SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Marx e o debate político-ideológico hoje em curso (II)

"Curioso que certos estudiosos, quando falam do marxismo, investigam o pensamento de Marx antes de este ter formulado as grandes conclusões teóricas. Ou seja: de quando Marx ainda não era marxista. O marxismo há que considerá-lo em movimento, acompanhando a vida." (Álvaro Cunhal, "O valor actual do Manifesto", 1998, in "O Militante", ao assinalar o 150°. aniversário.)


Paradoxal mas indiscutivelmente dialéctica, verdadeira, esta frase de Álvaro Cunhal surge-nos hoje, onze anos depois de ter sido publicada, como se tivesse sido cunhada para caracterizar muitos dos teorizadores que na actualidade, para defenderem as suas teses entre os militantes marxistas, falsificam e tripudiam sobre o pensamento de Marx. São inúmeras as citações deste criador do marxismo, utilizando todos os seus textos mais caracterizadamente políticos e frequentemente para negar o que de mais intemporal tem o seu pensamento, ou seja, a perspectiva da transformação revolucionária do real.

Na imprensa on-line, em textos de opinião, pode dizer-se que após o deflagrar da actual crise sistémica do capitalismo citar Marx virou moda, trinta ou quarenta anos depois de ter sido execrado e banido dos debates políticos. A coberto de uma linguagem "de esquerda", numerosos são os teóricos "marxistas" que pregam a desistência do combate, o abandono da luta de classes, a resignação e a passividade, usando sempre como argumento – para eles axiomático... - uma pseudo-ausência das "condições objectivas" necessárias para se intentar a superação do sistema. Os partidos ditos socialistas ou trabalhistas estão pejados deles. No campo do reformismo, aqui no Brasil e na área destes partidos social-democratas tardios, devemos citar o exemplo de Wladimiro Pomar ("Correio da Cidadania"), um ex-comunista que abraçou a causa lulista do PT, como um caso típico de uma ilegítima utilização da mencionada frase inicial do "18 de Brumário", que tratamos desenvolvidamente na parte (I).

Outros dois casos, de equivocada utilização daquela citação de Marx, são os artigos de opinião, editados pelo "Vermelho", na sua Tribuna de Debates, assinados por Elias Jabbour (“Desenvolvimento desigual e a historicidade da questão nacional”, em 15/7) e Pedro Cross (“As eleições no novo programa – entre o problema e a solução”, em 21/7). A sua leitura revela, com clareza, tanto o seu uso indevido quanto o modo como querem sancionar posições pessoais - economicistas e pragmatistas - utilizando abusivamente como respaldo o pensamento de Marx.

Na maioria dos casos e invariavelmente são pessoas que recusam o papel determinante da luta de massas, pregando a "dispensabilidade" de uma direcção política por parte do partido operário; defendem uma hipotética conciliação de interesses das classes, desenvolvendo as suas erradas teses sobre a possibilidade da superação "pacífica" do capitalismo, discorrendo sobre uma sua hipotética transformação gradualista, visando convencer-nos que, de reforma em reforma, por um modo "democrático" e sem rupturas revolucionárias, "transitaríamos" ao socialismo. Fazem-no geralmente para defender posições que correntemente designamos por "economicistas", "pragmáticas" ou "possibilistas". São os falsos "etapistas", na verdade teóricos defensores de múltiplas teses sobre uma fantasiosa auto-reforma do capitalismo.
No plano pessoal, é legítimo presumirmos que já se renderam perante a força e a posição dominante do capital, aceitando-o como inevitável, priorizando a preservação e usufruto do lugar que eles próprios ocupam na escala social. Considerando que a dura trincheira da luta de classes não é local próprio para eles, intentam persuadir os outros a aceitar “as realidades como elas são”. Contentando-se em serem “a esquerda do sistema”, são seus grilos críticos de uma forma totalmente inconsequente.
Mais ainda, reclamam com frequência ser indispensável atingir-se previamente um estágio de "hegemonia política do proletariado" por via institucional, isto é, pela chamada “via eleitoral”, querendo convencer-nos ser possível numa democracia parlamentar burguesa, no campo do adversário e sob as suas regras, jogar e ganhar o jogo "democrático". Defendem uma idealista concepção de democracia, sem conteúdo de classe, atemporal e universal. Iludem o óbvio facto destas "democracias" parlamentares burguesas serem, afinal, verdadeiras ditaduras de fachada democrática. São familiares ideológicos daqueles outros que há já mais de cem anos Lénine caracterizava dizendo deles: "Alguns dos nossos gritam: 'Vamos para o pântano!' E quando lhes mostramos a vergonha de tal ato, replicam: 'Como vocês são atrasados!' "


A grande burguesia, no caso particular da brasileira, usufrui para o efeito de uma vastíssima parafernália de instrumentos e meios, que liquida qualquer veleidade de democraticidade que se possa acreditar terem as eleições parlamentares burguesas: os grandes orgãos de comunicação de massas - que possui, controla e manipula -, um ensino discriminatório e elitista, meios editoriais poderosos e uma política “cultural” de subserviência ao capital, a repressão económica e social nos locais de trabalho, uma justiça de classe tendenciosa, forças de segurança direccionadas à repressão das camadas populares, o domínio - mais exactamente, a compra! - da esmagadora maioria dos aparelhos partidários, a posse prática e a manipulação dos diversos orgãos de Estado, um colossal poder económico, posições predominantes nos governos estaduais e no governo federal, etc, etc.
Torna-se óbvio que defrontamos um inimigo de classe poderoso, tanto no plano interno como no plano externo. Todavia, exactamente por isso, nas sociedades capitalistas desenvolvidas aos comunistas cabe sacudirem esse jugo multiforme e castrante, organizando as forças operárias e populares, mobilizando energias, construindo alianças sociais e políticas, numa palavra, desempenhando o irrecusável e insubstituível papel de uma força política revolucionária.
É-nos ainda útil voltar ao "18 de Brumário" de Marx, com a transcrição de um parágrafo que nos surge hoje com traços quase premonitórios, que passo a transcrever:

"O carácter peculiar da social-democracia resume-se no fato de exigir instituições democrático-republicanas como meio não de acabar com dois extremos, capital e trabalho assalariado, mas de enfraquecer o seu antagonismo e transformá-lo em harmonia. Por mais diferentes que sejam as medidas propostas para alcançar esse objetivo, por mais que sejam enfeitadas com concepções mais ou menos revolucionárias, o conteúdo permanece o mesmo. Esse conteúdo é a transformação da sociedade por um processo democrático, porém uma transformação dentro dos limites da pequena burguesia. Só que não se deve formar a concepção estreita de que a pequena burguesia, por princípio, visa impor um interesse de classe egoísta. Ela acredita, pelo contrário, que as condições especiais para a sua emancipação são as condições gerais sem as quais a sociedade moderna não pode ser salva nem evitada a luta de classes."

Eis aqui evidenciado por Marx, num só parágrafo, um ramo típico da ideologia pequeno-burguesa. Escrito por um dos maiores revolucionários da história das sociedades humanas, à distância temporal de cento e cinquenta e sete anos (!), aplica-se integralmente às concepções actuais daqueles que, rejeitando o exigente caminho da Revolução, visam trocá-la por uma mirífica transição, gradual e "evolucionista", que nunca virá.

Confirmando a afirmação de Álvaro Cunhal colocada no início, que exactamente combate as citações falsificadoras do pensamento e sentido geral da sua vida e da obra de Marx, termino com um período de uma carta de Engels a Joseph Bloch, escrita em 1890 - quarenta e dois anos depois da publicação do "Manifesto" -, na qual ele já criticava as leituras economicistas do marxismo:

“Segundo a concepção materialista da história, o momento em última instância determinante [in letzterInstanz bestimmende], na história, é a produção e reprodução da vida real. Nem Marx nem eu alguma vez afirmamos mais. Se agora alguém torce isso [afirmando] que o momento económico é o único determinante, transforma aquela proposição numa frase que não diz nada, abstracta, absurda. A situação [Lage] económica é a base [Basis], mas os diversos momentos da superestrutura [Überbau] – formas políticas da luta de classes e seus resultados: constituições estabelecidas pela classe vitoriosa uma vez ganha a batalha, etc., formas jurídicas, e mesmo os reflexos [Reflexe] de todas as lutas reais nos cérebros dos participantes, teorias políticas, jurídicas, filosóficas, visões [Anschauungen] religiosas e o seu ulterior desenvolvimento em sistemas de dogmas – exercem também a sua influência [Einwirkung] sobre o curso das lutas históricas e determinam em muitos casos preponderantemente [vorwiegend] a forma delas.”

