SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

UM POVO E UM PAÍS NA ENCRUZILHADA: ACEITAR AS MIGALHAS OU TOMARMOS TUDO O QUE É NOSSO E NOS ROUBARAM?



Em vésperas de se iniciar o último ano da actual legislatura, a cena transmitida pelas televisões no dia
da aprovação deste 4º orçamento, com o 1º ministro A.Costa e o seu lugar-tenente Pedro Nuno Santos a fazerem para as câmaras de televisão o gesto dos quatro dedos erguidos, em modo de gozo faceiro pela vitória que alcançaram, fica a assinalar significativamente o fim da cognominada "nova fase da vida política nacional". Libertados do compromisso político que ardilosamente conseguiram, ei-los soltos e contentes para retomarem sem rodeios os acordos com o PSD, chamados de regime e apadrinhados pelo presidente Marcelo. E assim, dia após dia, semana após semana, mês após mês e ano após ano vamos constatando a verdade óbvia: nos seus traços essenciais, permaneceu e continua a governação de direita, a mesma velha e relha política de direita partilhada por PS, PSD e CDS.

Sucedem-se os governos e em resultado das suas comuns políticas de direita não existe um único traço central da realidade portuguesa que escape ao sentido geral de continuado empobrecimento, declínio e esgotamento político de um regime cada vez menos democrático, qualquer que seja o terreno de análise escolhido. Seja nas práticas democráticas e no exercício sofrível das liberdades, seja nas difíceis condições sociais de vida do nosso povo, seja na situação da exaurida economia nacional, seja no exercício da soberania do país, formalmente independente há mais de oito séculos. Ano após ano, governo após governo, como povo e como país vamos ficando pior, revelando-se vincados aspectos de um regime político apodrecido, roído pelos lóbis mafiosos de um "arco da governação" que se apossou do poder na sequência do golpe militar contra-revolucionário de 25 de Novembro de 1975. Frustrando as expectativas populares da Revolução de Abril, há quarenta e três penosos anos que vivemos um simulacro paupérrimo de democracia, um regime crescentemente corrompido, oligárquico e esgotado, a negação mesma da sua clássica definição como o "governo do povo".

Num ambiente sócio-político próprio de "fim de feira", por inúmeros lados do aparelho de Estado se observam comportamentos e manifestações de desleixo dos detentores do poder, procedimentos burocráticos e de irresponsabilidade, com formas de actuação tipo "deixa andar", com total falta de seriedade no tratamento de tudo quanto é colectivo, público e do interesse de todos, a par de endémicos comportamentos corruptos e corruptores, numa atmosfera geral de impunidade que alastra aos meios judiciais, tantas vezes ostensiva e de gozo, escarnecendo dos que se manifestam civicamente críticos e preocupados com o clima de imoralidade reinante.

Utilizando as ferramentas do materialismo dialéctico e histórico, nada do quadro existente constitui surpresa. Vivendo sob um regime plenamente instalado e consolidado de capitalismo monopolista de Estado, regime articulado e submetido por um sistema global de domínio imperialista à escala planetária, as consequências daí resultantes não poderiam ser diversas: um país cronicamente atrasado e economicamente dependente, dirigido por uma burguesia burgessa e sem dignidade, com uma pequena/média burguesia  predominantemente simpatizante da direita e serventuária dos grandes grupos capitalistas, governado contra os direitos e aspirações de um povo resilientemente optimista e possuidor de apreciáveis qualidades humanas mas arrastando-se numa vivência adiada, sofrida, pobre e sempre à beira da miséria e da ignomínia.

Desmentindo a visão cor-de-rosa conformista e submissa, alimentada nos meios de comunicação do capital pelas teses dos "avanços e recuperações possíveis" que o governo PS olimpicamente nos impinge, a sociedade portuguesa volta a viver um novo período de agitação social, mobilizando-se em numerosos segmentos do mundo do trabalho assalariado e atingindo variados sectores sociais, em resultado dos generalizados sentimentos de frustração e de revolta que vão crescendo diariamente entre amplas massas do nosso povo e por fundadas razões: salários, remunerações e reformas praticamente congelados há uma década, com os minúsculos aumentos todos os dias "comidos" pelo aumento constante dos preços; sofríveis condições de atendimento às populações em todos os serviços públicos, na saúde, no ensino, nos transportes, na habitação, nas acessibilidades, no ambiente, nas águas e no saneamento, na cultura e fruição dos (poucos) tempos livres, na segurança, nos apoios aos mais frágeis - idosos, jovens, crianças -, na justiça, na gestão do território e destruição das riquezas do património nacional (industrial, agrícola, florestal, mineral, cultural), no desbaratamento das capacidades técnicas e científicas adquiridas pelas faixas etárias mais jovens. O seu recente aproveitamento, hipócrita e manipulador, por movimentos e partidos à direita do espectro partidário, não ilude os factos objectivos desse descontentamento.

