SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Meios de "informação" criminosos


Na cobertura da situação existente em vários países árabes - nomeadamente a Líbia e a Síria -, marcada por uma violenta guerra de contra-informação, poucos são os jornalistas que relatam com isenção a realidade, sendo-lhes necessárias muita determinação e muita coragem para o fazerem. É o caso do autor deste despacho, escrito a partir de Tripoli e já ameaçado de morte, tal como o seu camarada Mahdi Darius Nazemroaya, por "colegas" estadunidenses com os quais partilhava o Hotel Rixos, infestado dos chamados "jornalistas embedded", alguns dos quais elementos da CIA e de outros serviços de inteligência dos países agressores.
Lá como cá, seja na fabricação de climas adequados à dócil aceitação das "verdades" difundidas pelos imperialistas, seja na mistificação e manipulação das situações nacionais internas, os pequenos "goebbels" que pululam as redacções dos grandes meios mediáticos são isto mesmo: criminosos, justamente merecedores de uma firme condenação, hoje política e amanhã criminal, como réus de crimes nojentos de lesa-povos, cometidos diariamente contra as mentes e as consciências dos seus concidadãos mais desprotegidos.

"A propaganda de guerra entrou em nova fase, e hoje envolve a acção coordenada de estações de TV por satélite. CNN, France24, a BBC e a rede al-Jazeera converteram-se em instrumentos de desinformação, usadas para demonizar governos e governantes e justificar agressões armadas.
Essas práticas são crimes tipificados na legislação internacional.  É preciso pôr fim à impunidade desses criminosos ‘midiáticos’.

A informação processada e distribuída sobre a Líbia e a Síria marca um ponto de virada na história da propaganda de guerra, e os meios usados tomaram de surpresa a opinião pública internacional.


Quatro potências – EUA, França, Reino Unido e Qatar – somaram os seus meios técnicos para intoxicar a ‘comunidade internacional’. Os principais canais usados foram a CNN (embora privada, interage com a unidade de guerra psicológica do Pentágono), France24, a BBC e a rede al-Jazeera.


Esses veículos estão sendo usados para atribuir aos governos da Líbia e da Síria crimes que não cometeram, ao mesmo tempo que trabalham para encobrir os crimes que estão sendo cometidos pelos serviços secretos daquelas potências bélicas e pela OTAN.


Assistimos a golpe similar, em menor escala, em 2002, quando os canais Globovisión distribuíram imagens do que seria (mas não era) uma revolta popular contra o presidente eleito Hugo Chávez e imagens de activistas armados, identificados pela Globovisión como se fossem activistas chavistas, atirando contra manifestantes.
Essa encenação tornou-se necessária para mascarar um golpe militar orquestrado por Washington, com a colaboração de Madrid.
Em seguida, depois que o levantamento popular legítimo fez abortar o golpe e reintegrou o presidente eleito, investigações conduzidas pela justiça venezuelana e por jornalistas sérios revelaram que a ‘revolução’ filmada e distribuída pelo canal Globovisión não passava de simulacro, criado por artifícios técnicos, e que nenhum chavista jamais atirara contra manifestantes; e que, isso sim, os manifestantes haviam sido vítimas de atiradores mercenários ao serviço da CIA.


Vê-se acontecer o mesmo, novamente, agora, mas os criminosos são canais de televisão consorciados que distribuem imagens de eventos inexistentes na Líbia e na Síria. O objetivo é fazer crer que a maioria dos líbios e dos sírios desejariam a destruição de suas instituições políticas e que Muammar Gaddafi e Bashar al-Assad teriam massacrado os seus próprios povos. A partir dessa intoxicação ‘midiática’, a OTAN atacou a Líbia e está em vias de também destruir a Síria.


Facto é que, depois da 2ª Guerra Mundial, a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou legislação específica que proíbe e pune essas práticas ‘midiáticas’.


A Resolução n. 110, de 3/11/1947 criou “procedimentos a serem adotados contra a propaganda e incitadores de nova guerra”, condena “propaganda construída explicita ou implicitamente para provocar ou encorajar qualquer tipo de ameaça à paz, quebra de paz negociada ou acto de agressão."


A Resolução n. 381 de 17/11/1950 reforça aquela condenação e condena explicitamente qualquer censura à informação, como parte da propaganda contra a paz.

Finalmente, a Resolução n. 819 de 11/12/1954 sobre “remoção de barreiras que impeçam a livre troca de informação e idéias” reconhece a responsabilidade dos governantes no acto de remover barreiras que impeçam a livre troca de informação e idéias.


Ao fazê-lo, a Assembléia Geral desenvolveu doutrina própria sobre a liberdade de expressão: condenou todas as mentiras que levam à guerra; e impôs o livre fluxo de informações e idéias e o debate crítico, como armas a serem usadas necessariamente a favor da paz.

Palavras e, sobretudo, imagens, podem ser manipuladas de modo a servirem como ‘justificativa’ para os piores crimes.
Nesse sentido, a intoxicação da opinião pública provocada pelas falsas notícias distribuídas por CNN, France24, BBC e al-Jazeera pode ser definida como prática de “crime contra a paz”. 


Essas práticas criminosas ‘midiáticas’ devem ser vistas como mais sérias do que outros crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos pela OTAN na Líbia e por agências ocidentais de inteligência na Síria, na medida em que os crimes ‘midiáticos’ precederam e possibilitaram a prática dos demais crimes.


Todos os jornais, redes de televisão públicas e privadas e todos os jornalistas que operaram na propaganda de guerra – a favor dos ataques militares contra a Líbia (e, deve-se prever, em breve também contra a Síria) – devem ser julgados pela Corte Internacional de Justiça."
 
Thierry Meyssan, "Mathaba"

(Publicado no blog "Lótus Egípcio")

Sem comentários: