SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

domingo, 29 de agosto de 2010

“Os EUA são o maior terrorista do mundo”

No início de mais uma semana de trabalho - incluída a "ponta final" para a Festa do "Avante!" - e de luta, sobretudo para todos aqueles que não se resignam nem se vergam perante as intimidações, as agressões e os crimes praticados em todo o mundo pelo imperialismo estadunidense, aí fica o texto de uma entrevista a Noam Chomsky, publicada há poucos dias e e cujas respostas constituem para todos nós, anti-imperialistas, uma contribuição lúcida e corajosa no nosso combate comum pelo desmascaramento e derrota das manobras e agressões imperiais neste nosso século XXI, mil seiscentos e quinze anos após o fim de um outro império que a Humanidade conheceu - o romano -, incomparavelmente menos funesto e criminoso que o actual.


"20.08.2010 - Noam Abraham Chomsky, intelectual estadunidense, pai da linguística e polêmico ativista por suas posturas contra o intervencionismo militar dos Estados Unidos, visitou a Colômbia para ser homenageado pelas comunidades indígenas do Departamento de Cauca. Falou com exclusividade para Luis Angel Murcia, do jornal Semana.com, em 21 de Julho de 2010.
O morro El Bosque, um pedaço de vida natural ameaçado pela riqueza aurífera que se esconde em suas entranhas, desde a semana passada tem uma importância de ordem internacional. Essa reserva, localizada no centro da cidade de Cauca, muito próxima ao Maciço colombiano, é o cordão umbilical que hoje mantêm aos indígenas da região conectados com um dos intelectuais e ativistas da esquerda democrática mais prestigiados do planeta.
Noam Abraham Chomsky. Quem o conhece assegura que é o ser humano vivo cujas obras, livros ou reflexões, são as mais lidas depois da Bíblia. Sem duvida, Chomsky, com 81 anos de idade, é uma autoridade em geopolítica e Direitos Humanos.
Sua condição de cidadão estadunidense lhe dá autoridade moral para ser considerado um dos mais recalcitrantes críticos da política expansionista e militar que os EUA aplica no hemisfério. No seu país e na Europa é ouvido e lido com muito respeito, já ganhou todos os prêmios e reconhecimentos como ativista político e suas obras, tanto em linguística como em análise política, foram premiadas.
Sua passagem discreta pela Colômbia não era para proferir as laureadas palestras, mas para receber uma homenagem especial da comunidade indígena que vive no Departamento de Cauca. O morro El Bosque foi rebatizado como Carolina, que é o mesmo nome de sua esposa, a mulher que durante quase toda sua vida o acompanhou. Ela faleceu em dezembro de 2008.
Em sua agenda, coordenada pela CUT e pela Defensoria do Povo do Vale, o Senhor Chomsky dedicou alguns minutos para responder exclusivamente a Semana.com e conversar sobre tudo.

Que significado tem para o senhor esta homenagem?
Estou muito emocionado; principalmente por ver que pessoas pobres que não possuem riquezas se prestem a fazer esse tipo de elogios, enquanto que pessoas mais ricas não dão atenção para esse tipo de coisa.

Seus três filhos sabem da homenagem?

Todos sabem disso e de El Bosque. Uma filha que trabalha na Colômbia contra as companhias internacionais de mineração também está sabendo.

Nesta etapa da sua vida o que o apaixona mais: a linguística ou seu ativismo político?

Tenho estado completamente esquizofrênico desde que eu era jovem e continuo assim. É por isso que temos dois hemisférios no cérebro.

Por conta desse ativismo teve problemas com alguns governos, um deles e o mais recente foi com Israel, que o impediu de entrar nas terras da palestina para dar uma palestra.

É verdade, não pude viajar, apesar de ter sido convidado por uma universidade palestina, mas me deparei com um bloqueio em toda a fronteira. Se a palestra fosse para Israel, teriam me deixado passar.

Essa censura tem a ver com um de seus livros intitulado ‘Guerra ou Paz no Oriente Médio?

É por causa dos meus 60 anos de trabalho pela paz entre Israel e a Palestina. Na verdade, eu vivi em Israel.

Como qualifica o que se passa no Oriente Médio?

Desde 1967, o território palestino foi ocupado e isso fez da Faixa de Gaza a maior prisão ao ar livre do mundo, onde a única coisa que resta a fazer é morrer.

Chegou a se iludir com as novas posturas do presidente Barack Obama?

Eu já tinha escrito que é muito semelhante a George Bush. Ele fez mais do que esperávamos em termos de expansionismo militar. A única coisa que mudou com Obama foi a retórica.

Quando Obama foi galardoado com o prêmio Nobel de Paz, o quê o senhor pensou?

Meia hora após a nomeação, a imprensa norueguesa me perguntou o que eu pensava do assunto e respondi: “Levando em conta o seu recorde, este não foi a pior nomeação”. O Nobel da Paz é uma piada.

Os EUA continuam a repetir seus erros de intervencionismo?

Eles tem tido muito êxito. Por exemplo, a Colômbia tem o pior histórico de violação dos Direitos Humanos desde o intervencionismo militar dos EUA.

Qual é a sua opinião sobre o conceito de guerra preventiva que os Estados Unidos apregoam?

Não existe esse conceito, é simplesmente uma forma de agressão. A guerra no Iraque foi tão agressiva e terrível que se assemelha ao que os nazistas fizeram. Se aplicarmos essa mesma regra, Bush, Blair e Aznar teriam de ser enforcados, mas a força é aplicada aos mais fracos.

O que acontecerá com o Irã?

Hoje existe uma grande força naval e aérea ameaçando o Irã e, somente a Europa e os EUA pensam que isso está certo. O resto do mundo acredita que o Irã tem o direito de enriquecer urânio. No Oriente Médio três países (Israel, Paquistão e Índia) desenvolveram armas nucleares com a ajuda dos EUA e não assinaram nenhum tratado.

O senhor acredita na guerra contra o terrorismo?

Os EUA são os maiores terroristas do mundo. Não consigo pensar em qualquer país que tenha feito mais mal do que eles. Para os EUA, terrorismo é o que você faz contra nós e não o que nós fazemos a você.

Há alguma guerra justa dos Estados Unidos?

A participação na Segunda Guerra Mundial foi legítima, entretanto eles entraram na guerra muito tarde.

Essa guerra por recursos naturais no Oriente Médio pode vir a se repetir na América Latina?

É diferente. O que os EUA tem feito na América Latina é, tradicionalmente, impor brutais ditaduras militares que não são contestados pelo poder da propaganda.

A América Latina é realmente importante para os Estados Unidos?

Nixon afirmou: “Se não podemos controlar a América Latina, como poderemos controlar o mundo”.

A Colômbia tem algum papel nessa geopolítica ianque?

Parte da Colômbia foi roubada por Theodore Roosevelt com o Canal do Panamá. A partir de 1990, este país tem sido o principal destinatário da ajuda militar estadunidense e, desde essa mesma data tem os maiores registros de violação dos Direitos Humanos no hemisfério. Antes o recorde pertencia a El Salvador que, curiosamente, também recebia ajuda militar.

