SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Solidariedade com o povo hondurenho em luta!

Inteiramente solidário com os camaradas que noutros blogs já avançaram com a campanha de solidariedade com a luta popular que se trava nas Honduras contra os golpistas ao serviço da plutocracia local, e, igualmente como contributo para o indispensável desmascaramento das declarações hipócritas de Hillary Clinton e de Barak Obama e das manobras do imperialismo, para ocultarem o seu real comprometimento com o golpe em curso, pelo seu interesse informativo transcreve-se abaixo o texto de uma declaração de organizações populares e indígenas hondurenhas, feita quatro dias antes de se consumar o golpe:
"Diante da comunidade nacional e internacional, o Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras, COPINH, denuncia a intenção golpista perpetrada na noite de 24 de junho 2009 contra o governo constitucional de Manuel Zelaya Rosales e o povo hondurenho e as suas mais importantes aspirações. Este ato é uma reação desesperada da direita e seus aliados para frear a vontade popular de buscar vias democráticas para a transformação nacional. A direita reacionária tentou freneticamente parar a Consulta Nacional a ser realizada em 28 junho deste ano e onde se perguntará à sociedade hondurenha se esta concorda em se instalar uma Quarta Urna nas eleições gerais de novembro para convocar uma Assembléia Nacional Constituinte, com vistas à elaboração de uma nova Constituição. Esta ofensiva golpista foi planejada e executada de maneira articulada entre os fascistas, o Congresso Nacional, a mídia e seus proprietários, o Ministério Público, os empresários mais poderosos do país e as Forças Armadas, que têm atuado em franco desacato às decisões do poder executivo; por isso denunciamos que o exército tem assumido um papel semelhante ao dos anos oitenta, quando servia de instrumento de repressão e de desestabilização. Nesta campanha, um ato de agressão contra o povo hondurenho, setores conservadores se juntaram às fileiras de igrejas evangélicas e católicas, que têm negociado, encorajado e justificado os atos de conotação golpista. Também denunciamos a interferência e a participação do governo dos EUA e seu embaixador em Honduras. Alertado de antemão dos fatos aqui denunciados, abandonou o país e chamou os dirigentes do Banco Mundial, FMI e outras instituições em torno do governo estadunidense a também abandonarem o país, demonstrando, assim, a sua conivência com as forças golpistas. Chamamos as bases do COPINH hondurenho e o povo em geral a se mobilizar em suas comunidades, aldeias ou cidades, especialmente em Tegucigalpa, para expressar seu repúdio e indignação. Alertamos para que não se deixem intimidar pela campanha midiática terrorista desencadeada contra a vontade e expressão do povo e seu direito de pensar e querer um novo país, com justiça e eqüidade. Fazemos um apelo à comunidade internacional a manifestar-se contra esta agressão contra o povo hondurenho e expressar sua solidariedade e apoio para que não violem os direitos humanos do povo hondurenho. Chamamos a intensificar a luta organizada para instalar a Assembléia Nacional Constituinte Democrática e Popular, agora, neste momento histórico de nossa pátria. Finalmente, o COPINH reconhece como único Presidente Constitucional da República a Manuel Zelaya Rosales. Por isso, rejeitamos qualquer "substituto" imposto pelos poderes oligárquicos e imperialistas. Com a força ancestral de Iselaca, Lempira e Etempica se levantam nossas vozes de vida, justiça, dignidade, liberdade e paz. Cidade de La Esperanza, Intibucá, 24 de junho de 2009.
Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras – COPINH"

terça-feira, 23 de junho de 2009

Um "herói" típico do imperialismo

Pela sua actualidade e valor informativo, sem mais palavras, a seguir se transcreve o texto publicado no blog "Rádio Moscovo".


