SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

sábado, 29 de maio de 2010

Um dia muito feliz na vida e na luta de um povo!

Decorreu hoje (29/5) em Portugal uma das maiores manifestações de trabalhadores de que há memória nas últimas décadas, das muitas e muito grandes já realizadas no país. As imagens que nos chegam são verdadeiramente impressionantes! O carácter maciço das filas de manifestantes, a sua determinação e combatividade, a sua orgulhosa afirmação do valor do trabalho e da luta dos assalariados, a convicção visível em tantos rostos, novos e velhos, a confiança transbordante na sua força, na razão da sua luta, a confiança num futuro mais justo e mais feliz, tudo isto afirmando que hoje, em Lisboa, a classe operária portuguesa, os assalariados dos mais variados ramos de actividade, as profissões intelectuais, os artistas de vanguarda, todos unidos escreveram uma das mais belas páginas da história da luta do povo português, na sua caminhada penosa, complexa, difícil mas firme, rumo a uma sociedade nova e de facto democrática, de liberdade, de valores humanos e de dignidade que varrerá a humilhação, a desapiedada exploração, a criminosa opressão que marca - e ainda marcará nos tempos imediatos - a vida dos portugueses.
Mas nada fica como dantes, depois desta grandiosa manifestação de descontentamento e de luta.
300.000 manifestante ganhando avenidas e praças, ganhando as ruas, será uma grande manifestação em qualquer país. Contando Portugal pouco mais de 10 milhões de habitantes, esta manifestação de hoje dos assalariados portugueses é, sem qualquer dúvida, proporcionalmente à população portuguesa, uma das maiores demonstrações de força e de combatividade de entre os assalariados de todos os países europeus, em luta contra a violenta ofensiva espoliadora dirigida pelo capital a partir da "sua" UE.
Salvé, a luta dos trabalhadores portugueses! Luta que vai continuar, decerto com ainda maior vigor e combatividade.
Aos eternos hesitantes, aos descrentes nas energias presentes no povo, a todos aqueles cujo papel que desempenham é sempre, mas sempre, o de tentarem "amarelar" aquilo que vibrantemente flameja de vermelho, é tempo de dizer-lhes: está na hora de se afastarem, de se arredarem do caminho, de deixarem ser "empatas" no percurso que o movimento operário voltou hoje a afirmar que quer que seja o seu, de deixarem de ser estorvos no combate do trabalho contra o capital. Reformem-se, mudem de actividade, ocupem o tempo fazendo coisas mais compatíveis com o vosso recuado estado de ânimo. Ou então, de uma vez por todas, esforcem-se modesta e sinceramente por acompanhar o passo e a dinâmica de luta dos trabalhadores e do povo, hoje de novo tão brilhante e tão eloquentemente afirmada. Se o fizerem, terão o grato gosto de caminhar lado a lado com os explorados e rumo ao futuro; se se recusarem, insistindo nas conciliações, nos negocismos, nas co-gestões concertantes, então terão a resposta que merecem: serão varridos do caminho e expostos à justíssima execração dos que acreditam, dos que lutam, dos que defendem a unidade dos trabalhadores contra os exploradores, dos muitos mais que querem seguir adiante! A escolha urge, cada dia haverá menos espaço e condições para permanecerem "em cima do muro".

quinta-feira, 27 de maio de 2010

29/5: Jornada de luta dos trabalhadores portugueses - também no Brasil


Todas as informações que nos chegam, sobre a preparação e mobilização em Portugal para a grande Jornada de Luta dos Sindicatos da CGTP-IN, no próximo sábado, 29, indicam estarmos prestes a confirmar a realização de uma das maiores manifestações desde sempre realizadas no país. De facto, as razões dos trabalhadores e de outras camadas produtivas para tal não são para menos; roubo nos salários e pensões, novos assaltos do Fisco, com aumento nos impostos indirectos, cortes nos apoios sociais, designadamente no subsídio de desemprego – num quadro de recessão económica! -, cortes nos investimentos públicos, novas privatizações de empresas nacionalizadas após o 25 de Abril, ameaça de novas alterações na legislação dos direitos do trabalho, enfim, uma violentíssima ofensiva do governo “socialista” do PS, apoiado pelos partidos tradicionais da direita.
Da violência desta ofensiva do grande capital europeu e internacional, contra os trabalhadores e os povos do sul da Europa, e da disposição do movimento operário e popular para lhe resistir, fala também a mobilização de emigrantes portugueses no Brasil.
Por iniciativa do Centro Cultural 25 de Abril, herdeiro político da importante acção desenvolvida em terras brasileiras pelo jornal “Portugal Democrático” durante os anos de fascismo em Portugal, um grupo de emigrantes aqui radicados organiza um acto cívico, no mesmo dia e à mesma hora em que decorre a manifestação em Lisboa. Iniciativa de solidariedade e de luta, aberta à participação dos democratas brasileiros amigos de Portugal, surge com o claro propósito de afirmar as características verdadeiramente nacionais da Jornada de 29/5, devendo constituir um estímulo para que outras comunidades emigrantes se unam também na luta.
Transcrevem-se em seguida os textos do Manifesto e do Convite que estão a ser dirigidos a camaradas e a amigos e à comunidade portuguesa aqui emigrada, com divulgação junto da Imprensa brasileira local.


Manifesto à Comunidade Portuguesa e aos Amigos Brasileiros

“A direção do Centro Cultural 25 de Abril, fiel aos princípios democráticos e populares que desde sempre guiam as posições e atividades desta Associação, perante as notícias que nos chegam de Portugal, com informações que reputamos graves para o bem-estar e futuro próximo dos nossos compatriotas, decide manifestar as seguintes considerações:

1- Afirmar a sua veemente oposição e repúdio perante a violenta ofensiva que nestes dias decorre no nosso país de origem, pela mão do atual governo PS/Sócrates e com o declarado apoio do PSD, com o propósito de cometer um autêntico assalto aos rendimentos dos trabalhadores portugueses e para benefício exclusivo dos banqueiros e outros setores do grande capital nacional e estrangeiro;
2 – Com efeito, as tentativas do governo português para aplicar novas taxas de IRS, preparando-se para descontar mais um imposto adicional entre 1 e 1,5% nos salários e pensões e anulando deduções à coleta relacionados com despesas com saúde e educação, a par do agravamento da taxa do IVA em mais 2% e fazendo-a incidir sobre todos os artigos de primeira necessidade, nomeadamente alimentos, são medidas que configuram um verdadeiro roubo a todos os que vivem do seu trabalho e que constituem a esmagadora maioria da população;
3 – A somar a estas medidas de espoliação, o governo português prepara planos para anular numerosas prestações sociais indispensáveis à sobrevivência das famílias mais pobres e, no momento em que os dados oficiais do desemprego já atingem os 10,6% (só no último ano, mais cerca de cem mil desempregados!), quer reduzir e liquidar mesmo o subsídio de desemprego que hoje já só é recebido por pouco mais de 40% dos desempregados, criando assim um quadro de miséria generalizada em vastas regiões do país;
4 – Com o falso e hipócrita argumento da “crise”, e depois de ter desviado das finanças públicas a colossal verba de 20.000 milhões de euros para alegadamente “socorrer” os bancos envolvidos na especulação e nas fraudes financeiras – bancos que, só os cinco maiores portugueses, registraram este ano lucros de 5,5 milhões de euros por dia! -, o governo português comporta-se como um autêntico “pau mandado” dos governos das maiores potências da U.E. e da sua Comissão, submetendo-se a todas as ordens recebidas desta com o objetivo de drenar para os bolsos dos banqueiros alemães e franceses os já limitados recursos do Estado, para mais recursos quase totalmente suportados pelos impostos pagos pelos que menos têm, ao mesmo tempo que se preparam para abocanhar as poucas empresas e serviços públicos ainda não privatizadas, sacrificando assim o desenvolvimento e a independência da nossa economia nacional;
5- Este servilismo aos interesses do grande capital levou a Espanha e a Argentina, alunas aplicadas das “receitas mágicas” e “recomendações” de economistas a serviço das grandes negociatas, à situação de penúria orçamental atual e à recessão. Ou ao “sucesso exemplar” da Letônia, como é classificado o país em The Economist, que sofreu queda do PIB de 25%, desemprego de 22%, mas não deixou de pagar os credores e tem seus restaurantes de luxo cheios. Os países que, na América Latina, na Ásia e em África, souberam resistir às chantagens do FMI, declararam o não pagamento das “dívidas” que justamente consideraram ilegítimas, apostaram no aumento da sua capacidade produtiva, gerando mais empregos, mais riqueza, melhores salários, melhores condições de vida para os seu povos.
6- Denunciando esta situação, acreditamos que há outra solução e outro caminho, para Portugal e para os portugueses, assente no aumento da produção nacional, no aumento do investimento público em obras estratégicas para induzir o crescimento econômico, no aumento dos salários e pensões que estimule o mercado interno, no apoio decidido a melhores serviços públicos prestados à população (na Saúde, no Ensino, na Habitação, nos Transportes, na Seg. Social), com uma política fiscal que faça pagar ao fisco aqueles que mais têm e acabe com o escândalo dos “off-shores”, tributando fortemente a especulação bolsista, enfim, é possível uma outra política, democrática e patriótica que aposte nas capacidades e no trabalho dos portugueses e recuse a subserviência perante os grandes da U.E.;
7 – Valorizando a justíssima decisão dos Sindicatos portugueses da CGTP, que convocaram uma importante jornada nacional de luta para protestar e contestar estas últimas medidas antissociais do governo português, marcando uma Grande Manifestação Nacional para o Próximo sábado, dia 29/5, em Lisboa, o Centro Cultural 25 de Abril de São Paulo, inteiramente solidário com os objetivos desta Manifestação em Portugal, decide realizar nesta mesma data um ato público de solidariedade e protesto, a ter lugar na Praça Mestre de Avis, às 11h, para o qual convoca todos os membros da comunidade emigrante portuguesa, bem como apela ao apoio e solidariedade dos democratas brasileiros amigos de Portugal e do Povo Português, para que se integrem e nos acompanhem neste ato público que, acreditamos, também pretende resgatar a nossa dignidade e o nosso patriotismo, lutando juntos contra a ditadura capitalista da União Europeia, que nestes dias agride os legítimos e inalienáveis interesses do povo português e dos outros povos da Europa.

