SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Copenhagen - uma operação global de diversão ideológica

Ontem, segunda-feira, teve lugar em Copenhagen a abertura da conferência da ONU sobre o clima, com os organizadores do evento a anunciar ser impossível garantir a participação dos 34.000 pedidos de credenciais recebidos, visto a sala ter uma capacidade máxima de 15.000 lugares. No domingo passado, o máximo de 3.500 credenciais para a imprensa já estava esgotado, com a imprensa mundial dominante a considerar esta conferência "o maior acontecimento político da história"(!). A fechar o ano, com a profunda crise sistémica do capitalismo em desenvolvimento, com a gigantesca acumulação do capital no pólo imperialista e a correspondente degradação sócio-económica a instalar-se em todos os países dos cinco continentes, eis que surge uma conferência mundial patrocinada pela ONU e sob a orientação do seu organismo para o estudo das mudanças climáticas - Intergovernamental Panel on Climate Change (IPCC) - que se anuncia ir mobilizar 100 chefes de estado, à frente de delegações governamentais numerosas - p.ex., o Brasil anunciou uma delegação de 500 membros! -, a par de centenas de ONG's e inúmeras personalidades ligadas às teorias sobre o chamado "aquecimento global", versus "efeito de estufa".

Sob a batuta de uma ONU manipulada pelos interesses imperialistas, os poderes políticos empenham-se na mobilização das suas opiniões públicas para a "causa" climática, respondendo "presente" à convocação para Copenhagen. A cobertura "informativa" deste acontecimento, mobilizando todas as grandes cadeias internacionais e nacionais, não deixa espaço para dúvidas quanto aos seus propósitos diversionistas e quais os interesses de classe que serve. A pauperização galopante de centenas de milhões de seres humanos, a miséria, a fome, as doenças, a chocante média diária da morte de 30.000 crianças, com até cinco anos de idade, em consequência da fome e das doenças originadas pela subnutrição, a destruição das economias reais na generalidade dos países, o aumento exponencial das taxas de desemprego, o explosivo crescimento dos défices públicos de numerosos países à beira da bancarrota - nada disto mobilizou ou algum dia mobilizará os grandes meios de comunicação/manipulação "informativos".

