do capital. Os resultados estão à vista: trilhões de dólares/euros sacados às finanças públicas, a destruição de inúmeras empresas, a liquidação de milhões de postos de trabalho - com a OIT a calcular que os números do desemprego atinjam em 2010 os 240 milhões de desempregados em todo o mundo -, o aumento da miséria e da pobreza, o crescimento contínuo do fosso entre ricos e pobres.

A violação dos direitos de cidadania e a liquidação das liberdades políticas, a proletarização acelerada e brutal das camadas sociais intermédias, a degradação constante das condições materiais de vida de biliões de seres humanos assalariados, a agressão ao equilíbrio ambiental, a ameaça de novas guerras inter-imperialistas, eis assim reunidas as condições objectivas gerais que exigem uma intensificação das lutas sociais e democráticas, das lutas patrióticas, condições objectivas que, com carácter de urgência histórica, nos conclamam à mobilização e ao alargamento da luta de massas do proletariado e de todas as classes e camadas laboriosas, em todo o mundo.
Não existe nenhum outro caminho alternativo para a Humanidade. Só um possui as bases objectivas e as indispensáveis condições subjectivas de sucesso: o caminho da luta de classes e de massas, com o proletariado caminhando na vanguarda, unindo os povos e rumo ao socialismo.

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