Contamos com a presença de todos vós, compatriotas e amigos de Portugal e apoiantes dos mais belos propósitos da Revolução dos Cravos de 25 de Abril!
Todos no próximo sábado, dia 29, à Concentração na Praça Mestre de Avis, a partir das 11 h, junto ao Monumento ao 25 de Abril. Até lá!”



CONVITE
O Centro Cultural 25 de Abril, convida a Comunidade Portuguesa de São Paulo a comparecer dia 29 de maio de 2010, (sábado) às 11:00h junto ao Monumento “As Portas Que Abril Abriu”, localizado na Pça. Mestre de Aviz na av. Ibirapuera em S. Paulo e erguido em homenagem à Revolução dos Cravos de 25 de abril de 1974, para participarem de ato cívico de apoio aos trabalhadores portugueses e à CGTP-IN (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses-Intersindical Nacional) neste momento de crise que Portugal enfrenta.


domingo, 23 de maio de 2010

Um olhar argentino sobre a actual situação na Europa


As experiências alheias, bem como as opiniões de amigos, devem constituir sempre uma fonte de ensinamentos muito úteis e que nunca devemos subestimar. A História, sabemos todos, nunca se repete, mas lá que há "histórias" que se assemelham muito, lá isso há...
No texto que escolhemos aqui publicar hoje, o prestigiado sociólogo argentino Atílio Boron traça um interessante paralelo entre a actual situação em vários países integrantes da UE e a situação vivida na Argentina nos anos de viragem do século, situação e políticas que conduziram este país à bancarrota e que originaram um significativo processo de mudança, encabeçado pelo casal Kirchner. Tanto pelo mau exemplo latino-americano que menciona, como pela análise que contém sobre o "remédio" que o capital agora intenta aplicar sobre os povos europeus do sul do continente, aqui fica o mencionado texto. Com uma nota adicional: o autor compara o conflito social em desenvolvimento actualmente na Europa ao período das grandes contestações ao capitalismo que se viveram nos finais dos anos sessenta e que ficaram assinaladas para a História pelo "Maio de 68", em França. Guardadas as devidas distâncias, os acontecimentos últimos do desenvolvimento das lutas de classe na Grécia e nos restantes países alvo da ofensiva neoliberal parecem apontar, de facto, para o início de uma exaltante e promissora época de um renovado combate dos assalariados europeus contra o grande capital explorador. Façamos tudo o que nos é possível para confirmar, pela luta de massas, estas boas perspectivas.


A Europa no espelho argentino

Após causar estragos na sua terra natal, os Estados Unidos, o vírus "neoliberal", para usar a expressão correta de Samir Amin, já infectou a Europa. Confrontado com sintomas inocultáveis da crise, os mercados reagiram com uma mistura explosiva de cobiça e irracionalidade e mostram o seu cepticismo sobre as receitas para sair da crise produzida pelo G-20, o FMI e o BM. Para piorar as coisas, este fim de semana, Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, disse que "o resgate de um bilhão de dólares aprovado pela União Europeia e do FMI é só para ganhar um pouco de tempo." Esta opinião foi apoiada pelo economista chefe do BCE Juergen Stark, que também disse que "quando os mercados ficam loucos, ninguém pode prever as consequências".
A natureza estrutural e de longa duração da crise é evidente, e suas dimensões são impressionantes: na Grécia, o défice fiscal em relação ao PIB é próximo dos 14%, na Irlanda, quase 15%, em Espanha, está praticamente nos 12% , em Portugal ultrapassa já os 9% e no Reino Unido, do qual poucos falam, o défice orçamental é apenas um centésimo menor do que a Grécia: 13%. Estes números desviam-se brutalmente daqueles estipulados pelo defunto Tratado de Maastricht, pelo qual os países europeus se comprometeram a manter o seu défice orçamental abaixo dos 3% do PIB. Tudo isso acontece porque, com a eclosão da crise, no Verão de 2008, os governantes ordenaram ao Banco Central Europeu e aos seus próprios bancos para resgatarem as grandes empresas afectadas pela crise, como haviam feito Bush e Obama nos EUA, demonstrando, a título de exemplo, que a doutrina da "autonomia do Banco Central" é uma ilusão para consumo somente dos governos subservientes da periferia.
O problema com esta ajuda é que, mais cedo ou mais tarde, os fenomenais pagamentos feitos pelos governos tornam-se uma dívida de enormes proporções, causando um crescimento incontrolável do deficit fiscal. Desde há algumas semanas, o problema não suscitou maior atenção - o FMI absteve-se até mesmo de enviar um aviso para o mundo desenvolvido (quando por défices muito menores enviam as suas missões mortais para qualquer país do Terceiro Mundo) - excepto entre os poucos que estavam realmente conscientes da situação e não acreditam em metáforas inteligentes usados pelos gurus do capitalismo, que desde há um ano vinham falando sobre "sinais no verde", que anunciavam o fim da crise.
Charlatães irresponsáveis (como os da Argentina que, em Março de 2002, previam que até ao final daquele ano o dólar se cotizaria entre 12 e 14 pesos por unidade), agora sentem que o mundo está caindo, o euro cai, a Zona Euro está prestes a desintegrar-se, e como os governos capitalistas só concebem a saída da crise fazendo-a pagar pelos trabalhadores, o clima social está carregando-se de um conflito nunca visto desde os acontecimentos de 1968, embora alguns o remontem mesmo ao final da I Guerra Mundial.
As propostas para gregos e espanhóis são uma cópia das impostas pelo FMI na América Latina que serviram apenas para acelerar o colapso e o caso argentino é o reflexo mais fiel do que provavelmente espera muitos dos países da União Europeia que ainda se agarram ao catecismo neoliberal. O "Wall Street Journal" de 12 de Maio afirmava que "na zona do euro e em menos de um mês, o FMI deixou de ser um pária para se tornar uma instituição essencial cuja bênção é necessária para países que precisam de pacotes de resgate." Este autêntico Dr. Mengele das economias - que continua a ser o mesmo de antes, apesar de afirmações públicas em contrário -, foi aquele que as autoridades da União Europeia escolheram para administrar os remédios para resolver a crise. Por isso, não surpreende ver uma Europa em pé de guerra social, em resposta a um programa de ajuste brutal como o que sofreu a América Latina.
Como na Grécia, o ajuste recessivo de Rodriguez Zapatero em Espanha tem como um dos seus pilares a redução salarial de 5 por cento para a maioria dos trabalhadores e do congelamento para aqueles com menor salário, os chamados "mileuristas" (*), por ser essa, aproximadamente, a quantia que eles ganham por mês. Para mostrar que há austeridade para todos e que vai ser progressiva, o governo espanhol decidiu que de secretário de Estado para cima a redução seria de 15 por cento. A única desvantagem é que enquanto o primeiro-ministro espanhol ganha 91.982,40 por ano (cerca de 8.000 euros por mês, além de diversas despesas que estão a cargo do Tesouro), o corte de 15 por cento dificilmente irá produzir qualquer diminuição na sua capacidade de poupança e consumo. Mas, para os sectores mais baixos da administração pública, cuja remuneração com prémios, subsídios e bónus, é cerca de 2000 euros por mês, os 100 euros que lhes vão ser cortados irão afectar negativamente a sua qualidade de vida.
David Cameron, o novo primeiro-ministro britânico, foi mais fleumático e ordenou uma redução de 5 por cento de seus salários, apesar do seu salário anual ser de 207.500 libras esterlinas (somando o que lhe cabe como 1°. ministro e como membro do Parlamento) mais do que dobra o do seu homólogo espanhol. Estes dois exemplos são suficientes para caracterizar a filosofia por trás desses programas de ajustamento. Acrescente-se que em nenhum país da UE esta redução de gastos afecta as volumosas despesas do orçamento militar, parte do qual é destinado a financiar guerras imorais e infames como as que estão sendo travadas no Iraque e no Afeganistão. O que se reduzirá será a soma destinada à cooperação internacional. Só no caso espanhol, isto significa uma baixa de 600 milhões de euros, uns 8 por cento do orçamentado anteriormente.
Neste contexto, não deixa de ser surpreendente a conversa telefónica, realizada em 11 de Maio, entre Obama e Zapatero, especialmente quando o primeiro aconselhou a tomar medidas resolutas "para acalmar os mercados." Esta frase é muito semelhante àquela que no seu tempo pronunciou o ex-presidente Fernando de la Rua, na véspera do colapso da convertibilidade, quando também ele - como Obama agora - afirmava que era necessária e viável "para trazer calma aos mercados." Na realidade, os mercados são uma instituição em que a tensão, o tumulto e irracionalidade são a norma; além disso, sem se importarem com aquilo que se faça, são gananciosos e querem sempre mais, como eles fizeram saber a De la Rua e a Cavallo, em Dezembro de 2001.
Nas últimas páginas do primeiro volume de "O Capital", Marx descreveu com traços vivos a natureza dos capitalistas e dos mercados, dizendo que "o capital sente horror pela ausência de juros ...Se os juros são adequados, o capital se torna corajoso (...) aos 20 por cento, será impulsivo, aos 50 por cento se torna temerário; por 100 por cento, espezinhará todas as leis humanas; e por 300 por cento não há crime que o detenha, mesmo que você corra o risco de ser enforcado. " A experiência dos últimos dois anos dá-lhe razão, e a crise está apenas começando a manifestar-se.

