SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

terça-feira, 30 de março de 2010

30 de Março - Dia da Terra Palestina (("Yawm Al-Ard")


Nesta data, nas terras invadidas da Palestina, nos campos de refugiados e na emigração e, em sinal de solidariedade, um pouco por todo o mundo, os palestinianos realizam um dia de protesto e de resistência contra a criminosa e genocida ocupação sionista, comemorando o 34.º aniversário do seu “Dia da Terra”.

Há trinta e quatro anos (em 30/3/1976), como resposta ao anúncio pelo governo sionista de Israel de um plano de colonização com a confiscação de terras em território palestiniano para construir novas colónias e ampliar localidades judaicas, foi organizada uma greve geral pelo povo da Palestina e tiveram lugar importantes acções de protesto e manifestações em diversas cidades árabes. O governo israelense, através do seu exército nazi-sionista, reprimiu violentamente a greve e as manifestações com tanques e artilharia pesada. O saldo do confronto foram seis jovens mortos, 96 feridos e cerca de 300 presos.
Desde então, o 30 de Março, tornou-se anualmente numa de comemorações e de manifestações, realizadas não só por cidadãos palestinos, mas por árabes e pelos demais cidadãos que em todo o mundo se manifestam solidários com o povo palestiniano.



Nas últimas décadas não mais foi interrompida esta política anexionista de Israel, com o roubo de novas terras aos palestinianos, demolindo casas e expulsando à força os seus moradores, construindo novos colonatos contra as numerosas resoluções da ONU que determinam a retirada dos sionistas de todos os territórios ocupados desde a "guerra dos seis dias", em 1967. Tripudiando sobre essas resoluções, escarnecendo da indignação internacional contra a sua política expansionista e de feroz "apartheid", o Estado de Israel e os seus alternantes governos -ora compostos por partidos da extrema-direita e do "centro", ora constituídos pelo partido "socialista" local, mas todos sempre e até hoje com o descarado apoio dos EUA -, prosseguiram com a sua ofensiva militar e genocida contra o povo palestiniano.

Prosseguem as prisões de jovens palestinianos que protestam e lutam contra a ocupação da sua pátria, que se vão juntar aos mais de 11.000 prisioneiros palestinianos que Israel mantém aprisionados em condições humilhantes, sujeitos às mais selváticas sevícias. É nestes centros de detenção dos sionistas que se "formam" os instrutores de tortura que Israel envia para vários países para ajudarem governos"amigos", como o da Colômbia, p.ex..
As ofensivas actuais contra a Faixa de Gaza e o seu balanço de morticínio de inocentes, e de destruição terrorista de casas e de todas as infra-estruturas de apoio à vida, são a impune continuação dos massacres de Sabra e Chatila no passado. A Faixa de Gaza é a berço da Intifada e constitui a base de apoio mais firme do Hamás, organização política palestiniana que obteve a maioria dos votos para governar aquele território e que se nutre de uma militância justamente radicalizada pelas condições insuportáveis de miséria e de opressão. Por isso, aqui o objetivo de Israel é destruir as organizações palestinas e quebrar a resistência da população à ocupação colonial para poder concretizar sua “solução final” para o conflito e acabar com qualquer aspiração de auto-determinação nacional.

Em todos os territórios ocupados, visando pulverizar a nação palestina e impedir a construção de um Estado palestiniano viável, a política de Israel visa aterrorizar a população, através de assassinatos "selectivos” , bombardeamento dos acampamentos de refugiados densamente povoados, humilhação em postos de controle, toques de recolher constantes, prosseguindo a construção de muros verdadeiramente da "vergonha", mas vergonha para a opinião pública mundial e para as organizações internacionais - especialmente a ONU - que vão assistindo passivamente ao extermínio de um povo inteiro.
Hoje, contra a ofensiva sionista em curso, a nossa solidariedade e a nossa denúncia são fundamentais no apoio à justa luta de libertação nacional do povo irmão da Palestina!