Parece clara, transparente, esta recusa frontal de Engels das mistificações acientíficas da teoria política criada por ele e por Marx. Já no seu tempo lhe foi necessário combater o oportunismo de um falso "objectivismo" que visava - e ainda hoje visa! - subestimar a relevância decisiva dos factores subjectivos na transformação progressista e revolucionária das sociedades humanas.

O capitalismo, como sistema sócio-político, não acabará por vontade própria, não aceitará pacificamente ceder o seu lugar na história ao socialismo. Este resultará, sim, da vontade determinada dos trabalhadores, em luta contra o capital, guiados pelas ideias desse sistema integrado de teorias que dá pelo nome de marxismo-leninismo. A todos nós, aqueles que nos reclamamos marxistas-leninistas, estão-nos vedadas ideias e práticas reformistas que atrasam e prejudicam essa caminhada em direcção ao futuro.
Aos assalariados, ao proletariado, aos seus partidos de classe, cabe-lhes afirmar a sua própria ideologia, a ideologia da classe operária, rejeitando o que "alguns dos nossos gritam: vamos para o pântano!" e avançando firmemente pelo caminho certo, há muito apontado por Marx, Engels e Lénine, o caminho da preparação, organização e mobilização para a revolução - realizando a revolução socialista. Afinal, aos que se consideram revolucionários, cabe-lhes cumprir com a sua principal tarefa - fazer a Revolução. Os homens, sim, fazem a sua própria história. E os comunistas, fieis ao seu projecto transformador e revolucionário, "não esperam acontecer".


quinta-feira, 24 de setembro de 2009

"Quo Vadis", União Europeia?

“A eleição de Durão Barroso [ como presidente da Comissão Europeia ] é uma boa notícia para a Europa, é uma boa notícia para o projecto europeu, é uma boa notícia para Portugal, é uma boa noticia para o Tratado de Lisboa», foram as palavras de José Sócrates, 1°. Ministro de Portugal, congratulando-se com esta eleição.


A reeleição recente de Durão Barroso para presidente da Comissão Europeia (C.E.), confirmada pelo Parlamento Europeu (P.E.) em 16/9, traduz bem, pelas características da personalidade em causa e pelos resultados da votação, a continuidade no rumo neoliberal e militarista/imperialista desta União Europeia (U.E.). Eleito quase à justa, com 382 votos a favor - poucos votos mais que os mínimos 369 necessários, para obter a maioria -, 219 contra e 117 votos de abstenção, quando há cinco anos tinha obtido 413 votos a favor, 251 contra e 44 abstenções, ficam à vista as crescentes dificuldades na actuação da C.E. a que preside. Recolhendo a votação dos deputados eleitos pelos partidos à direita no espectro político europeu, os social-democratas e socialistas tiveram como orientação a abstenção. Transfugas a este sentido de voto, os deputados do Partido Socialista de Sócrates votaram a favor de Durão Barroso, votação que constitui uma eloquente manifestação do carácter subserviente do actual 1°. Ministro e do PS português aos ditames dos governos de Merkel e Sarkozy, a par da sua reiterada submissão aos interesses do imperialismo norte-americano.


O Tratado da Comunidade Económica Europeia (CEE), assinado em 1957 em Roma, estabeleceu inicialmente uma união económica de seis países que, após sucessivas reformas e novos tratados se transformou posteriormente em União Europeia (E.U.), hoje uma união política alargada a vinte e sete países.

O seu percurso e objectivos confirmam-na como um instrumento da concentração e centralização capitalistas, ao serviço dos interesses das mais fortes economias do espaço europeu, isto é, ao serviço dos grandes grupos monopolistas e transnacionais. O chamado "Tratado de Lisboa", recusado em 2005 nos referendos realizados em França e na Holanda e depois objecto de manobras cosméticas de forma a ser aprovado nos parlamentos respectivos, foi posteriormente rejeitado pelos irlandeses em referendo realizado no ano passado (Junho/2008), rejeição que tem levado a sujas manobras e pressões por parte dos grandes da U.E. sobre a Irlanda, forçando-a "democraticamente" à realização em breve de um segundo referendo! - provando que, para o capital, o sufrágio universal e a democracia só são bons quando os resultados aprovam os seus objectivos, perpetuando os seus interesses de classe.


Organização profundamente anti-democrática, quem a dirige são dois orgãos executivos não eleitos, a Comissão Europeia e o Conselho da União Europeia, que ditam as leis e as políticas tornadas resoluções de cumprimento obrigatório para os vinte e sete estados aderentes, cujas constituições, legislação e jurisprudências nacionais são autoritariamente ultrapassadas e derrogadas. É assim que se tornam 500 milhões de pessoas dependentes de um pequeno grupo nomeado pelos governos e não eleito democraticamente, que impõe aos cidadãos europeus quase tudo o que estes podem ou devem fazer no seu dia a dia.
O Parlamento Europeu (P.E.), eleito por sufrágio universal pelos cidadãos dos vinte e sete, só existe para dar uma falsa imagem democrática da União Europeia. O P. E., com raras excepções, não tem qualquer poder de iniciativa. É a Comissão Europeia que detém o monopólio das iniciativas legislativas. O Parlamento Europeu, contrariamente ao que se passa em democracia, não pode propor novos tratados, ratificá-los, alterá-los ou controlar a sua aplicação. Aliás, muitas das orientações legislativas encontram-se impostas no próprio tratado. O Parlamento Europeu não tem qualquer poder em matéria de política monetária, política económica, política estrangeira, política comercial comum, política agrícola comum, controle de capitais, cooperação policial e judiciária, etc, etc. Para todas estas questões, o Parlamento Europeu tem apenas um poder consultivo. É o Conselho da União Europeia que define as orientações políticas da U.E. É este que controla as "despesas obrigatórias", contentando-se o PE com a gestão das "não obrigatórias".

Pela informação actualizada e útil que contém, para uma avaliação política a todo o processo, e pela justa e firme posição de classe que traduz, transcreve-se em seguida o conteúdo de uma nota do Gabinete de Imprensa do PCP:


1 – A aprovação pelo Parlamento Europeu da proposta de indigitação de Durão Barroso para Presidente da Comissão Europeia representa a continuidade das políticas e orientações comunitárias que têm presidido ao actual rumo neoliberal, federalista e militarista da União Europeia. Políticas e orientação que, é importante recordar, estão na origem da profunda crise económica e social que afecta os vários Estados membros da União Europeia, com consequências devastadoras para milhões de trabalhadores e para os povos.

2 – A reeleição de Durão Barroso significa, como o próprio já fez questão de referir, não só a continuação mas o aprofundamento das políticas que estão na raiz dos violentos ataques aos direitos dos trabalhadores no continente europeu, ao desmantelamento e privatização das funções sociais dos Estados e à liberalização dos serviços públicos.

3 – Para o PCP o facto de o agora reeleito Presidente da Comissão Europeia ser um cidadão português em nada altera a sua avaliação do percurso político e das políticas que Durão Barroso defendeu, defende e executa em Portugal ou na União Europeia. Para o PCP o que está em causa não são as pessoas mas sim as políticas. O PCP não esquece que o ex-primeiro ministro português é aquele que participou na cimeira da guerra realizada nos Açores dando total cobertura à criminosa guerra do Iraque e que agora defende e exige dos Estados membros da União Europeia um maior envolvimento na guerra do Afeganistão. Durão Barroso é um dos impulsionadores da acelerada militarização da União Europeia no quadro de uma NATO cada vez mais agressiva. O PCP não esquece que Durão Barroso é um destacado defensor – tal como o actual Primeiro-ministro português – do Tratado de Lisboa e da imposição anti-democrática de um novo referendo na Irlanda, marcado já por inaceitáveis pressões exteriores.O PCP não esquece que Durão Barroso teve e continuará a ter um papel central na definição e execução de políticas comunitárias profundamente contrárias aos interesses nacionais, designadamente na economia, indústria, energia, nas pescas ou agricultura. Estas, são razões mais do que suficientes para o PCP e o Grupo em que se integra – Esquerda Unitária Europeia / Esquerda Verde Nórdica – terem votado contra a proposta do Conselho de reeleição de Durão Barroso.

4 – O PCP não pode deixar de registar que, num quadro em que o PS se esforça por apresentar diferenças face ao PSD durante a actual campanha eleitoral, tenha precisamente convergido com a direita no apoio à recondução de Durão Barroso e à continuidade das políticas abertamente neoliberais que estão na origem das injustiças e desigualdades que se registam no País e na União Europeia.