O senhor sugere que essas violações têm alguma relação com os Estados Unidos?

No mundo académico, concluiu-se que existe uma correlação entre a ajuda militar dada pelos EUA e violência nos países que a recebem.

Qual é sua opinião sobre as bases militares gringas que há na Colômbia?

Não são nenhuma surpresa. Depois de El Salvador, é o único país da região disposto a permitir a sua instalação. Enquanto a Colômbia continuar fazendo o que os EUA pedir que faça, eles nunca vão derrubar o governo.

Está dizendo que os EUA derruba governos na América Latina?

Nesta década, eles apoiaram dois golpes. No fracassado golpe militar da Venezuela em 2002 e, em 2004, sequestraram o presidente eleito do Haiti e o enviaram para a África. Mas agora é mais difícil fazê-lo porque o mundo mudou. A Colômbia é o único país latinoamericano que apoiou o golpe em Honduras.

Tem algo a dizer sobre as tensões atuais entre Colômbia, Venezuela e Equador?

A Colômbia invadiu o Equador e não conheço nenhum país que tenha apoiado isso, salvo os EUA. E sobre as relações com a Venezuela, são muito complicadas, mas espero que melhorem.

A América Latina continua sendo uma região de caudilhos?

Tem sido uma tradição muito ruim, mas, nesse sentido, a América Latina progrediu e, pela primeira vez, o cone sul do continente está avançando rumo a uma integração para superar seus paradoxos, como, por exemplo, ser uma região muito rica, mas com uma grande pobreza.

O narcotráfico é um problema exclusivo da Colômbia?

É um problema dos Estados Unidos. Imagine que a Colômbia decida fumigar a Carolina do Norte e o Kentucky, onde se cultiva tabaco, o qual provoca mais mortes do que a cocaína."


Fonte: Agência de Notícias Nova Colômbia. Original em http://www.semana.com/noticias-mundo/parte-colombia-robada-roosevelt/142043.aspx
Traduzido e publicado por IELA - Instituto de Estudos Latino-Americanos (http://www.iela.ufsc.br/)

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Uma candidatura e um candidato para os trabalhadores e democratas portugueses

Assinalando a decisão do Comité Central do PCP, ao anunciar a candidatura proposta pelo Partido às eleições presidenciais que irão decorrer em Janeiro/2011, aqui se considera oportuno transcrever um importante excerto da declaração do candidato comunista, Francisco Lopes, membro da C.Política e do Secretariado, ao explicar as razões e objectivos deste novo combate político-eleitoral dos comunistas portugueses.
"Com a decisão hoje assumida e tornada pública sobre a candidatura do PCP às eleições presidenciais, damos expressão a uma intervenção política indispensável à afirmação de um projecto essencial para o presente e para o futuro de Portugal.
Sobre o nosso País pesam a influência negativa decorrente da natureza do capitalismo, dos objectivos e rumo da União Europeia após quase 25 anos de integração e de 34 anos de política de direita e abdicação nacional realizada por sucessivos governos, em desrespeito da Constituição da República Portuguesa, com o apoio ou cumplicidade da Presidência da República.
As consequências estão à vista. Portugal é hoje um país mais injusto, mais desigual e mais dependente. O desemprego, a precariedade, a exploração, a pobreza e as dificuldades de muitos milhões de portugueses contrastam com a corrupção, a acumulação de riqueza e a opulência de alguns. É um país marcado por um processo de declínio nacional, de descaracterização do regime democrático e de amputação da soberania e independência nacionais.
Não aceitamos esse rumo. Recusamos o desaproveitamento das potencialidades existentes, não aceitamos o comprometimento do futuro do País. Portugal não é um país pobre. Portugal pode ser melhor, mais desenvolvido e mais justo. Para isso exige-se a ruptura com a política de direita e a opção de um novo rumo para o País.
Um novo rumo, assente numa política patriótica e de esquerda, vinculada aos valores de Abril, capaz de realizar os direitos e as aspirações dos trabalhadores e do povo, de assegurar o desenvolvimento económico e o progresso social e afirmar a identidade cultural, a soberania e independência nacionais.
Um rumo de reforço do aparelho produtivo e da produção nacional, de criação de emprego com direitos, de aumento dos salários e das pensões, de defesa dos direitos sociais, de garantia de um sector público forte e determinante, de apoio às PME, ao mundo rural e às pequenas e médias explorações agrícolas de defesa dos serviços públicos, das funções sociais do Estado, na saúde, na educação, na segurança social, na defesa do meio ambiente e de promoção e valorização da cultura.
Um rumo em que o Estado esteja ao serviço do desenvolvimento, com uma Administração Pública eficiente, uma segurança interna para garantir a tranquilidade e os direitos das populações, uma justiça célere e eficaz, uma defesa nacional e relações externas assentes nos princípios da soberania nacional, da cooperação e da paz.
Um rumo que promova a ruptura com a natureza do processo de integração europeia, com a postura de submissão ao imperialismo e à NATO e contribua para um mundo mais justo, onde sejam afirmados os direitos dos trabalhadores e dos povos.
Este caminho é possível e está nas mãos do povo português, com a sua opinião, a sua participação, a sua luta e o seu voto.(...)

domingo, 22 de agosto de 2010

Uma visita a Gerardo na prisão

A permanência nas prisões do imperialismo estadunidense dos Cinco patriotas cubanos, julgados e condenados numa odiosa e colossal farsa da justiça ianque - e vítimas de uma das maiores canalhices que o governo e o sistema judiciário dos EUA consumaram de entre as inúmeras praticadas no seu território, ao longo da sua história recente, contra cidadãos nacionais ou estrangeiros -, constitui um grito vigoroso que clama justiça pelos quatro cantos do planeta e mobiliza a opinião de milhões de seres humanos que assistem à perpetuação deste autêntico crime jurídico, seja à luz do direito internacional, seja sob a observação das próprias leis estadunidenses.

Os Cinco Cubanos, pagando um pesadíssimo preço pelo seu patriotismo e indefectível dignidade revolucionária, são um luminoso farol que vai iluminando o carácter terrorista da política imperial dos EUA, num desmascaramento vigoroso das suas características desumanas.