Com o desenvolvimento dialéctico da realidade, um outro traço político relevante é a evolução do papel do oportunismo, cuja influência nas camadas populares vai inapelavelmente perdendo força, a cada dia mais desmascarado. No quadro dos entendimentos estabelecidos com o PS há três anos, a corrente oportunista de direita (derrotada no XVI Congresso do PCP) voltou a medrar, afirmando os "renovadores" que tiveram "razão antes do tempo" ao defenderem há muito uma linha política de alianças com o PS. Vale a pena, hoje, "revisita-los" (1). Reformistas, conviveram tranquilamente com este governo PS de António Costa, saudando superlativamente as migalhas do seu bodo aos pobres e defendendo - com a posição típica dos oportunistas sobre táctica/estratégia - a transformação de uma posição apresentada como táctica, num novo rumo estratégico para o PCP a prosseguir nas próximas legislaturas, um caminho para o qual os comunistas portugueses já não teriam qualquer alternativa! Parafraseando Lenine, querem arrastar-nos com eles para o pântano dos compromissos oportunistas e da conciliação de classes.

Entretanto, a actualidade da situação nacional enquadra-se no quadro geral da União(?!) Europeia, revelando fenómenos semelhantes aos observados noutros países integrantes. Ainda que de forma obviamente assíncrona e por vias diversas, resultantes dos seus distintos estádios  de desenvolvimento e diferentes graus de consciência social e política, nesta UE gestora do capitalismo vão assomando manifestações de rejeição e de revolta: a)  o sentido da votação do eleitorado inglês no referendo que decidiu o "Brexit", malgrado as contradições dos próprios promotores; b) as manifestações populares com dezenas de milhar de participantes em vários dos países - de que são exemplos mais recentes os movimento dos "coletes amarelos" em França e na Bélgica; c) os fenómenos de radicalização política à esquerda e à direita do espectro partidário, com resultados surpreendentes em recentes actos eleitorais, em linha com as mutações dos últimos anos e no sentido do desaparecimento das formações partidárias clássicas.

São os afloramentos visíveis de movimentos tectónicos mais profundos que vêm abanando os alicerces do sistema capitalista, agravando as suas contradições e fracturando os edifícios nacionais e transnacionais do Estado da burguesia, abrindo fendas importantes nos mecanismos de poder da grande burguesia europeia.

Em Portugal, replicando o fenómeno observável noutras paragens, também emergem ultimamente movimentações de recorte fascista. Há dias, uma personagem politicamente execrável e repelente que dá pelo nome de Proença de Carvalho, saiu à liça para declarar que as pessoas já não se revêem nos partidos existentes e que lhes falta uma força política que as represente. O óbvio apelo ao surgimento de um partido neofascista, mesmo que disfarçado de reflexão política teórica, não podia ser mais descarado. Como ele e com ele, outros se movimentam na mesma direcção.
A recente convocação de uma manifestação para esta sexta-feira, 21/12, com o mote "Vamos parar Portugal", pelo que se observa nas redes sociais está assente em ideias nacionalistas próprias da extrema-direita e do fascismo e beneficia da generosa divulgação e apoio das televisões e principais jornais diários e semanários do capital. As razões alegadas pelos seus promotores casam na perfeição com o justo descontentamento e o sentimento surdo de protesto de muitos milhares de portugueses. Dizendo-se alheios aos partidos e sindicatos, afirmam só querer "salvar" o país e dizem já ter asseguradas acções em autoestradas e várias capitais de distrito. Estranhamente (ou talvez nem tanto), a própria PSP informa publicamente a mobilização geral dos seus efectivos, afirmando que são esperadas "grandes manifestações naquela data", uma sexta-feira, sublinhe-se! Nem sequer o governo se salva, nessas posições de divulgação mascarada da acção neofascista, com membros seus afirmando-se bastante preocupados...Só falta mesmo que o grande patronato conceda tolerância de ponto aos seus explorados!

Existem duas razões principais para explicarmos o ascenso das formações fascistas e o eventual sucesso relativo destas acções, "inorgânicas" e aparentemente apartidárias, razões aplicáveis tanto no exame do panorama internacional como numa avaliação nacional: 1) O descontentamento real das classes e camadas populares da pequena burguesia e dos assalariados - por demais evidente entre nós, no desinteresse pela causa política e na elevada percentagem da abstenção nas consultas eleitorais -, frustradas pelas sistemáticas mentiras do neoliberalismo e pela traição das forças reformistas da social-democracia, nas quais foram acreditando estar a solução dos seus problemas e os do país; 2) A existência de um espaço político oposto insuficientemente ocupado, resultante do enfraquecimento, inacção e/ou ausência de forças políticas verdadeiramente democráticas, patriotas e de esquerda. E como em tudo na Natureza, também na política não há espaços desocupados ou em branco de forma duradoura; tarde ou cedo, estes espaços são ganhos pelos segmentos sociais e políticos mais activos e determinados.