Atílio Boron ("El Mundo", 17/05/2010)

(*) Nota: vale a pena lembrar que em Portugal, tal categoria de trabalhadores são os "Geração dos 500", isto é, ganham metade daquilo que ganham os espanhóis. "Geração", aliás, tornou-se um termo impróprio, pela generalização desse salário mísero a todas as gerações...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A correlação de forças e a luta actual pelo socialismo (I)

Os últimos desenvolvimentos da luta de classes nos países do sul da Europa vieram recolocar uma importante questão da actividade política revolucionária: a questão da correlação de forças. Intimamente relacionada com essa questão está o problema de uma correcta avaliação das condições objectivas e subjectivas.
A acção política séria apoia-se sempre numa prévia avaliação da realidade, tão vasta e tão rigorosa quanto o permitam as condições pré-existentes para a realizar, avaliação esta sem a qual fracassam as orientações, as iniciativas, as políticas.
Para os partidos marxistas-leninistas, o objectivo central da sua existência consiste na realização da revolução socialista. Para o concretizar, torna-se necessário assegurar previamente as condições tornadas necessárias para tal pelo actual estádio de desenvolvimento do capitalismo e, observando a lei do seu desenvolvimento desigual, considerarmos que tais condições assumem uma grande diversidade de país para país, dependendo de um complexo conjunto de factores.
Essa diversidade de condições e este conjunto complexo de factores determinam diferentes etapas ou estágios da luta revolucionária, tornando-se necessário que cada partido esteja em condições de integrar totalmente o objectivo da revolução em todas as fases da sua luta. Tratando-se de uma construção política num espaço e num tempo específicos próprios, nenhuma das suas etapas constitutivas deve contrariar/alienar a sua realização última. Isto é, toda a actividade organizativa, toda a acção política, devem concorrer permanentemente para a realização da revolução e não ignorar/ocultar/contrariar, em circunstância alguma, seja pela acção, seja pela omissão, esse propósito último de todos os revolucionários e sua principal tarefa.
Aqui se entronca, então, a questão da indispensabilidade de uma adequada avaliação de forças e da sua correlação no contexto determinado. Adequar os programas e propostas políticas a cada etapa, definir o inimigo principal e estabelecer as alianças de classe apropriadas, saber quais consignas são as adequadas a cada momento, tudo deve observar as duas condições: uma correcta avaliação da correlação de forças e uma firme fidelidade ao propósito central e último - a revolução. E estudando atentamente as experiências dos outros partidos e formações marxistas-leninistas, nos diferentes países e continentes.
Aqui chegados, façamos uma citação de um período de uma obra de Lénine, tornada desde então uma citação clássica na discussão política e ideológica:
A lei fundamental da revolução, confirmada por todas as revoluções, e em particular pelas três revoluções russas do século XX, consiste no seguinte: para a revolução não basta que as massas exploradas e oprimidas tenham consciência da impossibilidade de continuar vivendo como vivem e exijam transformações; para a revolução é necessário que os exploradores não possam continuar vivendo e governando como vivem e governam. Só quando os "de baixo" não querem e os "de cima" não podem continuar vivendo à moda antiga é que a revolução pode triunfar. Em outras palavras, esta verdade exprime-se do seguinte modo: a revolução é impossível sem uma crise nacional geral (que afete explorados e exploradores). Por conseguinte, para fazer a revolução é preciso conseguir, em primeiro lugar, que a maioria dos operários (ou, em todo caso, a maioria dos operários conscientes, pensantes, politicamente ativos) compreenda a fundo a necessidade da revolução e esteja disposta a sacrificar a vida por ela ; em segundo lugar, é preciso que as classes dirigentes atravessem uma crise governamental que atraia à política inclusive as massas mais atrasadas (o sintoma de toda revolução verdadeira é a decuplicação ou centuplicação do número de homens aptos para a luta política, homens pertencentes à massa trabalhadora e oprimida, antes apática), que reduza o governo à impotência e torne possível o seu rápido derrube pelos revolucionários.

Redigida em 1920 e destinada a confrontar correntes de "comunistas de esquerda" nos vários partidos comunistas com os erros do seu inapropriado radicalismo esquerdista, neste parágrafo da sua obra "Esquerdismo: Doença infantil do comunismo" Lénine visa afirmar uma "lei" que considera adequada à interpretação dos processos revolucionários da sua época, com base na sua experiência pessoal nas três revoluções ocorridas na Rússia e direccionada sobretudo à perspectiva de novas revoluções socialistas. Tal como todo o texto da obra, rica de factos e suas interpretações, conserva ensimentos fundamentais, designadamente sobre a imperiosa obrigação dos comunistas observarem rigorosamente todas as condições existentes, objectivas e subjectivas, na definição das suas orientações estratégico-tácticas.
Actualmente, compete-nos esgrimir aqueles princípios metodológicos leninistas na análise dos novos fenómenos sociais e políticos contemporâneos. Como o próprio Lénine afirmou, não como dogmas mas como guias para a exploração das novas realidades. Uma cega aplicação daquela "lei" definida por Lénine, o que nos indicaria sobre as condições pré-existentes às revoluções socialistas entretanto ocorridas ao longo do século XX? Possívelmente, na prática totalidade delas, tal "lei" aconselharia à não-realização dos levantamentos e transformações revolucionárias socialistas que de facto ocorreram - as repúblicas socialistas soviéticas, as revoluções europeias e a revolução chinesa na década de quarenta, a revolução cubana, as revoluções na Indochina - Vietname, Laos, Cambodja -. e outras.
Tal paradoxo da mencionada "lei" torna-se ainda mais consistente se a quisessemos aplicar às condições pré-existentes anteriores às numerosas revoluções democráticas, nacionais, anti-imperialistas, "pró-socialistas" - como algumas mais recentes na América Latina -, que ocorreram ao longo do século passado. Nós, os portugueses, particularmente os mais maduros, podemos fazer este exercício de avaliação às condições existentes nos anos que antecederam a nossa Revolução de Abril e procurar responder à questão: à época, os "de cima" já não podiam e os "de baixo" já não queriam? No mínimo, é duvidoso que tais condições fossem plenamente observáveis. E, no entanto, o PCP, em 1965, no seu VI Congresso, já definia o levantamento nacional e a insurreição armada (revolucionária) como o caminho para o derrubamento da ditadura fascista em Portugal. Sem saber exactamente como ela ocorreria, quais os seus principais agentes, seus desenvolvimentos de classe, etc; mas ela, a revolução, veio de facto a ocorrer, nos anos 74/75.
Voltemos agora ao presente, para nos debruçarmos sobre uma outra citação, neste caso os primeiros parágrafos de uma intervenção de Aleka Papariga, secretária-geral do KKE, apontando as propostas do PC Grego para a saída da actual crise. Trata-se de um importante documento político, cuja leitura e estudo se tornam indispensáveis para todos os comunistas e patriotas, quaisquer que sejam os seus países, pelo seu marcado cunho marxista-leninista e pelo seu conteúdo transformador, revolucionário, perante a crise económica, social e política em desenvolvimento na Grécia. Mas fiquemos apenas, pelo que aqui constituiu o foco principal a discutir, pela transcrição desses parágrafos iniciais:
O KKE sempre denunciou, particularmente depois de 1991, as ilusões existentes em torno do desenvolvimento indefinido do sistema capitalista, da competitividade e da produtividade supostamente no interesse comum dos trabalhadores e dos capitalistas. O Partido falava de inevitabilidade da crise económica em todas as economias capitalistas. Ele previu a crise, o inevitável agravamento e o aguçar súbito de todas as contradições sociais assim como das contradições inter-imperialistas.
Os apologistas do sistema capitalista, dentre os quais os partidários auto-proclamados do velho PASOK ou os revisionistas, ao reduzirem as causas da crise económica a uma questão de gestão do sistema, negam ou dissimulam a verdadeira base sobre a qual ela emerge, o próprio capitalismo.
As condições actuais exigem que o processo de tomada de consciência social e política se acelere e, sobretudo, que se exprima pela organização e a luta planificada que abram perspectivas de futuro. É o nível de vida do povo, da classe operária e das famílias com rendimentos modestos que nos preocupam, não os lucros dos capitalistas.
A nossa estratégia é impedir que estas medidas bárbaras sejam impostas na medida em que possamos fazê-lo nas condições actuais, impedir que elas tenham legitimidade na consciência popular, afastar os trabalhadores do PASOK e do ND, bem como das suas políticas, mobilizar e fazer avançar o movimento na via do contra-ataque a fim de reverter a relação de força actual, rumo ao poder popular. Não somos nem indiferentes nem observadores neutros, mas uma vez que a relação de forças políticas não permite uma intervenção eficaz em favor do povo, colocamos a prioridade no movimento social, fora do Parlamento.
Chegou o tempo para uma frente popular e social, para que uma acção política e de massas ganhe forma, ganhe uma forma distinta, desenvolvida a partir das forças militantes existentes que devem ser desmultiplicadas; ou seja, as forças militantes dos operários e dos empregados do privado e do público, dos independentes pobres – artesãos e pequenos comerciantes –, dos camponeses pobres, com um reforço da participação dos jovens, dos filhos da classe operária e das famílias populares, em particular aqueles que estudam e trabalham e estão em programas de aprendizagem, as mulheres e os imigrantes, aqueles que se batem nos domínios da ciência, da arte e da cultura.
Para esta causa, é necessário mobilizar forças com o KKE, pouco importa se os trabalhadores estão de acordo com o KKE sobre tudo, ou se têm interrogações ou pontos de vista diferentes sobre o socialismo.
As premissas de uma tal frente existem hoje como o demonstram a Frente Militante dos Trabalhadores ( PAME ) , a mobilização anti-monopolista dos trabalhadores independentes e dos pequenos comerciantes (PASEVE), a mobilização militante dos camponeses (PASY), a Frente Militante dos Estudantes (MAS) e outras formações do movimento. Outras formações emergirão no decorrer do caminho, e inclusive formações do mesmo tipo nos movimentos de massas contra a guerra imperialista, pelos direitos individuais e colectivos, democráticos, sindicais e pelas organizações associativas que agem localmente.
O cerne das lutas permanece nos locais de trabalho, nas ruas com os pequenos comércios, no campo, nas escolas, nas universidades, nos bairros de imigrados, em todos os bairros operários e populares. A colocação em cheque das novas medidas anti-operárias e inclusive a supressão das convenções colectivas e a promoção dos contratos individuais, a redução imposta do tempo de trabalho, as relações de trabalho flexível, etc, deve ser avançada com força em cada local de trabalho.
Os trabalhadores devem modificar a relação de forças a partir de baixo e isto deve ser expresso enquanto a luta se desenvolve igualmente ao nível político. O povo não deve aceitar pagar todo o tempo, submeter-se a sacrifícios indescritíveis para benefício dos lucros dos industriais, dos armadores, dos grandes comerciantes, dos monopólios em geral.
Esta frente popular e social deve ter duas finalidades ligadas entre si:
A primeira é a luta, o que supõe resistir, travar uma guerra de desgaste e solapar estas medidas bárbaras que o governo e seus aliados tentam fazer passar; luta contra um aparelho de que uma parte é o sistema político burguês do país e a plutocracia.
Uma luta de desgaste não é suficiente; algumas pequenas ou maiores vitórias devem também ser obtidas.
E, entretanto, a tarefa mais importante da nossa frente deve ser criativa, a de libertar um ponto de vista militante e popular, o optimismo e a dignidade militantes, um patriotismo de classe e o internacionalismo, a acção popular e as iniciativas que podem transformar a frente numa vasta corrente de modificação e de inversão da relação de forças.