Com esta mobilização organizativa e esta promoção mediática sem paralelo nos últimos tempos, durante esta semana a capital da Dinamarca está assim transformada numa espécie de Meca ambientalista, como centro de uma mobilização de crenças que muito se assemelham a uma nóvel religião que estivesse destinada a ocupar os espaços entretanto perdidos pelas religiões tradicionais, com uma estrutura poli-forme, flexível e "informal", muito "não governamental" como convém e na qual foi atribuído um lugar destacado a Al Gore, transformado pela média numa espécie de apóstolo ou papa, pregando há anos a "boa nova" da salvação do planeta. Sabem todas as pessoas medianamente informadas que este indivíduo editou um filme (que correu mundo com ele), falsificando grosseiramente dados científicos e as próprias realidades ambientais. O mesmo Al Gore que é responsável, como vice-presidente de Bill Cinton, pela criminosa agressão militar contra a ex-Jugoslávia, decidindo os selváticos e genocidas bombardeamentos sobre Belgrado e outras cidades sérvias, um Al Gore que, hipocritamente, na sua enorme mansão, consome a energia eléctrica equivalente ao abastecimento de uma pequena cidade.
Golpe demolidor nesta colossal encenação acaba de ser dado pelo episódio conhecido por "Climategate". A divulgação de milhares de mail's, trocados entre académicos da Universidade de East Anglia e da sua unidade de estudo climático com colegas e jornalistas de outros países - cujos conteúdos entretanto já foram confirmados por numerosos dos seus destinatários e autores -, revelou muitos dos meandros de uma autêntica trama anti-científica, montada para servir de suporte à alarmante e ameaçadora campanha contra o "aquecimento global". De facto, aquela universidade inglesa e a sua unidade de estudo são, a par de outras universidades estado-unidenses, as principais instituições de suporte às teorias acolhidas e difundidas pelo IPCC da ONU.
Sonegação de dados e manipulação de gráficos e estatísticas, recusa de partilha académica, propostas constrangedoras de "direcionamento" dos "estudos", ocultação deliberada dos estudos que recusassem as suas visões catastrofistas, manipulação e intimidação directa de jornalistas e orgãos de imprensa que não "alinhassem", de tudo um pouco tem vindo a lume, desmascarando o procedimento "científico" fraudulento e sórdido daquela unidade de estudo e do seu director, Phil Jones, obrigado à suspensão de funções, tal a dimensão que o escândalo assumiu nos meios académicos e científicos. Dado o papel político relevante que vem desempenhando, transformado em burocrata político a soldo da campanha global, é de esperar que tal suspensão será revertida logo que a contra-informação imperialista amorteça e faça esquecer as denúncias actuais.
Muita informação está entretanto disponível, designadamente na Internet, sobre as múltiplas questões que se colocam sobre as alterações climáticas, designação esta que, aliás, passou a ser usada prudentemente pelos catastrofistas ambientais, deixando cair a expressão "aquecimento global". Pessoalmente, acredito nas graduais alterações climáticas do nosso planeta, há muito estabelecidas pela ciência quando comprovou a existência periódica das épocas glaciares e interglaciares, com suas múltiplas fases intermédias de aquecimento e resfriamento climático, com suas transgressões e regressões marinhas nas zonas litorais, etc. Há anos, ainda o auge da campanha global do "efeito de estufa" estava longe do ponto que atingiu nos nossos dias, tive oportunidade de ver gravuras inglesas do início do século XIX representando o Tamisa congelado e mostrando o trabalho de corte e venda de gelo às burguesas londrinas!
Continua por estabelecer cientificamente o papel da acção humana na criação do propagandeado "efeito de estufa". Estudos da dendrologia e das camadas profundas das calotes glaciares evidenciam ciclos anteriores de elevação do CO2 na atmosfera e da temperatura do planeta há milhares de anos, quando os homens ainda mal tinham "inventado" o fogo... - A espécie humana terá uma cota-parte de responsabilidades, sem dúvida, mas sobretudo nas actividades humanas de esgotamento de recursos naturais e de degradação ambiental - desmatamento, poluição de rios e orlas costeiras, envenenamento da atmosfera nas áreas urbanas e industriais, intoxicação química na produção agrícola e pecuária dos alimentos, etc.
Perante este complexo quadro defrontado pelas ciências ambientais e climáticas, exigindo e merecendo seriedade e rigor científicos, tornam-se então mais evidentes as actividades mistificadoras e o óbvio aproveitamento político pela burguesia das legítimas preocupações ambientais das pessoas, exacerbadas por estas operações mediáticas globais do capitalismo e por este conduzidas com o objectivo de induzir falsas ideias e posições equivocadas quanto aos verdadeiros responsáveis pelos atentados diários contra a preservação ambiental dos recursos e condições de existência das sociedades humanas. Quando alguém diz, "somos todos responsáveis pela poluição do planeta" está, consciente ou inconscientemente, a ocultar os únicos e verdadeiros responsáveis pelas industrias poluentes, pela depredação dos recursos naturais, pela degradação das condições ambientais - o capital, os grandes capitalistas que, na sua ganância predadora, colocam sempre o lucro acima da vida e dos verdadeiros direitos humanos, desprezando o futuro e as gerações vindouras.
Claro que, neste contexto geral, também estão em confronto os interesses contraditórios dos vários segmentos capitalistas, sejam os da indústria petrolífera ou de outras indústrias energéticas, indústrias transformadoras, etc, com a intervenção diferenciada dos seus representantes presentes em Copenhagen. Mas, sobretudo o que se torna indispensável sublinhar é o facto deste mediático evento, à semelhança de tantos outros eventos organizados pelos governos de turno e pelo imperialismo nos últimos tempos - G8, G-20, etc - não vai deliberar nada no interesse legítimo dos povos. Os maiores poluidores, os EUA, não vão aceitar limitações às suas ambições imperialistas; as maiores economias capitalistas vão continuar a acenar aos países mais pobres e subdesenvolvidos com pequenas retribuições, a título de compensação pela sua resignada aceitação da sujeição económica e política, com verbas irrisórias de apoio às economias mais pobres e confirmando o sujo e indigno negócio da compra dos créditos de emissões de CO2.
Esta conferência mundial não será aquela que os defensores da vida, os ambientalistas sinceros, os ecologistas honestos, os trabalhadores e os povos ambicionam, uma outra conferência que visasse isolar o imperialismo e desenvolver a colaboração justa e mutuamente vantajosa entre todos os países, em defesa do meio ambiente e do património mundial comun.
Muitos sorrisos, muitas declarações simpáticas, uma ou outra deliberação final piedosa, o que sobrará? Sobrará esta colossal operação - mais uma - de diversão ideológica que foi laboriosamente montada para este final de ano, com a conivência de correntes ambientalistas inconsequentes que, com as suas Ongs financiadas pelos grandes grupos económicos e pelos governos, fazem parte da encenação que procura ocultar e mistificar os reais interesses de classe do imperialismo e das classes dominantes e exploradoras. Assim sendo, às organizações sociais e populares, às organizações e fóruns anti-imperialistas, aos partidos comunistas, aos democratas consequentes, a todos nós cabe a sua firme denúncia e o seu corajoso desmascaramento.

4 comentários:

a. ramiro disse...

consulte e dê uma opinião,se quiser participar tem as portas abertas.
"achispavermelha.blogspot.com"

Nelson Ricardo disse...

Não acrescento nada ao que aqui disseste. Aliás, se virmos o documento que apresentaram para acatar a maior parte das responsabilidades no Terceiro Mundo facilmente se verifica que a luta de classes está presente até no ambiente.

a. ramiro disse...

Reformismo ou Revolução, em "achispavermelha"
Vesitem e comentem

Zorze disse...

Filipe,

O melhor trabalho que li sobre o que se passa em Copenhaga.
Muito bom mesmo.

Abraço,
Zorze