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sábado, 5 de março de 2016

Tatiana Khabarova e a importância da Filosofia na luta de classes


No combate político das classes, parte importante da luta ideológica que os comunistas travam fundamenta-se nos alicerces filosóficos do marxismo-leninismo.
Daí o interesse da publicação deste novo texto de Tatiana Khabarova (Secretária-coordenadora da Plataforma Bolchevique no PCUS, doutorada em Ciências Filosóficas)  intitulado "O marxismo e o bolchevismo na URSS pós-Stáline: torpor e ruptura",  proferido em 4 de Dezembro de 2009.

Texto integral aqui http://hist-socialismo.blogs.sapo.pt/o-marxismo-e-o-bolchevismo-na-urss-45473


(...) III - Falemos agora daquilo a que, no nosso trabalho de esclarecimento, infelizmente, não prestamos a devida atenção: trata-se de questões propriamente filosóficas. Isto apesar de ser doutorada não em ciências económicas, mas filosóficas, e apesar no campo da filosofia terem sido colocados tantos paus na engrenagem, ao longo da guerra informativa-psicológica, que pela sua nocividade não ficaram muito atrás das «reformas» de Liberman ou do «Programa» de construção do comunismo até 1980.
Perguntareis: mas que malandrice se pode fazer na filosofia? Há muitas malandrices que se podem fazer. Não foi por acaso que V.I. Lénine escreveu o livro Materialismo e Empiriocriticismo nas vésperas da revolução russa.
Comecemos com uma pergunta: o que é que aconteceu na filosofia em meados dos séculos XIX, com o surgimento e afirmação do marxismo?

Aconteceu uma das mais importantes transformações em mais de dois séculos da sua história: tornou-se um sistema de conhecimento político-prático de «Estado». Cumpriu-se a predicação de Platão, grande pensador da antiguidade, que na sua obra, A República, escreveu:

«Enquanto os filósofos não forem reis nas cidades, ou aqueles que hoje denominamos reis e soberanos não forem verdadeira e seriamente filósofos, enquanto o poder político e a filosofia não convergirem num mesmo indivíduo, enquanto os muitos caracteres que actualmente perseguem um ou outro destes objectivos de modo exclusivo não forem impedidos de agir assim, não terão fim (…) os males das cidades».

Desde tempos imemoriais que a humanidade se coloca o problema da «união entre o poder e o conhecimento». Era indiscutível, em termos genéricos, que o poder devia ter a bênção da razão e apoiar-se na sua autoridade. Mas qual seria a natureza desse conhecimento, do qual imanasse a sanção da racionalidade e espiritualidade das instituições políticas e das acções políticas?
Durante milhares de anos a religião desempenhou a função de apoio intelectual e espiritual do poder. Mas no final do século XVIII – o século do iluminismo – o papel do pensamento religioso enquanto princípio racional da prática sociopolítica não só estava esgotado como seriamente comprometido, e as suas pretensões de continuar a orientar os processos sociopolíticos foram definitivamente rejeitadas.
Ao surgir na boca de cena da história mundial, a burguesia chamou a si as «ciências positivas» – as ciências naturais – com aliado prático-ideológico. Assim, segundo Sant-Simon, era necessário «terminar a revolução com o estabelecimento de um novo sistema político, baseado na indústria, como novo elemento temporal, e nas ciências experimentais, como novo elemento espiritual», confiar o poder temporal aos industriais e o poder espiritual aos cientistas.
Aliás, as «ciências positivas», logo às primeiras tentativas, revelaram-se não estar à altura da missão de «novo poder espiritual». Faltam-lhe claramente aquilo que permitiu à religião conservar durante tanto tempo o seu carácter insubstituível e indispensável: o debruçamento sobre o mundo interior do indivíduo e os seus princípios morais, sobre a questão do sentido da existência humana, tanto individual como colectiva.
Ludwig Feuerbach, o precursor mais próximo do marxismo captou e exprimiu com grande precisão a tendência da sua época: a concepção religiosa da organização harmoniosa e justa da sociedade como «reino de deus» devia «descer do céu à terra», transformar esse reino, como afirmou Feuerbach, «de objecto de crença inútil e passiva em objecto de actividade humana», em objecto da luta revolucionária determinada por um futuro melhor.