Vamos deixar para um próximo escrito o desenvolvimento de algumas ideias relacionadas com o tema em abordagem, tanto mais que talvez a transcrição desta parte das propostas do KKE suscite o vosso interesse pela sua leitura integral, por exemplo aqui http://www.resistir.info/grecia/papariga_15mai10.html , leitura que vivamente aconselho.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

KKE - Um valoroso partido comunista em luta e o internacionalismo proletário



O corajoso e combativo P.C.Grego acaba de realizar, no último sábado (15/5), mais uma importante acção de luta e uma demonstração do apoio que lhe dão os trabalhadores e o povo gregos. Calculados em 100.000 participantes, comunistas e simpatizantes, no comício final estiveram na tribuna, ao lado da Secretária-Geral do KKE, representantes de quatro PC's europeus: do PC Português, do PC da Turquia, do Partido dos Trabalhadores da Bélgica e do PC dos Povos de Espanha. Viva a solidariedade de classe! Viva o Internacionalismo Proletário!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Portugal: Com a ofensiva neoliberal, vem a caminho o regresso aos governos do "Bloco Central"?

Como uma nova componente política da situação que o país atravessa, marcada por uma violenta ofensiva dos meios do grande capital contra os assalariados e outras camadas produtivas, tudo parece apontar que já esteja a caminho uma nova coligação de governo do velho Bloco Central. Os últimos desenvolvimentos verificados nos posicionamentos do PS e do PSD assim o demonstram: o primeiro, convidando adoçadamente o segundo, para publicamente partilharem responsabilidades na tentativa de imporem novas e muito graves medidas anti-trabalhadores para favorecimento da acelerada e brutal concentração do capital; o segundo, aceitando docilmente os convites e prestando-se a sancionar todas as medidas anti-nacionais planeadas pelo governo do primeiro.


Se nos recordarmos, não há muito tempo, ambos se "digladiavam" no palco da encenação política, trocando acusações, armadilhando golpes de bastidores por intermédio dos meios de imprensa que influenciam, explorando publicamente os podres respectivos, nos actos de corrupção, nos processos "judiciais" sucessivamente propagandeados e arquivados, etc, etc. Enfim, não há muito tempo, PS e PSD afivelavam a máscara de "opositores" e até, na gíria mediática dos seus escribas de serviço, estavam consolidadas as suas respectivas designações nesse teatro político, um figurante como "o partido do governo", e, o outro, como "o maior partido da oposição" (isto quando este não era, olimpicamente, "a oposição"!).


Repentinamente, todo o cenário muda. Fazendo-nos esquecer as figuras de um inflamado e indignado 1°. ministro, procurando defender o governo na A.R. dos ataques do seu terrível "opositor", enquanto a liderança da "oposição" esgrimia as suas farpas envenenadas, visando desacreditar o governo. De facto, com a (programada) ascensão de Pedro Passos Coelho a líder no último e recente congresso do PSD e, sobretudo agora, no quadro das necessidades estratégicas da actual ofensiva do capital contra os povos do sul europeu, tudo está mudado por vontade do grande capital que manipula os cordelinhos das suas marionetas em Portugal. Para os interesses do grande capital, parece que chegou a hora de mandarem que PS e PSD acabem com a fantochada mantida ao longo dos últimos anos.


Curiosamente, na Grã-Bretanha, uma sociedade e uma economia também em dificuldades mas incomparavelmente mais fortes que as portuguesas, os resultados das últimas eleições também determinaram o fim do bipartidarismo que já lá vigorava desde 1974, obrigando os conservadores a uma coligação governamental com os liberais e criando um facto novo na política partidária inglesa, no que diz respeito aos partidos do capital.


Parece relativamente claro que, para a actual estratégia de dominação capitalista nestes países, os círculos verdadeiramente dirigentes decidiram mudar os quadros políticos e, perante o risco eminente de grandes resistências e lutas sociais, com os trabalhadores e largas camadas populares a erguerem-se para lutarem vigorosamente contra o esbulho/roubo que está em curso, o exemplo da situação de luta social e política na Grécia parece ter acendido a luz vermelha nos gabinetes dos patrões da Europa, como uma séria ameaça de perigoso "contágio" e levando-os a ordenar aos partidos a soldo que o "filme" até agora exibido tem que mudar.


Em Portugal, na realidade e perante o enorme desgaste político do governo do PS, tudo parece apontar estar já na incubadora uma "nova" solução para assegurar a imagem de um governo robusto, a ser agora constituído pelos dois "maiores" partidos, de novo mais uma vez unidos e coligados.
De facto, verificadas já as mudanças de posições e atitudes descritas, o que falta? Faltará somente dar expressão prática para o exterior dessa "salvadora" solução para o país. Sendo assim, está a caminho o processo político público para o retorno, retocado com novos maneios de circunstância, de um novo/velho governo do chamado Bloco Central, desenterrando a solução há anos protagonizada pelo PS de Mário Soares.
Aliás, este mesmo malabarista político, há muito ao serviço do capital, já se derramou em grandes elogios às capacidades e traços do "rapaz do Ângelo Correia". Diz-me quem te elogia, e dir-te-ei para onde navegas...


Explorando a nova situação criada, e sobretudo antecipando-nos a uma muito provável confirmação próxima destes desenvolvimentos, torna-se desde já necessário, no âmbito da acção política dos comunistas e de outros democratas sinceros, intensificarmos a denúncia e o desmascaramento das anteriores falsas "guerras do arlequim e manjerona", protagonizadas até há pouco por PS e PSD, demonstrando que os actuais posicionamentos destes dois partidos da alternância do capital confirmam, eloquentemente e sem mais margem para dúvidas, estarem umbilicalmente ligados pela serventia comum às directrizes do grande capital internacional, contra os direitos e interesse nacional do nosso povo.
O processo histórico português, tal como os dos restantes povos da Europa do sul, um e outros determinados pelos respectivos percursos dialécticos, tudo nos indica que sofrerão acentuadas e aceleradas mudanças no curto e médio prazos. Estejamos atentos e preparados para elas e, se nos for possível, antecipemo-nos aos próprios acontecimentos em perspectiva. Daqui retirando grandes trunfos e vantagens tácticas, na nossa actividade de mobilização de forças e vontades num espectro político-partidário-eleitoral muito mais amplo.
Podemos - e devemos! - atrair e trazer à luta não já só os muitos milhares de trabalhadores votantes desiludidos do PS mas também desde agora os igualmente muitos milhares de eleitores descontentes com o inesperado(?) casamento deste dócil PSD com o PS, casório que o tornou inegavelmente conivente com as medidas de assalto do governo aos bolsos dos trabalhadores e aos pequenos rendimentos de uma vasta pequena burguesia em acelerado processo de proletarização forçada.
O contraditório quadro dos partidos do arco governativo das políticas de direita constitui hoje uma notória vantagem para o reforço da influência e da credibilidade políticas das posições revolucionárias dos comunistas e de outros patriotas portugueses sinceros. Saibamos usar esta vantagem habilmente, ao serviço dos interesses do nosso povo e em defesa dos direitos e conquistas dos trabalhadores.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A ofensiva capitalista e (as nossas) Informação "versus" Agitação