5- O acordo obtido entre liberais, direita e parte considerável da social democracia no Parlamento Europeu em torno da recondução de Durão Barroso vem demonstrar mais uma vez que uma outra política de progresso e desenvolvimento social, de justa redistribuição da riqueza, de combate à pobreza e ao desemprego na União Europeia só pode ser obtida pela intensificação da luta dos trabalhadores e dos povos dos Estados membros.




O deputado comunista João Ferreira, recém-eleito no Parlamento Europeu, ao analisar na última edição do jornal "Avante!" aquilo que chama apoios reveladores na reeleição de Durão Barroso, afirma:

"É incontornável que desta eleição se tirem ilações para as eleições em Portugal. Em especial, uma: o mesmo partido que agita o perigo do regresso da direita ao poder, que reclama a concentração em si dos votos da esquerda, que, recorde-se, há poucos meses atrás tinha um cabeça de lista que não se cansou de zurzir no fundamentalismo neoliberal da Comissão, é o mesmo partido que, agora, deu o seu apoio a Barroso e ao seu programa. Uma opção esclarecedora. E uma evidência mais do iniludível e estreito vínculo do PS com a política de direita."

Mais do que um vínculo com a política de direita, hoje o PS/Sócrates e o seu governo são instrumentos políticos da direita, isto é, são um partido e um governo de direita, designação mais exacta e que se torna indispensável, urgente e irrecusável passarmos a utilizar.
Devemos essa verdade aos muitos trabalhadores, eleitores e apoiantes do PS, ainda profundamente iludidos e equivocados pelas mentirolas de Sócrates, Alegre e Cia., que diariamente "vendem" tal partido e tal governo como sendo a "esquerda". Desmascarar esta mentira é dever de todos nós.








segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Marx e o debate político-ideológico hoje em curso (I)



Há já algum tempo, aqui ficou enunciada a necessidade de tratar um aspecto particular do confronto ideológico que actualmente se trava e que opõe, nas designações utilizadas pelos contendores, espontaneismo e voluntarismo. Trata-se de um confronto de ideias sobre a acção política que, como sempre ocorre quando se recorre à simplificação do uso dos "ismos", não exprime toda a luta de concepções que se vem travando. Presentemente este debate tem relevância, sendo observável tanto na "velha" Europa quanto na "nova" América, pois espelha bem as diversas interpretações sobre as realidades objectivas em cada país. No Brasil, o embate está muito vivo, também pela circunstância de estarem convocados os congressos e conferências de vários partidos.
Antes, porém, é necessário tratarmos uma questão prévia, a saber, o uso das citações clássicas do marxismo no debate, seu carácter legítimo e ilegítimo. O pensamento e ensinamentos dos nossos clássicos - refiro-me a Marx, Engels e Lénine - são absolutamente indispensáveis na luta que os comunistas travam para a construção do socialismo e do comunismo. Assim sendo, citá-los no debate das ideias é-nos legítimo, como recurso argumentativo. Entretanto, este recurso exige que recorramos a ele observando uma condição essencial: não desvirtuar nem mistificar o pensamento e as ideias dos criadores do marxismo-leninismo. Considero que é um dever intelectual e moral de todos aqueles que pretendam discutir o património teórico marxista, por maioria de razões um dever político para todos os comunistas.
No texto e transcrições que vamos utilizar nesta primeira parte do post, pretende-se analisar uma "muleta" teórica hoje frequentemente esgrimida - na minha opinião, errada e ilegitimamente - pelos que defendem posições espontaneístas. Trata-se de uma conhecida frase, com a qual Marx inicia o seu escrito "O 18 de Brumário de Luís Bonaparte", cujo significado real desmente aqueles que abusivamente a usam:

"Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam directamente, legadas e transmitidas pelo passado."

Datado de Março de 1852, o “18 de Brumário” é um brilhante exercício de interpretação política dos conturbados acontecimentos vividos pela França, nesse período das revoluções proletário-burguesas da Europa, na viragem da primeira para a segunda metade do século XIX. Uma análise crítica certeira, centrada nos comportamentos e escolhas dos seus principais protagonistas - classes, partidos, personalidades dirigentes, orgãos do Estado - interpretando criticamente a tendência dos homens para, na sua actividade política, usarem as máscaras míticas e heróicas das gerações passadas. Neste escrito, Marx exorta-os exactamente a caminhar pelos seus próprios pés, a desembaraçarem-se das subjectivas amarras ao passado; afinal, a transformar o real dado com as suas próprias novas ideias e novas convicções políticas, assegurando-lhes que só assim poderão progredir até novos estádios do desenvolvimento humano.
Para elucidar o verdadeiro significado daquela frase, nada melhor que recorrermos ao próprio Marx, prosseguindo com a sua leitura. Imediatamente a seguir à clássica fórmula, após um ponto final e continuando o seu mesmo primeiro parágrafo, escreve ele:
"A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. E justamente quando parecem empenhados em revolucionar-se a si e às coisas, em criar algo que jamais existiu, precisamente nesses períodos de crise revolucionária, os homens conjuram ansiosamente em seu auxilio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestados os nomes, os gritos de guerra e as roupagens, a fim de se apresentarem nessa linguagem emprestada.”

Entretanto, talvez o sentido e significado mais profundos e óbvios daquela frase inicial de Marx - num escrito todo ele claramente virado à análise dos factores subjectivos da luta e não dos seus factores objectivos - estejam afirmados naquilo que ele escreve algumas linhas adiante:
"A revolução social do século XIX não pode tirar sua poesia do passado e sim do futuro. Não pode iniciar sua tarefa enquanto não se despojar de toda veneração supersticiosa do passado. As revoluções anteriores tiveram que lançar mão de recordações da história antiga para se iludirem quanto ao próprio conteúdo. A fim de alcançar seu próprio conteúdo, a revolução do século XIX deve deixar que os mortos enterrem seus mortos."

E, objectivando o que entende que deve ser o papel a desempenhar pelo proletariado, fazendo sobre esse papel uma avaliação agudamente crítica - aliás, em consonância com a linha geral do seu raciocínio -, mais à frente afirma:

"Por outro lado, as revoluções proletárias, como as do século XIX, criticam-se constantemente a si próprias, interrompem continuamente o seu curso, voltam ao que parecia resolvido para recomeçá-lo outra vez, escarnecem com impiedosa consciência as deficiências, fraquezas e misérias de seus primeiros esforços, parecem derrubar o seu adversário apenas para que este possa retirar da terra novas forças e erguer-se novamente, agigantado, diante delas, recuam constantemente ante a magnitude infinita de seus próprios objectivos, até que se cria uma situação que torna impossível qualquer retrocesso e na qual as próprias condições gritam: 'Hic Rhodus, hic salta!' " (1)

Evidentemente, a leitura integral deste escrito clássico de Marx é indispensável. As citações foram longas (peço a vossa tolerância), mas entendi-as necessárias e úteis para tentar demonstrar como é erróneo – e entre nós, politicamente, abusivo -, procurar colocar na boca de Marx, citando-o, aquilo que manifestamente ele não disse, nem tão pouco a sua leitura integral nos autoriza a deduzir. Como se tivesse dito algo do género: os homens - no caso, os comunistas - devem aguardar passivamente que as condições políticas surjam espontaneamente do desenvolvimento material das sociedades humanas, rejeitando analisá-las nas suas dinâmicas concretas e à luz da sua própria experiência, conhecimentos e estudo.
Isto é, como se Marx lhes propusesse que desistissem do exercício da sua própria análise, da sua vontade e razão próprias, abandonando o seu direito e o seu dever de apontar aos trabalhadores, aos explorados, qual deva ser o seu próprio caminho, deixando-os entregues ao espontaneísmo das suas acções de protesto, da reivindicação económico-sindical, de atitudes de revolta pontuais e inconsequentes. Numa palavra, desistindo da revolução.

Toda a obra científica de Marx afirma o primado do objectivo sobre o subjectivo, apontando-nos constantemente que é o ser material que determina a consciência e não o inverso, tornando indispensável o estudo concreto do desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção na sociedade. Mas, simultaneamente, o seu pensamento é um permanente e exaltante apelo à interpretação e à transformação das condições objectivas, pela reflexão e pela acção revolucionária dos homens e das classes. Já na sua época, ele defendeu com veemência que a tarefa prioritária dos comunistas, mais (e depois) que interpretar o mundo, consiste em transformá-lo. Sabendo nós que este caminho é árduo e longo, a única atitude certa é pôr-mo-nos desde já a caminho. E assegurando previamente o rumo certo da caminhada.
Uma vez esclarecido o que considero ser o sentido real daquela máxima de Marx, deixemos então para um texto seguinte a análise ao debate actualmente em curso, entre espontaneismo e voluntarismo, um debate limitado e que afinal mascara e ilude posições e objectivos políticos bem mais vastos.