Mousavi, o homem de quem todos falam
Provavelmente, já estranhavam não haver nada publicado na Rádio Moscovo sobre o fenómeno político internacional do momento. O Irão ocupa manchetes, abre telejornais e boletins noticiosos de rádio. Mas não só. Gigantes da internet, como o Facebook, Youtube e o Twitter, fazem permanentemente campanha contra Ahmadinejad. Estados Unidos e Inglaterra recusam ter qualquer influência nos protestos que enchem as ruas de Teerão. E Mousavi, o candidato opositor que reclama fraude nas eleições, é o homem do momento. Vamos conhece-lo melhor.Mir Hossein Mousavi Khameneh foi primeiro-ministro do Irão durante a guerra com o Iraque (1981-1989). No seu curriculum, destaca-se o feito de ter ordenado a matança de milhares de presos políticos. Foi durante o seu mandato que partidos e organizações políticas, sindicatos, organizações femininas, entre outras, foram perseguidos assim como os seus membros - milhares deles, jovens estudantes de institutos e universidades - detidos, torturados e executados. Trata-se da maior matança da história contemporânea do Irão. Entre as vitimas, 53 membros do Comité Executivo do Partido Comunista, o Tudeh, dos quais quatro haviam passado 25 anos da sua vida nas prisões do Xá. Poetas, escritores, professores universitários, profissionais de medicina, dezenas de militares (entre eles o comandante em chefe das Forças Marítimas do Irão, o General Afzali, acusado de pertencer ao Partido Comunista), os principais representantes das minorias religiosas no parlamento (todos de esquerda) foram executados depois de sofrerem a tortura física e psicológica (como ser forçados a disparar na cabeça dos próprios camaradas). As reivindicações das minorias étnicas, que compõem cerca de 60 por cento da população, por uma autonomia administrativa foram duramente reprimidas e centenas de curdos e de turcomanos foram enforcados nas praças públicas. A magnitude da repressão política, religiosa, étnica e de género do regime islamista obrigou ao exilio de quatro milhões de pessoas no maior êxodo da história do país. Estima-se que cerca de trinta mil pessoas foram assassinadas em poucos meses em 1988.


É esta personagem que nestes dias anda ao colo da comunicação dita "social", como um campeão das liberdades no Irão. Pela indiscutível actualidade e importância informativa, devemos divulgar tanto quanto possível aquela curta mas esclarecedora nota biográfica sobre o facínora em causa. A sua leitura constitui um excelente apoio, na denúncia das manobras actuais do imperialismo naquela sensível região islâmica.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

PLÁGIO?


A incontestável actualidade do pensamento de Álvaro Cunhal


"O objectivo da construção de uma sociedade socialista de forma alguma impede, antes implica, que um partido comunista tenha soluções e objectivos a curto e médio prazo que proponha como alternativa à situação existente. Atenção, porém. Uma análise da situação e a definição de uma política têm de partir de realidades básicas do capitalismo, a que correspondem conceitos fundamentais da teoria revolucionária do proletariado:
— a divisão da sociedade em classes, umas que exploram, outras que são exploradas;
— a luta de classes;
— a política de classe dos governos.
Trata-se de realidades e de conceitos. A sua descoberta não se deve a Marx e Engels mas a economistas e filósofos anteriores. O que é novo no marxismo é a análise das situações económicas e políticas concretas tendo na base esses conceitos. É certo que, em situações pré revolucionárias e noutras em que se criou um temporário equilíbrio das forças de classe, o poder político, fortemente condicionado, pode conjunturalmente não conduzir uma política ao serviço do capital. Pode mesmo realizar medidas progressistas de carácter anti-capitalista. São porém situações excepcionais e de pouca duração.


Não é o caso de países capitalistas de democracia burguesa. Nesses, o poder político falseia as quatro vertentes da democracia. A económica – pela propriedade dos sectores básicos da economia pelo grande capital e a submissão do poder político ao poder económico. A social – pela exploração e a miséria dos trabalhadores e das massas populares e a concentração da riqueza num número limitado de gigantescas fortunas. A cultural – pela propaganda da ideologia do grande capital, por um sistema de ensino discriminatório para os filhos das classes trabalhadoras, pela propaganda de ideias obscurantistas, pelos atentados à criatividade artística, pela multiplicação de seitas religiosas. A política – pelo abuso e absolutização do poder e a liquidação dos órgãos e mecanismos de fiscalização democrática do seu exercício, pela alteração inconstitucional da legalidade e das competências dos órgãos de soberania quando as leis em vigor se revelam insuficientes para o exercício absoluto do poder do grande capital.