Informação e Agitação são dois diferentes conceitos para designar duas acções distintas: o primeiro trata do acto de informar, da acção de fornecer dados de avaliação e análise do real que permitam o esclarecimento/conhecimento dos fenómenos; o segundo designa a acção de agitar, de alertar, de colocar em movimento algo que está parado, o acto de promover o alerta, a vigília, a inquietação, a atitude activa de suscitar a adesão e a disposição dos outros para agir. Justifica-se assim que os tratemos como antagónicos, ao lhes intercalarmos o termo "versus". Em política, as diferenças entre ambos os termos são óbvias e vitais para a compreensão do que significam as suas diferentes práticas.
No nosso léxico de comunistas, os seus usos são mediados no tempo por algumas décadas. Uns bons trinta anos atrás, falávamos de Agit/Prop; posteriormente, passámos a falar de Informação/Propaganda. Tendo-se mantido sem alteração o segundo componente da composição, o primeiro foi objecto de substituição, caindo a "agitação" e sendo substituída pela "informação". É caso para dizermos que podiamos ter ficado com os três termos, em alegre e frutuoso convívio - Informação/Agitação/Propaganda - e, se o tivéssemos feito, nenhum mal daí adviria para a nossa terminologia militante. Mas não; decidimos a supressão/liquidação, pura e simples, da "Agitação". Criaram-se as SIP's, as secções de informação e propaganda.
Creio que fizemos mal, não só porque empobrecemos a nossa linguagem própria mas sobretudo porque a razão pela qual o fizemos configura - hoje, a todos estes anos de distância, é possível afirmá-lo - uma cedência político-ideológica de monta. Isto é, quisemos esconder a nossa condição de agitadores (uma conotação muito radical!), ou até talvez (pior ainda), fizemo-lo por considerarmos que os tempos da "agitação" estavam ultrapassados e que, muito "civilizadamente", nos bastaria informar e propagandear/propor.
Estas considerações servem para introduzir a questão a tratar, a saber: actualmente, a actividade de agitação tornou-se absolutamente decisiva na acção política dos comunistas, razão pela qual devemos avaliar em que grau e medida a praticamos.
Dirão alguns camaradas, eventualmente, que mesmo deixando de falar nela nunca deixámos de fazer agitação, a par de informarmos e propagandearmos/propormos. Mesmo aceitando que assim tenha sido, a questão hoje é interrogarmo-nos se estamos a fazer a agitação - a-g-i-t-a-ç-ã-o, mesmo! - que corresponde aos tempos presentes, às exigências do momento actual. Por mim, respondo que não, não estamos. E não a estando fazendo, não estamos a responder adequadamente à situação existente, desprezando/subestimando uma área do nosso trabalho que poderá ser crucial para atingirmos os nossos objectivos.
Os actuais desenvolvimentos da crise do sistema, com a geral ofensiva neoliberal em curso que todos estamos a viver, passam agora na Europa pela intensificação da exploração do trabalho e pelo esbulho dos recursos e capacidades dos povos dos países "periféricos" da UE, nomeadamente, nesta fase e com redobrada violência, da Grécia, de Portugal e da Espanha.
As decisões que estão a ser anunciadas pelos governos subservientes dos três países configuram um autêntico assalto (à mão armada!) aos salários e pensões, aos rendimentos das classes e camadas produtivas, com as tentativas de todos eles de reduzirem as remunerações do trabalho através de novas taxas e impostos, os directos e os indirectos sobre o consumo, uns e outros atingindo violentamente as classes e camadas já de si as mais exploradas e empobrecidas. Numa articulação já muito descarada, os governos e os partidos dos arcos da governação pró-capital, anunciam em dias praticamente sucessivos tais medidas e fazem-nas ser objecto de discussões e aprovações "a mata cavalos" nos respectivos parlamentos, querendo com isso inculcar a ideia, nos atingidos directamente e nas opiniões públicas, que "não há nada a fazer, isto é geral, é para todos, é a crise!..."
Daqui decorrem, evidentemente, muitas tarefas e muito trabalho para os PC's e outras forças verdadeiramente patrióticas e de esquerda (*). O desmascaramento e a denúncia da manobra, articulada na cimeira de dirigentes dos países do euro e cumprida imediata e fielmente pelos governos "socialistas"(?!) de turno; a organização e a mobilização das respostas operárias e populares; o planeamento e a montagem dos eixos de contra-ataque que a situação exige; a mobilização das energias juvenis e intelectuais, o apelo à coragem e à audácia, à criatividade de amplos sectores para que se levantem e lutem.
Perante a envergadura da ofensiva do capital, atingindo todas as classes e camadas excepto o grande capital e a grande burguesia, são necessários verdadeiros levantamentos nacionais, com capacidade de acção para se oporem e fazerem fracassar os planos de ataque dos banqueiros e grandes grupos económicos. Empresas e sectores de actividade, ruas e praças, orgãos de poder, orgãos de comunicação "social", entidades empresariais do grande patronato, organismos do Estado, todos devem ser objecto de acções de protesto e de luta, de repúdio e de resistência.
Para tal e para o êxito da luta, o papel a desempenhar pela agitação é fundamental. A par da informação, dos dados, das demonstrações, dos relatos circunstanciados, os assalariados e os sectores populares, no seu percurso de resistência e de luta, carecem de consignas, de frases rápidas e de imediata apreensão, de palavras de ordem para a acção que todos compreendam rapidamente e possam facilmente adoptar como certas e justas. As consciências mais adormecidas e anestesiadas têm que ser estremecidas, têm que ser agitadas, no sentido mais literal do termo, têm que ser despertadas da fase do "esperar para ver", acordadas da apatia e da manipulação mediática das mentes.
Para se atingirem aqueles objectivos, não bastam as intervenções bem estruturadas e fundamentadas, as denúncias com boas explicações do que está a acontecer. Sendo parte importante, só elas já não bastam. Tornou-se uma urgência política fazer sair a política às ruas. Apesar dos seus limites materiais, os movimentos operários e as forças revolucionárias possuem um poderoso e riquíssimo património de formas de acção que urge mobilizar e pôr em marcha, umas agito-propagandísticas (carros de som, pinchagens, distribuição de panfletos, mini-comícios, faixas, braçadeiras, homens-sanduíche, etc,etc) e outras prático-interventivas (ocupação de ruas e lugares públicos, de edifícios, cortes de estradas, etc). Umas e outras, visando agitar/sensibilizar as pessoas, apelando à participação de todos no combate que é de todos e diz respeito à vida e ao futuro de todos.
A política séria e fundamentada, elaborada e aprisionada nas sedes, nos parlamentos e assembleias, nos sindicatos, tem de saltar para as ruas, ganhando a forma da linguagem directa e popular, tomando a forma popular do ajuntamento, da passeata ruidosa, da fala de rua, da inscrição de frases curtas e certeiras, chamando os nomes às coisas e aos bois; conhecemos todos o grande valor que pode ter um único autocolante (bem visível e directo) numa lapela, numa camisola, num local de grande passagem; o impacto positivo que sempre têm as ilustrações e bandas desenhadas ridicularizando os políticos burgueses, ou a importância que pode assumir uma conversação, serena mas firme, num transporte público, se falarmos das preocupações e dos problemas sentidos pelos presentes.
Concluindo: a agitação política tem que reassumir o destacadíssimo papel político que deve e pode ter na transformação das mentes e estados de espírito, sendo uma responsabilidade revolucionária a cumprirmos, tanto em realizações e iniciativas colectivas como na militância e activismo individuais. Pode tomar múltiplas e criativas formas. Pode ser contundente e mordaz. Pode (e deve!) ser criativa e fazer-nos rir. Em todos os casos, deve ser corajosa, fraternal, apelativa, "agitadora", procurando suscitar a adesão de todos quantos atinja.
Temos em arquivo, decerto, manuais que nos ensina(ra)m como se faz bem agitação política revolucionária. Trata-se somente de voltarmos a folheá-los e, sobretudo, de sabermos libertar as nossas energias inovadoras e criativas, com soluções novas que nos permitam traduzir para os que nos rodeiam o que conhecemos e avaliamos, voltando assim a assumirmos essa honrosa condição de partidos e militantes agitadores de vanguarda.
(*)Nota: Comprovando rasteiramente a sua condição social-democrata europeísta, os "esquerdistas" do Bloco de Esquerda acabam de aprovar na A.República portuguesa o "pedido"/imposição de "empréstimo" à Grécia, juntando os seus votos aos do PS (no governo) e aos do PSD e do CDS...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Grã-Bretanha - Aprofundamento da crise capitalista compromete a clássica solução parlamentar burguesa do bi-partidarismo


Ao contrário de todas as "profecias" vertidas pela comunicação "social" dominante, semana a semana, mês após mês, anunciando-nos animosamente a "saída da crise", o sistema capitalista mundial prossegue a sua marcha destruidora, tal como um avião desgovernado no seu caminho para o abismo mas com o pessoal de bordo - comandante e comissários - assegurando aos seus passageiros que tudo vai bem, evitando com isso que o pânico se instale. Mas sabemos que, a não ser alterada e invertida tal rota - pela vontade e determinação dos passageiros -, no final deste percurso espera-nos o caos social e a barbárie política e, para desespero dos mais crédulos, constatando que os verdadeiros comandantes e comissários nunca estiveram a bordo!


Também reflexo desta profunda crise, que se vai instalando nos países europeus - não obstante o erro típico dos nacionalismos (de direita e de esquerda!), que afirmam "o mundo vai mal, mas nós não!" - os resultados eleitorais das últimas eleições na Grã-Bretanha revelam uma outra crise: a crise dos sistemas bi-partidários, uma solução instalada e mantida há décadas na velha Albion, tal como em vários outros países capitalistas da linha da frente - caso dos EUA e outros - e "exportada" pelo capital como a sua melhor solução para todos os restantes, através da aplicação de leis eleitorais deliberadamente bi-polarizadoras.

Com os trabalhistas de Gordon Brown derrotados e "despromovidos" para o terceiro lugar e os conservadores de David Cameron "promovidos" ao partido mais votado mas sem conseguirem obter a maioria absoluta no parlamento - não obstante a anti-democrática lei eleitoral inglesa, violadora do fundamental princípio da proporcionalidade entre n°. de votos/n°. de eleitos - a demissão de Brown e a posse ontem (11/5) de Cameron no cargo de 1°. ministro, após negociações para uma coligação governamental com o partido liberal de Nick Clegg, abre-se um novo capítulo no regime político britânico. Como facto novo, os liberais viram a sua votação torná-los o partido-charneira para uma solução da crise política, revelando que a clássica solução alternante labour-tory parece uma solução esgotada, pelo menos no imediato.


Claro que as "juras de amor eterno", trocadas entre Cameron e Clegg, podem afundar-se no médio prazo perante o previsível agravamento da situação social inglesa e o prosseguimento do rumo de descalabro da sua economia e das suas finanças, mas a situação presente é realmente nova.


Para aquilo que aqui nos interessa tratar - não somente a aritmética dos votos, mas sobretudo tentar interpretar o fenómeno nas suas vertentes político-ideológicas -, tem interesse procurar perceber as razões que determinaram estes resultados eleitorais e, concomitantemente, a maior afluência dos eleitores às urnas, maior afluência esta que, por completamente inesperada para o "establishment", obrigou a que tenham ficado muitos milhares de eleitores sem votar, por falta de boletins de voto (!) e paralisados em longas filas esperando votar, sendo confrontados com a inexorável pontualidade britânica e vendo fecharem-se-lhes as portas de muitas das secções de voto.

Parece estarmos perante um interessante fenómeno de "paralaxe política", com o partido liberal a conseguir persuadir os eleitores que, sobretudo em política externa, é contra os principais eixos governativos propostos pelos seus dois outros antagonistas, aparentando com isso posicionar-se à esquerda da "esquerda" trabalhista. Socorrendo-nos das notícias e artigos na imprensa, observemos algumas das suas afirmações no último ano e durante os debates eleitorais, sobretudo sobre as posições agressivas do imperialismo estadunidense.