O relato emocionante desta visita na prisão a um dos Cinco Cubanos, Gerardo Hernández, visitado pela irmã e por dois corajosos activistas (verdadeiros) dos direitos humanos, os norte-americanos Danny Glover, actor cinematográfico consagrado e Saul Landau, jornalista, professor da California State University e membro do Instituto de Estudos Políticos, é um testemunho muito forte da solidariedade que liga indissoluvelmente seres tão diversos, oriundos de universos geográficos e pessoais tão distintos e que, não obstante, se sentem irmanados pelos mesmos ideais democráticos e aspirações a um mundo novo.
Já publicado por outros blogs, aqui fica também transcrito este relato, profundamente humanista e capaz de renovar em nós a convicção na certeza de um destino mais justo e esperançoso para a Humanidade.
Do aeroporto de Ontário, Califórnia - a cerca de 100 quilómetros a leste do centro de Los Angeles - dirigimo-nos para o norte, pela Rodovia 15, a estrada que leva a Las Vegas. Carros com torcedores aficionados e grandes caminhões, para cima e para baixo, através das montanhas, onde se encontram Los Angeles e a Floresta Nacional de San Bernardino.
Para o leste está o deserto, 1.200 metros acima do nível do mar. Entre zimbros, árvores de Josué e artemisas, ao longo da rodovia. Fomos a um centro comercial, onde pegamos Chavela, irmã mais velha de Gerardo.
Passamos por lanchonetes de redes de fast food e salões de beleza, casas de tatuagem, postos de gasolina e mini-centros comerciais (um passeio pela cultura norte-americana), em direcção ao oeste e logo ao norte, pela 395, até chegar ao complexo penitenciário Federal, uma prisão de alta segurança de 192.000 metros quadrados, construído há seis anos (com um custo de US$ 101,4 milhões de dólares), destinada a enjaular 960 reclusos.
Na sala de visitantes, pintado de um cinza institucional, um guarda entrega-nos formulários numerados, aponta com a cabeça um livro e olha para um monte de canetas. Nós preenchemos e devolvemos o formulário, assinamos e sentamo-nos naquela sala cinza com outros visitantes - todos negros e latinos.
Esperamos por vinte minutos. Um guarda menciona o nosso número. Esvaziamos os bolsos, excepto o dinheiro. Passamos por um detector de metais, ao estilo dos aeroportos. Recolhemos os nossos cintos e entregamos. Uma guarda revista-nos com óculos de raios-X e estendemos os nossos braços para entregar a outro guarda as nossas identificações. Duas mulheres negras e um casal de idosos latinos recebem o mesmo tratamento. Trocamos sorrisos nervosos, hóspedes em terra estranha.
Ele passa as nossas identificações, por uma abertura, para outra sala, que vemos através de uma janela de vidros grossos. Ali, um guarda verifica os documentos e pressione os botões para abrir uma porta de metal pesado. O grupo entra num corredor exterior. O sol ofuscante do meio da manhã e o calor do deserto golpeiam os nossos corpos, depois de termos permanecido no ar-condicionado. Esperamos. Um guarda fala através de uma pequena fenda na porta do prédio, que alberga os presos. De cada lado, torres com guardas armados, uma rede de arame farpado cobre o topo das paredes de concreto.
Esperamos. Passamos calor. Em seguida, entramos em outro quarto com ar condicionado e, finalmente, abre-se a porta e passamos para a sala de visitas. Um guarda assinala-nos uma mesa de plástico pequena, rodeada por três cadeiras de plástico barato, por um lado (para nós) e outra para o Gerardo. Meninos afro-americanos e latinos trocam o seu lugar pelo colo dos seus pais; enquanto os pais, em uniformes caqui, conversam com as suas esposas.
Chavela vê-0 de longe - 20 minutos mais tarde - quando ele, sorrindo, avança vivamente através da sala. Quase em lágrimas, Chavela diz: "Ele perdeu peso". Parece ter o mesmo peso de quando (Saul Landau) o viu na primavera. Gerardo abraça e beija a sua irmã, depois abraça Saul e Danny. Graças aos seus esforços, foi libertado da "solitária", onde passou 13 dias no final de Julho e início de Agosto.
Gerardo informa-nos que dois agentes do FBI - que investigam um incidente não relacionado com o caso dos Cinco - o interrogaram na prisão. Logo em seguida, as autoridades prisionais jogaram Gerardo no buraco, ainda que não houvesse nenhuma prova, lógica ou senso comum que pudesse implicá-lo ao suposto incidente. A temperatura da solitária chegava perto dos 40 graus. "Eu tive que jogar na minha cabeça a água que me davam para beber", disse-nos Gerardo. "Não me ajudaram com a minha pressão arterial elevada. Eu nem sequer podia tomar a minha medicação. Acredito que me soltaram graças aos milhares de telefonemas e cartas de pessoas do mundo inteiro".
Chavela amontoava comida rápida em cima da mesa - a única que havia nas máquinas de venda automática. Mordiscávamos compulsivamente, enquanto Gerardo nos contava acerca da sua vida numa caixa de suor, por quase duas semanas. "Não há circulação de ar", riu, como dizendo: "Não era para tanto".
Nós falamos sobre Cuba. Ele estava em dia com as notícias, através da leitura, TV e visitantes, que lhe informam. Ele sentiu-se encorajado pelas medidas tomadas pelo presidente Raúl Castro para enfrentar a crise. Na televisão da prisão, viu parte do discurso de Fidel e as perguntas e respostas, na reunião da Assembleia Nacional. "Eu vi Adriana (sua esposa) presente na plateia". Seu sorriso desapareceu. "É doloroso. Ela tem 40 anos e eu 45. Não há muito tempo para formamos uma família. Os Estados Unidos nem sequer concedem um visto para que ela me visite. Ela comportou-se com grande coragem e dignidade durante toda esta provação".
Gerardo Hernández, um dos Cinco Cubanos, cumpre duas sentenças de prisão perpétua por conspiração para espionagem e cumplicidade em assassinato. No julgamento em Miami, os promotores não apresentaram quaisquer indícios de espionagem. A acusação de suposta cumplicidade com a derrubada do avião dos chamados "Hermanos al Rescate" - por MIGs cubanos, em fevereiro de 1996 - também não se comprovou, dado que nenhuma evidência foi apresentada de que Gerardo houvesse mandado informações acerca do voo para as autoridades cubanas - o que, de fato, não fez. A acusação também pressupôs que ele sabia das ordens secretas do governo cubano para derrubá-los, o que não é verdade.
Os cinco homens monitoravam e informavam acerca dos terroristas cubanos exilados em Miami, que tinham planos de sabotagem e assassinatos em Cuba. Cuba compartilhou essas informações com o FBI. Larry Wilkerson (coronel do Exército aposentado e ex-chefe de gabinete do secretário de Estado, Colin Powell), comparou a possibilidade dos Cinco serem julgados de forma imparcial e justa, em Miami, com "as chances de um israelense acusado obter justiça em Teerã".
Bebemos chá gelado engarrafado, doce demais. Chavela trouxe mais batatas fritas.
Gerardo reanimou o ambiente contando um incidente ocorrido na década de 1980, quando era tenente em Cabinda, Angola, escoltando oficiais cubanos a um jantar com importantes soviéticos, que se encontravam em visita. "Eu disse ao meu coronel, que tinha memorizado um pequeno poema de Mayakovsky, em russo (dos seus dias de estudante) e poderia recitá-lo para os oficiais soviéticos".
Ele recitou o poema em russo. Todos o aplaudiram. Ele sorriu. "Eles estavam assando um porco e tinham garrafas de bebida, era uma festa".
"Eu recitei o poema. O coronel soviético abraçou-me, beijou-me em ambas as faces, muito animado. Eu tive que repetir o meu desempenho para os outros oficiais. Finalmente, o coronel cubano disse-me que eu já havia aproveitado bem a situação e eu me mandei".
Duas horas se passaram rapidamente. Esperamos os guardas nos chamem. Gerardo ficou de pé. Nós distanciamo-nos. Gerardo, junto com outro prisioneiro, próximo a porta da cela. Saudamos com um aceno. Ele respondeu de igual maneira. A irmã dele, soprou-lhe um beijo. Ele abriu um largo sorriso, tranquilizador, como que lembrando-nos: "Mantenham-se firmes".
Fonte: PROGRESO SEMANAL

Tradução: Robson Luiz Ceron - Blog Solidários.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Vai-se fechando o círculo da verdade sobre a grande conspiração imperialista do século

Os Documentos da Wikileaks


Vários aspectos relevantes ressaltam do conteúdo dos mais de 91 mil documentos secretos, divulgados no passado dia 25/7, pelo site “Wikileaks” e relacionados com o dia-a-dia da guerra nos últimos anos (de Janeiro de 2004 até Dezembro de 2009), conduzida pela dupla EUA/Nato no Afeganistão.

