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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Uma festança patética e serôdia

Preparada ao longo de semanas, todos os sectores reaccionários da media, organizados internacionalmente sob a batuta da central de intoxicação ideológica do imperialismo estado-unidense, lançaram uma colossal campanha mediática anti-comunista com o pretexto de "comemoração" da data da demolição do muro de Berlim, ocorrida há vinte anos, no auge da ofensiva contra-revolucionária que conduziu à liquidação dos regimes socialistas até aí existentes em vários países europeus.

O acto encenado em Berlim, no passado dia 9/11, foi patético e denunciando o seu carácter de festança da contra-revolução, marcado por um saudosismo serôdio de toda aquela gentalha "ilustre" convidada. De facto, nestes vinte anos decorridos, a realidade já se encarregou de mostrar aos berlinenses e a todos os alemães - bem como aos restantes povos dos países à época socialistas - que nada de bom têm para comemorar, muito pelo contrário.
Sobrou esta gigantesca acção propagandística global, cuja preparação e laboriosa montagem cenográfica só vem confirmar que são eles, os imperialistas e os seus governos de turno que continuam a ter muitas e redobradas razões para temer o socialismo, apavorados com a perspectiva real de, face à monumental crise mundial do capitalismo e suas duras consequências para os trabalhadores, o objectivo de uma sociedade socialista redobre a sua capacidade de atracção para os explorados, como parece ocorrer de forma crescente por todo o mundo.
Alguns governos e parlamentos, alarvemente sintonizados pela tónica do mais execrável anti-comunismo, apressaram-se a associarem-se aos propósitos daquela bufa encenação política em Berlim.
Pelo seu interesse e oportunidade, transcreve-se a seguir o texto da intervenção de Bernardino Soares, membro da comissão política do PCP, na Assembleia da República, na discussão dos provocatórios e caninos votos que ali foram apresentados sobre tal "comemoração".


O triunfalismo comemorativo a que temos assistido nos últimos dias, de que alguns aqui na Assembleia da República também reivindicam o seu quinhão, mais do que o facto histórico que se verificou há 20 anos atrás, visa reescrever a história e tentar decretar, para o presente e para o futuro, a vitória definitiva do sistema capitalista como se do fim da história se tratasse.
É aliás extraordinário, mas não certamente um acaso, que isso aconteça no momento em que uma gravíssima crise internacional põe a nu as contradições do capitalismo e arrasta os povos para a degradação das suas condições de vida, para o aumento da pobreza e para uma ainda maior exploração dos trabalhadores e dos mais desfavorecidos.

É ainda extraordinário e inaceitável que esta gigantesca reescrita da história procure fazer tábua rasa dos contributos do campo socialista em aspectos decisivos do progresso da humanidade no século XX, como são os casos do contributo determinante para a derrota do nazi-fascismo da luta e derrota do colonialismo, do progresso social económico e cultural e dos direitos dos trabalhadores em todo o mundo, da paz e da manutenção de um equilíbrio militar estratégico.

É aliás significativo que se ignorem importantes consequências das alterações ocorridas há cerca de 20 anos no Leste europeu, como a drástica redução da esperança de vida, a destruição dos sistemas sociais, o desemprego, o aumento exponencial da pobreza, da fome e da marginalidade. Ou como o retrocesso social e nos direitos dos trabalhadores entretanto verificado e em curso, incluindo no nosso país. O Imperialismo norte-americano e o seu pilar na União Europeia crescentemente militarizada encontraram um campo mais liberto para a ingerência, a invasão e o desmembramento de países soberanos. Pela primeira vez desde 1945 a guerra voltou à Europa e um país soberano – a Jugoslávia - foi desmembrado com a participação activa e directa de potências estrangeiras.

O que foi derrotado não foram os ideais e o projecto comunistas, mas um «modelo» historicamente configurado, que se afastou, e entrou mesmo em contradição com características fundamentais de uma sociedade socialista, sempre proclamadas pelos comunistas, onde são indispensáveis entre outras a democracia política e a liberdade.
O PCP rejeita por isso o teor dos votos em análise, registando diferenças substanciais entre eles, em especial os que fingem ignorar os muros reais que hoje existem contra a liberdade, a dignidade, que impõem a exploração agravada, ou que suportam a guerra e a ocupação.