Este conjunto de fenómenos tem um denominador comum e um nome: barbárie. A típica barbárie do capitalismo agonizante, vivendo a sua derradeira fase imperialista, transformado num sistema mundial criminoso, predador, despojado já das suas próprias regras e disfarces "democráticos", tripudiando sobre os direitos dos povos, caminhando para o seu fim e arrastando para o desastre povos e países inteiros, impotentes e paralisados pelos vírus da ideologia dominante, das inevitabilidades, do individualismo, do sucesso a qualquer custo, da xenofobia e do racismo, das inovações tecnológicas robotizantes dos comportamentos, anestesiando as pessoas com potentes aparelhos ideológicos e assim impedindo-as de reagirem e salvarem a sua própria condição de humanos.

Estudos sérios sobre a realidade económico-financeira mundial concluem que vem a caminho uma nova crise sistémica do capitalismo, com consequências talvez mais devastadoras que a anterior crise de 2007/8. De facto, tais "crises" não passam de procedimentos tornados padrão na fuga em frente do capital globalizado. Segundo o FMI, a dívida global atingiu no ano de 2017 o nº recorde de 184 triliões (milhões de milhões) de dólares, o equivalente a 225% do PIB mundial. Os EUA, a China e o Japão são os três maiores devedores, somando mais de 50% da dívida mundial. A percentagem da China tem vindo a subir, passando de 3% no início do século para os actuais 15% daquele total da dívida. Pelas suas fragilidades endógenas, criadas por décadas de destruição do nosso tecido produtivo e pela alienação ao capital privado das principais riquezas e empresas estruturantes da economia nacional, e, pelo seu lugar totalmente dependente no contexto imperialista europeu, de entre os países do Sul, Portugal será outra vez dos mais fustigados.

Perante este cenário (mais que provável, é absolutamente garantido), vão os portugueses voltar a aceitar passivamente o roubo de milhares de milhões de euros (até agora, já são mais de 20.000 milhões!) dos rendimentos e poupanças do trabalho, para serem imolados de novo no altar da banca privada, especuladora, mafiosa e predadora? Vamos continuar resignados face à destruição do SNS, transformado em promotor do negócio da saúde pelos privados à custa da degradação física e mental dos portugueses e aos milhares de vidas ceifadas prematuramente? Vamos continuar passivos perante a exaustão das reservas financeiras da S.Social, tornadas almofada para todas as tropelias "sociais" e roubos, designadamente os "investimentos" de milhares de milhões dos nossos descontos em fundos financeiros internacionais, "derretidos" ao sol da especulação e saque das principais bolsas mundiais? Vai o nosso povo aceitar sem luta a continuação da entrega ao capital, voraz e insaciável, do nosso ensino e da nossa educação, tornados mordomias para os filhos dos ricos e totalmente vedados aos filhos dos trabalhadores? Vamos continuar a testemunhar a degradação dos transportes, especialmente o ferroviário, a depravação dos nossos equipamentos e infra-estruturas, o aviltamento da nossa dignidade e a liquidação dos nossos direitos essenciais ao bem-estar, à cultura e ao lazer?

Tudo isto, toda esta destruição da vida colectiva do nosso povo é "explicada" e justificada pelo governo de turno do PS com a mentirosa "falta de recursos" financeiros, enquanto vamos vendo anualmente serem embolsados pelos capitalistas dezenas de milhar de milhões de euros, pela via das amortizações dos "empréstimos" tipo FMI, pelos pagamentos anuais dos juros do "serviço da dívida"(cerca de 8.000 milhões de euros por ano), pelas Parcerias Público-Privadas, pelos contratos swaps, pelos perdões fiscais concedidos aos monopólios. Em consequência, o fosso entre a minoria dos mais ricos e a população em geral continua a crescer. Vivemos de novo uma época de encruzilhada, complexa e difícil, mas a escolha final é nossa, dos trabalhadores e restantes massas populares. A nós, marxistas-leninistas, compete o indeclinável dever e a grande responsabilidade de estimular e encabeçar/dirigir a luta contra a política de direita praticada pelos governos do capital - como é o caso deste actual do PS -, ligando-nos mais e melhor aos trabalhadores, aprendendo com eles, dando provas de fidelidade ao proletariado e às suas lutas, guiando-nos sempre pelo seu conteúdo e interesses de classe.

Vão amadurecendo dia-pós-dia as condições apontadas pelos mestres clássicos do marxismo: os de baixo já não aceitam ser governados como até aqui e os de cima já não conseguem governar como dantes. No previsível quadro de um agudo agravamento das contradições existentes, uma crise revolucionária chegará. De facto, já vem a caminho e ao nosso encontro, inevitável para a burguesia e ansiada pelo proletariado. Quando chegar, como nos vai encontrar a nós, comunistas?  Devemos responder, firmes e preparados, capazes de transformar a crise em situação revolucionária, porque é essa a nossa intransmissível obrigação de classe. A insurreição do Trabalho contra o Capital, estilhaçando o aparelho de domínio deste, acontecerá mais cedo que tarde, tão mais cedo quanto os explorados o quiserem e decidirem.