Com interesse directamente militar e geo-estratégico, estes relatórios secretos do exército estadunidense ocupante revelam um grande crescimento da força e do apoio das populações afegãs à resistência dos talibãs, dificuldades e falhas na condução das acções no terreno, utilização pela resistência de mísseis detectores de calor, tipo “Stinger” (responsáveis pelo abate de helicópteros CH-47), há queixas dos próprios militares dos EUA e boa parte do material divulgado também apresenta queixas de funcionários e de civis afegãos, acusando de corrupção agentes e membros do governo. Enfim, há reclamações sobre tropas mal equipadas, autoridades corruptas e sobre tropas americanas que parecem aguardar mais homens e mais recursos para lutar. Os documentos também sublinham que as numerosas e constantes mortes de civis, causadas pelos já clássicos “efeitos colaterais”, alienaram o apoio inicial de muitos dos afegãos a esta guerra.
Todos estes problemas evidenciados nos relatórios - um talibã resistente, bem apoiado logísticamente e com armas sofisticadas, os problemas de fronteira com o Paquistão e um governo ineficiente e corrupto - são apontados como as principais causas das dificuldades dos militares norte-americanos no terreno, que também reclamam estarem envolvidos numa guerra muito dura e sem os recursos suficientes, etc, etc. Isto é, estes documentos, na sua crueza operacional, relatam como a guerra está a ser perdida pelos agressores ocupantes, mesmo quando estes já estão recorrendo a unidades militares comandos, especialmente constituídas para sequestrar e executar, sem prisão ou direito a julgamento, de forma descaracterizada e clandestina, os dirigentes locais da resistência ou quem eles entendem que o são, actuando como vulgares “esquadrões da morte”.
Mas esta documentação, “vazada” numa das maiores fugas de informação classificada da história do exército americano em combate, menciona também um outro aspecto desta guerra, mais de carácter político e diplomático/serviços de inteligência que merece uma análise atenta, pelas “pontes” que estabelece com toda a história política daquela região do mundo e, mais relevante ainda, pela clara ligação que estabelece com a estratégia global do terror, concebida e dirigida pelo imperialismo nos últimos nove anos. Trata-se daquilo que os autores dos relatórios consideram ser o apoio de tropas do Paquistão aos rebeldes no território do Afeganistão, sugerindo que o serviço de espionagem do Paquistão pode estar ajudando os talibãs a planear e a realizar ataques contra as forças da “coligação ocidental” naquele país.
Alguns relatórios apontam também a cooperação dos paquistaneses com a organização terrorista Al-Qaeda, embora oficiais da inteligência americana digam – como, no imediato, lhes convém dizerem - que há alguns anos o Paquistão cortou o contacto com os grupos talibãs. O material, porém, sugere – com nomes e pormenores - que a direcção do Inter Serviços de Inteligência paquistanesa, conhecido também como ISI, pode ter realmente ajudado os rebeldes. Os documentos detalham várias ocasiões de cooperação no passado entre o general Hamid Gul, chefe do ISI e os fundamentalistas afegãos, no fim da década de 80, quando estes lutavam contra os militares soviéticos nas regiões montanhosas do leste do país. Segundo essas informações, à época o general auxiliava combatentes mujaheddins e tentava estabelecer contacto com Gulbuddin Hekmatyar e Jalaluddin Haqqani, dois dos maiores líderes insurgentes do Afeganistão. Além dos últimos dois, Gul também fez contactos directos com Mohammed Omar, actual líder do Taliban.
A imprensa estadunidense, particularmente o “N.Y.Times”, vem sublinhando estas partes dos documentos divulgados pelo “Wikileaks”, para enfatizar a tese da actual colaboração dos serviços secretos e militares paquistaneses com os talibãs afegãos. Mas toda a “história” é bem mais vasta e comprometedora, envolvendo directamente os serviços secretos dos EUA nas actividades dos seus congéneres paquistaneses. Vale a pena recordar alguns factos, hoje ignorados pelos meios de imprensa dominantes.


O papel do Paquistão


A história do Paquistão, desde a sua artificial criação pelo colonialismo imperialista britânico em 1947, tem sido uma sucessão de regimes autoritários e ditatoriais militares, entremeados por alguns curtos períodos de regimes civis e constitucionais, configurando um Estado de maioria muçulmana que sempre se afirmou como gendarme dos interesses das potências imperialistas na região, logo desde início contra a vizinha Índia, país que durante muitos anos desempenhou um papel destacado no Movimento dos Países Não-Alinhados. Por esta razão os militares paquistaneses - “forma(ta)dos” nas escolas militares norte-americanas – obtiveram mais tarde acesso ao armamento nuclear, numa ameaça constante contra outros países asiáticos e com um historial de guerras e escaramuças quase constantes contra os indianos, em torno do problema da disputa sobre Caxemira, uma autêntica bomba-relógio deixada pelos britânicos propositadamente nas mãos dos dois países contendores. É também consequência de linhas de fronteira fictícias, arbitrariamente traçadas pelos colonialistas ingleses, a existência constante de divisões e conflitos de origem étnica-tribal, conflitos que acabaram por conduzir à secessão do Bangladesh, após uma nova guerra (a terceira) contra a Índia, em 1971 e depois de uma prolongada guerra civil que vitimou centenas de milhares de oposicionistas dos dois lados – partes Oriental e Ocidental do Paquistão - do conflito interno.
A derrota militar paquistanesa favoreceu a ascensão ao poder de um civil, Ali Bhutto (1972-77), que desde o início quis realizar um processo de nacionalizações e de reforma agrária – nacionalizou todos os bancos em 1974 -, o que originou um novo golpe militar e a sua prisão e condenação à morte (em 1979), tomando o poder o general Muhammad Zia-ul-Haq (1977-88), um homem da confiança dos EUA, não obstante a feroz repressão islamita que ordenou por todo o país. Após mais uma década preenchida por curtos períodos “democráticos”, pontuados pelos governos de Benazir Bhutto, filha do sentenciado Ali Bhutto, um novo golpe dos militares, em 1999, faz ascender ao poder o general Pervez Musharraf (1999-2008). Na sequência do assassinato a tiro de Benazir Bhutto, (Dezembro/2008), candidata (do PPP) às eleições que se realizariam em Janeiro/2009, o período de instabilidade que se seguiu levou à renúncia de Musharraf, sendo este substituído por um novo civil, o actual presidente Asif Ali Zardari (PPP), escolhido numa “eleição” indirecta.