(1) N. do T.: Originalmente, a expressão era “Hic Rhodus, hic saltus!” e aparecia na fábula Viajante Fanfarrão (também conhecida como Atleta Fanfarrão), de Esopo. Nela, um atleta que era muito criticado pelo seu desempenho físico viaja para Rodes e, no retorno, diz que fez o maior salto já visto e que tinha testemunhas lá para provar. Então, um de seus interlocutores responde-lhe para ele imaginar que estava em Rodes e fazer o salto, dizendo para o atleta: “Hic Rhodus, hic saltus!”.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

"Eppur si muove!" - Greves metalúrgicas no Brasil


Notícias recentemente publicadas na Imprensa, a propósito das greves dos metalúrgicos nas regiões de São Paulo e de Curitiba (Paraná), em luta por aumentos salariais, forneciam dados muito interessantes para quem, como é o caso do autor, buscam conhecer mais e melhor a realidade brasileira, particularmente o seu proletariado.

Os números, pela sua dimensão, impressionam. As greves, complementadas com manifestações nas ruas das cidades e concentrações frente às empresas, mobilizam muitos milhares de operários. Na região de São Paulo, pelo menos, 14 mil trabalhadores de três empresas montadoras de veículos automóveis - Ford, Mercedes-benz, e Scania - além de outras empresas de auto-peças. No interior de São Paulo, 8.300 0perários da GM, de São José dos Campos; em Taubaté, 7.200 operários da Volkswagen e da Ford, e 2.000 metalúrgicos de auto-peças; em S. Bernardo, a Toyota, bem como autopeças de Diadema - Autometal, TRW e Delga. No Paraná, 2.600 trabalhadores da Volvo, na capital Curitiba, cerca de 5.000 trabalhadores da Renault-Nissan e 3.500 da Volkswagen-Audi.

O patronato, como é seu hábito, ou não divulga as consequências da greve na produção ou minimiza-as. São os casos da Ford e da Mercedes-Benz. Nesta última, são produzidos em média 220 veículos - 60% são caminhões e 40% autocarros. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos responsável pela convocação da greve na Scania, entre as 7 e as 9h deixaram de ser produzidos 12 caminhões, sendo a produção diária 43 unidades, em média; na Renault-Nissan e na Volkswagen-Audi, em oito dias de paralizações, as duas montadoras deixaram de produzir 8.600 veículos.

As reivindicações de aumentos de salários, variam entre os 10% e os 14,65%, com índices menores para os trabalhadores que recebem acima de 6.000 reais. Reivindicam mais um abono, que varia entre 1.450 e 2.000 reais. Os salários médios andam em torno dos 4.800 reais pagos pelas montadoras e 3.500 reais pelas empresas de autopeças. Ao câmbio actual (1 euro/2,65 reais), são salários equivalentes a, respectivamente, cerca de 1.800 e 1.700 euros. Entretanto, no Brasil, com um serviço público de saúde um pouco pior que o existente em Portugal, são frequentes os planos de saúde (privados) que as empresas "pagam", bem como subsídios de alimentação e transportes, o que eleva substancialmente aqueles montantes.

Nalguns casos, os sindicatos já acordaram com as empresas, geralmente um pouco abaixo dos valores reivindicados. Parados desde o dia 4, os metalúrgicos da Renault conseguiram 8,65% de correção salarial a serem pagos ainda em setembro, além de um abono de R$ 2 mil. No cálculo estão incluídos 100% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), 3% de aumento real, além da efetivação de 1% de correção que tinha sido prometida na negociação do ano passado. Na Volvo, a paralisação comprometeu apenas um dia de trabalho - segundo o sindicato, o prejuízo foi de 24 chassis de ônibus e três chassis de caminhões. Os trabalhadores conseguiram incorporar ao salário o INPC e 3% de aumento real, totalizando um índice de 7,57%, e um abono de R$ 2 mil. Além disso, foi-lhes garantido estabilidade no emprego até o mês de dezembro (!?) e um piso salarial de R$ 1.381,66. Os dias parados não serão descontados nas duas montadoras e vão compor o banco de horas.

E aqui entramos numa outra parte da realidade, o sindicalismo brasileiro. Estes Sindicatos são filiados maioritariamente na CUT (de orientação PT). Exemplo das suas práticas co-gestionárias e de traição foi a sua recente assinatura, em conjunto com a Força Sindical, a UGT e a CGTB, de um acordo com o governo que, sem consulta aos interessados directos e imediatos, visa "esvaziar" a luta em curso dos aposentados brasileiros, que reivindicam aumentos reais nas pensões (muito degradadas nos últimos anos), designadamente com a extinção do aqui chamado "Factor Previdenciário", uma criação dos governos do neoliberal Fernando Henrique Cardoso e que o governo Lula quer manter - algo muito próximo das "novas" regras de cálculo que em Portugal os governos do PS e PSD/CDS também implantaram, degradando as pensões, a pretexto do aumento da expectativa de vida (!) e fazendo-as depender do valor do PIB.
Este acordo de traição, que mereceu a pomposa designação de "Acordão da Previdência", já firmemente denunciado pelas várias Federações de aposentados, foi rechaçado pelas CTB (Confederação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Brasileiros, recentemente criada pela anterior Corrente Sindical Classista, de orientação maioritariamente comunista/PCdoB), pela Nova Central e pela Cobap (Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas). Entidades que também são representativas da classe trabalhadora, como o FST (Fórum Sindical dos Trabalhadores), a Intersindical e o Conlutas, embora não tenham participado da reunião das centrais com o governo, também já firmaram posição contra o acordo.

Este caso ilustra bem a situação de divisão profunda do sindicalismo brasileiro, divisão agravada pelas concepções e práticas "amarelas" predominantes. Trata-se da aplicação das tristemente famosas teses do "sindicalismo de resultados", que transforma os Sindicatos em entidades "negocistas", totalmente de costas viradas aos trabalhadores que dizem representar e que nas "mesas negociais" assinam sempre acordos com os patrões, mesmo que tais acordos se traduzam em legitimar perdas salariais reais, perda de direitos e regalias, redução de postos de trabalho, períodos de "lay-off" impostos pelo patronato, etc. A pretexto do estafado "combate à crise", nos últimos meses estes acordos/"negócios" tem sido frequentes, infelizmente para os trabalhadores brasileiros, traindo os seus interesses próprios e difundindo no seio do proletariado ideias de conciliação que tanto atrasam a elevação da sua consciência política de classe.

Trata-se das práticas e dos propósitos do "sindicalismo" reformista, economicista, tão do agrado do grande capital, uma orientação que "infecta" numerosos Sindicatos, tanto no Brasil como noutros países, Portugal incluído - neste caso, felizmente, muito circunscrito aos Sindicatos da UGT e pouco mais.
O sindicalismo "amarelo", de facto, desempenha um pernicioso papel de traição e divisão dos trabalhadores. Combatê-lo é tarefa central e permanente de todos os comunistas, de todos os marxistas-leninistas. Entre outros, existem dois métodos comprovados para travar este combate: uma efectiva democratização da vida e das actividades dos Sindicatos e uma real linha de massas na acção dos seus dirigentes.

Agindo para garantir constantemente a participação dos trabalhadores associados na intervenção geral do Sindicato, na discussão e decisão sobre as suas reivindicações, na definição das formas de luta adequadas para as conquistar, na eleição de fortes e actuantes estruturas de delegados sindicais, na construção amplamente alargada das listas de candidatos aos seus corpos dirigentes nos actos eleitorais, na elaboração de estudos sobre a classe, na realização frequente de Encontros, Conferências e Congressos que alarguem a participação da massa crítica dos trabalhadores, para melhor definir políticas e rumos de acção.

Trabalhando para uma efectiva e constante ligação do Sindicato e dos seus dirigentes aos locais de trabalho, um conhecimento profundo dos problemas vividos pelos trabalhadores, sindicalizados e não sindicalizados, efectivos ou precários, com uma informação permanente colhida directamente nas empresas e locais de trabalho sobre as suas realidades económicas, sociais, funcionais, políticas, uma auscultação permanente sobre o estado de espírito existente entre os trabalhadores, a adopção de medidas de informação - escrita, oral, virtual - que reforcem os sentimentos de unidade e de luta, procurar a participação da massa dos trabalhadores em todas as reivindicações e lutas a decidir, bem como o seu atento acompanhamento ao desenrolar dos processos de negociação da sua contratação colectiva com os patrões respectivos.


