SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Vejamos então o primeiro dos três traços apontados no texto de abertura publicado, a crise sistémica do sistema capitalista mundial.
Significativamente, cada vez é maior a coincidência das análises, seja qual for o lado - esquerda ou direita - dos analistas e comentaristas, exactamente sobre o carácter global e sistémico da actual crise do capitalismo. Tendo origem no centro financeiro, político e militar estado-unidense, pelas próprias características motrizes imperialistas de todo o sistema que este centro de comando tem desempenhado há pelo menos meio século, o desmoronamento a que estamos históricamente assistindo adquire os traços globais de um arrastamento na queda de todos os sub-sistemas capitalistas regionais e nacionais. De facto, trata-se já de uma crise de consequências únicas e ainda imprevisíveis quanto ao futuro do capitalismo. A fragorosa derrocada da etapa neoliberal do capitalismo que já começou, com efeito não é só nos planos financeiro e económico, mas também em grande medida nos planos político e ideológico. No decurso de um único e final trimestre do ano que está a findar, as mudanças em marcha são já de enormes dimensões, inimagináveis para as pessoas comuns - mesmo as informadas - há poucos meses atrás. Isto é, a par da derrocada do edifício financeiro central do capitalismo, que está atingindo em ondas de choque sucessivas a economia real, tornando práticamente inoperantes os mecanismos políticos do capitalismo para a travar, é a própria percepção, pelo cidadão da rua, do carácter irracional, predador, criminoso do sistema, percepção esta que alcança níveis nunca antes atingidos. E este fenómeno tem também de novo o facto de tal transformação nas consciências não ser o resultado directo da acção política dos partidos e militantes revolucionários e da esquerda mas antes radicar nas contradições que explodiram dialécticamente no interior dos próprios edifícios políticos e ideológicos do capital.
"Nacionalização" de bancos e outras grandes corporações financeiras, injecção de quantidades fabulosas de capitais públicos nestes e em grandes empresas transnacionais, com a transferência massiva dos recursos financeiros dos Estados, assim transformados em contribuintes líquidos e directos no processo de concentração e centralização capitalista, que está ocorrendo por detrás da cortina ideológica do chamado "dever" dos governos de agirem para salvarem os cidadãos e as instituições da bancarrota, tudo são factos que desmentem - e indirectamente desmascaram - as doutrinas económicas e políticas que foram as dominantes ao longo das últimas três décadas. O total engajamento de todo o aparelho ideológico do capitalismo imperialista na intensa e massiva actividade que desenvolvem para persuadir as massas populares da "inevitabilidade" e "indispensabilidade" de tais medidas, contraditóriamente, choca-se com a memória histórica próximo-imediata das pessoas. A concepção dominante de Estado, como uma entidade arbitral, acima das classes, providenciando o bem de todos, é posta em causa não pela elaborada batalha das ideias mas sim pelas recentes e continuadas acções, pelas práticas actuais dos próprios Estados, que contrastam com aquilo que proclamavam há dois meses sobre contenção dos déficites públicos, contenção nas actualizações salariais, combate "à crise". Resumindo, como ocorre periódicamente, as massas aprendem - apreendem - hoje mais sobre o significado político real de termos como "globalização", "neoliberalismo", "funcionamento dos mercados", do que não conseguiram durante muitos anos. Podemos ainda acrescentar que se trata de um fenómeno natural, resultante da dialética própria do processo histórico.
Nesta altura da reflexão, importa colocar a questão: qual tem sido o papel desempenhado pelas forças revolucionárias? Que intervenção tiveram/estão tendo os partidos e militantes comunistas neste quadro político-ideológico em mutação, marcado pelas gritantes dificuldades por que passam os ideólogos do capital, forçados a aceitarem como novas as teorias keynesianas e a ressuscitarem doutrinas social-democratas serôdias? A resposta a esta importante questão não nos é lisongeira. As primeiras tomadas de posição da generalidade dos partidos comunistas e operários, bem como as de numerosos intelectuais e personalidades que se reclamam marxistas, caracterizaram-se por uma atitude atentista, mesclada por chamadas de atenção preocupadas quanto aos perigos de um aproveitamento por parte das chamadas extrema-direitas. Ou seja, análises e posições recuadas, centradas quase todas nos perigos decorrentes da crise do capitalismo e nos riscos sociais e políticos que desta crise podem advir para os trabalhadores e os povos. Exemplo desse recuo é a quase ausência de questionamentos nos parlamentos e espaços nacionais sobre o carácter acintosamente anti-democrático, autocrático, ditatorial, com que os governos do capital desencadearam e prosseguem as acções de esbulho dos erários públicos para enriquecimento de banqueiros e monopolistas. Obrigados durante anos à resistência e ao acantonamento de posições, resultantes das derrotas do socialismo e da nova relação mundial de forças, não foram capazes de reagir acertadamente à nova situação, não percebendo no imediato e com clareza o carácter estrutural da actual crise do capitalismo, deixando assim livre um espaço do combate que as forças do capital não deixaram de aproveitar para recuperarem e manobrar novas linhas ideológicas e de acção política. O recente 10º Encontro Internacional dos Partidos Comunistas e Operários, realizado em 21-22-23 de Novembro, em S. Paulo, exactamente centrado sobre a actual crise do sistema capitalista, não obstante algumas boas intervenções de partidos presentes, não conseguiu nas suas conclusões responder com linhas de acção à altura das potencialidades do novo quadro mundial - e do novo Movimento Comunista e Operário que urge organizar e dinamizar para os nossos dias.
Poder-se-á dizer que tal atraso e hesitações, se são reais, não são particularmente graves. A tal juízo gostaria de responder com duas ideias: a) o atraso na actuação das forças revolucionárias traduz-se sempre em prejuízos no combate de classe; b) Tais prejuízos tornam-se inaceitáveis se porventura revelam um erro de posicionamento das forças revolucionárias, que nesta altura do que vai escrito me limito a caracterizar como uma manifestação de um erro muito mais fundo dos nossos partidos, a saber, um claro desequilíbrio entre os conteúdos analítico - a "problemática" - e posicional - a "solucionática". Tal problema radica-se na clássica questão para os marxistas-leninistas: "Que Fazer?", que nos coloca a interessante e decisiva questão da importância do factor subjectivo na luta revolucionária.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Curta apresentação dos propósitos iniciais

Prestes a findar, este ano de 2008 revelou-se muito especial. Um ano que termina recheado de importantes acontecimentos e que apontam uma viragem de época.
Três elementos recentes conduziram-me à experiência deste blog que hoje inicio: a profunda crise sistémica do sistema capitalista mundial, as grandes manifestações populares na Grécia e o episódio das sapatadas sobre Bush no Iraque.
O meu objectivo é partilhar e discutir a relevância do factor subjectivo no processo revolucionário mundial contemporâneo nos dias de hoje, nestes nossos dias de viragem para 2009, um ano que poderá afirmar-se novo por mais razões para além das do calendário. Uma viragem que muito depende do contributo de cada um de nós, daqueles que nos reclamamos marxistas-leninistas,no âmbito da intervenção colectiva dos partidos comunistas e revolucionários.