Cada vez que temos de tomar uma decisão, não temos escolha senão seguir as decisões tomadas na Casa Branca.” Ao contrário de seus concorrentes, ele afirmou que quer que "a Inglaterra passe a agir na área internacional em conformidade com os seus interesses e não como um simples apêndice militar" dos EUA. Consubstanciando essa ideia, Clegg defendeu posições concretas que contrariam os americanos em pontos fundamentais. Foi contrário à invasão do Iraque, compartilhada por forças inglesas. Advoga uma postura imparcial no Oriente Médio, em lugar do apoio a Israel, adoptado pelos governos trabalhistas de Tony Blair e Gordon Brown.

Antes do ataque a Gaza, em artigo no ‘The Guardian’, em Janeiro de 2009, intitulado ‘Precisamos parar de armar Israel’, o líder liberal escreveu: “Brown precisa condenar sem ambiguidades as tácticas de Israel, como condenou os ataques de foguetes do Hamas”. E mais adiante: “Ele (Gordon Brown) precisa liderar a Comunidade Europeia para usar as suas forças económica e diplomática na região e mediar a paz. A Europa é de longe o maior mercado para exportação de Israel. Ela precisa suspender imediatamente o novo acordo de cooperação com Israel até que as coisas mudem em Gaza, apresentando condições firmes para assistência a longo prazo à comunidade palestina.”
Durante a própria agressão sionista a Gaza, Clegg pronunciou-se assim: “Temos um presidente dos EUA de saída (Bush) sancionando a resposta militar israelense e um doloroso silêncio do presidente eleito (Obama). Temos uma União Europeia comprometida por confusas mensagens... Gordon Brown, como Tony Blair, fez a política externa inglesa ficar efectivamente subserviente da de Washington. O apoio ao governo extremista de Israel não é nem do interesse da Inglaterra, nem do seu povo”.
E, um ano depois da invasão de Gaza, quando a Europa e os EUA se calaram perante o bloqueio de alimentos e materiais de reconstrução pelo exército israelense, o líder liberal proclamava que “o confinamento e punição de toda uma população não é a forma de construir a paz para todos os povos do Médio Oriente”.
Mas Nick Clegg foi ainda mais longe no tratamento de temas delicados para as relações EUA-Inglaterra. O manifesto de lançamento da sua candidatura diz que “queremos um completo inquérito judicial sobre a conivência do país nas torturas e nas ‘rendições extraordinárias’, nas quais suspeitos de terrorismo eram presos pela CIA no exterior e enviados a países para serem torturados secretamente”.
Ainda mais outra posição dos liberais, mal vista pela Casa Branca: Clegg é contra o Sistema de Misseis Trident, alegadamente planeado ante a possibilidade de um hipotético ataque da ex-União Soviética. Para ele, já que a Guerra Fria acabou, não se deve manter o programa Trident, com um custo de 120 bilhões de libras nos próximos 20 anos.
Mesmo no plano da política interna e arriscando-se a perder votos de uma população fortemente atingida pela crise capitalista e revelando crescentes tendências anti-imigração, o líder liberal defendeu a amnistia dos emigrantes ilegais que se encontrem há dez anos no país, ao contrário das medidas duras propostas pelos seus adversários, inclusive pelos trabalhistas.
E querendo aparecer como defensor das velhas tradições liberais inglesas, Clegg disse querer ainda, através de uma “freedom bill” (lei da liberdade) restaurar a protecção às liberdades civis violadas e suprimidas pelas medidas anti-terrorismo do período Brown. Sobre política financeira, rejeitou o princípio capitalista aplicado aos bancos conhecido por “too big to fail” (muito grandes para falir), fielmente respeitado por trabalhistas e conservadores e garantiu que, se fosse eleito, não impediria a quebra de grandes bancos fraudulentos (?!).


Pela leitura destas numerosas posições de "esquerda" do partido liberal, pela consideração da maior afluência dos eleitores ingleses nestas eleições inglesas, parecem possíveis algumas conclusões;
- a derrota (já esperada) dos trabalhistas traduz por parte do eleitorado uma atitude de punição do seu governo e das políticas trabalhistas de alinhamento canino com o agressivo imperialismo estadunidense;
- os ingleses estão descrentes com os partidos que durante décadas têm alternadamente aplicado as mesmas receitas, contra os trabalhadores e de favorecimento do grande capital;
- o partido liberal, advogando algumas posições objectivamente mais à esquerda, foi a escolha de alguns milhões desses eleitores descontentes, que assim comprometeram a tradicional alternância sem alternativa que tem sustentado os sucessivos governos conservadores e trabalhistas;
- com este resultado, ficou abalado o edifício político da burguesia inglesa ao qual podemos chamar regime do partido único-bicéfalo, fenómeno novo que pode "contaminar" positivamente os eleitorados de outros países que igualmente vêm suportando semelhantes soluções "bicéfalas"
- por último, estas mudanças eleitorais revelam a existência de um espaço crescente no eleitorado inglês disponível para outras escolhas, para opções políticas que contestem o "status quo", espaço esse que poderá vir a ser suporte para a actividade das forças políticas e sociais que recusam as soluções do neoliberalismo dominante e defendam a contestação do sistema, propondo novos caminhos democráticos para o seu povo.

Aqueles posicionamentos "à esquerda" do partido liberal inglês, revelam aliás um interessante fenómeno político-partidário contemporâneo que podemos, figurativamente, associar aos movimentos telúricos terrestres: sob a pressão ideológica do neoliberalismo durante décadas, operando a compressão/afundamento/fragmentação das posições dos partidos de esquerda - em muitos casos, mesmo a destruição dos próprios partidos -, a força das ideias de esquerda, robustecidas pelo desenvolvimento histórico, vêm actualmente a irromper episodicamente dentro das próprias formações de direita, para mascarar as opções de classe destas últimas mas evidenciando, ao mesmo tempo, uma cedência clara à força ideológica crescente das posições de esquerda e anti-capitalistas.

De um ponto de vista de classe, assente sempre numa análise política igualmente de classe, não há razões para alimentar quaisquer ilusões com o partido liberal inglês. Ele faz parte e integra o arco dos partidos representantes dos interesses do grande capital, lá como cá e em numerosos outros países, são os partidos das políticas de direita. São até de esperar alterações significativas naquelas posições que o liberal Nick Clegg foi defendendo, durante o período que antecedeu as eleições e na própria campanha eleitoral. Isso é um comportamento típico nestas democracias burguesas, é próprio dos procedimentos "éticos" dos políticos burgueses, nada há para se estranhar nem que justifique que gastemos mais tempo com tal expectativa.

Importará sim estarmos atentos às próximas posições e iniciativas dos sindicatos e partidos da esquerda britânicos, esperando que deles tenhamos boas e estimulantes notícias, no nosso combate comum à presente ofensiva neoliberal na Europa e no mundo. Parece fazer parte do pacto negociado entre conservadores e liberais uma reforma do sistema eleitoral inglês; a ser assim, caberá às organizações populares exigirem então o cumprimento dessa promessa dos liberais, agora que estão no governo!

Lá como cá, temos que estar sempre em condições de aproveitar e usar em nosso favor todas as debilidades e dificuldades - mesmo que conjunturais e de dimensões limitadas -, que vão atingindo o aparelho e as forças de dominação capitalistas. Lá como cá, a luta dos povos europeus e mundiais, tornada mais instante e imperiosa, exige-nos uma grande capacidade táctica e uma sólida firmeza estratégica, organizando a resposta e o indispensável contra-ataque das organizações operárias e populares, promovendo a urgente resposta dos democratas e dos patriotas para juntos contermos e derrotarmos a presente (e violenta) ofensiva deste neoliberalismo revivido.

sábado, 8 de maio de 2010

8 de Maio de 1945 - Breve (mas necessário) apontamento histórico


Esta dia da vitória, a vitória das forças aliadas sobre o nazi-fascismo alemão, na verdade assinala a data da entrada das forças armadas soviéticas na capital berlinense e a tomada do Reichstag pelos militares do Exército Vermelho.

A comunicação "social" dominante, fiel aos seus permanentes propósitos de mistificação e reescrita da História, não deixará de propagandear os feitos dos militares estadunidenses nos teatros de operações na Europa, transformando-os nos únicos heróis a glorificar e ocultando o papel decisivo dos soldados e povos soviéticos na derrota do nazismo hitleriano.

Nada mais falso e manipulador. Dos 40 milhões de homens e mulheres que morreram na II Guerra Mundial, 27 milhões eram cidadãos soviéticos, uma catástrofe humana que revela bem a dimensão do sacrifício inenarrável pedido aos povos da antiga U.R.S.S. para se conseguir, depois de seis anos de guerra, com mortes e destruições incontáveis, finalmente derrotar os propósitos imperialistas, xenófobos e expansionistas de Adolfo Hitler e do grande capital alemão.


Reafirmando a verdade desses factos, longínquos no tempo mas gravados a fogo nas páginas da história mundial, nada melhor que usarmos as palavras verdadeiramente insuspeitas dos principais dirigentes das chamadas potências ocidentais - de facto, capitalistas - da época, palavras estas que, pouco tempo depois de serem proferidas, passaram a ser escamoteadas pela máquina ideológica da fracção imperialista triunfante, obedientemente secundada pelos aparelhos desinformativos dos países submissos. Mas tais palavras, meridianamente claras pelo seu irrecusável testemunho histórico, aí ficam:

"Do ponto de vista das grandes estratégias...é difícil fugirmos ao facto evidente de que os exércitos russos aniquilaram mais soldados e armamento ao inimigo do que todos os outros 25 estados das Nações Unidas no conjunto...Nós não podemos esquecer-nos da heróica defesa de Moscovo, Leninegrado e Stalinegrado e das gigantescas proporções das operações ofensivas russas lançadas em 1943 e 1944, em consequência das quais foram aniquilados os enormes exércitos germânicos."

(Franklin Delano Roosevelt)


"Quando falo do que foi feito pela Grã-Bretanha e do contributo militar dado pelos Estados Unidos, nunca me esqueço que foi o Exército Vermelho que quebrou o ânimo aos nazis...O Exército Vermelho deu um exemplo de abnegação e coragem. Este exemplo incutiu em nós a esperança de que a liberdade e o mundo serão salvos"

(Winston Churchill)


"Os franceses sabem o que a Rússia Soviética fez por eles e sabem também que foi precisamente a Rússia Soviética quem desempenhou o principal papel na sua libertação".