Voltando às revelações dos documentos “vazados”, quanto às referências sobre o envolvimento na década de oitenta do general chefe do ISA na guerra no Afeganistão, tem interesse observarmos a situação entretanto vivida nestes serviços de inteligência paquistaneses. De facto, nessa época foi criada no ISI uma secção especial afegã, sob o comando do coronel Mohammed Yousaf, para super-visionar a coordenação da guerra dos mujahedins contra o regime pró-socialista de Babrak Karmal, que tinha pedido apoio militar à vizinha União Soviética. Um grande número de funcionários do ISI receberam formação nos EUA e muitos especialistas da CIA foram anexados ao ISI para guiá-lo em suas operações contra as tropas soviéticas do Afeganistão, usando e manipulando os mujahedins. O mencionado general Hamid Gul, que trabalhou estreitamente com a CIA no período mencionado (88/89), foi substituído em 1991, durante o governo de Benazir Bhutto, pelo general Shamsur Kallu, como chefe do ISI.
Sucederam-se à frente do poderoso serviço secreto paquistanês outros generais - num total de dez (!), com um tempo médio na função inferior a dois anos... - numa cadência que acompanha as sucessivas perturbações políticas e trocas de facções no poder, confirmando o carácter da permanente conspiração interna vivida no país. Com os sucessivos chefes do regime militar paquistanês designando generais de sua confiança para dirigirem o ISI, mas todos eles sempre umbilicalmente ligados à diplomacia e aos serviços secretos estadunidenses. Actualmente (desde Setembro de 2008), chefia estes serviços o general Ahmed Shuja Pasha, um indivíduo que oficiais da inteligência indiana acusaram na época de estar por detrás da organização da operação terrorista que, em 26 de Novembro/2008, concretizou ataques a sete alvos específicos em Mumbai.
Este emaranhado novelo conspirativo, envolvendo a ligação e cooperação constantes entre as secretas norte-americana e paquistanesa - ligações nas quais o papel de comando pertence sempre à CIA -, preenche milhares e milhares de páginas na imprensa e na net, com relatos, investigações jornalísticas e também materiais de contra-informação, envolvendo empresas privadas de segurança, empresas de mercenários, negócios de armas e de drogas, tornando a tarefa de os interpretar um autêntico trabalho de Sísifo, uma tarefa nunca concluída, uma pesquisa nunca inteiramente aclarada.



“Ligações (muito!) Perigosas”(e significativas)


Entretanto, importa agora focarmos a atenção sobre o período de Out./99 a Out./2001, no qual entra em cena uma personagem central na permanente articulação entre a CIA estadunidense e o ISI paquistanês para as missões operacionais e a quem será cometida uma missão muito especial: o general Mahmud Ahmed. Ele que, juntamente com outros generais, garantiu o êxito do golpe de Estado (12 de Outubro/1999) que derrubou o governo eleito de Nawaz Sharif e entregou o poder ao general Pervez Musharraf, que imediatamente a seguir o designou como o novo chefe do ISI. Dois anos depois, antes de ser “oportunamente” substituído (em Out./2001), este general "amigo" irá a desempenhar um papel central na “Operação 11 de Setembro”.

Durante toda aquela semana do 11 de Setembro de 2001, Mahmud Ahmed está em Washington, onde tem encontros com diversas individualidades do governo de George Bush: no Departamento de Estado, com Stephen Hadley (ou mesmo Condolencia Rice); com membros do Conselho Nacional de Segurança; com Peter Rodman, membro do PNAC e ex-assistente de Henry Kissinger; com o Director do DIA ( na época - o Vice-Almirante Thomas R. Wilson); com o senador Bob Graham e com o congressista Porter Goss (três anos mais tarde nomeado Director da CIA, o primeiro a ser nomeado após a assinatura do Intelligence Reform and Terrorism Prevention Act) - estes dois personagens (muito curiosamente!), irão encabeçar a Comissão Conjunta de Investigação 11/S; com o general Tommy Franks, comandante da CENTCOM; e ainda, por teleconferência, com Paul Wolfowtiz , membro do PNAC e secretário da Defesa; com Douglas Feith; com Peter Flory, secretário para os Assuntos Segurança International; com o capitão Paul Hulley, secretário para os Assuntos do Oriente Médio e Sul da Ásia; com um representante do SOLIC (Special Operations & Low Intensity Conflict); com outro representante da Junta de Chefes do Estado-Maior. É caso para dizer que muito importante era a sua tarefa, para se encontrar com tanta gente e tão graúda!

Segundo outros relatórios independentes, no âmbito de investigações que mobilizaram numerosas personalidades democráticas norte-americanas – jornalistas, académicos, cientistas, entidades dos movimentos pacifistas, etc – apuraram-se factos reveladores da ligação deste chefe dos serviços secretos do Paquistão com os alegados autores do sequestro e embate das aeronaves com as torres gémeas de Nova Iorque naquela data. Com efeito, ficou estabelecido que, sob as ordens do general Mahmud Ahmed, um cidadão britânico nascido paquistanês e conhecido terrorista, chamado Ahmed Umar Sheikh, enviou 100.000 dólares do Paquistão para uma conta bancária nos EUA, em nome de Mohammed Atta, nome propagandeado pelo governo de George Bush como sendo o do sequestrador e terrorista cabecilha da acção, membro da Al Qaeda e cumprindo as ordens do seu líder, Osama bin Laden.
Menos de um mês depois da operação nas torres gémeas (7/Out/2001), tem início a invasão do Afeganistão, liderada pelos Estados Unidos e à revelia das Nações Unidas que não autorizaram a invasão do país. O objetivo declarado da invasão, segundo a propaganda imperialista, era encontrar Osama bin Laden e outros membros da Al Qaeda e, de caminho, destruir toda a precária organização política existente e remover do poder o regime talibã, regime que alegadamente lhes dera apoio para realizarem os atentados em Nova Iorque, garantindo assim a instalação no poder de um presidente fantoche às ordens.



Uma colossal mistificação "Bin-Ladiana"


Detenhamo-nos agora um pouco sobre estas duas entidades, hoje irreais e fantasmáticas, utilizadas até à exaustão nas linhas de intervenção ideológica que o imperialismo promove junto da opinião pública mundial, através da grande imprensa que controla, de filmatografia “subsidiada” e de livros e publicações sobre as mais variadas temáticas sociais (políticas, sociológicas, culturais, etc), encomendadas a universitários que “subsidia” generosamente. Vejamos, por comodidade, o que se pode ler numa rápida pesquisa na Wikipédia, sobre a Al Qaeda:

“A Al-Qaeda (a base) é uma organização terrorista que pretende eliminar a influência ocidental nos países muçulmanos para no seu lugar instalar uma sociedade baseada no fundamentalismo islâmico. Nesse sentido incita a uma jihad (guerra santa) global para derrubar regimes de países de população predominante árabe ou muçulmana que considera corruptos ou anti-islâmicos. O objectivo é criar uma nação única muçulmana regida pela sharia (a lei islâmica). Países como os Estados Unidos da América são considerados inimigos porque impedem a criação da nação muçulmana ao tornarem-se aliados de governos considerados corruptos”.


