SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Intelectuais Apolíticos


 
 
Um dia,
 
os intelectuais
apolíticos
do meu país
serão interrogados
pelo homem
simples
do nosso povo.
 
Serão questionados
sobre o que fizeram
quando
a pátria se apagava
lentamente
como uma fogueira frágil,
pequena e só.
 
Não serão interrogados
sobre os seus trajes,
nem acerca das suas longas
sestas
após o almoço,
tão pouco sobre os seus estéreis
combates com o nada,
nem sobre sua ontológica
maneira
de chegar ao dinheiro.
 
Ninguém os interrogará
acerca da mitologia grega,
nem sobre o asco
que sentirão de si,
quando alguém, no seu íntimo,
se dispunha a morrer
cobardemente.
 
Ninguém lhes perguntará
sobre as suas justificações
absurdas,
crescidas na sombra
de uma rotunda mentira.
 
Nesse dia virão
os homens simples.
Os que nunca couberam
nos livros de versos
dos intelectuais apolíticos,
mas que iam todos os dias
levar-lhes o leite e o pão,
os ovos e as tortilhas,
os que lhes costuravam a roupa,
os que conduziam os carros,
cuidavam dos seus cães e jardins,
e para eles trabalhavam,
e perguntarão,
 
“Que fizestes quando os pobres
sofriam e neles se queimavam,
gravemente, a ternura e a vida?”
 
Intelectuais apolíticos
do meu doce país,
nada podereis responder.
 
Um abutre de silêncio vos devorará
as entranhas.
Vos roerá a alma
vossa própria miséria.
E calareis,
envergonhados de vós próprios.
 
Otto Rene Castillo
 

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