Começamos por um retrato rápido e limitado das lutas operárias no Brasil e terminamos com ideias sobre o combate ao "sindicalismo" fingido que é parte integrante do sistema de exploração e opressão do capitalismo.
Começamos com boas notícias sobre a disposição combativa daqueles trabalhadores, em luta pelos seus direitos e interesses e concluímos com uma tarefa de primeira grandeza dos revolucionários, a saber, o combate frontal e determinado contra uma manifestação particular, no movimento operário, das políticas conciliatórias típicas dos reformistas e dos revisionistas do marxismo-leninismo, uns e outros irmanados no propósito de mascarar o carácter desumano do capital e semearem ilusões sobre um mirífico "capitalismo bom", que aceitaria ser co-gerido pelos trabalhadores - com a "diligente" ajuda destes representantes de uma aristocracia operária vendida ao patronato explorador. A uns - os capitalistas - e a outros - os dirigentes sindicais "amarelos" - não podemos conceder tréguas. O desenvolvimento da luta de massas, esteio certo e insubstituível das transformações políticas progressistas, exige-nos muita firmeza e determinação. Os trabalhadores, nossos irmãos de classe, reclamam isso de nós. Saibamos cumprir aquilo que é um dever militante nosso.
Adenda (19/9)
A luta dos metalúrgicos intensifica-se e estende-se a mais empresas!
Na região do ABC paulista [1], cerca de 60 mil metalúrgicos dos setores de autopeças, máquinas e equipamentos e componentes ferroviários iniciaram greve por tempo indeterminado nesta sexta-feira, após assembléia geral na noite de quinta-feira.
Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, filiado à CUT, os 60 mil trabalhadores reivindicam o mesmo acordo aprovado no sábado passado pelos trabalhadores de montadoras da região, de reajuste de 6,53%, mais abono correspondente a um terço do salário médio do grupo.
Metalúrgicos da General Motors (GM) em São Paulo decidiram nesta sexta-feira parar por tempo indeterminado, em protesto por reajuste salarial entre 10% e 14,65%, informaram sindicatos. Pela manhã, trabalhadores dos primeiros turnos da montadora em São José dos Campos e em São Caetano do Sul decidiram pela paralisação, e a tendência é que os demais turnos das fábricas sigam a decisão.
A GM em São Caetano do Sul emprega cerca de 10.500 funcionários e, em São José dos Campos, outros 8.500 trabalhadores.
Em São Caetano, a GM produz os modelos Astra, Vectra, Classic e família Corsa, a uma média de 852 veículos diários, segundo o sindicato de metalúrgicos, filiado à Força Sindical. Os trabalhadores da região pedem 10% de reajuste e R$ 2 mil de abono.
Em reunião na véspera com sindicatos de São Caetano e São José dos Campos, a empresa manteve oferta de 6,53% de reajuste, mas elevou a proposta de abono de R$ 1.500 para R$ 1.750.
Os trabalhadores de São José dos Campos pedem 14,65% de reajuste. A montadora produz na região modelos Corsa, picapes S10 e Montana e veículos desmontados para exportação (CKDs).
[1] Nota - designação para um conjunto de três municípios (Sto André, S. Bernardo e S. Caetano - na verdade são quatro, hoje também com Diadema), na região sudoeste da alargada malha urbana da grande São Paulo, de grande concentração industrial e onde "nasceram" o PT e o Lula, com a ajuda "desinteressada" da igreja e de mais alguns mecenas, ocupando um espaço que os comunistas não souberam/puderam ocupar.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Muntazer al-Zaidi - O jovem patriota iraquiano acusa!


Muntazer al-Zaidi, o jornalista iraquiano que atirou os sapatos contra o ex-presidente dos EUA George W.Bush, foi ontem libertado e afirmou ter sido torturado.


Pouco tempo depois da sua prisão, foi desencadeada uma campanha mediática contra a dignidade deste jovem patriota iraquiano, com a imprensa chamada "ocidental" propalando a mentira que ele teria manifestado arrependimento e pedido desculpas ao títere "presidente" do Iraque. Muitos de nós, nessa altura, duvidamos de tais "notícias", sabendo o quanto a sua atitude digna e corajosa tinha deixado exposto ao ridículo o facínora Bush, e, despoletado uma enorme onda de solidariedade em todo o mundo, especialmente nos países árabes e muçulmanos mas que irradiou por numerosas capitais e cidades, com centenas de milhares de pessoas manifestando-se pelas ruas e deixando montanhas de sapatos espalhados, destinados ao alvo do gesto de revolta de Muntazer al-Zaidi. No acto da sua libertação, o jornalista iraquiano deu provas - de novo - da sua dignidade e do quanto foi justa a solidariedade para com ele de milhões de pessoas em todos os continentes.

Hoje e aqui, a notícia e o espaço voltam a ser-lhe destinados, como aquando das primeiras linhas escritas neste blog que o seu gesto muito inspirou, revelando como a atitude justa de um só indivíduo, no sítio e na hora certas, foi capaz de desencadear consequências políticas tão poderosas. Afirmando o valor e a relevância do factor subjectivo na luta e na história humanas.

Aqui ficam, a notícia e estas considerações, simples mas sentidas, como uma homenagem - renovada - à dignidade e à coragem deste jovem iraquiano, hoje de novo "cidadão do mundo".



"Fui torturado da forma mais violenta, espancado com cabos eléctricos e barras de aço", disse Muntazer al-Zaidi, no encontro com a imprensa, ontem em Bagdad. Momentos após ser libertado, o jornalista que atirou os seus sapatos contra o ex-presidente americano George W. Bush, exigiu que o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, lhe peça desculpas pela forma como foi tratado na prisão.
De barba e tendo ao pescoço um cachecol com as cores da bandeira do Iraque, reafirmou à imprensa não estar arrependido do que fez em Dezembro de 2008.
"Acredito que o que fiz foi correcto", afirmou Al-Zaidi, de 30 anos, no encontro que manteve no canal de televisão onde então trabalhava, Al-Baghdadia. E adiantou: "Foi contra o criminoso de guerra George W. Bush. Ele destruiu o meu país e destruiu a minha nação e seis anos depois veio a Bagdad, cantando vitória e desejando dizer adeus às suas vítimas."
Depois de tudo o que passou, o recém-libertado jornalista não pede indemnizações nem um tratamento especial mas apenas que o chefe do Governo iraquiano lhe peça desculpas por ter faltado à verdade. "Exijo ao primeiro-ministro que me peça desculpa por ter escondido a verdade", disse e explicou que "Maliki garantia ao país que não descansaria enquanto não tivesse a certeza do que se passava comigo, precisamente quando eu estava a ser barbaramente torturado." Uma prova óbvia? A falta de um dente que lhe foi partido quando o espancaram logo no dia em que foi detido.
"Me abandonaram em um local onde não estava protegido do frio", acrescentou, antes de afirmar ter sido vítima do afogamento simulado, uma técnica de interrogatório utilizada pela CIA com os suspeitos de terrorismo depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001
A família do jornalista revelou, por seu turno, que ele tinha sido queimado com cigarros e que os médicos da prisão lhe tinham "injectado substâncias desconhecidas" sempre que ele recusara escrever uma carta a pedir desculpas a Bush e a Maliki.
Ainda de acordo com declarações de familiares ao diário britânico Times, o repórter deve partir em breve para a Grécia, onde irá "receber cuidados médicos, físicos e psíquicos". Muntazer al-Zaidi, durante a sua permanência na Grécia, estará acompanhado por um dos seus três irmãos.
Adenda 1 (16/9):
Confirmando a coragem da sua atitude na denúncia dos serviços secretos norte-americanos, em entrevista colectiva concedida na sede da emissora em que trabalhava, Muntazer al-Zaidi afirmou que "os serviços de inteligência dos EUA e seus serviços afiliados não pouparão esforços para me apresentar como insurgente revolucionário", acrescentando que tais serviços secretos deverão usar "todos os meios para me matarem", tudo farão para liquidá-lo "física, social e profissionalmente".
Adenda 2 (17/9)
Segundo informação do "Avante!", recusando o título de herói e afirmando que herói é o povo do Iraque, Al Zaidi classificou o seu gesto como justificável face aos «mais de um milhão de mártires, centenas de milhares de estropiados de guerra e cinco milhões de deslocados». «Não conseguia descansar ao lembrar-me das imagens dos assassinados, viúvas e refugiados. As nossas cidades transformaram-se em casas de condolências», acrescentou citado pela EFE.«O que fiz foi uma reacção à injustiça, à humilhação, à destruição provocada ao povo iraquiano e ao nosso país», concluiu.

domingo, 13 de setembro de 2009

Chile, Setembro de 1973 - Recordar um Revolucionário

Desculpem-me não ter conseguido publicar, no dia do aniversário, este testemunho inapagável de fidelidade ao seu povo e à ideia da revolução por parte de um homem, socialista verdadeiro, que já enfileira na galeria dos heróis que a história da libertação dos povos regista: Salvador Allende.


