SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O PCP, o Tratado de Lisboa e o rumo desta UE

Assinalado com pompa e circunstância, como é da praxe bacoca dos governos do actual 1°. ministro de Portugal, o grande capital acaba de decretar a entrada em vigor na sua UE do chamado Tratado de Lisboa, redigido pela sua Comissão Europeia e nas costas dos respectivos povos, com a conivência submissa dos vários governos de turno dos países integrantes.
O PCP, em nota divulgada pelo seu gabinete de imprensa, tomou a posição que abaixo se transcreve, pelo carácter esclarecedor do seu conteúdo e como uma útil contribuição para aclarar que tratado é este, que UE é esta, que propósitos de classe são os seus, denunciando o seu objectivo de consumar uma sujeição política unificada dos povos dos vinte e sete países que a integram, liquidando as suas independências nacionais, impondo as regras de uma federalização neoliberal e procedendo à perigosa militarização desta parte do mundo, como respaldo e complemento das agressões que a NATO leva a cabo em vários pontos do globo.


1. A História tem por vezes coincidências simbólicas e o dia de amanhã [1/12] não deixará de marcar uma delas. No dia em que Portugal comemora um importante momento da afirmação da sua nacionalidade, o 1°. de Dezembro, em que se assinalam 369 anos sobre a recuperação, por via da luta, da independência e da soberania nacionais, o povo português é confrontado com um sério atentado à sua soberania e à independência do seu País com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa.
Com este novo Tratado, Portugal entra numa nova fase do processo de “integração europeia” que institucionaliza o neo-liberalismo como doutrina económica; que consolida a União Europeia como bloco económico e político de carácter imperialista, aprofundando a sua vertente militarista, e que reforça o carácter federalista e de directório de potências da União Europeia. O Tratado de Lisboa entrará amanhã em vigor, mas o PCP reafirma hoje que tal rumo da União Europeia não é uma inevitabilidade e que os direitos sociais, laborais e nacionais, o presente e o futuro do País, dos trabalhadores e do povo português, continuam a estar nas suas próprias mãos e na sua capacidade de luta por transformações sociais que trilhem o caminho da ruptura e da mudança patriótica de esquerda que se impõe.

2. Neste processo de imposição do Tratado de Lisboa aos povos da Europa, Portugal será apresentado amanhã como um “vencedor”. Mas, como o PCP não se cansou de denunciar, o povo e o País perdem com este Tratado, assim como perdem os restantes povos da Europa.
Perdem porque o aprofundamento da crise estrutural do sistema capitalista e a profunda crise económica e social em que o país se encontra demonstram que são exactamente as políticas que este Tratado institucionaliza que estão na origem da crise, dos défices estruturais, da dependência e dos graves problemas económicos e sociais do nosso País.
Perdem os trabalhadores e o povo português porque este tratado enquadra toda uma linha de políticas anti-sociais que garantem os lucros milionários ao grande capital à custa do desemprego em massa, do trabalho precário, do alastramento da pobreza e das desigualdades e da destruição de conquistas históricas do movimento operário na Europa.
Perde Portugal porque com este Tratado vê transferidas competências de soberania em numerosos domínios ao mesmo tempo que perde influência nos processos de decisão da União Europeia.
Perdem os povos da Europa e de todo o Mundo e os seus justos anseios de paz e segurança internacional. A criação da Agência Europeia de Defesa, ligada aos interesses do complexo industrial militar europeu; a referência ao aumento das capacidades e despesas militares; a submissão dos meios civis e militares dos Estados membros aos objectivos definidos pelo Conselho; a profissão de fé relativamente à NATO plasmada no Tratado; a criação do “Serviço Europeu de Acção Externa”, são, entre várias outras orientações, provas concretas em como este é um perigoso salto na vertente militarista e intervencionista da União Europeia associada aos EUA e à NATO e ao aprofundamento do seu carácter de organização global de natureza agressiva.
Perde, por último, a democracia. Porque o Tratado que amanhã entra em vigor é uma segunda versão da dita «Constituição Europeia» que foi derrotada pelos povos nos referendos de 2005 na França e na Holanda e porque ficará também lembrado como aquele que, para entrar agora em vigor, negou o direito de sobre ele se pronunciarem os Povos e espezinhou a vontade popular expressa no referendo da Irlanda de 2008, obrigando esse povo a repetir o referendo até que o resultado fosse o desejado.

3. O Tratado de Lisboa está ferido de morte por um processo que evidencia o carácter anti-democrático do actual rumo da União Europeia. Este é um Tratado que carece de legitimidade política e institucional, pelo seu conteúdo e porque marcado pelo desrespeito pela democracia e pela soberania do povo português.
Para o PCP a soberania de um povo, do nosso povo, não é um bem transaccionável num qualquer jogo de domínio entre classes dominantes e potências. Para o PCP a soberania é um elemento intrínseco da democracia, um inalienável direito que ao povo pertence e que por ele pode e deve ser exercido.
Os promotores do Tratado de Lisboa, representados em Portugal por PS, PSD e CDS-PP, fugiram durante anos à discussão livre e democrática dos rumos da integração europeia e dos conteúdos da dita «constituição europeia» e deste Tratado. Negaram ao povo português - rompendo com promessas eleitorais - o seu inalienável direito de se pronunciar sobre questões fundamentais para o seu devir colectivo. Essa é a razão fundamental porque amanhã, quando o Tratado de Lisboa entrar em vigor, o povo português desconhecerá quase por completo as suas gravosas consequências. A responsabilidade desta aberração democrática será inevitavelmente assacada pela História àqueles que, submissos aos interesses do grande capital e das grandes potências, optaram por impor a sua visão única e de classe no relacionamento entre Estados no continente europeu.