Duas notas finais: a primeira nota, para reafirmar uma verdade historicamente há muito estabelecida, a saber, as revoluções não nos caem do céu, pelo contrário, nós é que temos que avançar no "assalto aos céus". Desde 1871, com a percursora Comuna, sabemos que assim é. E a próxima revolução não tem data, não surgirá por decreto nem será legislada por maioria na Assembleia da República - tal como não a alcançaremos por via de eleições "democráticas", numa qualquer "democracia" burguesa como a actual e com as classes exploradoras a aceitarem pacificamente o seu fim. Só sob a direcção do proletariado, organizado pelo seu partido de classe, será realizável a insurreição popular vitoriosa dos explorados, assente numa ampla aliança de classes e camadas anti-monopolistas e anti-imperialistas; a segunda nota, para recordar que o atentismo, o espontaneismo e o pragmatismo reformistas, com o seu cortejo de ilusões burocráticas numa progressão etapista entre capitalismo e comunismo, adiam "sine die" a libertação das classes produtoras, reduzindo-as à condição de classes "sindicalistas" e esgotando o seu potencial de combate nas lutas economicistas, ao mesmo tempo que vão transformando subjectivamente os partidos proletários/comunistas em protagonistas da conciliação de classes, partidos amarrados às fantasiosas "vantagens" de uma pacífica co-gestão do sistema capitalista, sempre anunciada como a caminho do socialismo e do comunismo, traindo as aspirações e os interesses mais profundos da classe operária e de todos os trabalhadores. Com exemplos infelizmente abundantes no Europa e no mundo, partidos comunistas que, anteriormente revolucionários, transitaram para a triste condição de partidos da esquerda do sistema. Alguns deles, falando das realidades políticas como leões da "problemática", têm sempre saídas de sendeiro quando lhes exigimos coerência e solidez na "solucionática".

Nota (1)
https://www.rtp.pt/noticias/politica/renovacao-comunista-assinala-enorme-viragem-apos-15-anos-a-reclamar-convergencia_n872374

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Militarismo, uma das faces do Imperialismo




A grande parada militar em Lisboa, há dias organizada pelo governo do PS e pelo PR, enfileirando caninamente com as comemorações bélicas do imperialismo da "União" Europeia em Paris, torna de leitura indispensável este excelente artigo do José Goulão.



(…)Que «serviço à pátria» prestam, por exemplo, os militares portugueses no Afeganistão? Ou na República Centro Africana, mais de 40 anos depois de nos libertarmos da guerra colonial?
«A República de hoje foi incapaz de assinalar o armistício com um acto cívico de reflexão sobre a decisão de condenar milhares de portugueses a uma morte certa para irem matar concidadãos alemães sem saberem ao certo porquê»
Neste país de África, os militares portugueses actuam, ao que se diz, sob a bandeira da União Europeia, pelos vistos uma «pátria alargada» cuja vocação militar se desconhecia, a não ser como entidade política subsidiária da NATO.
É difícil identificar os interesses portugueses pelos quais esse contingente guerreia em África, onde se trata, isso sim, de servir os contrabandistas de diamantes, urânio, madeiras preciosas, cavalheiros aparentados com as famílias da indústria da morte e outras ilustres corporações, todas elas escravocratas.
E que «serviço à pátria» prestaram os militares portugueses que foram envolvidos, sob comando norte-americano, nas colossais manobras de guerra agora realizadas na Noruega e outros espaços nórdicos, mas sempre com as miras assestadas à Rússia?(…)"
Texto integral aqui:  https://www.abrilabril.pt/internacional/perturbadora-nostalgia-da-guerra
https://www.abrilabril.pt/internacional/perturbadora-nostalgia-da-guerra

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Viva a Revolução proletária de 7 de Novembro de 1917!

 



Dezanove anos - menos de duas décadas! - depois da criação do novel Partido Operário Social-Democrata da Rússia (I Congresso, março de 1898) e catorze anos após a vitória dos bolcheviques sobre as ideias oportunistas dos mencheviques (II Congresso, julho de 1903), nesta data do 7 de Novembro de 1917, inapagável da História do século XX, o Partido de Lenine proclama a palavra de ordem "Todo o Poder aos Sovietes!", posteriormente aprovada pelos três mil delegados ao II Congresso dos Sovietes da Rússia na noite desse dia glorioso, durante o qual o proletariado armado assalta a sede do governo capitalista, toma o poder e inicia a primeira revolução operária vitoriosa.
É verdadeiramente notável a capacidade demonstrada pelo Partido bolchevique, sobretudo num espaço temporal tão curto, para se organizar e derrotar as concepções reformistas das correntes pequeno-burguesas, intensificando e alargando as lutas do operariado pelos seus próprios interesses de classe, infiltrar e subverter as estruturas do Estado burguês, defrontar a repressão, primeiro do csarismo e posteriormente do governo menchevique,  e, finalmente, saber interpretar e dirigir a aspiração por transformações revolucionárias dos operários da velha e atrasada Rússia, conduzindo-os à vitória.
Decorrido mais de um século, estes feitos continuam a surpreender e a maravilhar os marxistas-leninistas, como uma fonte inesgotável de inspiração e ensinamentos para todos quantos, sem transigirem perante as maquinações dos oportunistas políticos, continuam a batalhar pela revolução socialista nos dias de hoje.