"...Continuem vocês sabendo, que muito mais cedo do que tarde, novamente abrir-se-ão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor. Viva o Chile! Viva o povo! Vivam os trabalhadores!
Compatriotas!
Seguramente esta é a última oportunidade em que possa me dirigir a vocês. A Força Aérea bombardeou as torres da Rádio Portales e da Rádio Corporação. Minhas palavras não têm amargura, mas decepção, e serão elas o castigo moral para os que atraiçoaram o juramento que fizeram os soldados do Chile, comandantes em chefe titulares, o almirante Merino que se autodesignou, também o senhor Mendoza, general rasteiro... que somente ontem manifestara sua fidelidade e lealdade ao governo, também se nomeou diretor geral dos Carabineiros. Diante destes fatos, somente me cabe dizer aos trabalhadores: Eu não vou renunciar! Colocado num trânsito histórico, pagarei com a minha vida a lealdade do povo. E lhes digo que tenho a certeza de que a semente que entregamos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos, não poderá ser segada definitivamente.
Eles têm a força, poderão nos avassalar, mas não se deterão os processos sociais nem com o crime... nem com a força. A história é nossa e a fazem os povos. Trabalhadores da minha pátria: Quero lhes agradecer a lealdade que sempre tiveram, a confiança que depositaram num homem que somente foi interprete de grandes anseios de justiça, que empenhou sua palavra para respeitar a Constituição e a lei e assim o fez.
Neste momento definitivo, o último em que eu possa me dirigir a vocês, quero que aproveitem a lição. O capital estrangeiro, o imperialismo, unido à reação, criaram o clima para que as Forças Armadas rompessem sua tradição, a que lhes ensinou Schneider e que o comandante Araya reafirmou, vitimas do mesmo setor social que hoje estará nas suas casas, esperando com mão alheia reconquistar o poder para continuar defendendo seus benefícios e privilégios.
Dirijo-me sobretudo, à modesta mulher da nossa terra, à camponesa que acreditou em nós; à operária que trabalhou mais, à mãe que soube da nossa preocupação pelas crianças. Dirijo-me aos profissionais da pátria, aos profissionais patriotas, aos que há alguns dias estiveram trabalhando contra a sedição auspiciada pelos Colégios profissionais, colégios de classe para defender também as vantagens que uma sociedade capitalista dá a uns poucos.
Dirijo-me à juventude, àqueles que cantaram, entregaram sua alegria e o seu espírito de luta.
Dirijo-me ao homem do Chile, ao operário, ao camponês, ao intelectual, àqueles que serão perseguidos... porque em nosso país o fascismo já esteve, há muitas horas, presente nos atentados terroristas, estourando pontes, cortando estradas de ferro, destruindo os oleodutos e gasodutos, diante do silêncio dos que tinham a obrigação de proceder: estavam comprometidos.
A história os julgará. Certamente a Rádio Magallanes será silenciada e o metal tranquilo da minha voz não chegará até vocês. Não importa, continuarão ouvindo. Sempre estarei junto de vocês. Pelos menos, minha memória será a de um homem digno que foi leal à lealdade dos trabalhadores. O povo deve se defender, mas não se sacrificar. O povo não deve se deixar arrasar nem crivar, mas tampouco pode se humilhar.
Trabalhadores da minha pátria: tenho fé no Chile e no seu destino. Superarão outros homens este momento gris e amargo, onde a traição pretende se impor. Continuem vocês sabendo, que muito mais cedo do que tarde, novamente abrir-se-ão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor. Viva o Chile! Viva o povo! Vivam os trabalhadores!
Estas são as minhas últimas palavras e tenho a certeza de que o meu sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, haverá uma lição moral que castigará a felonía, a covardia e a traição.
Discurso de despedida de Salvador Allende, gravado no Palácio La Moneda, em Santiago do Chile, e transmitido pela Rádio Magallanes, na manhã de 11 de setembro de 1973.
(Fonte: Fundacion Salvador Allende)

sábado, 12 de setembro de 2009

Brecht tem - continua a ter - carradas de razão


Quase tudo à nossa volta, veiculado pela ideologia dominante através da televisão, da rádio, dos jornais, da publicidade, do ensino, da cultura, das artes, da religião - ainda mais, apoiando-se em hábitos de um pesado lastro atávico de séculos de submissão social e política aos poderosos e às suas estruturas de um Estado construído para estar ao serviço das classes exploradoras -, quase tudo, no nosso dia-a-dia, nos induz a aceitar como verdadeiras, e únicas, e inevitáveis, e boas, as práticas dos governos de turno ao serviço ao capital.
Visando obter a nossa resignação, a nossa aceitação das desigualdades, das humilhações, num exercício que nos conduza à desistência e à omissão da nossa própria vontade, confrontam-nos com mil formas enganosas para nos "cegar" a visão das realidades, para nos mascarar e ocultar as gritantes realidades da exploração e da injusta e desumana organização das sociedades capitalistas.

As derrotas sofridas no final do século passado, pelas nações europeias e asiáticas que intentavam a construção de sociedades socialistas - nações e povos que foram vencidos pela ofensiva exterior do imperialismo e pelas criminosas deserções e traições internas dos seus dirigentes -, agravaram o quadro mundial de correlação de forças, no qual se trava a incessante luta de classes, originando acrescidas dificuldades na formação da consciência social de classe por parte dos trabalhadores e dificultando o avanço político dos povos.

Aos agentes políticos do capitalismo - neste caso, em particular aos dirigentes sindicais e sociais corruptos - o capital atribui o sujo papel do permanente e demagógico fingimento de se fazerem passar por pessoas como nós, aparentando estarem preocupados com os nossos problemas, fingindo toda a hora e cada minuto que vão agir em defesa dos nossos direitos, empenhados em resolverem, por nós, as nossas dificuldades. Eles vão "questionar", eles vão "reivindicar", eles vão "lutar", eles vão "argumentar", eles vão"negociar", eles vão fazer "todos os possíveis" para "tentarem" obter para nós - e, atenção, por nós! - aquilo que já conseguimos vislumbrar que é justo e de direito nosso.


Eles são todos os oportunistas, rasteiros ou emproados, de condição social modesta, média ou superior, em mangas de camisa ou engravatados, sem os quais passaríamos muito melhor. Uns são indivíduos populares, com baixas habilitações de ensino, outros são intelectuais, doutorados e com teses publicadas. Uns são dirigentes e chefias locais, outros são administradores e ministros. Mas todos, sem excepção, possuem duas características que claramente os diferenciam de nós, dos trabalhadores e cidadãos comuns, a saber: a) todos venderam a consciência e a alma aos grandes detentores do capital, em muitos casos "por um prato de lentilhas" (alguns, por algo mais), colocando-se ao serviço da política de perpetuação da exploração; b) todos se dizem muito nossos amigos, arvorando-se em defensores dos nossos interesses de classe e propondo-nos, constantemente, que fiquemos descansados, calados e quietos, pois que eles farão o seu melhor pelos nossos direitos, numa palavra, todos anunciam que farão por nós "tudo o que a nós diz respeito!"

Viveremos estas semanas, mais uma vez e fruto de uma nova campanha eleitoral para a eleição de deputados à Assembleia da República, uma etapa na vida política dos portugueses na qual muita dessa gentalha vai esbracejar, garantir, vociferar, pedir, apelar, prometer, chantagear, jurar, implorar, enfim, vão de novo pedir-nos o voto e querer vender-nos "gato por lebre", anunciando que não há melhor preço no mercado que o deles. Deixe-mo-los faladrar, acompanhando as suas actividades eleitorais, como democratas sinceros e verdadeiros que somos.
Entretanto, aos nossos camaradas de trabalho, às pessoas com as quais constituímos a rede social de que fazemos parte, a todo o nosso povo afirmemos alto e bom som que, todos unidos na luta, devem rejeitar com firmeza o "remendo" que nos oferecem. Nós não aceitamos "remendos", ainda por cima "amarelos", fingidos e esgarçados; queremos para o nosso povo o "casaco", limpo e inteiro, que há muito nos devem e merecemos! O "Casaco" que Abril já nos permitiu vislumbrar no horizonte e que nos foi miseravelmente roubado!