E toda esta degradação se desenvolve com os pretextos da necessária “estabilidade” e do “Estado de direito”. A degradação da democracia política – trazendo consigo os espectaculares e teatrais conflitos de chicana parlamentar, o carreirismo, a impunidade e a corrupção – provoca o descrédito da política e dos políticos. Entretanto, a política é uma actividade necessária e os comunistas e outros verdadeiros democratas são diferentes e melhores na prática política e distinguem-se da chamada “classe política” desacreditada. Os poderosos meios de comunicação social (jornais, revistas, rádios, televisão, audiovisuais), propriedade e instrumento de grandes grupos monopolistas, não constituem um novo poder independente, como alguns pretendem, mas um instrumento do grande capital na sua ligação dominante com os governos.


Sendo a luta pela democracia um dos objectivos centrais da acção de um partido comunista, é indispensável definir quais são os elementos fundamentais dessa democracia. De um governo é de exigir a simultaneidade e complementaridade das suas vertentes fundamentais. Não basta que um governo se afirme democrático. É necessário que de facto o seja. É, ao mesmo tempo, necessário definir-se mais concretamente, em cada situação concreta, a democracia pela qual se luta. Numa situação dada, num momento dado, pode, por exemplo, a luta pela democracia dar grande relevo à luta pelo reforço dos elementos de democracia directa e participativa a par da democracia representativa. As eleições são um dos elementos-base de um regime democrático, mas só assim podem ser consideradas se respeitam a igualdade e se são impedidos os abuso do poder, as discriminações e exclusões. Se estas condições não são conseguidas, as eleições tornam-se uma fraude, um grave atentado à democracia e um instrumento da monopolização do poder, por vezes em alternância, pelas forças políticas ao serviço do capital."


(In "As seis características fundamentais de um Partido Comunista", 2001)

terça-feira, 2 de junho de 2009

Medos, divisões, manobras, conflitos - no campo inimigo

Notícias recentes nestas últimas semanas, sobre alguns factos e episódios envolvendo elementos da elite capitalista portuguesa, merecem alguma reflexão. Contrariamente a uma visão maniqueísta e redutora da luta de classes que, a pretexto do desequilíbrio na relação dominantes/dominados, considera que a burguesia tem a força, a unidade, os meios de dominação, enquanto o proletariado se debate com fragilidades, divisões, carência dos meios para repelir a dominação - visão profundamente influenciada pela ideologia dominante, que visa permanentemente incutir a resignação e a renúncia ao recurso à luta -, contrariamente a essa visão simplista, no campo do inimigo de classe também existem divisões, debilidades, incapacidades, medos.


Frente a frente, no campo de batalha da luta de classes, tanto os trabalhadores como os capitalistas revelam as suas contradições internas, os seus pontos fracos, os seus períodos de enfraquecimento temporário e conjuntural. Não ter em conta e subestimar as reais fraquezas dos inimigos de classe conduz à subestimação das nossas próprias possibilidades e forças, impedindo-nos de explorar os erros e debilidades do adversário e não alcançando êxitos e avanços que objectivamente se tornem a cada momento possíveis e mesmo necessários.
Seria um erro, um erro crasso e de consequências negativas para o desenvolvimento da sua luta, minando o acerto e rigor das suas avaliações e disposições tácticas e estratégicas, se os trabalhadores - as suas organizações sindicais de classe, os seus partidos de classe - ignorassem ou subestimassem a importância de conhecer e explorar em seu favor as dificuldades dos seus inimigos.
Vejamos então alguns desses factos, episódios e declarações, tal como surgiram noticiados:


No "Jornal de Negócios", on-line, (16/5/09), noticiava-se que o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, durante uma intervenção na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, afirmou que “estivemos perto do abismo” em Outubro do ano passado. “Nas semanas pós-Lehman Brothers, devo confessar que vivi momentos muito semelhantes aos do PREC. Havia rumores, informações a circular... Era muito preocupante. Eu recebia SMS's a dizer que determinado banco ia falir. As pessoas estavam com medo dos bancos”, referiu o ministro.“Em Outubro, estivemos perto do abismo. Se não fosse a intervenção das autoridades, não sei o que seria”, completou Teixeira dos Santos.