Em Portugal, após a revolução democrática e nacional de Abril de 74, viveu-se um período de ano e meio com traços importantes de uma transformação revolucionária que nos lembravam tantas vezes essa longínqua gesta do operariado russo… Entretanto, um golpe contra-revolucionário, em Novembro de 75, encerrou esse período exaltante da história portuguesa, iniciando-se um longo e arrastado ciclo de resistência dos comunistas e dos seus aliados mais próximos, defrontando o poder refeito do Estado burguês, ciclo que dura até aos nossos dias. 
Percebem-se assim as manifestações de desencanto e descrença de inúmeros democratas e patriotas, com o abandono de posições logo ocupadas pelas forças reacionárias e por um cortejo extenso de oportunistas ditos socialistas e até de muitos que se afiançam como "esquerda radical". 
Tudo consequências naturais e até previsíveis, mas desencanto e descrença inaceitáveis para qualquer comunista sério.
Nas fileiras comunistas, iniciam-se as actividades revisionistas de uns quantos, particularmente perigosas porque envolvendo membros destacados da direcção e quadros com luzida imagem pública, no Parlamento, no Movimento Sindical, no poder autárquico e noutras organizações de massas.  Ficam conhecidos pelo nome que a si mesmos se dão, "renovadores".
Actuando nos organismos partidários e fora deles, desenvolvem uma actividade dissolvente, desagregadora, desmobilizante e de rendição perante a acção e as actividades anticomunistas dos partidos do capital e da comunicação social que os serve. 
Derrotados temporariamente em vários Congressos do PCP, não obstante prosseguiram e prosseguem com os seus propósitos de liquidação do partido do proletariado. Uns veladamente, outros mais descarados, passam a defender a acção do Partido exclusivamente dentro das instituições do Estado capitalista, apregoando a "impossibilidade" da revolução.  Dizem que os tempos são outros, que já não mais serão possíveis os "assaltos ao Palácio de Inverno". Defendem que o "Estado Democrático" actual já não seria uma forma superior de organização do domínio de uma classe sobre as outras mas sim um representante de todos os cidadãos. Recusam indignados a necessidade da luta armada e apontam o barómetro das eleições do sistema burguês como o único guia para avaliarem a correlação de forças. Dizem-nos que pacífica e "democraticamente", voto a voto, chegaremos lá mais para diante ao socialismo.  
Queixam-se regularmente do povo a que pertencem, como massa ignara que não os merece. Tornou-se paradigmática a sua frase, "deixa lá, se não for para nós, será para os nossos netos..." Dão de barato essa velha e ultrapassada prioridade da célula de empresa nos locais de trabalho.  São os bernsteinianos da actualidade, capazes de um cinismo sem limites, continuando sempre a dizerem-se firmes defensores do socialismo e do comunismo, mas bem acomodados nas suas mordomias e nos seus tachos, rendidos ao chocho encanto das suas vivências de pequeno-burgueses.
Nesta chamada "nova fase da vida política nacional", acham que tiveram razão antes do tempo ao defenderem há muito uma linha política de compromisso com o PS, convivem tranquilamente com o governo de António Costa saudando superlativamente as migalhas do seu bodo ao pobres e até - com a posição típica dos oportunistas sobre táctica/estratégia - já esperam a transformação de uma posição temporária, vista como táctica, num novo rumo estratégico do PCP a prosseguir nas próximas legislaturas, para o qual teriam deixado de existir quaisquer alternativas.  Falando das realidades políticas como leões da "problemática", têm sempre saídas de sendeiro quanto à "solucionática". Parafraseando Lenine, querem arrastar-nos com eles para o pântano dos compromissos oportunistas e da conciliação de classes.

A Marx e a Lenine, à experiência do partido bolchevique e à Revolução de Outubro devemos um preito de homenagem e o compromisso de, também honrando a nossa própria memória histórica, lutarmos sem desfalecimentos pelo socialismo na nossa terra. Socialismo a conquistarmos através da acção revolucionária, combatendo energicamente todos os apelos e cantos maviosos da democracia burguesa, com os seus falsos engodos eleitoralistas. O nosso rumo, o rumo dos comunistas, é o mesmo de sempre: lutar com a classe dos proletários contra a classe dos exploradores, organizando as nossas forças, elevando a experiência e os conhecimentos subjectivos da classe operária, preparando a ruptura com o actual regime político do capital, abrindo o caminho para a insurreição dos explorados e a revolução socialista.