Canção do Remendo e do Casaco

Sempre que a nosso casaco se rasga
Vocês vêm correndo dizer: assim não pode ser
Isso vai acabar, custe a que custar!
Cheios de fé vão aos senhores
Enquanto nós, cheios de frio, aguardamos.
E ao voltar, sempre triunfantes
Nos mostram o que por nós conquistam:
Um pequeno remendo.
Ótimo, eis o remendo
Mas onde está
O nosso casaco?


Sempre que nós gritamos de fome
Vocês vêm correndo dizer: Isso não vai continuar
É preciso ajudá-los, custe a que custar!
E cheios de ardor vão aos senhores
Enquanto nós, com ardor no estômago, esperamos.
E ao voltar, sempre triunfantes
Exibem a grande conquista:
Um pedacinho de pão.
Que bom, este é o pedaço de pão
Mas onde está
O pão?


Não precisamos só do remendo
Precisamos o casaco inteiro.
Não precisamos de pedaços de pão
Precisamos de pão verdadeiro.
Não precisamos só do emprego
Toda a fábrica precisamos.
E mais a carvão
E mais as minas
O povo no poder.
É disso que precisamos.
Que têm vocês
A nos dar?


Bertold Brecht

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Carta de um académico iraquiano ao presidente de turno nos EUA


Carta ao Presidente Obama
2 de Setembro de 2009
Dr. Ayad Abdullah, Académico Iraquiano

Em nome de Deus, o Misericordioso
Presidente Barack Obama, Casa Branca, Washington
Muito obrigada por assinalar o mês sagrado do Ramadão para o povo Islâmico. Espero que tenha tempo para ler esta carta de um Árabe Muçulmano do Iraque.
O senhor mencionou que o Ramadão, recordando os valores comuns partilhados com o Islão tais como a justiça, a tolerância e o respeito pela dignidade humana. Eu concordo consigo, Senhor Presidente, que estes valores são comuns ao Islão e ao Cristianismo e sendo eu um Muçulmano, eu acredito e trabalho com palavras e acções; acredita, senhor presidente, trabalhar para estes valores comuns? Se for honesto e é isso que eu espero de si, creio que acredita na justiça, na tolerância e no respeito pela dignidade humana.
Eu sou um Muçulmano iraquiano, as suas forças ocuparam o meu país há seis anos e destruíram tudo. Por favor responda às minhas perguntas e espero que não fique aborrecido com as seguintes questões:
1. Foi um acto de justiça, de tolerância e de respeito pela dignidade humana, a imposição do embargo económico ao Iraque durante 13 anos a pretexto da posse de armas de destruição maciça, que nunca foi provada a sua ilusória existência, e mais de 1 milhão e 500 mil crianças iraquianas mortas devido a esse embargo?
2. Foi um acto de justiça e tolerância o bombardeamento do Iraque pelas suas forças bélicas, com bombas de urânio empobrecido e de fósforo branco, internacionalmente proibidas?
3. É justiça, Senhor Presidente, as suas tropas terem invadido o meu país, o Iraque, em 2003, e hoje aí permaneceram ou há ainda o pretexto das alegadas armas de destruição maciça? Note que o meu país é membro das Nações Unidas e a ocupação tem ultrapassado todas as leis internacionais.
4. É justiça e tolerância que mais de 1.5 milhões de pessoas tivessem sido mortas pelas suas tropas e pelas milícias que vieram com elas?
5. É tolerância e respeito pela dignidade humana que desde 2003, 4 milhões de cidadãos iraquianos tenham sido obrigados, pelas suas tropas e pelas milícias sectárias, a abandonar as suas casas e o seu país?
6. É para si justiça, que mais de meio milhão de iraquianos estejam detidos em prisões dos EU ou em prisões locais , sob a supervisão das suas tropas, muitos dos quais sem culpa formada e outros apenas por manifestarem a sua liberdade de opinião ao dizerem não à ocupação e ao governo sectário?
7. É para vós, estadounidenses, justiça, tolerância e respeito pela dignidade humana, a violação de mulheres e de homens?
8. É justiça nos EU, a prisão de líderes do Iraque , o assassinato de outros e o do seu presidente, como resposta às condições impostas pelo Irão para cooperação com os EUA ?
9. É para vós, justiça, tolerância e respeito pela dignidade humana, o afastamento e a destruição de mais de dois milhões de pessoas, civis e militares, professores universitários e funcionários públicos das suas profissões, privando-os do seu único sustento, pelas ordens de Paul Bremer, em 2003?
10.É justiça, Senhor Presidente, a destruição do meu país, a sabotagem das infra estruturas e deixar o povo iraquiano viver na miséria, na necessidade, no medo e no pânico, causados pelas suas tropas e pelas milícias de partidos sectários?
11.É justiça ou respeito pela dignidade da humanidade o roubo, o assalto e a destruição do património cultural do Iraque?
Eu peço, senhor presidente, que responda às minhas perguntas, se realmente acredita nos valores comuns partilhados pelo Islão e pelo Cristianismo, incluindo a justiça, a tolerância e o respeito pela dignidade humana.
Contudo, Senhor Presidente, posso dizer-lhe que não há qualquer dignidade na ocupação do meu país, o Iraque. Não há justiça com a presença das suas tropas. Não há tolerância enquanto prestar atenção aos demónios dos traidores e seus agentes que constituem o governo do Iraque. Cada dia extra em que as suas forças permanecem no Iraque, significa mais iraquianos mortos; mais crianças mortas; mais violações de mulheres e homens em prisões e centros de detenção; mais sangue iraquiano e estadunidense; mais biliões de dólares perdidos. Se acredita verdadeiramente no que disse, nos valores comuns, Senhor Presidente, seja suficientemente corajoso e mande retirar as suas tropas do meu país e deixe o Iraque ao seu povo e não diga nada sobre a mentira da democracia promovida pelo seu antecessor.

Com os meus sinceros cumprimentos,
Dr. Ayad Abdullah/ Académico Iraquiano
23 de Agosto , 2009
(Original em Tribunal Iraque)

domingo, 6 de setembro de 2009

O povo hondurenho resiste e luta! Viva a solidariedade internacional!




A marcha na quinta-feira, 3 de setembro.


Eles deixaram o Carrizal, em frente ao quartel dos bombeiros, em Comayagüela. Visitaram várias comunidades e bairros marginais, passando o Carrizal nº. 4, La Ulloa, El Divino Paraíso, Nueva Danli e muitas outros bairros, que só são visitadas a cada quatro anos, quando chega as eleições.
Em seguida, eles caminharam pelo Periférico, entrando finalmente na comunidade centro-américa oeste, onde se concluiu com êxito a caminhada e como de costume, prometeram voltar no dia seguinte, e cada dia que for preciso para retirar os usurpadores do poder.Foi incrível ver homens, mulheres e crianças, a partir dessas comunidades abandonadas a própria sorte, ir ao encontro dos manifestantes gritando-lhes vivas; somando potes e panelas; agitando bandeiras e cartazes com fotos de Mel Zelaya e a Quarta Urna; dando-lhes coragem e gritando: "Adelante, adelante, que la lucha es constante!” em uma demonstração de contagiante alegria.
Os jovens manifestantes pretendiam não grafitar nas casas humildes, mas este objetivo não pôde ser cumprido porque muitas pessoas exigiram que suas casas fossem pintadas com frases contra os golpistas, em uma clara manifestação de repúdio aos Goriletis e de solidariedade com a Frente de Resistência.As demonstrações de carinho aos manifestantes foram tantos, que vimos as pessoas humildes oferecerem água e alguns “burritos” para que os caminhantes pudessem comer algo. Este belo gesto humano diz muito, porque vem de pessoas humildes, que não possuem muitas comodidades básicas. Inclusive, em alguns desses lugares, as pessoas comprar água em tambores para as suas necessidades, mas são mais ricos que qualquer um, por sua clara consciência social.
Por isso e muito mais, é que os(as) Incansáveis, por todo o território nacional, marcham orgulhosos(as), porque entendem que sua luta não é em vão, enquanto houver hondurenhos protestando nas ruas e apoiando nas casas das mulheres valentes, e isso não vão poder deter jamais.A resistência está mais viva do que nunca.
O que a princípio acreditavam os golpistas fosse um passeio de triciclo, complicou-lhes de tal maneira, que o labirinto que Dédalo enfrentou para prender o Minotauro, era mais curto.
A dor, juntamente com o quebra cabeças, que os manifestantes causam nos traidores usurpadores é permanente, porque eles não entendem como é que poderia acontecer este fenômeno social que lhes encurralam. Por isso, fazem até o impensável para parar os manifestantes, até recorrer às bárbaras repressões fascistas, sem nenhum resultado, como as seguintes:
a) Assassinam os manifestantes acreditando que com isto poderiam lhes parar, mas o resultado dessas ações foi o oposto do que esperavam, pois por um que mataram, saem cem nas ruas, mais furiosos do que nunca.
b) Mentem todos os dias, por seus meios de comunicação ruins, mas o povo não cai na armadilha, porque aprendeu a diferenciar a água do lodo. Eles enviam mensagens subliminares a cada dia e não obtêm resultados, porque as pessoas deixaram os dias de obscurantismo.
c) Os politiqueiros golpistas, iniciaram a campanha eleitoral, colocando anúncios publicitários e, ao invés, os hondurenhos lhes recebem com ovos e tomates, e os anúncios desaparecem.
d) Raptaram, algemaram e deram o golpe de Estado contra o presidente Mel, e obtiveram com isso, que sua digna esposa, a Primeira Dama Sra. Xiomara Castro de Zelaya, e sua filha, carinhosamente chamada de "La Pichu", juntamente com o povo, tomassem as ruas para protestar vigorosamente.
e) Dizem aos quatro ventos que em Honduras não ocorre nada, que vivemos em um paraíso de leite e mel, mas também há greve ao alcance das vistas, os preços sobem, os combustíveis também, e os “invisíveis” manifestantes, junto à comunidade internacional, estão lhes estrangulando.
f) Alegam que o que fizeram foi uma "sucessão presidencial”, mas em vez disso, o mundo condena-os, afirmando que se trata de um golpe.
Em conclusão, estão com a corda no pescoço, porque um povo decidido a lutar pelos seus direitos, não pode ser parado, tanto assim que a revolução social desencadeada, que tanta falta fazia a Honduras, se encontra mais viva do que nunca, na resistência constante pelas ruas hondurenhas.