4. Os povos, com as forças do progresso, com os partidos comunistas, continuarão a sua luta por uma outra Europa. Uma Europa dos trabalhadores e dos povos que nunca poderá ser construída contra os seus interesses e aspirações. Uma Europa que não poderá ser desenhada para servir os objectivos de domínio do grande capital e de um punhado de potências. Uma Europa que terá de assentar os seus mais fundos alicerces no respeito pela História e a soberania das nações, pela democracia, os direitos e a participação democrática. Uma Europa fundada no estrito respeito pelas conquistas históricas do movimento operário no continente. Uma Europa que respire os valores da paz, da solidariedade e da entreajuda, respondendo aos justos anseios e aspirações dos seus povos.
No momento em que um novo e importante salto militarista, neoliberal e federalista na União Europeia é consumado, o PCP afirma perante os trabalhadores e o povo português que não se resignará perante as novas condicionantes à vida democrática nacional que este Tratado implica.
Afrontando a letra e o espírito da Constituição da República Portuguesa, as implicações políticas, institucionais, económicas e sociais decorrentes da entrada em vigor deste Tratado colocam novas exigências a todos aqueles, democratas e patriotas, que prosseguem a luta pela democracia, pela defesa dos direitos sociais e laborais, pelo direito ao desenvolvimento económico do País, pela soberania, a paz e a cooperação na Europa. Mas, a entrada em vigor deste Tratado não representa, de forma alguma, o fim da luta contra o seu conteúdo, contra os objectivos de domínio e as políticas que corporiza. Pelo contrário, ela torna-se mais urgente e exigente.



Muitas ilusões ainda povoam a imagem que milhões de cidadãos, dentro e fora da Europa, concebem sobre o que é a UE. Mentiras há muito urdidas e propagandeadas - assentes na ideia corrente e justa que "a união faz a força" - foram laboriosamente persuadindo as pessoas que esta "Europa" defende os interesses nacionais dos seus povos, que permite a circulação livre e sem fronteiras - usufruída por uns 5/6 por cento, dos seus habitantes?... -, que tem uma moeda única para evitar os incómodos do câmbio - idem, para uma escassíssima minoria -, que reforça o peso negocial de cada país perante os países exteriores, enfim, publicitando os "trocos" políticos das hipotéticas vantagens para ocultar e iludir os seus reais objectivos e funestas consequências para os trabalhadores e os povos europeus, intensificando a sua exploração e deslocando o poder real para orgãos centrais não-eleitos, com a correspondente liquidação da soberania nacional dos países aderentes.
Há mesmo quem, dizendo-se de esquerda, defende este projecto federalista com o argumento que esta UE é uma resposta necessária para contrapor à hegemonia dos EUA, facilitando as lutas dos trabalhadores europeus. Tais pessoas e partidos não vêem - ou não querem ver - que esta UE é somente um pólo complementar do sistema imperialista mundial e que os trabalhadores, ao contrário do que afirmam, são os principais interessados em travar as suas lutas no âmbito de cada país e Estado, defrontando directamente o aparelho de poder de cada burguesia nacional e contra estas direccionando as suas reivindicações políticas, sem prejuízo de acções coordenadas e decididas à luz do internacionalismo proletário.
Esta UE é a dos monopólios e das transnacionais, aliados/integrados ao imperialismo. Contra a opinião de muitos sectores políticos, incluindo partidos comunistas, esta UE é irreformável. As suas características centralizadas e à margem da vontade dos povos, as suas instituições e as suas práticas anti-democráticas - agora reforçadas pela institucionalização deste último Tratado de Lisboa - não permitem alimentar quaisquer ilusões de uma futura democratização. O percurso político que realizou, desde a sua criação em 1951, com a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (França, Itália, RFA, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo), passando pela CEE dos anos oitenta, com doze integrantes (com a adesão do Reino Unido, Irlanda e Dinamarca -1973-, Grécia -1981-, e Portugal e Espanha-1986) até à actual UE (cujos últimos aderentes foram a Bulgária e a Roménia e tendo hoje como candidatos à adesão a Croácia, a Turquia e a Macedónia), muita coisa mudou e sempre para pior, à medida que as economias mais fortes iam "engolindo" as mais fracas. Reforçou o seu carácter de aparelho multinacional de dominação política e de exploração económica dos povos e países que a integram. A Europa dos trabalhadores e dos povos, sendo um objectivo justo e bonito, só será concretizável num quadro político europeu muito mais avançado, marcado já pelo caminho da construção do socialismo.
De um ponto de vista de classe, esta UE deve ser desmascarada, combatida e finalmente derrotada, com a exigência da sua extinção. Exigência a ser construída pela activa resistência dos trabalhadores e dos povos europeus contra as suas políticas pró-monopólios e imperialistas, políticas reaccionárias de violação da democracia e de esmagamento das liberdades. Uma exigência que a nota do PCP claramente fundamenta.

4 comentários:

Fernando Marta disse...

A história acabará por dar razão ao PCP.

Op! disse...

Já me sinto mais europeu!!!
E não é grande coisa!

mugabe disse...

Continuamos na luta.

Abraço!

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.