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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

28 de Novembro de 1820 - Em Barmen (Alemanha) nasce Friedrich Engels


Um dos dois maiores pensadores políticos (e não só) do século XIX, ele e Karl Marx criadores do pensamento operário revolucionário, Engels é ainda hoje preterido quando se trata de analisar a capacidade transformadora do pensamento sócio-político e da ideologia daquela nova corrente do pensamento que viria a adoptar a designação de Marxismo e a transformar radicalmente a nossa visão do mundo e a tornar bem real e "fazível" o milenar sonho de emancipação dos explorados. Autor de uma vasta e decisiva obra de reflexão teórica e de análise política aos acontecimentos da sua época, bem se pode dizer que se o corpo de teorias que ele, com Marx e posteriormente com a contribuição igualmente essencial de Lénine criaram, tivesse ficado a chamar-se Marxismo-Engel-Leninismo estaria absolutamente certo. Assim não sucedeu, e, deixemos então de parte esta reavaliação especulativa da designação consagrada, sem deixar de sublinhar o valor extraordinário da sua elaboração teórica, seja a sós, seja conjuntamente com Marx. Assinalando o aniversário do seu nascimento, fica um convite à leitura e estudo dos seus escritos, indispensáveis para uma correcta e integral avaliação dos fundamentos teóricos do marxismo-leninismo.
Abaixo se transcreve o último parágrafo da sua Introdução à edição da obra de Marx A Guerra Civil em França, por ocasião da comemoração do 20º aniversário da Comuna de Paris, texto que ainda hoje e cento e vinte anos depois revela uma frescura e conteúdo revolucionário espantosos, a exigirem-nos que "acertemos o passo" com a História, com a máxima urgência.

"(...)Contra esta transformação, inevitável em todos os Estados até agora existentes, do Estado e dos órgãos do Estado, de servidores da sociedade em senhores da sociedade, aplicou a Comuna dois meios infalíveis. Em primeiro lugar, ocupou todos os cargos administrativos, judiciais, docentes, por meio de eleição por sufrágio universal dos interessados, e mais, com revogação a todo o momento por estes mesmos interessados. E, em segundo lugar, ela pagou por todos os serviços, grandes e pequenos, apenas o salário que outros operários recebiam. O ordenado mais elevado que ela pagava era de 6000 francos. Assim se fechou a porta, eficazmente, à caça aos cargos e à ganância da promoção, mesmo sem os mandatos imperativos que, além do mais, no caso dos delegados para corpos representativos ainda foram acrescentados.
Esta destruição do poder de Estado até aqui existente e a sua substituição por um novo, na verdade democrático, está descrita em pormenor no terceiro capítulo da Guerra Civil. Mas era necessário entrar resumidamente aqui, mais uma vez, nalguns traços daquele porque, precisamente na Alemanha, a superstição do Estado transpôs-se da filosofia para a consciência geral da burguesia e mesmo de muitos operários. Segundo a representação filosófica, o Estado é a «realização da Ideia», ou o reino de Deus na terra traduzido para o filosófico, domínio onde se realizam ou devem realizar-se a verdade e a justiça eternas. E daí resulta, pois, uma veneração supersticiosa do Estado e de tudo o que com o Estado se relaciona, a qual aparece tanto mais facilmente quanto se está habituado, desde criança, a imaginar que os assuntos e interesses comuns a toda a sociedade não poderiam ser tratados de outra maneira do que como têm sido até aqui, ou seja, pelo Estado e pelas suas autoridades bem providas. E crê-se ter já dado um passo imensamente audaz quando alguém se liberta da crença na monarquia hereditária e jura pela república democrática. Mas, na realidade, o Estado não é outra coisa senão uma máquina para a opressão de uma classe por uma outra e, de facto, na república democrática não menos do que na monarquia; no melhor dos casos, um mal que é legado ao proletariado vitorioso na luta pela dominação de classe e cujos piores aspectos ele não poderá deixar de cortar imediatamente o mais possível, tal como no caso da Comuna, até que uma geração crescida em novas, livres condições sociais, se torne capaz de se desfazer de todo o lixo do Estado.
O filisteu social-democrata caiu recentemente, outra vez, em salutar terror à palavra: ditadura do proletariado. Ora bem, senhores, quereis saber que rosto tem esta ditadura? Olhai para a Comuna de Paris. Era a ditadura do proletariado."

Londres, no vigésimo aniversário da Comuna de Paris, 18 de Março de 1891. F. Engels


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