“La lucha sigue, el ideal morazánico está más presente que nunca en la batalla diaria!”
União dos Escritores e Artistas de Honduras (UEAH), membro da Frente Nacional de golpe contra.
Original em: HIBUERAS
in http://convencao2009.blogspot.com/Tradução: Robson Ceron.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A Festa dos comunistas portugueses abriu as suas portas aos trabalhadores e ao povo

Pelo seu conteúdo - embora necessáriamente curto -, bem caracterizador da Festa e do partido que a realiza, abaixo se transcreve a intervenção do Secretário-Geral do PCP, camarada Jerónimo de Sousa, no acto de abertura da Festa do "Avante!"


Franqueadas as portas da 33ª edição da Festa do Avante! a nossa primeira saudação vai para os cerca de 7500 obreiros que, realizando mais de 50 mil horas de trabalho militante – projectando, arquitectando, construindo – edificaram esta cidade de 3 dias.
E mais valor damos a essa generosa militância dos comunistas, da juventude – e sublinho, da juventude e da JCP, que dão uma marca impressiva de alegria, irreverência e criatividade à nossa Festa - de muitos amigos da Festa, quando ela foi erguida num quadro e num período excepcionais.
Em que tivemos de travar, com êxito, a batalha das eleições para o Parlamento Europeu, em que tivemos de preparar as eleições legislativas de 27 de Setembro, de construir listas tanto para a Assembleia da República como para as Autárquicas de 11 de Outubro, as listas CDU que envolveram mais de 45 mil candidatos, 14 mil dos quais independentes, com um número de listas que é o maior dos últimos 20 anos.
Construímos esta Festa em movimento, desenvolvendo uma intensa actividade política e eleitoral. Quando nos orgulhamos do Partido que temos e do Partido que somos, quando valorizamos este grande colectivo partidário, damos como exemplo único no panorama politico-partidário esta obra humana só possível porque na nossa mente e no nosso coração pulsa a convicção e a força de um ideal de transformação social e do empenhamento dos comunistas portugueses na senda de uma vida melhor para o país e para os portugueses.
Uma saudação às dezenas de delegações estrangeiras presentes, que nos honraram aceitando o nosso convite, reforçando assim as nossas relações e a solidariedade internacionalista, delegações que, conhecendo a nossa Festa, ficam a conhecer melhor o Partido e a sua luta.
Um saudação aos visitantes - em particular aos que vencendo preconceitos, nos visitam pela primeira vez, e que, querendo ver e desfrutar da dimensão popular, cultural, desportiva, da gastronomia das nossas gentes, presente na Festa vindos de todo o território continental, das regiões autónomas, mesmo da emigração - visitantes que assim nos olhando conhecem melhor o que somos e o que queremos.
Ano excepcional este de 2009. Excepcional tendo em conta a inquietante situação de crise económica e social que o país atravessa. Excepcional porque é ano de eleições que vão determinar muito da evolução da vida política nacional nos próximos anos.
Num tempo em que os responsáveis e executantes, actuais ou do passado recente, da política de direita ensaiam operações de apagamento das malfeitorias e injustiças praticadas, a atirar fora o lastro das suas responsabilidades directas na situação e nos problemas, a prometer o prometido, lavar a fachada dando um ar fresco ao que está requentado, não podemos permitir que ponham o conta quilómetros “a zero”.
Mas precisamos simultaneamente de demonstrar que há outro rumo para a política nacional, que é não só possível como necessário: a ruptura e a mudança, com uma política alternativa patriótica e de esquerda.
Que é no PCP e na CDU, no seu reforço, que reside a esperança e a real possibilidade de encetar com mais solidez e segurança essa caminhada para uma alternativa política.
Não é uma mera declaração de vontade ou posicionamento de circunstância fruto da conjuntura eleitoral.
Esta força transporta consigo um património ímpar de luta e de proposta. De luta, quando o tempo, a ideologia e o poder dominantes ordenaram aos trabalhadores e às populações a aceitação inevitável dos sacrifícios, o aumento da exploração, o desemprego, a redução ou eliminação de interesses e direitos legítimos, a ruína de micro e pequenas empresas e explorações agrícolas e de actividade das pescas, para continuar a manter intocáveis e abundantes os privilégios, benefício e lucros abissais de uns quantos grupos económicos e financeiros.
Nos momentos mais agrestes ali estávamos, ali estivemos, sacudindo o desânimo e a desesperança, estimulando, libertando energias, dando confiança à luta que, tendo os trabalhadores como motor, envolveu quase todas as classes e camadas antimonopolistas.
Nas propostas do PCP lá se encontra o que resultou dos problemas e das aspirações, reivindicações e legítimos interesses dos portugueses fustigados pela política de direita do Governo PS.
São propostas elaboradas, não por uns assessores e uns quantos sábios de gabinete, mas propostas construídas com base na participação, opinião, sentir e saber dos trabalhadores e das suas organizações, dos intelectuais e quadros técnicos, dos reformados, dos professores, dos enfermeiros, dos agentes das forças de segurança, dos profissionais da justiça, dos militares, de micro, pequenos e médios empresários, de associações de agricultores, de estudantes, de democratas preocupados com o seu país.
Eis porque nos apresentamos como Partido de luta e de proposta.
E prontos para as batalhas que aí estão.
Batalhas em que esta Festa do Avante! assume uma importância singular.
Não é ponto de partida mas um momento alto na dinâmica eleitoral. Uma marcha alicerçada na confiança de uma CDU a avançar e a crescer, força de provas dadas, força que não trai compromissos nem a verdade, força que garante ao povo português que, para lá dos resultados eleitorais, estará no dia seguinte nas primeiras fileiras do combate às injustiças, mas que precisa de mais força eleitoral para dar mais força à luta.
Força imensa porque dispõe da disponibilidade generosa, da inteligência, de valores e de um projecto que mobilizam milhares de homens, mulheres e jovens naquilo que há de mais nobre num ser humano.
É verdade camaradas! Depois da nossa Festa, bem mereciam um justo descanso. Mas não. No cansaço bom que cada um sente, agora que a Festa está de pé, no esforço que temos de fazer nestes 3 dias para as coisas correrem bem, temos de encontrar energias redobradas e renovadas para em 27 de Setembro e até 11 de Outubro, conseguir os objectivos que nos animam. Vai valer a pena camaradas, vai valer a pena!
Declaro aberta a 33ª edição da Festa do Avante!
Viva a amizade e a solidariedade internacionalista!
Viva a luta dos trabalhadores e dos povos!
Viva a CDU!
Viva a juventude e a JCP!
Viva o Partido Comunista Português!