julio filipe

quinta-feira, 25 de março de 2010

Vaticano - um centro "espiritual" e "moral" repugnante


Sabemos o papel de activo coadjuvante do capitalismo que a alta hierarquia da Igreja Católica, desde sempre, desempenha por todo o mundo, tendo nestas últimas décadas esta parceria activa reforçado laços e intensificado as actividades, com vantagens recíprocas. As suas ligações sujas com a banca internacional, os seus colossais interesses económicos e empresariais, não deixam margem para dúvidas, quanto ao seu campo de classe: sempre ao lado do capital e do imperialismo, contra os trabalhadores e os povos. Nada disto constitui novidade.
Também de há muito são comuns as vivências amancebadas de muitos padres, obrigados por um hipócrita mandamento de castidade a manter na clandestinidade as suas relações sexuais com as "ovelhas" dos seus "rebanhos", sendo por isso alvo da tradicional chacota popular tantos párocos, ao tentarem esconder (alguns, nem por isso) com uma peneira o sol radioso das suas filharadas, com alguns casos célebres mais conhecidos, tornados verdadeiros "proletários", tal a dimensão das suas proles...
Estas práticas hipócritas sempre foram toleradas com bonomia pelas populações católicas, confrontadas com a sofrida contradição entre a desumana regra da castidade para os padres e a compreensão dos apelos da carne que a todos os seres humanos aflige por igual.
A duvidosa moralidade de uma hierarquia que rigidamente mantém práticas dogmáticas, ao arrepio dos tempos e das mudanças, teimando em desespero, é inteiramente merecedora da crítica e da condenação que hoje lhes fazem vastas parcelas das comunidades católicas e das opiniões públicas nacionais.
Exemplos gritantes desta falsa moralidade do clero católico são as suas vesgas e reaccionárias posições sobre o direito das mulheres a decidirem a interrupção voluntária da gravidez e sobre a proibição da utilização do preservativo nas relações sexuais, sabendo-se hoje ser esta a única medida segura para conter o flagelo universal da AIDS e de outras DST's.
Todo este contexto retrógrado e amoral vem marcando negativamente o papel - político, social, cultural - da alta hierarquia cardinalícia, nomeadamente o seu chefe supremo, o papa.
Mas o que é novo, a novidade - chocante e condenável novidade -, está hoje centrado nas denúncias diárias e crescentes, avassaladoras, das criminosas práticas pedófilas de numerosos padres que vêm sendo relatadas pela Imprensa em todo o mundo e, confrontado com elas, nas seráficas e revoltantes respostas do Vaticano a essas denúncias, depois de ver gorarem-se as suas anteriores manobras para as ocultar e/ou desacreditar. Pior: depois de descreverem abusos sexuais cometidos por padres sobre crianças e jovens em vários países, agora as denúncias passaram a atingir directamente a figura do papa, ao reportarem crimes de pedofilia praticados ao longo dos anos e ocorridas na própria diocese alemã chefiada pelo antes cardeal Joseph Ratzinger e hoje Bento XVI.
Revelando as suas concepções corporativas criminosas e a aura de impunidade de que julgam usufruir, as autoridades eclesiásticas e os próprios representantes do papa para a comunicação social vêm insistindo na linha dos desmentidos pífios, procurando revidar e acusando as fontes das denúncias de má-fé, quando numerosas delas se tratam de declarações na primeira pessoa de indivíduos adultos que foram agredidos quando crianças, com identificação dos criminosos e das respectivas dioceses. Vejamos algumas notícias hoje, quinta-feira, veiculadas pelas agências informativas:

