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terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O "calote" do Dubai, um caso paradigmático; quais serão os próximos?

Neste findar de Dezembro, 2009 despede-se como um ano que fica marcado pelo brutal agravamento das condições de vida das populações mundiais, com o crescimento ininterrupto do fosso colossal existente entre uma minoria milionária, que viu os seus rendimentos capitalistas continuarem a crescer exponencialmente e a esmagadora maioria da população de assalariados explorados, permanentemente alvo da espoliação de direitos sociais conquistados ao longo de décadas e vendo degradarem-se imparavelmente os seus salários reais e as suas reduzidas reformas. E as perspectivas para 2010 não são melhores, muito pelo contrário.

O "calote" anunciado há semanas pelo Dubai, forçado a decretar uma moratória nos pagamentos aos bancos seus credores, como consequência das actividades selvaticamente especulativas há anos em curso naquela parte dos Emirados Árabes - "casando" a especulação imobiliária de luxo faraónico com a especulação financeira - caiu como uma bomba sobre o laborioso cenário que vinha sendo construído pelos grandes meios mediáticos, visando inculcar a ideia de uma recuperação económica do sistema capitalista global nos últimos meses, ideia totalmente fantasiosa e destinada a paralisar as manifestações de desconfiança e de descrédito no sistema, descrença que, para o falsificado edifício económico-financeiro do capital, constitui sempre um perigo potencialmente mortal, por poder abrir um urgente e inevitável novo período de alastramento mundial das lutas de classe. E, por esta razão, o capital tratou de mobilizar todas as suas agências e centrais de manipulação informativa global para conter os estragos que Dubai estava a originar; logo surgiram as declarações de altos responsáveis governamentais e dos bancos centrais, repetidas "ad nauseum" pelos papagaios comentaristas a soldo, afirmando que tudo estava sob controle, que afinal os danos colaterais eram mínimos e que eles estariam atentos para intervirem se necessário - entenda-se, para injectarem mais recursos públicos nos bancos alvo do calote anunciado.

Mas a realidade tem sempre muito mais força, impondo-se sobre todas as rebuscadas teorizações e declarações apaziguadoras. Nos últimos dias, passou-se a falar abertamente no calote e na perspectiva de bancarrota de um outro país, a Grécia, um país membro da UE e cujo afundamento financeiro decerto trará por arrasto um grupo de países igualmente vulneráveis e que dificilmente vêm escondendo as suas evidentes fragilidades económicas. E por ser de facto assim, esses círculos do capital financeiro dominante que apontam o problemático caso da Grécia juntam-lhe já a Islândia, a Espanha, a Itália, a Irlanda e Portugal, como os países que se seguirão, com o óbvio propósito de os render e forçar a adoptar políticas draconianas. Na Grécia, um primeiro-ministro "socialista" - do Pasok, partido que ganhou as recentes eleições naquele país -, em resposta às exigências do grande capital já fala descaradamente em cortar os salários pela metade, mas claro, "só se for obrigado"... Evidentemente, se algum daqueles países assumir a condição real de falência das suas finanças públicas, o temido "efeito dominó" atingirá outros países europeus, inclusive colocando em risco a França e a Grã-Bretanha, com repercussões devastadoras na economia capitalista mundial. Os centros de decisão do capitalismo globalizado tudo farão para ocultar os factos e, no limite, tudo farão para impedir esse efeito de desagregação do sistema.

Mas este não é mais um cenário de alarmistas, antes constitui uma perspectiva bem real. Os défices públicos não param de crescer, consequência inevitável das medidas de salvaguarda do capital bancário adoptadas pelos governos de turno. As economias reais mantêm-se estagnadas e mesmo em acentuada regressão, não se vendo como e quando poderão sair desta situação, mesmo as mais poderosas economias capitalistas mundiais. O mito das potencialidades dos países emergentes como a salvação do sistema vai sendo gradualmente desmentido, à medida que os limites à sua anterior expansão dos seus mercados internos se vão crescentemente impondo, a par dos retrocessos nas actividades económicas exportadoras, que esbarram com o recuo persistente do comércio mundial.

Manietados pelos limites de recursos públicos já demasiadamente dilapidados durante este ano, os Estados capitalistas viram-se mais uma vez e agressivamente para as clássicas políticas neoliberais prevalecentes nas duas últimas décadas, cortando nos já paupérrimos investimentos públicos, liquidando serviços públicos e direitos sociais até hoje garantidos, impondo políticas laborais de intensificação da exploração do factor trabalho, promovendo a ruína e a expropriação das pequenas propriedades e dos magros rendimentos das pequenas empresas, forçando as conhecidas políticas de concentração e centralização capitalistas.