Vida eterna ao exemplo revolucionário dos bolcheviques de Novembro de 1917!

sexta-feira, 20 de julho de 2018

O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo

Belicistas NATOs


A Cimeira da NATO revelou de novo, publicamente, as intensas contradições e disputas entre as velhas potências imperialistas. Não é um facto secundário, nem um mero problema de pessoas ou birras: o terremoto em curso tem bases objectivas profundas.
Reflecte a profundíssima crise do capitalismo. Reflecte o esgotamento dos mecanismos de reprodução do capital e o consequente acirrar das disputas pelos lucros ainda disponíveis. Reflecte a inexorável deslocação do centro de gravidade económico do espaço euro-atlântico para leste. Reflecte o decenal declínio económico e financeiro dos EUA, também face à UE, e simultaneamente o seu poderio militar. A diatribe de Trump contra a Alemanha e o gasoduto que a ligará à Rússia evidenciou que, longe do palavreado sobre «valores» ou «defesa», estão em jogo o poder e as negociatas, com destaque para a energia e armamento. Sempre foi assim. A novidade é que os ralhetes que, em público, eram dados (por todos) aos «países recalcitrantes» atingem agora aliados, em directas televisivas ao pequeno almoço.
Ao contrário da Cimeira dos G7, desta vez houve declaração final. A ilusória recomposição baseou-se na escalada militarista. Os ataques da facção globalista do capital contra Trump são ferozes. O Trilateralista Wolf chama-lhe um «ignorante perigoso» (Financial Times, 10.7.18) que está «em guerra contra a ordem mundial liberal» (FT, 3.7.18). Mas no momento de decidir, todos acompanham Trump, aumentando as despesas militares (públicas) em 266 mil milhões de dólares, que gerarão colossais lucros (privados).
Incluindo a UE dos «valores europeus». Incluindo Tsipras e Costa. Face aos ralhetes, todos aprovam uma Declaração Final que é um monumento à mentira. A NATO comemorou os seus 50 anos com a guerra à Jugoslávia, violando o Direito Internacional e a ONU (hoje presidida pelo então primeiro-ministro português, que deu o seu aval a essa guerra). Destruiu países inteiros, como a Líbia. Sustenta a acção dos fascistas na Ucrânia e Israel. A Colômbia narco-terrorista tornou-se seu membro associado. No que vai de ano, o patrão da NATO violou acordos internacionais sobre o Irão e Jerusalém. Dispara em todas as direcções.
As empresas que comprem petróleo ao Irão deixarão de ter acesso ao mercado dos EUA (New York Times, 26.6.18). Mas a Declaração da NATO tem o desplante de começar proclamando que são «as acções agressivas da Rússia, incluindo a ameaça e o uso da força para alcançar objectivos políticos» que «desafiam a Aliança e minam a segurança Euro-Atlântica e a ordem internacional baseada em regras». O delírio torna-se absurdo quando proclama que «a nossa unidade e solidariedade são hoje mais fortes do que nunca». O cambaleio do presidente da Comissão Europeia antes (!) do jantar de gala não destoou, afinal, na farsa grotesca desta Cimeira.
Mas o assunto é sério. Não se trata apenas de que as despesas belicistas serão roubadas aos povos. A NATO sempre foi um instrumento de dominação do imperialismo dos EUA, e o militarismo alimenta a reacção (externa e interna) e as dinâmicas de guerra. As querelas entre mafias capitalistas em disputa por territórios e riquezas já produziram guerras mundiais. Quem pensa que combate a mafia pagando-lhe tributos está enganado. É urgente exigir: fim à NATO!

(Jorge Cadima, Avante! de 19/7/2018)

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Os mordomos da Nato



Pelo seu relevante conteúdo, transcreve-se um artigo de Jorge Cadima, redator de política internacional do jornal "Avante!", de leitura indispensável. 

Mordomos NATO
Na véspera da visita a Portugal do Secretário-Geral da NATO, os Ministros da Defesa e Negócios Estrangeiros publicaram um artigo no Público (25.1.18): uma lamentável posição de submissão e seguidismo, contrária à Constituição de Abril. Conseguem, num mesmo parágrafo, recordar que Portugal é membro fundador da NATO (sem lembrar que foi no tempo do fascismo) e afirmar que «a NATO é, pela história e pelo presente, uma parcela marcante da nossa forma de conceber a Defesa Nacional, integrando o seu código genético». Os genes do passado andam por aí.
O artigo junta a sigla NATO à palavra «segurança». Refere com orgulho que «Portugal é dos maiores contribuintes» para a missão NATO no Afeganistão «com quase 200 militares envolvidos». Mas o que é o Afeganistão ocupado, após décadas de subversão e 17 anos de guerra EUA/NATO? No sábado anterior ao artigo, um ataque talibã matou 22 pessoas e no fim-de-semana seguinte um veículo-bomba matou 100. O New York Times (27.1.18) citando a ONU, diz que ao longo de 2017 morreram em média dez civis por dia, sem recordar que muitos morreram em ataques aéreos dos EUA/NATO. A agência da ONU para os Refugiados (UNHCR) fala em cerca de 2,5 milhões de refugiados afegãos, só no Paquistão e Irão. Segundo outra agência da ONU, a UNODC, a produção de ópio, quase totalmente erradicada no ano anterior à invasão, disparou após 2001, tendo em 2017 a área de cultivo de papoilas aumentado 63% e a produção de ópio 87%. Papoilas afegãs produzem 90% da heroína mundial e o Afeganistão é o país com a maior percentagem de heroinómanos (BBC, 11.4.13). Nos EUA os utilizadores de heroína aumentaram de 189 mil em 2001 para 4,5 milhões hoje (Chossudovsky, globalresearch.ca, 27.1.18). O jornalista A. Vltchek mostra campos de papoilas junto à base dos EUA em Bagram (21stcenturywire.com, 5.8.17). São antigas e bem documentadas as ligações entre os serviços secretos dos EUA e o tráfico de drogas. Quando o artigo diz que «somos [...] produtores de paz e segurança [...] em tantas outras partes do globo», citando concretamente o Afeganistão, é disto que fala.
Todas as guerras NATO geraram tragédias semelhantes, com um rastro de destruição dos Balcãs à Líbia e Médio Oriente. Os ministros anunciam que no «futuro próximo» Portugal irá «reforçar as capacidades, nomeadamente através da aquisição de novas aeronaves de transporte médio e do reforço da nossa capacidade naval» no âmbito da NATO. Entretanto, adia-se investimentos no SNS, transportes públicos ou na prevenção e combate a incêndios. Defendem «que a NATO se mostre cada vez mais preparada para a sua vocação a 360 graus», ou seja, o auto-proclamado ‘direito’ a intervir em toda a parte e sob qualquer pretexto. Mas a NATO é uma ferramenta criminosa de guerra, destruição, mentira e agressão imperialista. Que se acha acima da lei. Querem comprometer Portugal em futuras guerras contra o Irão, a RPD Coreia ou mesmo a Rússia e a China, decididas pelos EUA/Trump? Com que consequências? Para quê?
Não é apenas em matéria de UE que este governo não rompe com políticas contrárias aos interesses do povo e do País. Tal como Tony Blair, há quem no Governo PS queira ser dos mais fiéis mordomos da NATO, agora sob a tutela Trump. É uma tradição antiga nas nossas classes dirigentes, trocar a soberania por um prato de lentilhas. Mesmo que seja, como em 1580, para se submeter a potências em declínio. Em declínio, mas criminosas e perigosas.