"O furacão da pedofilia, depois dos Estados Unidos e da Europa, chegou na Alemanha, pátria do papa, depois na diocese do papa, agora dentro do Vaticano, na Congregação da Doutrina da Fé, onde Joseph Ratzinger foi prefeito, apontando para a sua responsabilidade directa", disse Marco Politi, um especialista em assuntos do Vaticano. A denúncia de novos casos de pedofilia envolvendo um padre americano, divulgada pelo jornal The New York Times nesta quinta-feira, tornaram o quadro ainda mais grave.
Segundo aquele analista, após o caso denunciado pelo jornal, "o importante não é mais saber o que foi feito nas dioceses dos Estados Unidos, da Alemanha, Irlanda ou Holanda, mas sim o que houve com os 3 mil casos (decerto só a ponta do "iceberg"!) de abusos assinalados ao Vaticano". "Monsenhor Charles J. Scicluna, (promotor de justiça da Congregação para a Doutrina da Fé) afirmou dias atrás que houve 3 mil denúncias de abusos contra menores nos últimos dez anos. O que aconteceu com estas denúncias? Quantas foram julgadas? Quantos religiosos foram considerados culpados e quantos foram punidos? É preciso dar explicações e não admitir mais que os casos sejam ocultados", disse ainda Politi.

"O papa disse que deve haver punição e que as vítimas não foram ouvidas. Deve então ser coerente com esta linha e abrir os arquivos do Santo Ofício. Tendo feito uma carta (aos irlandeses) tão rigorosa e transparente, ou volta atrás sobre a transparência ou deve ir até o fim", afirma Politi, acrescentando: "O papa está numa encruzilhada e terá que abrir os arquivos secretos da Congregação para a Doutrina da Fé, se quiser ser coerente com a transparência que defende".

Segundo a mencionada notícia do "The New York Times", o Vaticano havia sido informado a respeito dos abusos cometidos pelo padre Lawrence Murphy, que molestou cerca de 200 crianças de uma escola para surdos no Estado do Wisconsin, ao longo de 24 anos, mas não tomou nenhuma providência.
Este jornal afirma ter tido acesso aos documentos que as vítimas apresentaram à Justiça, entre eles a correspondência entre os bispos dos Estados Unidos e as autoridades do Vaticano, entre elas o cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (*) e o seu vice, cardeal Tarcisio Bertone, actual secretário de Estado Vaticano.
Mas observemos agora o descaramento das respostas e a "qualidade" dos argumentos utilizados pelos serviços do Estado do Vaticano, a par da conivência manifesta das autoridades judiciais, neste caso as estadunidenses.
Numa nota assinada pelo seu porta-voz, Federico Lombardi, é afirmado que "algumas das vítimas de padre Murphy denunciaram os abusos para o tribunal civil nos anos 70, mas as investigações não prosseguiram e o Vaticano teve conhecimento dos casos apenas 20 anos depois" (é a clássica e mentirosa resposta do "não sabíamos de nada"!...). Ainda segundo este porta-voz do Vaticano, o sacerdote acusado não foi punido e expulso da Igreja porque o direito canónico não prevê "punições automáticas" mas recomenda que seja feito um processo (recomendações... leva-as o vento!) que pode levar até à expulsão do religioso.
E, a fechar "com chave de ouro" estas respostas papais, a edição do "L'Osservatore Romano" (jornal oficial da Santa Sé) diz que a denúncia feita pelo The New York Times, tem o "ignóbil objetivo de atingir o papa e seus colaboradores de qualquer forma". E, ainda não satisfeito, acrescenta este jornal pouco "católico": "A tendência que prevalece na média é a de não dar atenção aos factos e forçar as interpretações (esta tirada, vinda de quem passa a sua "santa" e milenar existência a promover "interpretações", só mesmo para rirmos e desopilarmos) para difundir uma imagem da Igreja Católica como se fosse a única responsável por abusos sexuais", acusando ainda o "The New York Times" de não respeitar a verdade.
Aguardemos os próximos desenvolvimentos da polémica entre os dois "prestigiados" jornais, assim como esperemos os próximos episódios das denúncias que se sucedem ultimamente em catadupa na Imprensa.
Mas o que para aqui e agora nos interessa prioritariamente é analisarmos o procedimento dos mais altos representantes do Vaticano. Confrontados com a dimensão internacional (sistémica, afinal) do escândalo moral e político que as práticas pedófilas dentro da igreja católica está a originar, o que fazem? Eles, que assentam a sua doutrina e autoridade sobre as comunidades católicas pela afirmação dos fundamentos da fé cristã, com os seus dez mandamentos, exigindo que pratiquem o bem, que amem o próximo como a eles mesmos, defendendo em palavras a verdade e todas as outras virtudes morais que sustentam há séculos o edifício ideológico religioso, eles o que fazem, quando numerosos padres católicos são denunciados pelas práticas imorais e de bestialidade da pedofilia? Rejeitam o apuramento dos factos, escondem dentro da corporação os criminosos, usam o seu poder político, manipulam as entidades judiciais, escarnecem das denúncias das vítimas dos pedófilos, recusam a assunção das responsabilidades que lhes cabem, como responsáveis máximos por tudo o que se passou (e passa!) dentro da sua igreja.
Aquele execrável argumento que usaram para se furtarem às acusações, acusando o jornal - "...difundir uma imagem da Igreja Católica, como se fosse a única responsável por abusos sexuais." - diz tudo sobre os criminosos inconfessos que são, diz tudo sobre a incomensurável dimensão da amoralidade que tomou conta deste Vaticano, forçando à vergonha milhões de católicos que decerto não se revêem nestas práticas e as condenam, que concerteza as repudiam com tanta ou mais indignação que os não-católicos.