E para os trabalhadores e os povos, que consequências aí estão em desenvolvimento, à vista de todos nós? Encerramento de empresas, despedimentos, reduções salariais, cortes nos valores já de si infra-humanos das reformas, aumentos nos impostos directos e indirectos, aumentos contínuos nos preços, com o crescimento inevitável da fome e da miséria, a atingir centenas de milhões de novos pobres e indigentes. Se a resistência a estas políticas não se robustecer, se as lutas dos trabalhadores perderem impulso e vigor combativo, se o trabalho de sapa dos conciliadores e dos oportunistas nos movimentos sindicais não for derrotado, se as forças revolucionárias não intensificarem a sua acção mobilizadora e anti-capitalista, os riscos são grandes e bem reais. À ofensiva do capitalismo terá que se responder com uma organizada e urgente contra-ofensiva das forças operárias, buscando a aliança com outras forças democráticas.

Dir-se-á que nada disto é novidade, que as perspectivas mais pessimistas têm infelizmente todo o fundamento nas realidades actuais e que o caminho é o da luta, e, dizendo-o, não se faltará à verdade. Mas, entretanto, a questão central é uma outra, a reclamar toda a nossa atenção, a saber: perante o quadro actual, face a esta caminhada do capitalismo global para o abismo, arrastando com ele os países e os povos do mundo inteiro, qual deve ser a atitude de todos e de cada um de nós? Como intervir, como agir, como alertar e esclarecer as forças do trabalho sobre este caos social anunciado, interrompendo e invertendo esta marcha criminosa? Como unir e mobilizar os muitos milhares de trabalhadores - centenas de milhares, milhões - nos quais reside a força potencial para a viragem, para a transformação radical das realidades actuais, para a construção de uma sociedade nova e inovadora, criativa e potenciadora das energias realizadoras dos homens e mulheres deste nosso século XXI, o século do socialismo triunfante?

As respostas são inevitavelmente diversas e diferenciadas, necessariamente adequadas a cada estádio de desenvolvimento atingido por cada povo, nas suas múltiplas experiências políticas nacionais, regionais, continentais. Os meios de intervenção institucionalizada em presença estão manifestamente desequilibrados, com notórias desvantagens para o trabalho e em benefício do capital. Será necessária grande criatividade e uma inesgotável vontade militante para travar o combate. Mas todas as formas de intervenção e de luta, todas as bases de suporte na batalha das ideias, todos os combatentes do campo proletário e anti-imperialista têm de possuir um insubstituível denominador comum, assente em dois autênticos pilares: 1) frontalidade, clareza, combatividade na corajosa denúncia frontal do capitalismo, do seu carácter criminoso e predador da espécie humana, não deixando aberto qualquer espaço de manobra para as correntes e teorias oportunistas que têm por único objectivo perpetuar a exploração e a humilhação dos trabalhadores; 2) afirmação inquebrantável do Socialismo como a alternativa da nossa época, propagandeando, esclarecendo, informando e mobilizando sobre as suas características e condições libertadoras básicas, apelando à construção colectiva do seu projecto, estimulando a elaboração amplamente participada pelos trabalhadores dos instrumentos políticos para a sua realização, como obra que vai surgir das suas mentes e das suas mãos, fruto da sua vontade, da sua unidade e da sua luta.
As sociedades socialistas serão decerto as predominantes, num futuro já não muito distante.
Devemos acreditar que muitos de nós seremos seus construtores e participantes, nos espaços e tempos das nossas próprias vidas. Mas essas sociedades novas não nos serão ofertadas numa bandeja, e muito menos surgirão por cedência de um capital "bonzinho", "moderno", civilizado", enfim capaz de reconhecer os seus crimes e a sua desumanidade, disponível para ceder a sua posição dominante e "evoluindo naturalmente" para o socialismo. Quem o afirma, mentindo, sabe bem que isso é um logro. As novas sociedades socialistas serão o corolário triunfante dos nossos muitos e grandes esforços e da nossa acção cívica determinada e consequente. Intervindo simultâneamente para demolir ideológica e politicamente o edifício do capitalismo, denunciando e isolando os seus propagandistas e promotores, desmascarando-lhe as fachadas, minando-lhe incansavelmente os pilares e vigas de sustentação, desconjuntando-lhe as paredes, ao mesmo tempo que vamos elaborando o projecto colectivo para a construção socialista e apontando como terão de ser os seus novos alicerces e espaços a edificar, com o contributo de cada um e pela união confiante das forças de todos. Um trabalho de revolucionários para construir a revolução, obra maior das lutas de classe dos trabalhadores.

4 comentários:

Jorge Correia disse...

Muito bom post ! parabens!

UM Bom Natal e um Ano Novo o melhor possível para ti e tua família, são os desejos deste teu amigo e camarada.

samuel disse...

Excelente texto!
Foi bom bom encontrar (por acidente) este blog... e ainda por cima ver que já por aqui habitava o meu.
O Assalto ao Céu passa a estar pendurado na lapela do Cantigueiro.

Abraço.

poesianopopular disse...

Cheguei li e apercebi-me de que não te limitas a apontar os males que afectam a humanidade - tambem apontas sugestões. temos que fazer com que o grande capital faça a rotura com os seus Bôbos,fantoches palhaços,enfim com o circo, que mantem o povo entretido.
Abraço

Anónimo disse...

Com o circo e com o futebol que é agora "o maior espectáculo do mundo" ... e que circo nauseabundo.