Sobre Osama bin Laden, milionário e filho de Muhammed Awad bin Laden, o homem considerado o mais rico da Arábia Saudita (depois do rei!) e cuja família, em razão de negócios comuns na área do petróleo, se tornou visitante e amiga chegada da família Bush-pai [deste, lembremos: ex-director da CIA (1976/77), vice de Ronald Reagan (1981/89) e presidente dos EUA (1999/1993)], também podemos ler:


“(...) um saudita que viria a ser o líder da organização, foi um dos muitos muçulmanos deslocados para o Afeganistão para combater os invasores soviéticos. Ele próprio se auto-designou líder da jihad, tendo coordenado o grupo que orientava as brigadas muçulmanas internacionais que combatiam no Afeganistão.Em 1989, ano em que os soviéticos retiraram do Afeganistão, Bin Laden formou a Al-Qaeda, rodeado por combatentes afegãos mujaedines. Nesse mesmo ano, regressou à Arábia Saudita, onde em 1991 se opôs à presença das tropas norte-americanas durante a guerra do Golfo. Em Abril desse ano mudou-se para o Paquistão, de onde passou em 1992 para o Sudão, uma nação que seguia à risca o islamismo. Até 1996, Bin Laden, suportado pela sua imensa fortuna pessoal, formou uma enorme rede terrorista internacional, com células e elementos em cerca de 45 países (sic!).”


As duas citações são suficientes para ficar estabelecida a imagem da “organização” e do seu "chefe" bem como as suas "incomensuráveis" e omnipresentes capacidades. Ou seja, um capitalista milionário saudita e a sua nóvel "organização terrorista" passam a ser considerados, por um passe de prestidigitação, as mais relevantes entidades do “Eixo do Mal” papagueado pelos propagandistas estadunidenses; seguido por um grupo de 100/200 fiéis (os números diferem, segundo as “fontes”...), Osama bin Laden passa a autor e responsável por inúmeros atentados e acções terroristas em dezenas de países, conseguindo até essa suprema qualidade de ser responsabilizado com efeitos retroactivos aos acontecimentos do 11/Setembro! Observemos essa extensa lista, mesmo que incompleta, divulgada em sítios "informativos" da net e ordenada cronologicamente:


-já no início da década de 80, ainda quando estabelecido no Sudão, financiou, de forma inicialmente discreta, algumas acções na Argélia e no Egipto.


-Depois, mudando-se para Peshavar (na região noroeste do Paquistão), surge como líder dos mujaedins que no Afeganistão promovem a subversão do regime pró-socialista de Babrak Karmal. Em 1984, já se encontra no Afeganistão, num acampamento de militantes fundamentalistas.


-O primeiro atentado bombista de que é acusado foi a 29 de dezembro de 1992, um ataque ao Mihor Gold Hotel, em Aden, no qual duas pessoas foram mortas.


-Em 1995, é acusado de um atentado mal sucedido contra a vida do presidente do Egipto, Hosni Mubarak.
-Bin Laden está por detrás e financia o massacre de Luxor, em 17 novembro de 1997, que matou 62 civis.


-A partir do Afeganistão (!?), em 7 de Agosto de 1998, a Al Qaeda é acusada de utilizar carros-bomba para explodir duas embaixadas estadunidenses, uma no Quénia e outra na Tanzânia, matando no total 256 pessoas e ferindo 5100 pessoas.


-Em dezembro de 1998, o director da CIA informa o presidente que a Al-Qaeda estava preparando-se para ataques no EUA, incluindo o treinamento de pessoal para (atenção!)sequestrar aviões.


-Em 12 de Outubro de 2000, a Osama/Al Qaeda volta a "entrar em cena", perpetrando outro ataque de grande repercussão, agora contra o navio da marinha americana USS Cole, que se encontrava atracado para reabastecimento no porto de Aden, no Iémene. O ataque provocou a morte de 17 militares americanos, além dos dois terroristas suicidas. Ao ser apontado - no mesmo dia! - pelo governo dos EUA (e depois pelos governos do Quénia e Tanzânia) como o principal suspeito, Osama bin Laden tornou-se o terrorista mais procurado pelos Estados Unidos da América.

Curiosamente (ou talvez nem tanto), um ano depois - forte e livre como um pássaro! - voltaria a ocupar a ribalta, agora acusado de ser o responsável pelo "11/S". Imediatamente a seguir, funcionários do governo EUA, nomeando Osama bin Laden e a Al-Qaeda como os principais suspeitos, oferecem uma recompensa de US $ 25 milhões por informações que levem à sua captura ou morte. Em 13 de julho 2007, este número foi dobrado para US $ 50 milhões! Mesmo com tanta "massa" prometida, ninguém o apanha...


-No final de 2000, Richard Clarke (Conselho Nacional de Segurança/EUA) revelou que Osama bin Laden tinha planeado um ataque triplo (sic) em 3 de Janeiro de 2000 , que incluia atentados na Jordânia, ao Radisson SAS Hotel, em Amã, contra turistas no monte Nebo (Jordânia), o afundamento do destróier USS The Sullivans, no Iémene, assim como um ataque contra um alvo (indeterminado...) dentro dos Estados Unidos. O plano foi frustrado pela prisão do terrorista jordano Ahmed Ressam e naufrágio do bote cheio de explosivos destinados ao atentado (muito boa...!).

-Até nos Balcãs: um ex-funcionário do Departamento de Estado, em Outubro de 2001, informa que Bósnia e Herzegovina como um refúgio seguro para os terroristas, após ter sido revelado que elementos militantes do antigo governo de Sarajevo estavam protegendo extremistas, alguns com vínculos com Osama bin Laden...

Isto é, a partir de 2001 e desde então praticamente todos os anos - não obstante outras notícias, testemunhos e análises, que sustentam que Osama bin Laden está morto e enterrado - vão surgindo sempre "informações", artigos, relatos que continuam a atribuir-lhe mais atentados, mais acções terroristas em mais países, na Europa, no Médio-Oriente, em África, no Extremo-Oriente:

-Um esquema para atacar a Embaixada de Paris, que foi descoberto;

-uma tentativa de atentado de um homem com um sapato-bomba, Richard Reid, que se auto- proclamou um seguidor de Osama bin Laden e quase destruiu (?!) o vôo 63 da American Airlines.
-Um esquema para atacar as embaixadas de Singapura;
-O sequestro e assassinato do repórter Daniel Pearl do Wall Street Journal e várias explosões no Paquistão;
-O atentado à sinagoga de El Ghriba em Djerba, Tunísia, que matou 21 pessoas;
-Ataques frustrados às esquadras ocidentais no Estreito de Gibraltar;
-O atentado ao tanque Limburg (?);
-Um carro bomba keniano em Mombassa, Kenia, e a tentativa de abater um avião israelense, em Novembro de 2002;
-As explosões simultâneas em Riyadh, em Maio de 2003 e outros atentados na Arábia Saudita;
-As explosões em Istambul, Turquia, em 2003.
-A Al-Qaeda, em colaboração com extremistas indonésios, é responsável por atentados em Bali , em Outubro de 2002 e de novo em 2005.
-Os atentados a trens urbanos de Madrid, em 11 de março de 2004, segundo um jornal de Londres que relatou ter recebido um e-mail de um grupo afiliado à Al-Qaeda, assumindo a responsabilidade(?!)
-As explosões de 7 de Julho de 2005, em Londres, porque um grupo até aí desconhecido e denominado "A Organização Secreta da Al-Qaeda na Europa" (esta, está muito boa!) fez uma declaração responsabilizando-se(...?!)