Destes altos dignitários do Vaticano, ninguém poderá dizer, "Perdoai-lhes, senhor, pois não sabem o que fazem", porque manifesta e comprovadamente eles sabem bem o que vêm fazendo, ocultando e dando cobertura a crimes hediondos contra crianças indefesas e à sua guarda, crimes contra a dignidade humana. Exactamente como muito bem sabem dos crimes pelos quais são co-responsáveis, dia-a-dia cometidos impunemente contra os explorados e de mão dada com os exploradores, os crimes genocidas e as guerras de rapina contra os povos oprimidos, todos eles crimes de lesa-humanidade pelos quais todos nós, crentes ou ateus, temos a obrigação moral e o dever político de firmemente os responsabilizarmos.



(*) Nota: O tribunal do Santo Ofício, ou Inquisição, era o antigo nome da actual Congregação para a Doutrina da Fé, órgão da cúria romana responsável pela ortodoxia da Igreja Católica e pelas questões disciplinares. Joseph Ratzinger foi prefeito da congregação de 1981 até 2005, ano em que foi eleito papa.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Saudação fraternal aos camaradas gregos

Ao observarmos o desenvolvimento da luta de classes na Europa, designadamente nos países que integram a UE, torna-se manifesto que na Grécia se estão travando os combates mais renhidos. Este país, transformado no alvo prioritário da recuperação da ofensiva neoliberal no palco europeu, vive actualmente sob uma violenta ofensiva do capital, através da acção do seu "novo" governo "socialista" do PASOK, acabado de ser "eleito" e já transformado em autêntico aríete contra os direitos dos trabalhadores gregos, apostado em destruir conquistas sociais dos assalariados alcançadas pela luta ao longo da vida de várias gerações, cumprindo assim, caninamente, as directrizes dos grandes da UE. Cortes nos salários e nas pensões, redução de 30% nos subsídios de Natal e nas férias, aumentos drásticos nos produtos de primeira necessidade, em numerosos serviços, aumentos nos impostos directos e indirectos, tudo orientado pelo propósito de descarregar sobre os rendimentos do trabalho o custo de uma política económico-financeira desastrosa para o povo e destinada a fomentar a concentração e a centralização do capital, tudo sob o "manto diáfano" da "crise", provocada por este último.



Opondo-se a esta ofensiva do neoliberalismo, na primeira linha do combate está o PC grego, cumprindo honrosamente o seu papel de partido da classe operária e dos trabalhadores gregos, denunciando vigorosamente as políticas anti-populares e anti-nacionais dos governos de serviço, organizando a resistência, mobilizando as energias dos segmentos mais avançados do operariado e de outras camadas assalariadas, conclamando-as à luta, insuflando vontade e determinação, apontando o caminho dos combates contra o capital e iluminando o seu rumo na direcção do Socialismo. Numa manifestação de grande combatividade e dignidade, os deputados comunistas eleitos no Parlamento grego decidiram abandonar o local, no momento da votação destas medidas anti-operárias e anti-nacionais.


