SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Coisas de macacos e de humanos...



Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula em cujo centro puseram uma escada e, sobre ela, uma banana. Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jacto de água fria nos que estavam no chão. Depois de algum tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancada. Passado mais algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas. Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, mas foi rapidamente parado pelos outros. Depois de alguns golpes, o novo integrante do grupo não subiu mais a escada. Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, na agressão ao novato. Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o facto. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído.
Os cientistas ficaram então com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam a bater naquele que tentasse chegar às bananas. Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, a resposta seria: "Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui..."




Não possuo mais referências sobre esta experiência com macacos, ignorando a fonte e a credibilidade científica do relato que transcrevi, reconhecendo assim que podemos estar perante um episódio sem fundamento. Porém, inclino-me a pensar que a experiência é verídica, na linha de tantas outras que são realizadas por primatólogos com estes nossos "primos". Experiência surpreendente e muito interessante de analisar por nós, os humanos.

Na verdade, são inúmeras as semelhanças comportamentais entre nós e eles. Possuímos uma herança genética e comportamental atávica que determina muitas dessas semelhanças. Entre nós, é muito frequente ouvirmos a frase: "Sempre houveram ricos e pobres, e sempre continuarão a haver...", testemunhando a nossa inata propensão para o conservadorismo, para a aceitação do mundo tal como ele é e já o encontramos. "As coisas, são o que são", "Oh, filho, deixa-te de idealismos e trata da tua vida", "O homem é por natureza egoísta e mau", "Adeus mundo, cada vez pior" e tantas outras expressões correntes do nosso dia-a-dia, são afinal meros afloramentos populares de um vasto e poderoso edifício ideológico, laboriosamente construído e assente sobre os caboucos arruinados e as heranças ainda de pé de sucessivos sistemas históricos ao longo de milhares de anos de evolução da Humanidade, todos eles assentes na divisão das sociedades humanas em classes e todos eles pregando e incutindo, de gerações para gerações, a passividade, a aceitação resignada do que existe e do como está, induzindo o individualismo e a divisão/competição, a subordinação à autoridade constituída, com as especificidades de cada época mas todos tendentes a garantir que os explorados aceitem a exploração, que os humilhados aceitem a humilhação.

Resumidamente, na actualidade, trata-se de um edifício ideológico herdado e constantemente actualizado, destinado a perpetuar o "status quo" com base na aceitação conformada da organização social e política predominante - o capitalismo -, como uma realidade imutável contra a qual não valeria a pena e é arriscado lutar.

Tudo isto a dar-nos a nós, os que nos reclamamos marxistas-leninistas, aos revolucionários, aos humanistas consequentes, aos defensores sérios e coerentes dos propósitos igualitários iniciais da máxima da burguesia revolucionária, "Liberdade, Igualdade, Fraternidade" - inscrita há mais de dois séculos -, a ideia do quanto é trabalhosa e dura, muito exigente, a tarefa nada inata que a nós próprios nos atribuímos, a saber, a de persuadirmos os que nos rodeiam a lutarem pela transformação radical do mundo, destruindo a ideologia dominante e edificando nas mentes e nos corações a vontade da construção de uma sociedade (quase) totalmente nova, na qual os trabalhadores sejam chamados a organizar e a exercer o seu próprio poder político de classe, tornando-o dominante pela conquista à burguesia do seu aparelho de dominação, para em seguida o destruir de alto a baixo e no seu lugar edificar uma organização sócio-política socialista.

E as notícias das grandes dificuldades que temos pela frente não ficam por aqui. Também é verdade que nada nem ninguém realizará esse colossal esforço por nós, temos que ser nós a assumir inteiramente a tarefa. E mais ainda, uma tarefa que não ficará concluída nunca, que todos os dias irá continuar a exigir-nos trabalho, esforços e inquebrantável dedicação, estudando e aprendendo com os sucessos e os insucessos, corrigindo e apurando permanentemente o rumo novo, sob pena de tudo retroceder, perdendo-se todo o trabalho e sacrifícios antes realizados.


Procurando estabelecer uma ponte entre a experiência com macacos do início e a referida necessidade de "desconstruirmos" de modo eficaz a ideologia do capital, para os leitores que ainda não o conheçam, aí fica o link (com os agradecimentos devidos ao Glauber Ataíde) de um vídeo muito interessante, onde o autor trata com criatividade este problema da "formatação" ideológica que nos querem impor, usando uma história de crianças: http://vimeo.com/4799723

Tem a duração de 50 minutos, o que exige tempo e disposição para o visionar, é em inglês, legendado, e faço votos que dêem por bem empregue o exercício - e o saboroso gozo - de o ver, para além da utilidade do seu conteúdo no nosso combate pelo socialismo.


1 comentário:

O Trigo e o Joio disse...

Não tenho dúvidas acerca da tendência humana para seguir regras pré-estabelecidas, muitas vezes sem conhecimento da origem das mesmas, em tudo semelhante à experiência dos macacos. Mas existe uma diferença entre o Homem e os restantes animais, que se chama ambição. No fundo é esta "praticalidade", que impulsiona a existência humana na forma social. Nela podem incluir-se todas as emoções, quer sejam de ordem amorosa, material ou qualquer outra, tornando a personalidade humana vulnerável em relação às suas próprias necessidades. Isto é evidente na sociedade materialista e consumista, na qual o mundo está quase todo mergulhado nos dias de hoje.

saudações