E finalmente ecoou a definição de Marx de revolução proletária como a grandiosa histórico-universal «emancipação do homem»: «A filosofia é a cabeça desta emancipação e o proletariado o seu coração». E assim foi continuado o caminho da filosofia para a sua reunião com o poder de Estado.
Os fundadores do comunismo científico basearam-se no sistema de Hegel que, naquele tempo, constituía inquestionavelmente o cume do conhecimento filosófico, apesar de ter sido necessário «virá-lo dos pés à cabeça» de forma materialista. No que respeita ao método dialéctico de Hegel, as suas possibilidades heurísticas eram literalmente de cortar a respiração.
Nem V.I. Lénine nem I.V. Stáline se desviaram minimamente destas clarividentes indicações marxistas; nem um nem outro eram iletrados em filosofia, como tentam hoje apresentá-los; nada disso, ambos ombreiam com Platão e Hegel. Como rejubilaria Platão ao ler a primeira frase do texto de Stáline Sobre o Materialismo Dialéctico e o Materialismo Histórico: «O materialismo dialéctico é a concepção do mundo do partido marxista-leninista».
Ora o partido é a força dirigente do Estado. Eis pois unidos num todo o poder estatal e a filosofia. Em dada altura apresentaram as formulações de Stáline como óbvias e entediantes até ao bocejo, como uma espécie de tabuada. Mas na realidade trata-se de uma elaboração conceptual de enorme dimensão e importância.
Ouçamos mais um pouco Stáline.

«O materialismo histórico é a aplicação das teses do materialismo dialéctico ao estudo da vida da sociedade e dos seus fenómenos, ao estudo da sociedade».
«Não é difícil compreender a enorme importância da generalização dos princípios do método dialéctico ao estudo da vida social, ao estudo da história da sociedade, a enorme importância da sua aplicação à história da sociedade e à acção prática do partido do proletariado». 
«Se o mundo está em incessante movimento e desenvolvimento, se a lei deste desenvolvimento é a agonia do que é velho e o crescimento do que é novo, então é claro que não há regimes sociais “inabaláveis”, “princípios eternos” da propriedade privada e da exploração ou “ideias eternas” de submissão dos camponeses aos latifundiários e dos operários aos capitalistas.
«Isto significa que o regime capitalista pode ser substituído pelo regime socialista, tal como o regime capitalista substituiu no seu tempo o regime feudal.
«Isto significa que devemos orientarmo-nos não para aquelas camadas da sociedade que esgotaram o seu potencial de desenvolvimento, muito embora representem no momento actual a força dominante, mas para as camadas sociais que se desenvolvem e têm futuro, apesar de não representarem no momento actual a força dominante.»
«Se a passagem das mudanças quantitativas lentas às mudanças qualitativas rápidas e bruscas constitui uma lei do desenvolvimento, então é claro que as transformações revolucionárias realizadas pelas classes oprimidas constituem um fenómeno absolutamente natural e inevitável.
«Isto significa que a passagem do capitalismo ao socialismo, e a emancipação da classe operária do jugo capitalista, pode realizar-se (…) não por via de reformas, mas unicamente por via da transformação qualitativa do regime capitalista, por via da revolução.(…)
«Se o desenvolvimento se efectua por via da revelação das contradições internas, por via da confrontação de forças opostas que estão na base destas contradições com vista à sua superação, então é claro que a luta de classes do proletariado constitui um fenómeno perfeitamente natural e inevitável.
«Isto significa que não se deve dissimular as contradições do regime capitalista, mas sim revelá-las e expô-las, não se deve abafar a luta de classes, mas sim levá-la até ao fim.
(…) É preciso seguir uma política proletária de classe intransigente, e não uma política reformista de harmonia de interesses entre o proletariado e a burguesia, e não uma política conciliadora de “integração” do capitalismo no socialismo».

A geração mais velha recorda-se e a juventude de esquerda deve saber que este magnífico trabalho de I. V. Stáline foi sujeito à mais bárbara difamação após a sua morte.
«Rotineiro», «escolástico», «dogmático», «primitivo» e outras invencionices dos sobreviventes ideológicos que, graças a Khruchov, chegaram a postos de direcção e acederam às páginas da imprensa de grande tiragem, já sem necessidade, em grande medida, de se fingirem revolucionários e «marxistas-leninistas».
Mas se era assim tão «primitivo», então para quê massacrá-lo dessa forma? Deixassem-no em paz e dedicassem-se à «ciência autêntica». Mas qual? Aferraram-se como cães raivosos. Naturalmente não porque estavam perante algo rotineiro e primitivo, mas precisamente porque se tratava da própria lógica da acção revolucionária de classe do proletariado, cujo domínio tornaria invencível o estado proletário.

A partir de meados dos anos 60 (se não antes) a nossa filosofia académica aplicou-se afincadamente em fazer tombar a ciência filosófica soviética das alturas estratégicas, em que se podia consolidar historicamente graças aos trabalhos dos marxistas convictos V.I Lénine e I.V. Stáline.
Agitaram toda sujidade e lixo que os ideólogos burgueses dos mais diversos matizes haviam lançado sobre o marxismo, desde que compreenderam que a revolução das massas laboriosas tinha adquirido uma filosofia de altíssimo quilate como sua cabeça.
Em grande medida, é precisamente à direcção académica (todos esses Fedosséiev, Rumiántsev, Mitíne, Konstantínov, Kedrov, Egorov e outros da sua igualha) que o partido e o povo devem o facto de, no auge da guerra informativa-intelectual, a nossa sociedade ter perdido completamente a perspectiva estratégica, historicamente objectiva, e, em vez do comunismo planeado, nos termos encontrado na situação ignominiosa de um país destroçado, desmantelado em que se consumou e consolidou a sua ocupação.
Olhemos num relance para estas quase três décadas deste frenesim anti-stalinista que nos conduziu a semelhante fim. Falamos de anti-stalinismo, mas tal significa também anti-leninismo e anti-marxismo.
Stáline afirmou que a filosofia materialista dialéctica é a concepção do mundo do nosso partido. Ripostaram que tal era impossível e nunca poderia acontecer. Exactamente porque, diziam, a filosofia em geral não é de modo algum uma concepção do mundo. Como assim?
Pois foi assim. E começaram a agitar nas páginas das prestigiadas publicações académicas, das tribunas das conferências nacionais e internacionais, pedaços de velharias positivistas com mofo de cem anos, para demonstrar que a filosofia não é uma ciência sobre o mundo no seu todo, mas apenas sobre o conhecimento; é a teoria do conhecimento, a gnoseologia.
Um desses «académicos» chamado Kedrov esforçou-se de todas as maneiras para inundar a imprensa académica e partidária com este disparate. O próprio Lénine teria dito que não era preciso três palavras: dialéctica, lógica e gnoseologia. Tudo isso era a mesma coisa. E a dialéctica seria o mesmo que materialismo dialéctico: portanto, o materialismo dialéctico seria a gnoseologia, a teoria do conhecimento.

Bom, em primeiro lugar, o materialismo dialéctico não é de todo a mesmo coisa que a simples dialéctica. Como referiu Stáline, mais uma vez, a filosofia materialistadialéctica inclui, para além do método dialéctico, também a interpretação materialista dos fenómenos da natureza, a teoria materialista.
Em segundo lugar, quando falou da «inutilidade de três palavras», Lénine referia-se a uma coisa totalmente diferente. Quis dizer que na velha lógica formal, que analisa o conhecimento estático, «parado», imobilizado, era necessária ainda uma disciplina específica que analisasse o conhecimento em movimento, ou seja, em correlação com o objecto exterior, uma vez que sem se correlacionar com o objecto, o conhecimento não pode avançar. Esta disciplina especial é a gnoseologia.
Mas quando tomamos a nova lógica dialéctica, não precisamos de quaisquer complementos, uma vez que, por definição, ela analisa logo o conhecimento em desenvolvimento, numa correlação permanente com o objecto. Então o mundo objectivo por si próprio expõe-se à análise numa correlação permanente com o conhecimento humano e com outros tipos de representação. Segundo V.I. Lénine, a dialéctica enquanto lógica torna-se na «doutrina não das formas exteriores do pensar, mas das leis do desenvolvimento “de todas as coisas materiais, naturais e espirituais”, isto é, do desenvolvimento de todo o conteúdo concreto do mundo e do seu conhecimento.»
Vejam pois a intrujice: V.I. Lénine mete-lhes sob o nariz que a dialéctica é uma lógica com conteúdo, é a ciência sobre as leis do desenvolvimento de todas as coisas materiais, naturais e espirituais; eles em resposta repisam arrogantemente que a dialéctica é a teoria do conhecimento. E chegaram ao descaramento de nomear este palavreado de Kedrov como candidato ao Prémio Lénine.
                                         
Mas não ficaram por aqui. Tentaram demonstrar que o materialismo-dialéctico não pode ser a concepção do mundo do partido, desde logo porque, por princípio, não pode ser uma concepção do mundo. Sim, não se admire quem ouvir isto pela primeira vez. Com toda a seriedade, foram arrastando esta fantasia na revista Voprossi Filosófii. Não pode haver nenhuma concepção do mundo porque o mundo não existe como um todo.
Ora Stáline tinha escrito que «a dialéctica concebe a natureza não como uma acumulação acidental de objectos e fenómenos, desligados e isolados uns dos outros e não dependentes entre si, mas como um todo interligado e uno».8 Se Stáline tivesse escrito que o Volga desagua no Mar Cáspio, eles teriam demonstrado que o Volga desagua no Oceano Pacífico.