O afã comemorativo destes dias visa sobretudo o presente e o futuro; visa a luta dos povos contra a natureza agressiva do capitalismo, deseja desmobilizar a esperança e esconder que há alternativa a este sistema.

Não o conseguiram no passado e não o conseguirão no futuro.

6 comentários:

Jorge disse...

Nem mais,...não passarão nunca !!

Abraço!

Anónimo disse...

Criar um muro numa cidade para dividir a sua população,que mesmo após a 2ª Guerra sempre circulou livremente mais de 15 anos com várias redes de comunicações e transportes quer da parte leste quer oeste, é um acto indigno de qualquer regime, e isso não pode ser ignorado nem se justifica com desculpas, mesmo que se apresentem como muito abonatórias. O Muro de Berlim construído em Agosto de 1961 é uma vergonha imperdoável

filipe disse...

Para o anónimo, um pouco de história acredito que poderá ser útil:

Já no "Mein Kampf" Hitler escreveu ser seu objectivo central a invasão da URSS. Essa invasão, assim congeminada desde os anos trinta pelos nazis, começa a ser preparada militarmente em Setembro de 1940("Operação Barbarossa")e tem lugar em 22 de Junho de 1941. Na ofensiva nazi, são empenhadas 180 divisões(!) e da resistência solitária da URSS e do seu inaudito sacrifício - perante a passividade cúmplice e o óbvio regozijo das potências "ocidentais" - falam os 20 milhões de vidas humanas ceifadas e as heróicas defesas de Estalinegrado, Leninegrado e Moscovo, entre muitas outras. Dos tempos de uma resistência feita de coragens individuais e colectivas inenarráveis, os exércitos soviéticos passam entretanto à ofensiva e, após uma sucessão de derrotas e recuos alemães, em Julho de 1943 os nazis são derrotados na mega- Batalha de Kursk, iniciando-se aí a sua total retirada/debandada do território da URSS e o princípio do seu fim, perseguidos pelos tropas soviéticas até ao próprio território da Alemanha.
Perante esta sucessão de derrotas dos exércitos nazis e o correspondente avanço dos militares soviéticos, é então que os chamados "aliados" decidem o desembarque na Normandia, em 6 de Junho de 1944, três - três! - longos anos cumpridos, após o início da selvática invasão da URSS.
Aproveitando a derrota nazi e a sua total desagregação política, os trabalhadores alemães vão assumindo o poder nos territórios libertados pelo avanço das tropas soviéticas, territórios estes que irâo dar origem à constituição de um novo país socialista, a RDA.
Com a tomada de Berlim, a 30 de Abril de 1945, Adolf Hitler suicida-se, quando as tropas soviéticas estavam exatamente a dois quarteirões de seu bunker.
Entretanto, os anteriores acordos e compromissos políticos estabelecidos entre soviéticos, americanos, ingleses e franceses, obrigaram a que Berlim fosse dividida em quatro sectores, e assim se cumpriu e fez...Os três sectores "ocidentais" em 1948 foram integrados, ficando o quadro reduzido a uma parte sob administração norte-americana/alemã e outra parte sob administração soviética/alemã, depois passada à administração da nascente RDA. Desta maneira, apesar dos soviéticos tomarem antes a cidade, e também um expressivo território ao seu redor, tiveram que ceder o lado ocidental dela para as três outras potências, ou seja, adentro do território da RDA socialista, foi criada uma "ilha" berlinense capitalista...
Daí para a frente, durante os anos de "guerra fria" que se seguiram, foram incontáveis as permanentes e diversificadas provocações, montadas pelos serviços secretos "ocidentais", à Berlim de leste, -mantida como a capital da RDA, enquanto a RFA fazia da cidade de Bona a sua capital... - a partir da parte "ocidental" da cidade. Tudo fizeram, desde os numerosos voos, diários e constantes, sobre o território da RDA (sob o pretexto do "abastecimento" de Berlim-oeste isolada, claro...), operações de "inteligência" e infiltração, ruidosas operações de propaganda audio-visuais, acções terroristas direccionadas, utilização de prostitutas e elementos do "lumpen" para constantes provocações às sentinelas (inclusivé, cuspir-lhes nos rostos) que guardavam os postos de controle entre os dois lados. Seis anos depois, em 13 de Agosto de 1961, com o acirrar da permanente confrontação leste-oeste, as autoridades da RDA decidem acabar definitivamente com aquela situação, construindo um muro a separar as duas zonas.