(Sublinhado da responsabilidade do blog)

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Caminharmos apoiados pelos imprescindíveis


Vivemos tempos marcados por uma latente confusão ideológica, induzida através de uma mentira/ ilusão propagandeada, de forma paradoxal, tanto pela direita como pela "esquerda", visando convencer os desatentos que temos em Portugal um "governo das esquerdas". Claro que a mais elementar coerência exigível no conjunto pensar-dizer-fazer logo nos revela o contraditório entre os que o pensam - desafortunadamente, tantos dos explorados - , os que o dizem - uma chusma de opinadores e comentaristas de serviço nos meios de manipulação de massas - e os que paulatinamente o fazem - um poder de Estado dominado pelos agentes políticos da política de direita, designadamente este governo "socialista" -, assegurando a continuidade da dominação do capital monopolista sobre o povo e o país.   

Intervindo no ciclo de debates realizados sobre a reorganização de 1940/1941 do PCP, o excerto abaixo transcrito é parte da intervenção de José Casanova sobre esse tema, com base na publicação do livro "O IV Congresso, 50 anos depois", de Álvaro Cunhal.
Tratando a questão central da identidade do PCP e em geral dos partidos comunistas - "o alvo primeiro de todas as ofensivas à escala mundial visando a liquidação desses partidos" -, percorrendo as várias fases de agudização do confronto entre comunistas e reformistas ao longo da vida do PCP, tratando as várias tentativas realizadas para a sua descaracterização, José Casanova a finalizar dá a palavra ao próprio autor, lendo um trecho pleno de actualidade, não obstante já terem decorrido duas tumultuosas décadas.
Aí ficam as palavras de ambos, decerto apoios importantes "no tempo que passa" para quantos querem resistir à nova vaga que visa submergir a firmeza político-ideológica dos comunistas. 