Poderão pensar, mas que diferença nos faz que o mundo exista ou não como um todo? Isso está muito longe da prática real da vida. Não, não está. Tudo isto está o mais perto possível da prática real da vida.
Se o mundo não existe como um todo, então não existe «um processo mundial uno», ao qual Lénine constantemente se referiu, não existe também «a universal conformidade a leis da Natureza em perpétuo movimento e desenvolvimento» (aliás esta formulação é também de Lénine), que penetra «de baixo a cima» toda a existência quer natural, quer social. Ora toda a doutrina marxista fundamenta-se exactamente nessa ideia de conformidade com as leis naturais, na ideia de que o comunismo não só é objectivamente alcançável, mas também objectivamente inevitável, pois decorre logicamente da «dialéctica objectiva como princípio de todo o ente» (é outra formulação de Lénine). E se logicamente, cientificamente, [o comunismo] não decorre de nada, então não pode decorrer, o que significa que alguém se enganou, e que o facto de terem tentado construí-lo na Rússia durante 70 anos não passou de uma loucura, de um ziguezague acidental na história, cujas raízes devem ser extirpadas, a sua memória apagada da memória das pessoas e ponto final.

De modo que, queridos amigos, a filosofia é uma ciência ardorosamente partidária, e não devemos enganar-nos com a sua aparentemente abstracção da azáfama mundana, tal como não se enganaram Lénine e Stáline. Ontem, algures no Instituto de Filosofia, zonzonavam contra a ideia de mundo como um todo, ninguém prestou atenção; hoje esse zonzom pode ter tais consequências que nos arrependeremos cem vezes por não termos dado ouvidos na altura própria.
Outra incursão anti-stalinista (vão todas no mesmo sentido) é a negação de toda a possibilidade de realizar uma sólida base cognitiva teórico-filosófica sobre a ideia da construção do socialismo e do comunismo, de modo a que, como afirmou Stáline, o socialismo deixe de ser um sonho sobre um futuro melhor da humanidade e se transforme numa ciência. 
Isto é um latido contra o materialismo histórico, definido por Stáline como a generalização das teses do materialismo dialéctico ao estudo dos fenómenos da vida social, e por Lénine, como a finalização de todo o edifício da filosofia materialista dialéctica marxista.
                                          
Lembrem-se com que êxtase (não há outra palavra) Stáline enumera as perspectivas que se abrem ao conhecimento social e à acção prática do partido do proletariado graças à aplicação dos princípios da dialéctica materialista.

Cai o dogma da «intangibilidade» dos regimes sociais exploradores, e tudo passa a ficar assente num sólido fundamento científico: a inevitabilidade de transformações revolucionárias realizadas pelas massas oprimidas, a substituição do capitalismo pelo socialismo, a legitimidade da luta de classe do proletariado e da revolução proletária, a rejeição da política conciliatória da «transformação» do capitalismo em socialismo, a linha da revelação e resolução corajosa das contradições dialécticas internas do desenvolvimento social. E não só nos países capitalistas, mas também no socialismo, como Stáline acrescenta com firmeza na obra Problemas Económicos do Socialismo na URSS.
E que pode contrapor o inimigo de classe, declarado ou oculto, a esta representação, em que as pessoas do trabalho adquirem uma arma eficaz temível, desenvolvida nos vários aspectos, para a sua luta emancipadora e transformação edificante do mundo?
Nada, à excepção de esforços furiosos para nos retirar essa arma conceptual das nossas mãos; o que foi e continua a ser hoje o objectivo e missão principal da guerra psico-informativa.
Por exemplo, a propósito do materialismo histórico, precisam de gritar incessantemente, até à histeria, que Stáline e Lénine são tamanhos monstros que de forma alguma se pode admitir a generalização da dialéctica materialista ao estudo da vida da sociedade. Que o materialismo histórico é meramente uma das ciências sobre a sociedade e não de todo a conclusão até ao topo da doutrina filosófica marxista.
A própria dialéctica como «doutrina sobre o desenvolvimento na sua forma mais completa, mais profunda e isenta de unilateralidade» foi substituída pela «teoria do equilíbrio» de Bogdánov-Bukhárine, agora «modernamente» designada de abordagem sistémica.
Para tal, divagaram longa e persistentemente em torno da noção de desenvolvimento, para lhe retirar o estatuto de «processo mundial uno», de «movimento em geral», de forma universal de movimento da matéria. Alegam que, além do desenvolvimento, muito mais acontece no mundo; sob um ponto de vista, o desenvolvimento parece ser um processo universal, mas, sob outro ponto de vista, é apenas um momento de estados estáveis, em equilíbrio. Assim, não será melhor tomar como fundamento estes estados de equilíbrio, homeostáticos?

No que respeita à contradição dialéctica como «fórmula» estrutural do desenvolvimento, tal como as leis de Newton no seu conjunto constituem a «fórmula» do movimento mecânico, entre o final dos anos 70 e o início dos anos 80, nem se podia pensar sequer em aplicar seriamente este esquema, digamos, à economia política, como fez Stáline.
O ritual era o seguinte: num artigo «orientador» do Pravda ou num editorial de uma revista teciam-se falsos louvores, considerações vazias sobre a contradição, depois enchia-se meia revista com textos em que se demonstrava que as contradições agem apenas na esfera do conhecimento, na realidade objectiva não existem, ou se apresentava como contradição uma coisa qualquer que nada tinha a ver com a dialéctica ou com o simples bom senso.
Repito, arrancaram das mãos do partido e do povo a única arma que poderia trazer a vitória na guerra informativa-psicológica. E quando sentiram que tinham alcançado o seu objectivo, que tinham enchido as mentes de uma parte do povo com o seu lixo «filosófico», não se coibiram de troçar dele, do povo. A César o que é de César, ao serralheiro o que é do serralheiro. Assim motejava um grupo de «cientistas», liderado pelo doutor em ciências históricas Chkaratan, no jornal Izvéstia, de 25 de Outubro de 1989.

Lembrem-se de que o «Breve Curso de História do PCU(b)» era um manual político de massas. Só um «tirano» como Stáline foi capaz de explicar aos serralheiros e demais povo simples como se processava o desenvolvimento mediante a revelação das contradições internas ou quais eram as leis naturais da libertação da opressão capitalista. E para que precisam os serralheiros disso?
Eis o que escreve o conhecido economista Chmeliov no Literaturnaia Gazeta, de 26 de Julho de 1989: «As pessoas vivem mais facilmente com a chamada moral pequeno-burguesa do que com ideias “grandiosas e inspiradoras”». «Na sua essência toda a probidade humana é uma moral pequeno-burguesa. Ela não se guia pela aspiração de transformar a humanidade. E qual é o problema? Será que só é bom o que conduz às barricadas?». «Não bebas, não batas na mulher, não te assoes à toalha quando te convidarem para jantar» – pois, nem mais nem menos, estes são alguns exemplos de «valores humanos eternos», segundo Chmeliov.
Nós inquietamo-nos: mas por que razão o povo se degradou tanto, donde lhes vem essa falta de espiritualidade, esse cinismo, essa malvadez, essa vulgaridade pequeno-burguesa manifesta? Com efeito foram contagiados há 30 anos com a colaboração activa de diferentes «literatos», se assim posso dizer, de jornais e doutores de todas as ciências possíveis. Mas o povo não se deixará facilmente encher de sarna. Será muito mais fácil livrar o país das ovelhas sarnosas do que retirar ao povo «as ideias grandiosas e inspiradoras».

(...)É claro que será preciso regressar a tudo isto com a máxima a urgência e persistência. Quanto tempo se poderá continuar a enganar as pessoas, como se não houvesse solução para estas questões complexas, quando na realidade essa solução existe, está completamente preparada? Camaradas, a tarefa prioritária que temos pela frente é traçar com honestidade, rigor e objectividade o quadro da resistência popular comunista ao longo de toda a guerra psicoinformativa. Sem isso, nada conseguiremos… De modo que apelo a todos aqueles que compreendem o sentido e objectivo do que foi dito aqui a renunciarem ao papel de observadores externos. Apelo a colaborarem activamente connosco, de forma benevolente e corajosa, para realizarmos a tarefa que acabamos de apontar. Sem resolvermos esta questão, simplesmente não poderemos sair do beco em que nos encurralaram desde o final dos anos 80, e fizeram-no de forma bastante engenhosa.  
 
 
 
 

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