SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

domingo, 22 de agosto de 2010

Uma visita a Gerardo na prisão

A permanência nas prisões do imperialismo estadunidense dos Cinco patriotas cubanos, julgados e condenados numa odiosa e colossal farsa da justiça ianque - e vítimas de uma das maiores canalhices que o governo e o sistema judiciário dos EUA consumaram de entre as inúmeras praticadas no seu território, ao longo da sua história recente, contra cidadãos nacionais ou estrangeiros -, constitui um grito vigoroso que clama justiça pelos quatro cantos do planeta e mobiliza a opinião de milhões de seres humanos que assistem à perpetuação deste autêntico crime jurídico, seja à luz do direito internacional, seja sob a observação das próprias leis estadunidenses.

Os Cinco Cubanos, pagando um pesadíssimo preço pelo seu patriotismo e indefectível dignidade revolucionária, são um luminoso farol que vai iluminando o carácter terrorista da política imperial dos EUA, num desmascaramento vigoroso das suas características desumanas.

O relato emocionante desta visita na prisão a um dos Cinco Cubanos, Gerardo Hernández, visitado pela irmã e por dois corajosos activistas (verdadeiros) dos direitos humanos, os norte-americanos Danny Glover, actor cinematográfico consagrado e Saul Landau, jornalista, professor da California State University e membro do Instituto de Estudos Políticos, é um testemunho muito forte da solidariedade que liga indissoluvelmente seres tão diversos, oriundos de universos geográficos e pessoais tão distintos e que, não obstante, se sentem irmanados pelos mesmos ideais democráticos e aspirações a um mundo novo.
Já publicado por outros blogs, aqui fica também transcrito este relato, profundamente humanista e capaz de renovar em nós a convicção na certeza de um destino mais justo e esperançoso para a Humanidade.
Do aeroporto de Ontário, Califórnia - a cerca de 100 quilómetros a leste do centro de Los Angeles - dirigimo-nos para o norte, pela Rodovia 15, a estrada que leva a Las Vegas. Carros com torcedores aficionados e grandes caminhões, para cima e para baixo, através das montanhas, onde se encontram Los Angeles e a Floresta Nacional de San Bernardino.
Para o leste está o deserto, 1.200 metros acima do nível do mar. Entre zimbros, árvores de Josué e artemisas, ao longo da rodovia. Fomos a um centro comercial, onde pegamos Chavela, irmã mais velha de Gerardo.
Passamos por lanchonetes de redes de fast food e salões de beleza, casas de tatuagem, postos de gasolina e mini-centros comerciais (um passeio pela cultura norte-americana), em direcção ao oeste e logo ao norte, pela 395, até chegar ao complexo penitenciário Federal, uma prisão de alta segurança de 192.000 metros quadrados, construído há seis anos (com um custo de US$ 101,4 milhões de dólares), destinada a enjaular 960 reclusos.
Na sala de visitantes, pintado de um cinza institucional, um guarda entrega-nos formulários numerados, aponta com a cabeça um livro e olha para um monte de canetas. Nós preenchemos e devolvemos o formulário, assinamos e sentamo-nos naquela sala cinza com outros visitantes - todos negros e latinos.
Esperamos por vinte minutos. Um guarda menciona o nosso número. Esvaziamos os bolsos, excepto o dinheiro. Passamos por um detector de metais, ao estilo dos aeroportos. Recolhemos os nossos cintos e entregamos. Uma guarda revista-nos com óculos de raios-X e estendemos os nossos braços para entregar a outro guarda as nossas identificações. Duas mulheres negras e um casal de idosos latinos recebem o mesmo tratamento. Trocamos sorrisos nervosos, hóspedes em terra estranha.
Ele passa as nossas identificações, por uma abertura, para outra sala, que vemos através de uma janela de vidros grossos. Ali, um guarda verifica os documentos e pressione os botões para abrir uma porta de metal pesado. O grupo entra num corredor exterior. O sol ofuscante do meio da manhã e o calor do deserto golpeiam os nossos corpos, depois de termos permanecido no ar-condicionado. Esperamos. Um guarda fala através de uma pequena fenda na porta do prédio, que alberga os presos. De cada lado, torres com guardas armados, uma rede de arame farpado cobre o topo das paredes de concreto.
Esperamos. Passamos calor. Em seguida, entramos em outro quarto com ar condicionado e, finalmente, abre-se a porta e passamos para a sala de visitas. Um guarda assinala-nos uma mesa de plástico pequena, rodeada por três cadeiras de plástico barato, por um lado (para nós) e outra para o Gerardo. Meninos afro-americanos e latinos trocam o seu lugar pelo colo dos seus pais; enquanto os pais, em uniformes caqui, conversam com as suas esposas.
Chavela vê-0 de longe - 20 minutos mais tarde - quando ele, sorrindo, avança vivamente através da sala. Quase em lágrimas, Chavela diz: "Ele perdeu peso". Parece ter o mesmo peso de quando (Saul Landau) o viu na primavera. Gerardo abraça e beija a sua irmã, depois abraça Saul e Danny. Graças aos seus esforços, foi libertado da "solitária", onde passou 13 dias no final de Julho e início de Agosto.
Gerardo informa-nos que dois agentes do FBI - que investigam um incidente não relacionado com o caso dos Cinco - o interrogaram na prisão. Logo em seguida, as autoridades prisionais jogaram Gerardo no buraco, ainda que não houvesse nenhuma prova, lógica ou senso comum que pudesse implicá-lo ao suposto incidente. A temperatura da solitária chegava perto dos 40 graus. "Eu tive que jogar na minha cabeça a água que me davam para beber", disse-nos Gerardo. "Não me ajudaram com a minha pressão arterial elevada. Eu nem sequer podia tomar a minha medicação. Acredito que me soltaram graças aos milhares de telefonemas e cartas de pessoas do mundo inteiro".
Chavela amontoava comida rápida em cima da mesa - a única que havia nas máquinas de venda automática. Mordiscávamos compulsivamente, enquanto Gerardo nos contava acerca da sua vida numa caixa de suor, por quase duas semanas. "Não há circulação de ar", riu, como dizendo: "Não era para tanto".
Nós falamos sobre Cuba. Ele estava em dia com as notícias, através da leitura, TV e visitantes, que lhe informam. Ele sentiu-se encorajado pelas medidas tomadas pelo presidente Raúl Castro para enfrentar a crise. Na televisão da prisão, viu parte do discurso de Fidel e as perguntas e respostas, na reunião da Assembleia Nacional. "Eu vi Adriana (sua esposa) presente na plateia". Seu sorriso desapareceu. "É doloroso. Ela tem 40 anos e eu 45. Não há muito tempo para formamos uma família. Os Estados Unidos nem sequer concedem um visto para que ela me visite. Ela comportou-se com grande coragem e dignidade durante toda esta provação".
Gerardo Hernández, um dos Cinco Cubanos, cumpre duas sentenças de prisão perpétua por conspiração para espionagem e cumplicidade em assassinato. No julgamento em Miami, os promotores não apresentaram quaisquer indícios de espionagem. A acusação de suposta cumplicidade com a derrubada do avião dos chamados "Hermanos al Rescate" - por MIGs cubanos, em fevereiro de 1996 - também não se comprovou, dado que nenhuma evidência foi apresentada de que Gerardo houvesse mandado informações acerca do voo para as autoridades cubanas - o que, de fato, não fez. A acusação também pressupôs que ele sabia das ordens secretas do governo cubano para derrubá-los, o que não é verdade.
Os cinco homens monitoravam e informavam acerca dos terroristas cubanos exilados em Miami, que tinham planos de sabotagem e assassinatos em Cuba. Cuba compartilhou essas informações com o FBI. Larry Wilkerson (coronel do Exército aposentado e ex-chefe de gabinete do secretário de Estado, Colin Powell), comparou a possibilidade dos Cinco serem julgados de forma imparcial e justa, em Miami, com "as chances de um israelense acusado obter justiça em Teerã".
Bebemos chá gelado engarrafado, doce demais. Chavela trouxe mais batatas fritas.
Gerardo reanimou o ambiente contando um incidente ocorrido na década de 1980, quando era tenente em Cabinda, Angola, escoltando oficiais cubanos a um jantar com importantes soviéticos, que se encontravam em visita. "Eu disse ao meu coronel, que tinha memorizado um pequeno poema de Mayakovsky, em russo (dos seus dias de estudante) e poderia recitá-lo para os oficiais soviéticos".
Ele recitou o poema em russo. Todos o aplaudiram. Ele sorriu. "Eles estavam assando um porco e tinham garrafas de bebida, era uma festa".
"Eu recitei o poema. O coronel soviético abraçou-me, beijou-me em ambas as faces, muito animado. Eu tive que repetir o meu desempenho para os outros oficiais. Finalmente, o coronel cubano disse-me que eu já havia aproveitado bem a situação e eu me mandei".
Duas horas se passaram rapidamente. Esperamos os guardas nos chamem. Gerardo ficou de pé. Nós distanciamo-nos. Gerardo, junto com outro prisioneiro, próximo a porta da cela. Saudamos com um aceno. Ele respondeu de igual maneira. A irmã dele, soprou-lhe um beijo. Ele abriu um largo sorriso, tranquilizador, como que lembrando-nos: "Mantenham-se firmes".
Fonte: PROGRESO SEMANAL