(Charles de Gaulle)



Quando vierem de novo - porque virão, sem dúvida! - com os relatos superlativos dos desembarques "aliados" nas praias da Normandia e no litoral da Itália, quando vierem com as fanfarronadas dos "imparáveis" avanços do general Patton, recordemos o que afirmaram na época os próprios adversários do Socialismo, em ocasiões nas quais sentiram ser inevitável falarem a verdade...

sexta-feira, 7 de maio de 2010

O PCP, solidário com o povo grego, recusa o empréstimo à Grécia!




Em intervenção na Assembleia da República, Bernardino Soares, em nome do Partido e anunciando o voto contra dos comunistas ao empréstimo que o governo veio propor ao parlamento português - em obediência às ordens da dupla germano-francesa que manda na UE -fez a seguinte declaração:


A situação que se vive na Grécia e noutros países é a consequência da irracionalidade do sistema vigente na União Europeia.
Uma política assente em orientações monetaristas favoráveis aos grandes grupos económicos e às potências do directório da União Europeia, mas que penaliza fortemente as economias menos desenvolvidas, designadamente com a política do euro forte e com a imposição de critérios monetaristas artificiais 3% com consequência no investimento público, na dinamização do mercado interno, nas desigualdades sociais.
Uma política que conduz à crescente financeirização da economia, à degradação das capacidades produtivas dos países menos desenvolvidos, como acontece com Portugal, à estagnação e à recessão. Uma política que se orienta para o benefício do capital especulativo.
Ao longo da crise em curso foi gritante a falta de solidariedade da União Europeia e em especial das suas principais potências. Deixou-se agravar o ataque dos especuladores em relação à Grécia, e também em relação ao Portugal e outros países, quando a situação podia e devia ser travada com uma posição mais forte perante essas operações. Está hoje, aliás, evidente que as notações e as supostas inseguranças dos mercados, nada mais são do que a pressão para aumentar o juro das dívidas e assim as margens de lucro do capital especulativo.
Nesta crise ficou claro como funciona a União Económica e Monetária. Um bom exemplo é a acção do BCE, guardião da ortodoxia monetarista. O BCE pode emprestar e empresta dinheiro a instituições bancárias, independentemente até da sua solidez, à taxa de 1%. Mas está proibido de emprestar dinheiro aos Estados em dificuldades, por imposição e interesse da Alemanha.
E mesmo perante a situação de crise, a evidenciar que é preciso fomentar a economia dos países menos desenvolvidos, mantêm-se absurdamente os critérios monetaristas dos 3% de défice, mesmo que isso implique uma ainda maior destruição das economias, do emprego, do desenvolvimento.
O que se propõe agora à Grécia é uma dose cavalar da mesma política que tem sido imposta todos estes anos e que também não queremos para o nosso país. Congelamento de salários e pensões, corte de subsídio de férias e de Natal para trabalhadores e reformados, redução de salários na administração pública, aplicação de uma regra 5/1 nas entradas e saídas da administração pública, mais uma revisão brutal do investimento público, destruição de direitos e salários no sector privado, privatização e liberalização de sectores públicos essenciais, encerramento de serviços públicos por exemplo ferroviários, contracção fortíssima de despesa social, etc. etc..
Estas medidas vão criar mais dificuldades à Grécia, tal como as que entre nós estão a ser aplicadas criam em Portugal. Sem dinamização do mercado interno, sem mais investimento não há crescimento. Sem crescimento não há receita. Sem receita não há dinheiro para pagar a dívida pública.
Mais ainda, este dinheiro vai, mais uma vez, para o sistema financeiro. Para os mesmos que criaram a crise, que lucraram com ela, que dinamizam a especulação. Entretanto, pagam os mesmos de sempre: os trabalhadores e o povo.
Estamos contra este caminho, como estamos contra a aplicação no nosso país da política que ele perpetua. Sim, a União Europeia deve ajudar a Grécia. Mas o que está aqui em causa não é uma ajuda, é uma condenação ao atraso, à dependência, à crise social. As verdadeiras ajudas não chegaram a aparecer.
E não nos digam que este caminho é inevitável!
Estamos fartos que nos digam que só há este caminho; que o resultado seja a estagnação, a recessão e a pobreza e ainda assim nos digam que só há este caminho.

Que o sistema favoreça os especuladores e ainda assim nos digam que só há este caminho.
Que as desigualdades aumentem e ainda assim nos digam que só há este caminho.
Que os grupos económicos e o grande capital concentrem cada vez mais a riqueza e nos digam que só há este caminho.
Que o desemprego e a precariedade alastrem, que os salários as reformas e as prestações sociais sejam cortados e nos digam que só há este caminho.

Não, Srs. Deputados não há só este caminho. Este caminho não serve o povo grego, nem o povo português nem os povos da Europa.

É por isso que cada dia está mais claro que para a Europa, como para Portugal, é preciso outro rumo, é preciso outro caminho.