Sob a direcção política dos comunistas marxistas-leninistas gregos, os Sindicatos e outras organizações de classe vêm organizando e concretizando uma vaga de greves e manifestações que colocam, sem dúvida, o proletariado grego na vanguarda da luta de classes nos nossos dias. Demonstrando um ânimo e uma combatividade admiráveis, este último ano e meio ficará a assinalar um dos períodos mais ricos da história contemporânea da Grécia. O ascenso das lutas de classe é particularmente notável neste último mês, com a convocação de quatro greves nacionais e gerais, paralisando os mais importantes sectores de actividade, acompanhadas de grandes acções de rua em mais de sessenta cidades gregas, com uma participação continuada e aguerrida de muitas dezenas de milhares de manifestantes. As imagens e os vídeos destas manifestações, divulgados pelos sindicatos e pelos camaradas gregos, são verdadeiramente impressionantes, pelo seu carácter massivo, pela presença de muitos milhares de jovens, pela determinação combativa que evidenciam.

Considerando a sua importância política, justifica-se a transcrição da última posição do KKE sobre a luta de 11/3, numa tradução pouco rigorosa mas na qual - nisso confio - se procura garantir o seu sentido essencial.


"Na quinta-feira 11 de Março, as ruas em 68 cidades e vilas foram rios caudalosos, com a determinação de trabalhadores, jovens, mulheres e pensionistas demonstrada pelo PAME.
Foi a quarta greve em um período de um mês, que ficou marcada pela participação do povo em massa e pela sua dinâmica.
Dezenas de milhares de pessoas protestaram contra os cortes graves e as medidas fiscais que foram iniciadas pelo grande capital e votadas pelo governo social-democrata do PASOK, junto com o LAOS, nacionalista, e também apoiados pelos liberais da ND e pela Federação Helénica de Empresas.
As classes assalariadas, orientando as suas forças, travaram mais uma dura batalha contra a intimidação lançada pelos patrões e seus agentes, o que enriqueceu a experiência militante do povo trabalhador. Muitas pessoas conseguiram superar as suas hesitações e entraram em greve pela primeira vez.
Mais uma vez, a demonstração prática da experiência de mobilização do PAME foi muito maior do que o trabalho de sapa organizado pelas lideranças de sindicatos e confederações dos amarelos, GSEE ADEDY. Mais uma vez os grevistas viraram as costas aos sindicalistas amarelos.

Tanto a preparação da greve, bem como o planeamento para o próximo período, consolidou a necessidade de organização da classe trabalhadora. Além disso, deixou claro para amplos segmentos das camadas populares que a derrota do ataque não será concretizada através de uma demonstração ou em um dia. E este é o medo da plutocracia: o facto de que os milhares de trabalhadores aguerridos, através das mobilizações multiformes da PAME, constituem uma base importante não só para a resistência da classe trabalhadora, mas também para o seu contra-ataque. E a razão é porque participaram de uma luta que não se vira contra um governo ou uma mera lei, mas contra o próprio desenvolvimento capitalista que serve as empresas multinacionais, ou seja, contra o cerne do problema e não apenas contra alguns aspectos do problema.
Mais uma vez, lutaram pela PAME piquetes de greve de grandes fábricas e superfícies que paralisaram desde o amanhecer. Além disso, portos, aeroportos e estações de metro fecharam, enquanto em Atenas a circulação ferroviária foi operada por algumas horas, a fim de facilitar aos trabalhadores a participação na manifestação.
Vasilis Petropoulos, membro do Secretariado Executivo da PAME, que foi o principal orador do comício da greve, mencionou: "Não há riscos a nível nacional, nenhum dever nacional apela aos trabalhadores para sacrificar os seus direitos, existe apenas a ganância dos capitalistas para o lucro ".
Aleka Papariga, secretário-geral do CC do KKE disse na média de massa: "Não confie nas declarações do governo. Não confie no patrão e nos seus agentes mandados. Eles mentem, eles intimidam os trabalhadores, eles esperam que parem de lutar, de modo a promover medidas piores. O pior está para vir. Assim, é necessário continuar e intensificar a luta. "