"Uma das linhas fundamentais das tentativas, ao longo da história do movimento comunista, para a liquidação dos partidos comunistas é de tentar afastar os partidos comunistas da sua identidade comunista. O IV Congresso, debateu essa questão, não apenas reportando-se ao próprio Partido, mas também a fenómenos semelhantes ocorridos na altura em vários outros partidos comunistas. Abordando a questão, Álvaro Cunhal, sublinha que essas situações, apesar de terem sido decorrência do fim da Segunda Guerra Mundial, não só não são conjunturais, como comportam natureza e significado bem mais profundo. E refere duas experiências e lições verificadas na história do movimento comunista: a primeira que, «entre as concepções e actividade comunista e as concepções e actividade reformistas, pode haver acordos, alianças e acção comum, não fusão ideológica», a segunda que, «quando, em tal ou tal partido, se manifestam tendências reformistas que contrariam aspectos fundamentais da identidade partidária, a situação não é de consagração de tal divergência como característica do Partido, mas de efectivo confronto podendo conduzir à ruptura». Quer isto dizer que não é característica da identidade de um partido comunista «a coexistência dessas duas correntes num processo em que os “consensos” se convertessem em regra».
Como tem sido sublinhado e a experiência mostra, a identidade comunista dos partidos comunistas  é o alvo primeiro de todas as ofensivas à escala mundial visando a liquidação desses partidos. Da mesma forma, as ofensivas internas e os seus objectivos de descaracterização do Partido, sempre vêem nessa identidade o obstáculo principal aos seus desígnios, a marca distintiva que é necessário generalizar para que deixe de o ser. Por vezes simulam, até, ter como alvo apenas um ou outro desses traços identitários, fingindo não saberem que abandonando este ou aquele todos os outros se desmoronariam inexoravelmente.
As ofensivas visando a descaracterização do PCP a partir de 1987 são exemplos claros do que acima é dito. E, como sempre acontece nestas situações ao longo da história, muitos dos que, então, escondiam o seu ataque à identidade do Partido por detrás de um fraseado de «queremos que o Partido seja mais comunista», «queremos que o Partido seja mais forte» - são hoje membros do PS ou do BE, membros do governo Sócrates, deputados ou autarcas do PS ou do BE, etc. etc.
Voltando ao IV Congresso, importa ainda referir que, por essa altura, o Partido vivia um momento alto da sua história, quer na capacidade de intervenção, quer na influência junto da classe operária, dos trabalhadores e dos antifascistas em geral. Informa Álvaro Cunhal que o número de militantes do Partido, na altura, era de mais de 5000, aos quais se juntavam 4000 simpatizantes. Uma força poderosa e em condições de levar por diante as orientações e decisões do Congresso. Como de facto aconteceu.
E apesar dos golpes da repressão e da prisão de numerosos quadros e militantes – que viriam a traduzir-se em grandes oscilações ao longo dos tempos no número de efectivos  – o Partido manteve a sua influência de forma a ser, como foi, «a força determinante na criação de condições políticas que conduziram ao 25 de Abril, ao levantamento popular que se seguiu ao levantamento militar – e que confirmou a justeza da consigna do IV Congresso - e às grandes conquistas democráticas da Revolução».
Termino com uma longa mas notável citação de Álvaro Cunhal, da qual ressalta a sua inabalável confiança - confiança no Partido, nas massas trabalhadoras, no futuro; confiança sólida, porque fundamentada na análise da realidade.
Ouçamo-lo:

«A história ensina e a previsível complexidade da evolução da situação internacional e nacional adverte. O capitalismo tem força económica e formas poderosas de pressão e influência ideológica. A URSS desapareceu. No movimento comunista manifestam-se dúvidas e hesitações. Alguns partidos comunistas abandonam a sua identidade comunista. Uns transformam-se em partidos social-democratas. Outros desapareceram.
O capitalismo sobrestima e absolutiza entretanto o alcance histórico destes acontecimentos ao concluir que a construção de uma sociedade sem exploradores nem explorados (um “ideal generoso”, condescendem alguns) era um projecto irrealizável, era uma utopia. E cantam a “vitória histórica” do capitalismo que têm por definitiva.
A realidade porém é outra. O capitalismo atravessa uma crise profunda e confirma, não só ser incapaz de resolver os problemas da humanidade, como a sua política conduz a agravá-los.
A ideologia do capitalismo revela um misto de ilusão acerca dos seus méritos e de consciência dos seus pecados. Nunca ideólogos e propagandistas definiram de maneira tão falsa e idealizada as características, as realidades e as perspectivas de desenvolvimento da sociedade, como fazem os novos teóricos e propagandistas do capitalismo.
O capitalismo ter-se-ia superado a si próprio. Teria deixado de ser capitalismo, para ser agora “economia de mercado”. Já não haveria capitalistas mas “empresários”. Seria um “capitalismo civilizado”, sem classes antagónicas, um capitalismo sem proletários, sem luta de classes, nem natureza de classe de governos e de políticas, seria uma sociedade nova definitiva e final constituída por cidadãos conscientes, cordatos e mutuamente solidários, aceitando, assinando e cumprindo “pactos de regime”, “pactos sociais”, “pactos” e mais “pactos” pelos quais os cidadãos trabalhadores (agora dizemos nós) aceitariam renunciar a direitos fundamentais e vitais. Ou seja, ser explorados pelos cidadãos capitalistas e os cidadãos capitalistas continuarem a explorar os trabalhadores e a justificar-se perante a opinião pública através dos seus fantasiosos teorizadores.
A fantasia é tanta, a sociedade assim falsamente descrita é tão idealizada e irrealista no seu presente e na perspectiva do seu futuro, que se pode dizer que o capitalismo, desacreditado e abalado por uma crise profunda, inventa a sua própria utopia. Não como projecto de mudança, naturalmente, mas como mudança de linguagem pretendendo ocultar a realidade.
E a realidade é que o capitalismo mantém a sua natureza exploradora, opressora e agressiva. Contra ele, a luta dos trabalhadores e dos povos, continua e recrudesce. Os trabalhadores não podem dispensar um partido completamente independente dos interesses e da influência ideológica da burguesia e corajoso, dedicado e convicto.
O ideal comunista, esse não é uma utopia. Continua a ser válido e com futuro. Onde desapareçam partidos comunistas, os trabalhadores e os povos criá-los-ão de novo, com esse ou outro nome, com inevitáveis diferenças, mas com essas características essenciais.
Trata-se de uma necessidade e inevitabilidade da evolução social. Não é ao capitalismo mas ao comunismo que o futuro pertence.»