quarta-feira, 5 de maio de 2010

Desenvolvimentos da crise do capitalismo - uma ofensiva do capital já anunciada

A crise capitalista alarga-se e aprofunda-se
No mesmo dia em que os meios de comunicação internacionais divulgam despachos e imagens das grandes greves e manifestações realizadas pelos trabalhadores gregos - carregando as tintas, como sempre fazem, nas acções de enfrentamento dos manifestantes com as forças repressivas e nas depredações originadas pelos esquerdistas - a agência de rating "Moody's Investors Service" anuncia que considera rever em baixa a avaliação às contas do Estado português.
Trata-se, como é sabido, de uma das três maiores agências (as outras, são a "Standard&Poor's" e a "Fitch") do grande capital internacional, usada para condicionar as políticas governamentais, influir no comportamento dos pequenos e médios investidores e, sempre, aumentar os juros do capital especulativo. A sua total falta de credibilidade ficou irremediável e escandalosamente comprovada aquando da "quebradeira" financeira em finais de 2008, ao atribuirem notações máximas (AAA) aos bancos e agências financeiras que acabaram falidos naquela época. São uma espécie particular das chamadas "entidades reguladoras", de facto meras assalariadas das entidades "reguladas" e inteiramente ao seu serviço...
Mas o que chama a atenção e merece reflexão - e, sobretudo, acções de resposta - é esta aparente coincidência de notícias, sobre a luta dos trabalhadores gregos e as ameaças de más notas da Moody's para Portugal, notas más que já antes estiveram na origem da ofensiva contra a Grécia. Torna-se agora patente, aquilo que há três meses estava anunciado, com o lançamento da ofensiva capitalista contra aqueles países aos quais passaram a chamar, depreciativamente e de modo ofensivo, os PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha). Ou seja, o país de vez a fazer ajoelhar, a seguir à Grécia, é Portugal.
Já antes neste espaço se assinalou este previsível desenvolvimento da ofensiva do capital internacional. Um ano e meio após o estoiro da maior crise do sistema, que deixou momentâneamente paralisados os seus mecanismos de dominação ideológica e política, com tudo o que eram partidos e individualidades do reformismo e da conciliação e de aparência social-democrática a fingirem grande indignação e a barafustarem que era necessário assegurar o controle do capital financeiro - postulando o regresso a Keynes e a um "capitalismo bom" e com "preocupações com o social" - eis agora em pleno desenvolvimento a retomada da ofensiva pelas forças organizadas sob a bandeira de um neoliberalismo revivido, após um período de laboriosa "recuperação" encubada em reuniões dos G-20's, nas quais se decidiu manter inalterada a existência e a actividade predadora do FMI e do Banco Mundial.
Mascarando a realidade com sucessivos anúncios de "recuperação", de "gradual retoma", os centros de comando e de dominação ideológica do sistema mais não visaram (e visam) que paralisar os movimentos de resposta e de contra-ofensiva da forças e organizações operárias, ao mesmo tempo que vão "entretendo" significativos segmentos da pequena burguesia, persuadindo-os que também são parte interessada na manutenção do "status quo".
Entretanto, a realidade prossegue a sua marcha dialéctica e os últimos desenvolvimentos da crise sistémica do capitalismo mundial revelam que os alvos prioritários imediatos são agora os trabalhadores e povos destes países da U.E. meridional - Grécia, Portugal, Espanha -, aos quais se deverão seguir os restantes, depois de um adequado compasso de avaliação, nomeadamente a Itália, a França e a Grã-Bretanha, esta última já com um défice fiscal muito semelhante ao grego.
Evidenciando o carácter imperialista e transnacional da actual etapa desta ofensiva, bastará observarmos o comportamento da Alemanha e da França nesta crise, pressionando os seus parceiros mais fracos da UE, em total sintonia com o FMI, mandando às malvas as aparências de independência face aos EUA. Tornando meridianamente claro que as apregoadas políticas de "solidariedade" e os princípios da "subsidiariedade" na integração europeia são mero fogo-de-vista, para iludir papalvos. Disputando fatias do banquete global, o subimperialismo franco-alemão, embora com débeis resmungos, vai submetendo-se à batuta imperial dos EUA. Estes, com um déficite público já superior a 1,6 trilhão de dólares (em 2009) e com uma dívida pública muito próxima dos 15 trilhões de dólares, nunca é questionado pelos dirigentes europeus, porque isso é do seu interesse imediato, sacrificando na mesma lambança imperialista os países seus parceiros(?!) na UE. E tudo isto, assinale-se, a confirmar-nos que o papel dominante no sistema capitalista global continua a ser desempenhado pelo segmento financeiro/especulativo, subalternizando os sectores do capital dito produtivo.
Sabemos, depois de Marx e de Lénine o terem evidenciado, que o capital só sobrevive às suas próprias crises pela intensificação da exploração da força de trabalho, pela espoliação/desapropriação da pequena propriedade e, em situações de crise sistémica geral, pela destruição em massa de grandes segmentos das forças produtivas mundiais. Como sistema, o capitalismo tornou-se irreformável, obrigando-se para sobreviver a prosseguir imparável a sua irracionalidade congénita, a sua marcha de destruição, miséria e morte. Tem assim como objectivo oculto - se não for travado antes -, fazer regredir as relações de produção a níveis semelhantes aos pré-existentes no início do século passado. Depois de operar a depredação das riquezas naturais de continentes inteiros (processo em curso), depois de forçar a pauperização dos povos africanos e asiáticos, conduzindo à fome (e à morte) centenas de milhões de seres humanos, depois de moldar em seu benefício os modelos de "crescimento" dos chamados "países emergentes", forçando-os à aceitação de taxas de sobre-exploração das suas forças de trabalho e usando os seus vastos (embora empobrecidos) mercados internos para se reproduzir, para o capital chegou a hora de direccionar a sua acção predatória para os povos europeus, para os salários, reformas e conquistas sociais dos trabalhadores dos países chamados "desenvolvidos".
Tempos de intensificação e alargamento da luta de classes
Por estes dias, os trabalhadores gregos prosseguem a sua luta contra estes objectivos do capital internacional. Sob a direcção política dos comunistas, o proletariado grego dá mostras de grande combatividade e determinação. Durante semanas sucessivas e ao longo dos últimos meses, as greves e manifestações alastram e ganham um número crescente de assalariados, mesmo nos sectores mais recuados dos serviços.
Hoje mesmo, como resposta à morte de três trabalhadores bancários, vítimas inocentes dos confrontos e das acções violentas ocorridas em Atenas, os sindicatos do sector decidiram aderir à luta em curso, convocando uma greve nacional para amanhã (6/5), juntando-se assim aos trabalhadores da administração pública, dos transportes, do ensino (com professores realizando a ocupação de uma estação de TV, para transmitirem um manifesto), da imprensa e de outros sectores, já em greve geral de 48 horas hoje iniciada.
As manifestações em várias cidades revelam uma grande adesão, com muitas dezenas de milhares de participantes em cada uma delas. Numa das reportagens televisionadas, vêem-se militares da Armada grega, desfilando fardados, integrando-se no protesto geral. Segundo os sindicatos e os próprios correspondentes da imprensa, a Grécia vive uma fase de grande agudização das lutas, incorporando-se nelas crescentes segmentos da sociedade grega e radicalizando o combate às medidas anti-operárias e anti-populares do governo "socialista" do PASOK.
Ganhando as primeiras páginas dos noticiários e jornais em todo o mundo, uma foto emblemática: a ocupação pelos militantes comunistas do KKE do monte da clássica Acrópole ateniense, com a afixação de grandes faixas com frases escritas em grego e em inglês, apelando à mobilização dos outros povos europeus para que se juntem na luta contra a actual ofensiva do capital.
Têm razão os nossos camaradas gregos. A hora é de luta. Com ligeiras colorações diversas, as medidas que os governos de serviço estão a tentar impor são no fundamental as mesmas, sejam ensaiadas na Grécia, em Portugal, na Islândia (que, em parte, as rejeitou num recente referendo), em Espanha ou na Irlanda. Todas têm a mesma e única marca de classe: sacrificar os trabalhadores e outras camadas laboriosas no altar dos lucros escorchantes para o capital bancário/financeiro, obtidos pela espoliação dos rendimentos do trabalho e ao preço do alargamento da miséria e da degradação das condições de vida a novas centenas de milhões de pessoas.
Cada um dos países visados constitui, sem dúvida, uma realidade social e política distinta, com processos e antagonismos de classes diferenciados. Os momentos escolhidos para a ofensiva são igualmente diferenciados, até por razões tácticas do capital. Mas os seus propósitos finais são exactamente os mesmos e, à medida que se intensificar esta ofensiva de classe, ficarão cada dia mais próximas as condições objectivas do ataque, aproximando ainda mais as distintas situações nacionais.
Este quadro de luta europeu não deixa margem para ilusões aos trabalhadores de cada um dos países envolvidos. Tal como não permite hesitações ou compassos de espera, aguardando o evoluir dos acontecimentos. A evolução dos acontecimentos é unívoca, colocando aos movimentos sindicais e operários dos países da UE uma grande responsabilidade e uma tarefa central e imediata: a denúncia e o activo desmascaramento da presente ofensiva do capital e uma empenhada e militante mobilização dos trabalhadores para a luta.
Luta cada dia mais urgente e irrecusável. Por razões de indeclinável solidariedade para com os que caminham actualmente nas primeiras linhas do combate - os trabalhadores gregos -, mas também por razões próprias. Atitudes expectantes ("ver o que dá, para ver como fica"), jogando polidamente nos diálogos institucionais, só conduzirão à desmobilização, à descrença e à derrota, o que constituiria uma traição dos dirigentes aos interesses de classe dos assalariados, dos explorados. Para isso, já bastam (e sobram!) as actividades conciliatórias dos sindicatos e centrais sindicais amarelas, pois para tal existem e por tal são mantidos pelo capital.
Perante a acção de ontem dos camaradas gregos na Acrópole, acção que os confirma como um grande e combativo partido comunista marxista-leninista, todos os comunistas, todos os revolucionários, somos chamados a agir, actuantes e solidários, não deixando isolados os camaradas gregos no seu combate nacional. Muito podemos - e devemos! - fazer, acompanhando-os e secundando-os nos nossos próprios países. A obrigatoriedade política de ser a vanguarda exige-nos que caminhemos sempre na primeira linha. Tendo presente um velho ensinamento: o argumento persuade, mas o exemplo arrasta. No quadro actual, na Europa desta UE e no mundo, o momento é de acção e de luta, exigindo-nos redobradas energias e acções e iniciativas mobilizadoras, insuflando confiança e determinação aos restantes trabalhadores e camadas aliadas.
Perante a dimensão do embate em preparação, os próprios dirigentes da grande burguesia europeia estão preocupados, e justificadamente. Face aos desenvolvimentos da resistência e da luta na Grécia, o tom de preocupação prevalecia, nas declarações de hoje, entre todas as autoridades na UE. "Há a ameaça de um efeito de contágio sério para outros países da zona do euro", afirmou Axel Weber, um dos conselheiros do BC europeu. "Precisamos conseguir evitar um contágio", declarou o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn. Um e outro, ao falarem no risco de "contágio", certamente não estavam a pensar somente no aspecto financeiro da situação.
O dilema, de facto, está colocado: ou a luta dos trabalhadores derrota esta violenta ofensiva do capital, travando-a ainda nesta fase do seu desenvolvimento, ou um novo período de dominação do capital, marcado por grandes retrocessos civilizacionais, virá ocupar a actual etapa histórica dos povos europeus, impondo-lhes regimes autoritários e neofascistas. Não há já espaço, objectivamente considerado, para soluções de relativo equilíbrio, de manutenção do quadro existente. Compreender esta equação, tornou-se decisivo para levar as massas trabalhadoras a agirem imediatamente em sua própria defesa, antes que viessem a querer reagir mais adiante, mas já demasiado tarde.
Visivelmente, a seguir à Grécia, Portugal é "a bola de vez", como alvo imediato da ofensiva capitalista. Também aqui, antecipemo-nos às medidas de espoliação e saque que os banqueiros e o seu governo "socialista" estão tramando contra os trabalhadores e o povo, intensificando as lutas e unificando os seus objectivos políticos. Alargando as acções de luta a mais e mais trabalhadores, a mais e mais democratas sinceros.
Um apontamento final, a par de um apelo: os aparelhos ideológicos do sistema vão prosseguir a sua acção e, a par da difusão acrítica e conivente das ameaças do "mercado" sobre os portugueses, vão continuar as suas iniciativas "informativas" de diversão, difundindo muitas notícias, muitos "fait divers" da política de pacotilha, com a declaração de A contra o B, com o processo contra o C e a opinião acerca do D, com a candidatura do E e o comentário de F, etc, etc. Não nos deixemos envolver e iludir por essa política-espectáculo mediática. Questão prioritária, assunto de primeira linha, justificando e exigindo a nossa atenção e discussão antes de quaisquer outros, é analisarmos esta actual fase da ofensiva do capital contra o trabalho e a resposta enérgica que é necessário e urgente darmos-lhe, antecipando-nos aos ulteriores acontecimentos. E para essa resposta, cada um de nós pode ter - melhor, deve ter - um papel importante a desempenhar, ajudando a centrar a discussão nesta urgente prioridade política, enriquecendo-a com novos e melhores argumentos.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Um poema/canção para todos os tempos e lugares



Uma das letras musicadas que mais contribuíram para a demolição do edifício ideológico do fascismo português nos seus tempos finais, com poema de António Gedeão e música de José Nisa, salvo erro editada em 1972 e cantada pelo Samuel. A "velha guarda" dos militantes revolucionários portugueses, ou dizendo mais actualizadamente, os "cotas" sabem decerto de cor os seus versos, mas talvez os camaradas e os nossos amigos mais novos não a conheçam. Poema poderoso, exigindo a quem o escuta/lê uma adesão comprometida e vigorosa, é um hino dedicado à determinação de um povo em busca do seu futuro, hino dedicado a todos aqueles que não se conformam nem se resignam e lutam corajosamente pela transformação deste presente (ainda!) dominante, tão retrógrado e tão execrável quanto urgente e decisivo é o combate pela sua superação. Sinceramente, espero que todos gostem, (re)encontrando nele estímulo e redobradas energias revolucionárias para a luta que vai continuar, sempre!

Fala do homem nascido

Com licença! Com licença!
Venho da terra assombrada,
do ventre da minha mãe,
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.

Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
tenho pressa de viver.
Com licença! Com licença!
que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo
não tenho tempo a perder.

Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte,
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.

Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.
Com licença! Com licença!
Que a barca se faz ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.

António Gedeão


Pela sua oportunidade e importante conteúdo político, sugiro a leitura da nota da Comissão Política do Comité Central do PCP, hoje divulgada no sítio do Partido, em http://www.pcp.pt/derrotar-uma-nova-e-perigosa-ofensiva-contra-os-trabalhadores-e-soberania-nacional .
Como diz a canção acima, devemos todos dizer, "Com licença! Com licença!/ que a vida é água a correr./ Venho do fundo do tempo/ não tenho tempo a perder." De facto, assim é.