As manifestações foram muito fortes. Quando os blocos de massa passaram em frente à sede da Federação Helénica de Empresas jogaram tinta vermelha, o que simbolizava que os seus lucros estão pingando com o sangue dos trabalhadores. No início desta semana o presidente da Federação tinha feito declarações provocatórias afirmando que, na Grécia, "os industriais são os únicos que fizeram sacrifícios" ...
A mobilização dos trabalhadores em greve se reuniu com o bloco dos trabalhadores despedidos das companhias privatizadas "Olympic Air" que não receberam qualquer indemnização por despedimento e bloquearam a Panepistimiou Street, a rua mais central de Atenas, desde o último dia 8, reivindicando o seu direito ao trabalho.
O PAME esteve ao seu lado apoiando-os desde o primeiro momento. O governo e o capital exigiu-lhes, com ameaças e intimidações, para acabarem com a concentração e até os seus lacaios foram mobilizados: Alexis Tsipras, chefe da SYRIZA e presidente da SYN, que é membro do Partido da Esquerda Europeia (ELP), afirmou que: "Se 200 pessoas bloqueiam a Panepistimiou Street, eles próprios têm de perceber que essa forma não vai fazê-los ganhar os direitos que reivindicam ". Completamente de acordo com a sua declaração foi também a MP do SYRIZA, Papadimoulis, que disse: "Não concordo com essa forma de luta, porque prejudica a sua luta". As suas declarações apoiaram a intervenção do Ministério Público, com o objetivo de intimidar os trabalhadores despedidos, que impuseram com a luta que "a lei é o que é justo para os trabalhadores", um slogan que só os oportunistas de SYN que representam o Partido da Esquerda Europeia e os sindicatos das centrais amarelas GSEE e ADEDY(*) não entendem, bem como a CSI e a CES, que também se opuseram activamente à luta.

A greve em 11 de Março, enviou uma mensagem clara: a multiforme mobilização dos trabalhadores vai continuar no próximo período, afirmando que os trabalhadores não farão sacrifícios para os lucros da plutocracia.



Pelo acompanhamento que é possível fazermos, designadamente na net, a par do que esta nota relata sobre a passada jornada de 11/3, o sítio do KKE (http://inter.kke.gr/) divulga também vídeos nos quais se vê edifícios do Estado por todo o país ocupados pelos trabalhadores em greve, nomeadamente o edifício sede do Ministério das Finanças. Nalguns panos e faixas os manifestantes escreveram: "Não queremos ser os escravos do século XXI".

Ainda nesta terça-feira (16/3), voltaram a ocorrer greves e manifestações, em Atenas e noutras cidades, com a participação de milhares de manifestantes.


Sabemos que os trabalhadores e o povo gregos são no momento um alvo prioritário na campanha mediática orquestrada pelos meios de manipulação do grande capital que dirige a UE, com o objectivo de um selvático ensaio intimidatório daquilo que os dirigentes desta Europa dos monopólios querem desencadear sobre todos os trabalhadores e povos europeus.

Em Portugal, com o anunciado "Programa de Estabilidade e Crescimento" do governo "socialista"- já justamente alcunhado como um autêntico "Programa da Exploração Capitalista" -, é manifesto que a cartilha capitalista é a mesma, só diferindo nas tácticas utilizadas. Outros países estão igualmente na mira do capital - Irlanda, Espanha, Itália, como mais adiante também a França, a Inglaterra e outros.

As notícias que vão chegando de vários países da Europa apontam para um novo período de intensificação das lutas dos trabalhadores e dos povos, resistindo à nova vaga neoliberal em desenvolvimento. É necessário, é imperioso tudo fazer para assegurar o sucesso das lutas em preparação, alargando o campo proletário e democrático de resistência e combate contra as manobras do capital.


