SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Intelectuais Apolíticos


 
 
Um dia,
 
os intelectuais
apolíticos
do meu país
serão interrogados
pelo homem
simples
do nosso povo.
 
Serão questionados
sobre o que fizeram
quando
a pátria se apagava
lentamente
como uma fogueira frágil,
pequena e só.
 
Não serão interrogados
sobre os seus trajes,
nem acerca das suas longas
sestas
após o almoço,
tão pouco sobre os seus estéreis
combates com o nada,
nem sobre sua ontológica
maneira
de chegar ao dinheiro.
 
Ninguém os interrogará
acerca da mitologia grega,
nem sobre o asco
que sentirão de si,
quando alguém, no seu íntimo,
se dispunha a morrer
cobardemente.
 
Ninguém lhes perguntará
sobre as suas justificações
absurdas,
crescidas na sombra
de uma rotunda mentira.
 
Nesse dia virão
os homens simples.
Os que nunca couberam
nos livros de versos
dos intelectuais apolíticos,
mas que iam todos os dias
levar-lhes o leite e o pão,
os ovos e as tortilhas,
os que lhes costuravam a roupa,
os que conduziam os carros,
cuidavam dos seus cães e jardins,
e para eles trabalhavam,
e perguntarão,
 
“Que fizestes quando os pobres
sofriam e neles se queimavam,
gravemente, a ternura e a vida?”
 
Intelectuais apolíticos
do meu doce país,
nada podereis responder.
 
Um abutre de silêncio vos devorará
as entranhas.
Vos roerá a alma
vossa própria miséria.
E calareis,
envergonhados de vós próprios.
 
Otto Rene Castillo
 

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A Federação Sindical Mundial e o ataque ao Charlie Hebdo


 


 
                        
Após o assassino ataque à revista Charlie Hebdo, em Paris, França, o Secretariado da FSM emitiu a seguinte declaração:
 
Expressamos nossas condolências às famílias das vítimas e votos de recuperação rápida e completa para os feridos. Este crime feroz e 0 assassinato de tantas pessoas devem ajudar-nos a todos a considerar algumas realidades atuais:
 
1. Que os fanatismos religiosos, a técnica das divisões, os fenómenos racistas e neofascistas criam o ódio e impedem a unidade dos trabalhadores.
2. Os trabalhadores na França e os trabalhadores em toda a Europa devem estar a interrogar-se sobre quem criou os chamados “jihadistas”. Quem os financiou? Quem os treinou? Quem se serviu plenamente deles na Síria, no Iraque, no Líbano e em outros lugares?
3. Os imperialistas, a União Europeia, os Estados Unidos, a OTAN, nos seus planos geoestratégicos para o controle da energia, para novas fronteiras e novos mercados, criaram divisões artificiais, semeando o ódio entre os povos e cultivando fanatismos religiosos.
Nossos irmãos, trabalhadores franceses, trabalhadores de todo o mundo:
A melhor maneira de expressar as nossas convicções sobre o crime contra o “Charlie Hebdo” não é a de permitir a nossa divisão por diferenças religiosas, raciais, de cor, de língua etc. Não é a de permitir que os culpados física e moralmente pelo crime sejam encobertos por trás de divisões religiosas.
Os trabalhadores são todos irmãos. Pertencemos à mesma classe.
Todos unidos para lutar contra o imperialismo e contra a barbárie capitalista.
 
Trabalhadores de todo o mundo, quer sejam muçulmanos, ou cristãos, ou budistas ou coptas, quer sejam ou não crentes, SÃO IRMÃOS DE CLASSE.
O Secretariado da F.S.M.
 

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Uma questão central - esquerda burguesa ou esquerda proletária?

 Ruptura ou Adaptação?

O jornal "Avante!", órgão central do P.C.P., publica na sua última edição um artigo de Albano Nunes, membro do secretariado do CC, com este título muito oportuno. Transcreve-se o seu último parágrafo, como um estímulo à sua ulterior análise e, esta sobretudo necessária, às características - de classe - que diferenciam as várias forças e posicionamentos que se intitulam de esquerda, uma análise que ficará para outro post.

"(...)
A ruptura que se impõe não será certamente um acto súbito mas um processo complexo passando por batalhas intermédias e objectivos concretos e imediatos. Mas não deve haver qualquer confusão entre propostas que, como as do PCP, se situam numa dinâmica de ruptura com um bloco imperialista que se considera irreformável e com um sistema capitalista que exige a sua superação revolucionária, e posições que na sua essência apenas visam «moralizar» e «corrigir os excessos» do capitalismo e afirmam a sua profissão de fé «europeísta», como no caso, tão mediatizado, do Syriza na Grécia. Entre ruptura e adaptação vai a distância que separa uma consequente posição de esquerda, revolucionária, de uma qualquer variante reformista de keynesianismo.
Portugal não tem alternativa senão enfrentar a necessária ruptura com o imperialismo com coragem e determinação. Com o apoio e a mobilização dos trabalhadores e do povo nada é impossível. Com incertezas, riscos e sacrifícios, sem dúvida. Mas não há ruptura de cadeias de opressão nem salto em frente no processo libertador que não tenha as suas dores de parto."

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Portugal e Pablo Neruda




LA LÁMPARA MARINA
 
Portugal,
vuelve al mar, a tus navíos,
Portugal, vuelve al hombre, al marinero,
vuelve a la tierra tuya, a tu fragancia,
a tu razón libre en el viento,
de nuevo
a la luz matutina
del clavel y la espuma.
Muéstranos tu tesoro,
tus hombres, tus mujeres.
No escondas más tu rostro
de embarcación valiente
puesta en las avanzadas del Océano.
Portugal, navegante,
descubridor de islas,
inventor de pimientas,
descubre el nuevo hombre,
as islas asombradas,
descubre el archipiélago en el tiempo.
La súbita
aparición
del pan
sobre la mesa,
la aurora,
tú, descúbrela,
descubridor de auroras.
 
Cómo es esto?
 
Cómo puedes negarte
al cielo de la luz tú, que mostraste
caminos a los ciegos?
 
Tú, dulce y férreo y viejo,
angosto y ancho padre
del horizonte, cómo
puedes cerrar la puerta
a los nuevos racimos
y al viento con estrellas del Oriente?
 
Proa de Europa, busca
en la corriente
las olas ancestrales,
la marítima barba
de Camoens.
Rompe
las telarañas
que cubren tu fragante arboladura,
y entonces
a nosostros os hijos de tus hijos,
aquellos para quienes
descubriste la arena
hasta entonces oscura
de la geografía deslumbrante,
muéstra-nos que tú puedes
atravesar de nuevo
el nuevo mar escuro
y descubrir al hombre que ha nacido
en las islas más grandes de la tierra.
Navega, Portugal, la hora
llegó, levanta
tu estatura de proa
y entre las islas y los hombres vuelve
a ser camino.
En esta edad agrega
tu luz, vuelve a ser lámpara:
 
aprenderás de nuevo a ser estrella.
 
Pablo Neruda, Las uvas y el viento, 1954
 
(Escrito em homenagem a Álvaro Cunhal e outros companheiros de cárcere em 1953)