SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

domingo, 13 de setembro de 2009

Chile, Setembro de 1973 - Recordar um Revolucionário

Desculpem-me não ter conseguido publicar, no dia do aniversário, este testemunho inapagável de fidelidade ao seu povo e à ideia da revolução por parte de um homem, socialista verdadeiro, que já enfileira na galeria dos heróis que a história da libertação dos povos regista: Salvador Allende.


"...Continuem vocês sabendo, que muito mais cedo do que tarde, novamente abrir-se-ão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor. Viva o Chile! Viva o povo! Vivam os trabalhadores!
Compatriotas!
Seguramente esta é a última oportunidade em que possa me dirigir a vocês. A Força Aérea bombardeou as torres da Rádio Portales e da Rádio Corporação. Minhas palavras não têm amargura, mas decepção, e serão elas o castigo moral para os que atraiçoaram o juramento que fizeram os soldados do Chile, comandantes em chefe titulares, o almirante Merino que se autodesignou, também o senhor Mendoza, general rasteiro... que somente ontem manifestara sua fidelidade e lealdade ao governo, também se nomeou diretor geral dos Carabineiros. Diante destes fatos, somente me cabe dizer aos trabalhadores: Eu não vou renunciar! Colocado num trânsito histórico, pagarei com a minha vida a lealdade do povo. E lhes digo que tenho a certeza de que a semente que entregamos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos, não poderá ser segada definitivamente.
Eles têm a força, poderão nos avassalar, mas não se deterão os processos sociais nem com o crime... nem com a força. A história é nossa e a fazem os povos. Trabalhadores da minha pátria: Quero lhes agradecer a lealdade que sempre tiveram, a confiança que depositaram num homem que somente foi interprete de grandes anseios de justiça, que empenhou sua palavra para respeitar a Constituição e a lei e assim o fez.
Neste momento definitivo, o último em que eu possa me dirigir a vocês, quero que aproveitem a lição. O capital estrangeiro, o imperialismo, unido à reação, criaram o clima para que as Forças Armadas rompessem sua tradição, a que lhes ensinou Schneider e que o comandante Araya reafirmou, vitimas do mesmo setor social que hoje estará nas suas casas, esperando com mão alheia reconquistar o poder para continuar defendendo seus benefícios e privilégios.
Dirijo-me sobretudo, à modesta mulher da nossa terra, à camponesa que acreditou em nós; à operária que trabalhou mais, à mãe que soube da nossa preocupação pelas crianças. Dirijo-me aos profissionais da pátria, aos profissionais patriotas, aos que há alguns dias estiveram trabalhando contra a sedição auspiciada pelos Colégios profissionais, colégios de classe para defender também as vantagens que uma sociedade capitalista dá a uns poucos.
Dirijo-me à juventude, àqueles que cantaram, entregaram sua alegria e o seu espírito de luta.
Dirijo-me ao homem do Chile, ao operário, ao camponês, ao intelectual, àqueles que serão perseguidos... porque em nosso país o fascismo já esteve, há muitas horas, presente nos atentados terroristas, estourando pontes, cortando estradas de ferro, destruindo os oleodutos e gasodutos, diante do silêncio dos que tinham a obrigação de proceder: estavam comprometidos.
A história os julgará. Certamente a Rádio Magallanes será silenciada e o metal tranquilo da minha voz não chegará até vocês. Não importa, continuarão ouvindo. Sempre estarei junto de vocês. Pelos menos, minha memória será a de um homem digno que foi leal à lealdade dos trabalhadores. O povo deve se defender, mas não se sacrificar. O povo não deve se deixar arrasar nem crivar, mas tampouco pode se humilhar.
Trabalhadores da minha pátria: tenho fé no Chile e no seu destino. Superarão outros homens este momento gris e amargo, onde a traição pretende se impor. Continuem vocês sabendo, que muito mais cedo do que tarde, novamente abrir-se-ão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor. Viva o Chile! Viva o povo! Vivam os trabalhadores!
Estas são as minhas últimas palavras e tenho a certeza de que o meu sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, haverá uma lição moral que castigará a felonía, a covardia e a traição.
Discurso de despedida de Salvador Allende, gravado no Palácio La Moneda, em Santiago do Chile, e transmitido pela Rádio Magallanes, na manhã de 11 de setembro de 1973.
(Fonte: Fundacion Salvador Allende)

3 comentários:

JL disse...

Um crime do imperialismo americano. Muitas vezes esquecido, um acontecimento muito importante que lançou o Chile e a sua população para as "sombras".

Foi também um acontecimento que até na Europa encontrou ecos, como foi o caso do PC Italiano, onde muitos dos seus dirigentes afirmavam que havia o perigo, devido a importância estratégica da Itália, de acontecer um golpe ao estilo Chileno.

Todavia, a gente não esquece este 11 de Setembro.

JL disse...

Saudações

Diogo disse...

A única esperança para começar a evitar golpadas fascistas e neoliberais é podermos comunicar mais e melhor uns com os outros. É isto que a Internet tem vindo a proporcionar de forma exponencial. É esta que devemos defender acima de tudo.

Abraço