Entretanto, o exemplo exaltante dos camaradas gregos aí está a apontar o caminho correcto a todos os revolucionários, na Europa e no mundo. A sua firmeza ideológica, a sua determinação combativa, a sua capacidade política para unir e organizar os trabalhadores e a juventude, trazendo-os à luta pelos seus direitos e apontando-lhes corajosamente o socialismo como a única alternativa actual ao capitalismo, são factos que para todos os comunistas os tornam um exemplo e um poderoso estímulo. Por tal razão, é nosso dever prestar todo o apoio e toda a solidariedade militante e internacionalista aos camaradas gregos, verdadeiros lutadores de vanguarda, inteiramente merecedores do nosso apreço e da nossa fraternal saudação.



(*) Nota: Em imagens que já se tornaram usuais por todo o mundo, constituindo em várias latitudes uma peça corriqueira na encenação da ideologia reformista da conciliação de classes, enquanto os trabalhadores gregos iam corajosamente à luta os dirigentes amarelos posavam para as câmaras de televisão e jornais do grande capital, empenhados nos enganosos "diálogos sociais" com os representantes do governo e das confederações capitalistas.

sábado, 13 de março de 2010

A lista da “Forbes” e os seus contrastes violentos e chocantes



Aqui no Brasil, a imprensa dominante exulta com a divulgação da “promoção” de um brasileiro que acaba de ser publicada pela revista “Forbes”, especializada na publicitação mediática de bilionários, no seu balanço para 2010. Trata-se de Eike Batista, que acaba de ascender à condição de 8º mais rico homem do mundo, com uma fortuna estimada em 27 bilhões de dólares e galgando muitas posições desde a sua anterior classificação, quando era o 61º.
Ao câmbio do dia, uma verba correspondente a cerca de 19.832 milhões de euros, ou seja, uma riqueza pessoal equivalente, por exemplo, ao salário mínimo português pago durante um ano (a quatorze meses!) a 2.982.255 trabalhadores, ou – estas comparações são intermináveis – igual a mais de quatro anos de trabalho garantido para os 700.000 portugueses desempregados.
Além de Eike, entre banqueiros e empresários, o Brasil tem mais 17 pessoas com fortunas acima de US$ 1 bilião, segundo a mencionada lista anual, divulgada na quarta-feira. O país tem o maior número de bilionários da América Latina.

Claro que, na óptica da comunicação social do capital brasileiro, é uma classificação muito “honrosa”, não obstante o 1º classificado neste escandaloso "ranking" ser um mexicano, Carlos Slim, com uma fortuna calculada em 53,5 bilhões de dólares(*), destronando este ano o anterior “vencedor”, o estadunidense Bill Gates.

Segundo a “Forbes”, o número de bilionários no mundo subiu de 793 no ano passado para 1.101, mas ainda abaixo dos 1.125 contados em 2008 (uma queda dramática!). Actualmente, os bilionários no mundo têm em média 3,5 bilhões de dólares, o que representa um aumento de 500 milhões de dólares sobre o último ano, ano de “crise”, está bem de se ver. Considerados os dez primeiros da lista, o total dos seus "pecúlios" cresceu de US$ 254 bilhões para US$ 342 bilhões, um aumento de 34,6%! Entre estes, há quatro bilionários oriundos de países "emergentes" - além de Slim e de Batista, aparecem os indianos Mukesh Ambani e Lakshmi Mittal, na 5ª e na 6ª posições, respectivamente, com 29 bilhões e 28,7 bilhões -, países "emergentes" que usualmente são considerados os “bons exemplos” para aqueles países que ambicionem conseguir um crescimento económico “milagroso”...

Numa versão fina do usual “dar lugar aos novos”, sempre segundo aquela revista, este ano entraram na lista 97 novos membros do “clube”, dos quais – atenção, muita atenção mesmo! – estão fazendo a sua estreia (verdadeiros debutantes!) 62 bilionários da Ásia, um "avanço" que permitiu à China fixar-se como o 2º país com o maior número de bilionários - 64! -, logo após os Estados Unidos, isto sem contar com mais outros 25 bilionários originários de Hong Kong.