-Os atentados de Sharm el-Sheikh, no Egito, em 23 de Julho de 2005, nos quais uma série de carros bombas mataram cerca de 90 pessoas e feriram mais de 150.
-Os três atentados simultâneos, em 9 de Novembro de 2005 em Amã, Jordânia, que ocorreram em hotéis norte-americanos, matando pelo menos 57 e feriram 120 pessoas.

Mas o homem não se fica por aqui; passa a aparecer em vídeos e através de "comunicados", ameaçadores uns, negociais outros... Vejamos algumas destas "aparições".

-2006
19 de Janeiro: Bin Laden ameaça os Estados Unidos com novos atentados e afirma que há operações em preparação no seu solo, mas também oferece uma "trégua de longa duração" ao povo americano (gravação áudio).
30 de Junho - Bin Laden exige ao presidente americano George Bush que entregue o corpo de Abu Musab Zarqawi, morto num bombardeio americano, à sua família e promete que a "Jihad" no Iraque continuará, mesmo sem ele (gravação áudio).
2007
15 de Julho - Bin Laden faz um elogio aos mártires, declarando: "Feliz aquele que foi escolhido por Alá para ser um mártir" (vídeo, cuja data não foi determinada)

2008
16 de Maio - Bin Laden apelou à continuação da luta contra os israelitas e os seus aliados e a que os muçulmanos não desistam do território palestiniano. Segundo noticia a Reuters, a mensagem áudio, de dez minutos, foi difundida pela internet, num site islamita, e é atribuída ao líder do grupo terrorista al-Qaeda...

Para procurarmos fechar "com chave d'ouro" estas "informações", evidentemente dignas de todo o crédito, já no corrente ano o FBI divulgou uma imagem que seria a representação imaginada da aparência de Bin Laden na actualidade. Descobriu-se, entretanto que se tratava da manipulação de uma fotografia do político espanhol Gaspar Llamazares (coitado dele!), dirigente da I.U..

Mais recentemente - com propósitos demasiadamente óbvios...! - , surgiu outra "informação", esta dos serviços da Mossad israelense: segundo os serviços da inteligência israelita, Osama Bin Laden não esteve escondido na região fronteiriça entre o Afeganistão e o Paquistão como comumente se acreditava, mas numa região remota do Irão, já faz cinco anos.
E, segundo a "notícia", a inteligência turca supostamente sabia que o líder da Al- Qaeda estava morando em Savzevar, uma cidade nas montanhas e que Ayman al-Zawahiri está declaradamente com ele. Desta forma - tão "inteligente" e tão "credível"! -, Israel está a tentar convencer o governo dos Estados Unidos (!?!!) que a Al- Qaeda está ligado ao governo iraniano e que foi Teerão que esteve abrigando um dos mais procurados terroristas (de todos os tempos, ámen!)
Mas nesta enorme mistificação, planeada e dirigida pelos serviços secretos estadunidenses e amplificada pelos canais comunicacionais ao serviço do imperialismo, precavendo-se os seus autores talvez para um próximo capítulo, no qual já não lhes seja possível manter vivo o mito "Osama bin Laden", já preparam um sucessor. No passado dia 6/8, surgiu a "notícia":
"O grupo terrorista Al Qaeda tem um líder emergente, que já está sendo apontado como o provável sucessor de Osama Bin Laden. E o que é pior, Anwar al-Awlaki nasceu nos Estados Unidos (no estado do Novo México) e exerce grande influência nos seus jovens interlocutores. Segundo a rede de televisão CNN, que transmitiu um programa sobre a nova estrela da facção, com base em fontes de investigação do próprio governo americano, Anwar tem usado seu inglês fluente e sua capacidade de persuasão para inspirar futuros terroristas também no Ocidente." (fim de citação...)
Terminemos por aqui esta já longa digressão sobre as fantásticas pantominices que vão dando lastro para prosseguirem, em toda a comunicação "social" dominante, com a pressão ideológica das teses do Terror e do Terrorismo, um autêntico filão da propaganda imperialista, usado até à exaustão, até à nausea, como temos visto. Então, observemos agora e mais concretamente os objectivos de toda esta "história" - aliás, pessimamente contada - , os seus reais autores, bem como os seus planos e propósitos, imediatos e a mais longo prazo.




A Grande Conspiração Imperialista

A grande conspiração imperialista está em marcha, apoiada pela oligarquia financeira transnacional e concretizada pela facção fascista no poder estadunidense, ao serviço do complexo militar-industrial e dos seus tentáculos mafiosos - nas áreas da logística militar, das empresas de segurança, dos grupos económicos de "reconstrução" civil das cidades e áreas devastadas pelos criminosos bombardeamentos dos "aliados ocidentais" EUA/Nato, e, claro, das multinacionais petrolíferas -, uma conspiração em curso desde a grande operação terrorista de Estado, planeada e executada em Nova Iorque, no dia 11 de Setembro de 2001.

Sob o comando de um trio de criminosos que se constituíram no vértice do poder político estadunidense - George Bush, Donald Rumsfeld, Dick Cheney - um vasto plano de liquidação das liberdades e direitos políticos do povo norte-americano foi posto em marcha, após a operação de implosão das duas torres gémeas (que desabam uma a seguir à outra), da implosão do edifício 7, uma estrutura que, tudo o indica, abrigou o comando de operações nesse dia e nos dias anteriores da sua preparação ( um edifício com dezenas de andares e que cai inteiramente em 6 segundos, sem avião, sem incêndio, sem nada!), do arremesso de um míssil sobre uma ala do Pentágono para simular uma outra aeronave (cujos destroços ninguém viu...) e do "despenhamento" de um avião sequestrado, na Pensilvânia, cujo alvo era o Capitólio - o voo 93 que, na verdade, aterrou normalmente no seu aeroporto de destino.
Em paralelo com a supressão dos direitos democráticos mais elementares dos norte-americanos e correspondente montagem de um vasto e tenebroso aparelho de segurança e repressão violenta das liberdades no interior dos EUA - segundo algumas fontes, desde o 11/S e por sua causa, o negócio global das empresas de segurança já atingiu os três trilhões de dólares -, o imperialismo desencadeou uma ofensiva militar sem precedentes quanto à sua envergadura e meios militares envolvidos, atacando, ocupando e ameaçando vários países da Ásia Central: ainda nesse ano, em Out./2001, invade o Afeganistão, e, em Março de 2003, invade e ocupa o Iraque - com a chacina de centenas de milhares de civis iraquianos e a total e deliberada destruição das infra-estruturas do país.