Tradução: Robson Luiz Ceron - Blog Solidários.

3 comentários:

filipe disse...

Aviso à navegação:
A tolerância democrática e a paciência - afinal com dois ou três visitantes provocadores crónicos - esgotou-se-me. O exemplo de outros blogs e o conselho de amigos, talvez já os devesse ter aceite há muito. Chegou agora o tempo certo.
A moderação dos comentários foi activada. Todos os visitantes que entendam deixar os seus comentários, com objectivos sérios e para observarem, criticarem ou discutirem quaisquer das opiniões aqui expressas, continuarão a ser gratamente recebidos como amigos.
Para estes, saudações fraternais.

Nelson Ferreira disse...

Filipe
Compreendo os motivos da tua atitude, mas não posso aprovar as medidas que tomas.A partir do momento que sujeitas os teus textos a comentários,tens que públicá-los, a não ser que sejam obcenos, o que me parece que não era o caso.

Um abraço

Nelson Ferreira

filipe disse...

Nelson Ferreira:

Registo, e agradeço, a tua opinião.
Entretanto, como ficou dito no "aviso à navegação": a) este espaço de comentários continuará aberto a todos quantos entendam debater, de forma séria e honesta, as opiniões e conteúdos aqui publicados; b) está vedado a quem pratica o proselitismo e a ofensa políticas, reclamando-se um inexistente direito a usar um espaço alheio para, de forma sistemática, atacar uma terceira entidade - o PCP.
Outro abraço.