Voltando ao empresário brasileiro Eike Batista, reza a sua encomiástica biografia que a sua fortuna começou a ser construída no início dos anos 1980, no “ramo” do comércio de ouro e diamantes, com negócios posteriormente estendidos ao petróleo e gás, mineração, energia, logística e estaleiros. Facto carregado de simbolismo, todas as companhias de Eike têm a letra “X” no nome, numa referência descaradamente explícita ao sinal matemático da multiplicação… Nos últimos anos, o bilionário Eike decidiu redireccionar integralmente para o Brasil as suas actividades, pois este país “é um dos melhores lugares do mundo para se fazer negócio”, segundo as suas próprias palavras.
Do ponto de vista do capital, assim parece ser. Só nos primeiros dias deste mês de Março, o saldo positivo na Bolsa brasileira, entre entradas e saídas de movimentações, no investimento em dólares, atingiu os 1.450 milhões, obrigando de novo o Banco Central a comprar 780 milhões da dominante moeda norte-americana, procurando “enxugar” esta nova inundação de dólares da especulação financeira, operada pelo grande capital multinacional.

Entretanto, no país real, outros são os dados da realidade brasileira. Já anteriormente neste espaço ("Davos, os Emergentes...", 31/01/10) se trataram alguns dos seus aspectos económicos e sociais.

Segundo os números acabados de divulgar pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Económica Aplicada), 12,6% da população total brasileira – cerca de 24 milhões, dos quase 190 milhões de brasileiros - vive em situação de indigência, classificação que no Brasil é dada aos que têm uma renda mensal inferior a 1/4 do valor do salário mínimo - fixado este ano pelo governo em 510 reais (cerca de 211 euros)-, ou seja, pessoas obrigadas a sobreviverem com menos de 128 reais (53 euros), enquanto outros 32% dos brasileiros – cerca de 61 milhões de pessoas – (sobre)vive em situação de pobreza, designação usada para aqueles que têm um rendimento menor que 1/2 do salário mínimo, isto é, 255 reais (106 euros).

Segundo a análise da pesquisadora do IPEA, Luciana Jaccoud, se hipoteticamente fossem retirados três dos principais subsídios sociais de assistência aos mais necessitados – o Bolsa-Família, outros benefícios previdenciários e o BPC (Benefício de Prestação Continuada de Assistência Social) – os índices de indigência e de pobreza pulariam, passando a representar, respectivamente, 23,4% e 43,7% da população brasileira.
Mesmo consideradas as diferenças nos custos de vida respectivos, dá para nós, portugueses, imaginarmos qual a ”qualidade” de vida a que estão sujeitos, com aqueles níveis de “rendimentos”, tantas dezenas de milhões de brasileiros.

Num país “bonito por natureza”, prenhe de enormes potencialidades económicas próprias (petróleo, ferro, outros metais, pecuária, agricultura, etc, etc), são violentos e chocantes estes contrastes, entre os rendimentos do multi-milionário Eike Batista e da minoria oligárquica parasitária à qual pertence, e, tantos milhões de compatriotas seus, obrigados pela extrema e desumana exploração capitalista a sobreviverem com tão escassos – verdadeiramente sub-humanos! - e irrisórios meios de vida, cavando um dos maiores fossos sociais existentes no mundo.
Um contraste violento e uma gritante contradição, a exigirem muitos combates de classe, muita denúncia política e muita luta por parte de todos aqueles que se reclamam comunistas e revolucionários, tal como por parte de todos os verdadeiros democratas e patriotas (com ou sem partido), uns e outros fazendo assim jus à condição de legítimos herdeiros das melhores tradições de luta e de insubmissão do grande povo brasileiro.


(*) Nota: Segundo as notícias oriundas do Chile - que tem quatro bilionários na lista, entre eles o presidente da direita revanchista recém-eleito, Sebastián Piñera - os gastos totais com a reconstrução, para recuperar das destruições ocasionadas pelo grande terramoto que recentemente atingiu o país, cifram-se em 15 bilhões de dólares; isto é, um pouco mais que uma quarta-parte da fortuna uni-pessoal do bilionário mexicano.