Belmiro de Azevedo, em conferência do Banco de Investimento, no Porto, afirmou que o Governo errou ao ter dado “prioridade quase exclusiva ao sistema financeiro” e , agora, “[a banca] não tem que ser outra vez sobre-protegida” porque depois surgem situações em que “há oportunismo”.Deixando claro que não se estava a referir ao BPN ou ao BPP e assumindo uma opinião “como observador normal”, o patrão da Sonae atirou: “o Governo devia passar por cima da banca e criar condições para que a actividade económica recupere (...), porque se não nunca mais acaba. Se protegermos excessivamente, depois há outras classes que também vão pedir o mesmo”. E “o pior que pode acontecer é o Estado não se dar conta de que o motor do crescimento e da inovação é a concorrência”, acrescentou Carlos Rodrigues, presidente do BIG. “A concorrência é o melhor critério de selecção”, concluiu.



O Estado não pode ignorar o problema do “grande desajustamento” entre os salários dos gestores de empresas públicas e os mais altos magistrados, por exemplo. Belmiro de Azevedo diz que se isso acontecer, “qualquer dia somos geridos pelos piores e isso é um erro gravíssimo”. “Criou-se a ideia que para se ser sério tem que se ser pobre e os ricos são um bando de ... e isso não pode ser. O Estado não pode entrar por esse caminho”, atirou o patrão da Sonae. Para Belmiro de Azevedo, “o mais importante é correr com os incompetentes, não é reduzir salários”.



O ex-presidente do BPN, Oliveira Costa, o único arguido preso preventivamente no inquérito criminal ao caso, ao ser ouvido em audição na A.República, em 27/5, afirmou que pagou avença do seu bolso a um ex-secretário de Estado. O antigo presidente do BPN admitiu que foi um antigo secretário de Estado que lhe extorquiu uma avença. Perante a pergunta de um deputado que perguntou a Oliveira Costa se a história que contara ao início da noite visava um antigo ministro, o ex-gestor respondeu que não e acrescentou: "Se me perguntasse se era um antigo secretário de Estado..." Questionado por outro deputado na comissão de inquérito, Oliveira Costa afirmou ainda: "Se se fossem esmiuçar as coisas (todos os problemas dos bancos), era o colapso da banca Portuguesa".



O bastonário da Ordem dos Advogados defendeu hoje (28/5), que o desvio de dois mil milhões de euros do BPN "não foi obra de um homem só", mas o resultado "de uma acção organizada, meticulosa e dirigida" por várias pessoas."É preciso descobrir quem são os outros", adiantou António Marinho Pinto, que falava aos jornalistas à saída da Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, onde foi ouvido sobre as propostas de Lei de Política Criminal e do Código de Execução de Penas. Na sua audição no Parlamento, Marinho Pinto criticou que, com a crise económica, o Estado tenha utilizado vários milhares de milhões de euros para impedir a banca e outras instituições de irem à falência, por causa da "actividade criminosa" de certos gestores e dirigentes, quando esses recursos públicos deviam ser canalizados para "erradicar a pobreza em Portugal".



Recebido pelo Presidente da República, a seu pedido, num encontro seguramente sensível, Dias Loureiro diz ter comunicado a sua demissão a Cavaco Silva porque se estava a passar a ideia de que ele se queria proteger no Conselho de Estado, como um "resguardo". Ora, "eu sei aquilo que fiz e sei que não foi nada ilegal", disse. O ex-ministro do PSD terá percebido as afirmações de Lobo Antunes - que foi mandatário nacional de Cavaco Silva - como um recado directo do Chefe do Estado.