Desde esse autêntico golpe terrorista de Estado em 11/Setembro/2001, data que se tornou crucial nos desenvolvimentos posteriores da História Mundial Contemporânea, o governo dos EUA, apoiado pelos seus aliados - especialmente os integrantes da aliança militar ofensiva, a Nato -, ameaça permanentemente o Irão com uma nova agressão militar, ao mesmo tempo que chantageia o seu "aliado" na região, o Paquistão; faz provocações e ameaças de agressão contra a Coreia do Norte; sustenta uma presença agressiva e conspiratória em outros continentes, particularmente na América Latina e pressiona todos os governos capitalistas a curvarem-se, nos planos diplomático, político, económico-financeiro e militar aos seus ditames imperiais.


Não é propósito deste post desenvolver os contornos práticos do golpe, aliás abundantemente divulgados por numerosas fontes independentes, com entrevistas, com dados técnico-científicos, com depoimentos de personalidades de variadas áreas, com gravações vídeo locais, etc, com uma abundância de pormenores que nos deixa quase estarrecidos perante o impune descaramento da sua deliberada e sistemática ocultação pelos grandes meios de comunicação, tanto os nacionais como os mundiais. Tais aspectos práticos podem ser vistos em materiais editados na net, dos quais é um bom e útil exemplo este editado em: http://video.google.com/videoplay?docid=-2282183016528882906#. Longo (duas horas), com uma larga introdução histórico-filosófica, pela sua qualidade e havendo o tempo disponível necessário, vale bem a pena visioná-lo.
Desde então, já passada quase uma década, os termos "terrorismo", "terroristas", "atentado terrorista", "ameaça terrorista", passaram a ser os jargões mais utilizados pelo linguajar de todo o aparelho mediático global ao serviço do capital imperialista, visando de forma ostensiva a intimidação, a propagação de um sentimento difuso de permanente insegurança, o medo; a criação de um clima de permanente terror, de pânico, que conduza grandes massas populacionais de todos os continentes à sujeição passiva, receosa e resignada, conducentes à aceitação de novas medidas e acções repressivas que, nos EUA, já configuram claramente um contexto político-ideológico neofascista e que, no exterior, o poder imperialista pretende impôr sobre todos os povos do planeta, usando os préstimos dos seus governos burgueses de turno.

Desenterrar a verdade dos factos, soterrada por montanhas de noticiários e artigos mistificatórios tornados "a verdade oficial", e, colocar a nú os objectivos desta tenebrosa conspiração do imperialismo, libertando-a das máscaras e biombos que visam ocultar a realidade dos olhos e das consciências de biliões de seres humanos, não é evidentemente uma tarefa simples e fácil. Mas, entretanto, na renhida e constante batalha das ideias que travamos, todos podemos contribuir para que sejam derrotados os maquiavélicos planos dos criminosos imperialistas e os seus propósitos hediondos de escravização da Humanidade. Um infame sucesso daqueles seus planos corresponderia a um novo período de trevas e de barbárie.

O tempo urge - e as nossas palavras, os nossos gestos, devem corresponder inteiramente à gravidade das ameaças do presente, contribuindo activamente para o desmascaramento e derrota da grande conspiração imperialista deste século.

sábado, 7 de agosto de 2010

Faleceu António Dias Lourenço - Herói do PCP

Muito sentidamente, transcrevo a nota do Secretariado do CC do PCP sobre a morte do camarada António Dias Lourenço, grande dirigente histórico do Partido e um dos seus heróis, um militante revolucionário que os comunistas portugueses nunca esquecerão e sempre nos acompanhará, no presente e no futuro, nas lutas a travarmos. Salvé, camarada Dias Lourenço!
O Secretariado do Comité Central do Partido Comunista Português informa, com profunda mágoa e tristeza, do falecimento hoje, dia 7 de Agosto, aos 95 anos, de António Dias Lourenço, um dos mais destacados dirigentes comunistas da história do PCP que dedicou a vida à luta da classe operária, dos trabalhadores e do povo português, à luta do seu Partido contra o regime fascista, contra a exploração, pela liberdade, pela democracia, por uma sociedade nova, o socialismo e o comunismo.
Nascido em Vila Franca de Xira em 1915, torneiro mecânico de profissão, Dias Lourenço, que começou ainda criança a vida de operário, aderiu ao Partido Comunista Português em 1932, com 17 anos de idade.
António Dias Lourenço teve activa participação na reorganização do Partido de 1940/41, nomeadamente no Baixo Ribatejo (onde integrou o respectivo Comité Regional), tendo-se tornado funcionário do Partido e passado à vida clandestina em 1942, assumindo a responsabilidade de tipografias e do aparelho central da distribuição da imprensa do Partido.
Ainda antes, no começo dos anos 40, assumiu papel importante na organização dos «Passeios no Tejo», com a participação de Álvaro Cunhal, Soeiro Pereira Gomes, Alves Redol e outras destacadas figuras da cultura, encontros que permitiram estreitar laços entre intelectuais e operários e impulsionar o movimento neorealista e a luta antifascista.
Eleito para o Comité Central em 1943 (do qual foi membro até 1996), Dias Lourenço integrou organismos dirigentes das grandes greves de Julho e Agosto de 1943 e de Maio de 1944 e esteve ainda ligado a outras grandes acções de massas como o 1º de Maio de 1962 e a luta pela conquista das 8 horas de trabalho nos campos. Responsável antes do 25 de Abril por várias organizações do Partido (Alentejo, Algarve e Beiras) Dias Lourenço assumiu depois da Revolução a responsabilidade pelas Organizações Regionais do Oeste e Ribatejo e das Beiras.
Foi representante do Partido no Conselho Nacional do MUNAF.
António Dias Lourenço integrou o Secretariado do Partido entre 1957 e 1962, e foi membro da Comissão Política em 1956 e entre 1974 e 1988. Foi responsável pelo «Avante!», Órgão Central do PCP, de 1957 a 1962, ano da segunda prisão, e seu Director desde a publicação do primeiro número legal em 1974 até 1991.
Preso duas vezes, em 1949 e 1962, Dias Lourenço passou 17 anos nas prisões fascistas, tendo protagonizado uma das mais audaciosas fugas ao evadir-se do Forte de Peniche em 1954.
António Dias Lourenço foi Deputado entre 1975 e 1987, tendo feito parte da Assembleia Constituinte.
Deixa-nos editadas valiosas obras ligadas à luta como «Vila Franca de Xira: um concelho no país – contribuição para a história do desenvolvimento socio-económico e do movimento político-cultural», «Alentejo: legenda e esperança», e ainda «Saudades... não têm conto! - Cartas da prisão para o meu filho Tónio».
Um dos mais destacados exemplos da resistência ao fascismo, da luta pela liberdade, democracia e transformações revolucionárias de Abril, Dias Lourenço deixa um exemplo de inquebrantável combatividade e firmeza na luta política que as gerações de comunistas, presente e futuras, saberão honrar.
O Secretariado do Comité Central endereça à família as suas sentidas condolências.