Espero que estes dados sejam um apoio a uma análise um pouco mais objectiva e liberta dos pré-conceitos do anti-comunismo, reinantes na chamada "comunicação social" - ainda a dominante, claro.

filipe disse...

(Conclusão)

Finalizando, para aqueles que tanto gostam de julgar hoje os méritos e deméritos daquela decisão, tomada há 48(!) anos atrás, aí deixo (com o meu agradecimento fraterno ao blog "As Palavras são Armas") uma eloquente, didática - e vergonhosa, porque dos nossos dias! - relação dos muros existentes na actualidade:

-Israel – Cisjordânia é hoje o muro mais odiado, não respeita quaisquer linhas internacionalmente acordadas. São os muros da ocupação sionista.
-Israel – Gaza cerca reforçada com arame farpado, torres de vigília e sensores.
-EUA - México, muro entre os dois países, com 3000 km (três mil), abrangendo vários estados norte-americanos, construção que o México contesta.
-Irlanda do Norte divide a zona católica da protestante.
-Entre Marrocos e Sara Ocidental 2700 km.
-Botswana e Zimbabwe uma cerca electrificada de 300 milhas.
-África do Sul – Moçambique – Zimbabwe, cerca de alta segurança 120 km.
-Arábia Saudita – Iémen desde 2006 estão a construir uma cerca.
-Emiratos Árabes Unidos – Omã, os EUA estão a construir uma barreira.
-Arábia Saudita – Iraque, há planos para erguer uma barreira de 900 km.
-Egipto. Entre o Egipto e Rafah (Palestina), há um muro de cimento.
-Chipre – República Turca de Chipre do Norte, muro de 180 km.
-Iraque, após a ocupação os EUA contruíram um muro de cimento com 5km de comprimento e 3,6 de altura à volta do bairro sunita em Bagdade, vivendo entrincheirados, com o governo fantoche, na chamada "zona verde".
-Turquemenistão – Uzbequistão uma barreira de 1700 km ao longo da fronteira uzbeque.
-Uzbequistão – Quirguistão uma cerca de arame farpado entre os dois países.
-Uzbequistão – Afeganistão estão a construir na fronteira uma cerca de arame farpado e outra electrificada.
-Cabul, Afeganistão, há barreiras espalhadas pelas ruas, para proteger os edifícios das organizações internacionais.
-Paquistão – Afeganistão, há planos para um muro de 244 km.
-Irão – Paquistão, começou a construção de um muro em cimento com um metro de espessura 3 m de altura e 700 km de comprimento.
-Índia – Paquistão, estão a construir uma cerca com 1800 km.
-Tailândia – Malásia, há na fronteira um muro de 2,5 m de altura, com arame farpado.
-China – Hong Kong/Macau, entre a China-mãe e as regiões especiais existem cercas com sensores térmicos, luzes e câmaras.
-Coreia do Sul-Coreia do Norte, os norte-americanos construiram uma barreira na fronteira, de arame farpado e campos minados, que existe desde a divisão artificial do país, imposta em 1953.
-Rússia, está a erguer barreiras nas fronteiras com a Noruega, Finlândia, China, Mongólia e Coreia do Norte.

A estes, é necessário - e justo! - que acrescentemos ainda as cercas e muros construídos pelo Pentágono, a rodear as suas mais de 700(!) bases e instalações militares, espalhadas pelos territórios de mais de 60 países.

Ainda há inúmeros outros muros e barreiras, para vergonha de todos nós, como o muro no Rio de Janeiro a separar as favelas das zonas "residênciais", aliás bastante semelhante aos muros dos inúmeros condomínios privados que pululam por todo o "Ocidente", separando os abastados proprietários do contacto com os cidadãos comuns - afinal, qualquer um de nós.
Todos a exigirem o nosso empenhamento - afinal, um dever para todos os democratas sinceros -na sua demolição.
Saudações cordiais.

Jacque disse...

Vi seu post sobre Ernesto. Quer conhecer meu Blog: http://amorrevolucionariojacque.blogspot.com/ ?

Beijo.

Jacque

Anónimo disse...

Os facftos históricos são claros. A RFA foi criada pelos "aliados" violando o Tratado de Yalta e a RDA em 1949 posterormente. Mas até 1961 não houve muro nenhum. Também quando Tito se afasta da URSS não houve tanques a tanques