Manuel Dias Loureiro chegou descontraído e confiante à estação de Carnaxide, num Jaguar XF, com o ar de quem tem um trunfo na manga, mas foi parco e titubeante a explicar a polémica demissão do Conselho de Estado, ontem anunciada.
Na entrevista ao Jornal da Noite, 28/5, Dias Loureiro disse ter escrito ontem uma carta ao procurador-geral da República - que só hoje será recebida - para ser ouvido no âmbito do processo BPN. Insiste, no entanto, em negar qualquer ligação entre essa decisão e as sérias acusações de facto e de carácter lançadas na véspera pelo ex-presidente do BPN, Oliveira Costa.
Para quem esperava uma reacção e um desmentido categórico às acusações feitas na terça-feira, Dias Loureiro desiludiu: "Não vou comentar nada sobre o que o senhor Oliveira Costa disse", garantiu o ex-ministro de Cavaco Silva. Questionado sobre o timing da demissão - há muito defendida por diversos sectores da sociedade -, relacionou-o, de forma algo confusa, aos rumores de que teria sido pedido um levantamento da sua imunidade pela PGR. "Há uns 15 dias ou três semanas, pessoas conhecidas e jornalistas foram-me ligando sobre a existência de um pedido de levantamento da imunidade", adiantou. E prosseguiu: "Eu pensei sobre o assunto e perguntei a Belém se havia algum pedido para eu ser ouvido." Do palácio presidencial foi-lhe dito que não havia nenhuma iniciativa nesse sentido, reforçando-lhe a ideia de que "todas essas notícias eram falsas".

Confrontado pela RTP, sobre se tinha tido algum papel na demissão do seu conselheiro, o Presidente da República não confirmou, mas também não desmentiu. Cavaco Silva reafirmou que a reunião foi a pedido de Dias Loureiro, limitando-se a reiterar posições assumidas anteriormente. Ou seja, que não faz distinções entre os seus 19 conselheiros e que, "do ponto de vista penal", não tem informações que o impeçam de exercer as funções.



Confrontado com a demissão de Dias Loureiro, Paulo Rangel, líder parlamentar do PSD, afirmou que teria sido preferível esta decisão "mais cedo". "Há muito que tinha uma ideia sobre esta matéria, pelo que vejo com naturalidade, sentido de Estado e favor para as instituições do Estado esta decisão", afirmou.


Um outro conselheiro, Almeida Santos, do PS, tinha-o aconselhado, numa entrevista à Antena 1, que suspendesse o cargo.



O PS já decidiu: vai deixar cair Vítor Constâncio. O relatório final da comissão parlamentar de inquérito ao BPN será crítico para com a actuação do governador do Banco de Portugal neste caso. E sê-lo-á com o consentimento da maioria socialista na comissão.
Face à acumulação de indícios na comissão de inquérito apontando para uma actuação negligente do banco central face ao Banco Português de Negócios, a direcção da bancada parlamentar socialista já percebeu que é impossível ilibar Constâncio. Isto por mais importante que seja a ligação histórica do governador ao PS (foi secretário-geral do partido de 1986 a 1989). "É impossível não criticarmos", admitiu ontem ao DN um membro da direcção parlamentar socialista.



Segundo Jorge Messias ("Avante!", 28/5), "Igreja e capitalismo continuam emparelhados como oficiais do mesmo ofício. A crise agrava-se e o «salve-se quem puder» instalou-se para ficar, gerando o desemprego, a recessão e a miséria dos povos. A riqueza produzida pelo trabalho é sugada pelos grupos financeiros que constituem a coluna vertebral do sistema capitalista. O capital precisa de ganhar tempo e iludir as massas descontentes, concluem os banqueiros, com a bênção dos cardeais."
"A Igreja Católica portuguesa atravessa uma crise profunda de valores, revelada não apenas pela falta de vocações mas, sobretudo, pela forma como tenta fazer regressar o País aos tempos de outrora. Se é certo que a antiga fórmula dos três «efes» (Fátima, Fado, Futebol) se desactualizou em relação ao Fado, convém manter a estrutura de domínio da Igreja em relação à sociedade. É este o sentido da palavra de ordem que impõe aos católicos o seu maciço regresso às ruas, numa teia tecida com peregrinações, procissões de velas, actos de contrição e aparentes medidas eclesiásticas em defesa dos pobres." "Na mesma linha caritativa e sinuosa, o Patriarcado anuncia agora que são cada vez em maior número as famílias pobres, os velhos, os doentes e os desempregados que pedem auxílios à Igreja. Por isso, a Igreja vai apoiar a formação de 500 mini-empresas (sic!) e recorrerá a formas de mini-crédito o qual, segundo afirma (sem temer fazer publicidade) terá o apoio e as garantias do Banco Espírito Santo."



Segundo dados divulgados em http://www.odiario.info/ , em Portugal a política de redistribuição do Rendimento Disponível (RD), a favor da classe dominante, fez cair a percentagem dos salários no RD, de 47,6% em 1973 (Marcelo Caetano) e de 59,5% em 1975 (Vasco Gonçalves, até 19 de Setembro), para 45,6% em 1983 (Pinto Balsemão/Mário Soares) e reduz-se para 40,6% em 2006 (José Sócrates) - isto é, abaixo já dos 47,6% dos últimos tempos do regime fascista - e decerto diminuiu mais nos anos 2007/2008 e já no ano em curso, situando-se actualmente abaixo dos 40%.



Dados do INE, do 1° trimestre de 2009, publicados em http://www.resistir.info/ , (Eugénio Rosa, 31/5) confirmam que 1.577.100 trabalhadores por conta de outrem, ou seja, 40,6% do total dos trabalhadores portugueses auferem um salário líquido inferior a 600 euros por mês. Apenas 483,1 mil, ou seja, 12,4% do total, recebem um salário líquido mensal superior a 1.200 euros por mês e os que recebem mais de 1.800 euros por mês são apenas 3,8% do total. São números, oficiais, que ilustram bem como entre nós, após um grande avanço durante o período da revolução, aumentou brutalmente nos últimos 33 anos a taxa de exploração das classes trabalhadoras.





Nestas notícias transcritas, várias componentes do sistema de poder do capital estão representados, desde o Governo à Assembleia da República e ao Presidente da República, o Conselho de Estado, os Tribunais, a Ordem dos Advogados, a grande burguesia - com dois dos seus principais expoentes em discurso directo - , a Igreja Católica, PS e PSD, os dois principais partidos políticos do sistema. Qualquer estudioso, mesmo qualquer camarada interessado, decerto poderá encontrar inúmeros outros factos e declarações que, tanto ou mais que os que acima se alinham, testemunhariam debilidades, divisões, contradições crescentes no campo do inimigo de classe.



Particularmente significativa, a confissão feita entre entre amigos pelo ministro Teixeira dos Santos, do pavor que viveu nos primeiros momentos da actual crise global do capitalismo. O homem já se imaginava tendo que reviver cenas do PREC - "processo revolucionário em curso", designação em uso na época (1974/75) e utilizada de forma pejorativa pela burguesia, para se referir ao período da Revolução de Abril - , cenas que o devem ter deixado traumatizado para toda a vida.
Meses atrás, aqui se escreveram algumas linhas sobre o significado e consequências da crise, à luz das inesperadas e grandes dificuldades enfrentadas pelos mecanismos políticos e ideológicos do capitalismo e as correspondentes oportunidades criadas para as organizações sociais e políticas do proletariado intervirem vigorosamente para o seu desmascaramento, com o objectivo de alterarem em seu favor a correlação de forças existente. É curioso e interessante constatar hoje, pela boca do ministro das finanças português, quanto eles se sentiram enfraquecidos e receosos nesses dias.



Igualmente ficam bem ilustradas as dissensões e as ocultas vigarices que prosseguem na banca, com a clara conivência de organismos e instituições financeiras do Estado, bem como a ilegítima e criminosa transferência dos dinheiros públicos para os bolsos dos banqueiros, afinal o segmento da grande burguesia com as maiores responsabilidades na eclosão da crise e no estado de profunda degradação económico-social no qual o país está mergulhado. (Aliás, merece um firme reparo crítico o facto de, mesmo ainda hoje, militantes comunistas com grandes responsabilidades de direcção continuem a cometer o clamoroso erro de admitir como justa e legítima a injecção de fundos públicos do Estado para "socorrer" os bancos). Os conflitos de interesses entre banqueiros, entre estes e os grandes empresários, tomam expressão pública e contagiam o conteúdo dos seus próprios meios de comunicação, enquanto recrudescem as críticas e os remoques a ministros e ao seu próprio governo de serviço.



Outro aspecto relevante das dificuldades no outro lado da barricada é o quadro de crise interna e de "vocações" e a correspondente perda de influência ideológica da igreja (atenção: afirmar perda não significa afirmar que essa influência não continua grande), agravada pelas denúncias de escândalos sexuais no clero e de trafulhices financeiras, oriundas dos vários continentes. Com uma intervenção profundamente conservadora e reaccionária, a hierarquia da igreja católica vem manifestando uma crescente tendência ultramontana, buscando desesperadamente fechar e cercar o seu reduto, perante as ameaças ao seu domínio político, económico e social no mundo. Em Portugal, as recentes iniciativas de canonização, primeiro da "irmã Lúcia" e pouco depois de Nuno Álvares Pereira, o "santo condestável", evidenciam bem o seu recurso a manobras de manipulação despudorada dos sentimentos religiosos da população católica portuguesa, usando os "trunfos" do antigamente que se julgavam já enterrados nos seus baús bolorentos e infectos.



Atingindo directamente o 1° ministro, membros do governo e outras figuras gradas da chamada elite do regime, a braços com processos e denúncias públicas - "operacionalizadas" a partir das posições em conflito de interesses no interior do próprio centro do sistema judicial - vão revelando as clamorosas debilidades desta Justiça para fazer julgar e punir os ricos e os poderosos e vão-se tornando factos corriqueiros que descredibilizam juízes e magistrados do ministério público, polícias de investigação, áreas da advocacia, num autêntico caldeirão de impunidades amorais que dia-a-dia vai corroendo o prestígio que ainda lhes resta, fruto sobretudo de atitudes e posições corajosas de alguns poucos elementos do aparelho judiciário português, justamente merecedores do respeito e admiração da opinião pública não-publicada. Exemplos como os acordãos recentes do tribunal de Viana do Castelo (inocentando dirigentes sindicais ferroviários, alvos de processo pela administração da Refer/CP) e do tribunal da Relação de Coimbra (mandando em paz os dois jovens comunistas, ilegitimamente acusados pela câmara de Viseu por exercerem o direito de liberdade de propaganda política, e, condenando a câmara pela remoção ilegal do mural), são vistos como uma ameaça pela grande burguesia. Belmiro de Azevedo, incomodado com essas manifestações de verticalidade, prega o pagamento/compra das consciências rebeldes, propondo vencimentos principescos para os juízes do topo da magistratura, querendo-os igualar aos administradores do capital.




Concluindo: é dever político dos comunistas e dos revolucionários, dos sindicalistas fieis aos interesses de classe dos trabalhadores, procurar conhecer todos os pontos frágeis do inimigo e dos adversários de classe, usando em seu favor esse conhecimento e tomando-os sempre em conta na avaliação permanente à correlação de forças que se apresenta a cada dia, uma correlação sempre em mutação e que nos cabe dominar ao máximo pormenor possível. Ensinamento permanente, válido para todas as épocas e para todas as situações, é a célebre fórmula de Lenine quando, ao avaliar o momento adequado à insurreição vitoriosa do 7 de Novembro de 1917, afirmou: "ontem era cedo, amanhã seria tarde". Esta busca incessante pelo exame sério e rigoroso das situações objectivas é o caminho certo para avaliar e decidir as formas e os momentos adequados ao avanço dos combates de classe.



Expressão popular consagrada, a frase "Querer é Poder" encerra significados contraditórios. Na verdade, nem sempre "querer" significa "poder". Mas é igualmente verdade que sem "querer" nunca será possível "poder". Escrevo-o, por considerar que vale a pena, hoje e na presente situação nacional e quadro mundial, reflectir um pouco mais a fundo no significado dialéctico desta gíria, consagrada pela sabedoria do nosso povo. Talvez valha a pena, em próximo escrito, analisar também aqui uma discussão actual, em curso em vários azimutes, incluindo cá, neste lindo e sofrido país ao sul do Equador, e que polemiza sobre voluntarismo e expontaneismo. Fica lançada a sugestão.