SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O Haiti real e as mentiras da "imprensa ocidental"


Com o "presidente" do país desempenhando o vergonhoso papel de uma marioneta totalmente comandada pelos norte-americanos, prossegue a acelerada ocupação militar do Haiti por tropas dos EUA. Há minutos atrás, foi o próprio Pentágono a anunciar o envio imediato de mais 7.000 soldados, elevando para um total de 20.000 homens o efectivo bélico estadunidense no martirizado Haiti.

Para se ter uma ideia comparativa, basta pensar que Portugal, tendo uma população e um território que são quase o dobro dos haitianos - e herdando das guerras coloniais umas forças armadas inflacionadas - conta com um total de efectivos nos três ramos inferior (18.500) ao contingente USA que ocupará o Haiti.

E, já agora, imaginemos também, mesmo que só por alguns momentos, o que significaria 20.000 soldados "amigos" invadindo o nosso país, ocupando a nossa capital e tomando reféns as nossas principais cidades a norte de Lisboa. Tal exercício mental, além de nos aproximar da realidade vivida pelos haitianos, também pode ser-nos útil como alerta para a necessidade do combate a travarmos contra as pretensões hegemónicas do imperialismo.

Pelo valor dos seus testemunhos em directo, aqui se divulga - sem correcções - um texto editado pelo "CMI/Brasil" que nos ajuda a conhecer melhor o que se passa no Haiti, contrariamente às campanhas terroristas da média dominante que visam incutir a ideia mentirosa, xenófoba e racista que afirma que os haitianos são desordeiros, criminosos, incapazes de manterem a tranquilidade no seu país, o necessário "fundamento" para "justificar", aos olhos de pessoas mais desprevenidas, a ocupação militar do país pelas tropas imperialistas dos EUA.

Desmascarar as mentiras e divulgar as verdades é, para os amigos sinceros do Haiti, uma tarefa urgente e irrecusável.

Mais de uma semana depois do terremoto, a ajuda finalmente começa a chegar nas cidades do interior do Haiti e os/as haitianos/as perguntam: por que a ajuda vem armada? Não há uma guerra no Haiti, por que as armas? A ONU declarou que quer primeiro cuidar da segurança no país para depois darem auxílio. Notícias divulgadas pela média corporativa fala de caos e assaltos nas ruas do Haiti, matérias sobre presos terem conseguido escapar da cadeia depois do terramoto e relatos de saques tomam boa parte do que vem sido divulgado pela "grande média".

Entretanto, relatos de meios de comunicação independentes e organizações sem fins lucrativos que estão no Haiti desmentem que exista um problema com "segurança" no país. A jornalista independente Amy Goodman, apresentadora do programa "DemocracyNow!", dos Estados Unidos, está no Haiti desde o começo desta semana. "Eles estão recebendo quase nenhuma ajuda. Passamos de uma família para outra, e eles disseram, continuamente, que suas vidas estão nas mãos de Deus. A própria ONU fez a declaração sobre a segurança. E nós queríamos saber a que eles estavam se referindo. Andamos livremente de um lugar para outro. As pessoas estão desesperadas, mas certamente pacíficas."

Ela também relata que a ajuda está centralizada no aeroporto em Porto Príncipe e que não está indo para o resto do país: "E o que fizemos ontem foi o que apenas alguns jornalistas fizeram: saímos de Porto Príncipe e fomos ao longo da costa para Carrefour e Léogâne. Este é o epicentro. Lá é onde a ONU emitiu sua declaração, dizendo que eles reconhecem que 90% dos edifícios caíram, que milhares de pessoas foram mortas. Mas, segundo eles, a menos que pudessem garantir a segurança, eles não iriam fornecer ajuda lá. Isso é tremendamente assustador."

O doutor Evan Lyon, que vem trabalhando no Hospital Geral (o maior hospital do Haiti) disse em entrevista para o "DemocracyNow!": "Eu estou vivendo num bairro com o meu amigo. Estou ficando com alguns colegas médicos haitianos. Nós estamos circulando pelas ruas entre uma e duas da manhã, movendo pacientes, movendo suprimentos, tentando fazer o nosso trabalho. Não há segurança. A ONU não está nas ruas. Os EUA também não estão nas ruas. A policia haitiana não estão conseguindo ficar nas ruas. Mas também não há insegurança. Eu não sei se vocês estavam do lado de fora ontem a noite, mas você consegue ouvir até um pingo d'água nessa cidade. Esta cidade é um lugar pacífico. Não há uma guerra. Não há uma crise, a não ser o sofrimento que está ocorrendo."

Além disso, Amy Goodman fala sobre a extrema organização da população nos acampamentos de refugiados montados por todo o país, cada um com cerca de mil pessoas: "... eu penso que nós estamos falando de anarquia do governo, a incrível força comunal da comunidade. Estes campos de refugiados, esses campos menores e maiores que o número chega na casa dos milhares, são comunidades organizadas. À noite, eles colocam pedras na rua. Se você não conhecesse essas comunidades, você diria: 'O que está acontecendo aqui? Certo? São estes, você sabe, os anarquistas? Eles são violentos? Eles estão ameaçando?' Eles estão protegendo suas comunidades e aqueles que estão dentro. E eles não querem que as pessoas de fora entrem, especialmente à noite. É extremamente organizado a nível local, entre bairros, as pessoas ajudando-se mutuamente."

O jornalista Kim Ives, que está viajando junto com o "DemocracyNow!" responde a pergunta de Amy Goodman sobre a organização das comunidades: "Oh, e as organizações comunitárias, nós vimos na outra noite em Mateus 25 (bairro onde há um alojamento com cerca de 600 pessoas desabrigadas), a comunidade onde nós estamos ficando. Um descarregamento... um caminhão cheio de comida veio no meio da noite sem avisar. Poderia ter ocorrido uma briga. A organização da população local foi contactada. Eles mobilizaram imediatamente os seus membros. Eles vieram. Organizaram um cordão. Enfileiraram cerca de 600 pessoas que estão ficando no campo de futebol atrás da casa, que também é um hospital, e eles distribuíram a comida de forma ordenada, em porções iguais. Eles eram totalmente auto-suficientes. Eles não precisam dos "Marines". Eles não precisam da ONU. Eles não precisavam de nenhuma dessas coisas que estão nos falando que eles precisam, ditas também pela Hillary Clinton e o ministro do exterior. Essas são coisas que as pessoas podem fazer por elas mesmas e estão fazendo por elas mesmas."

Na manhã da quarta-feira, 20 de Janeiro, houve outro tremor, e ainda não se sabe que prédios foram atingidos pelo tremor e quais foram as vítimas. Mas é lógico que isso traz pânico à população que teme por suas vidas. Ninguém sabe se haverão outros tremores. Por enquanto os grupos de ajuda continuam chegando e os que já estão no país estão trabalhando dia e noite construindo hospitais, atendendo as pessoas e distribuindo água e comida. Mesmo assim muita gente está morrendo por falta de cirurgia, o grupo de ajuda médica "Partners in Health" disse que cerca de 20.000 pessoas estão morrendo por dia que poderiam ser salvas com cirurgia.



O povo haitiano é merecedor de toda a nossa solidariedade possível, da nossa ajuda fraternal e desinteressada, descobrindo e organizando para isso as acções de recolha de ajudas e, sobretudo as organizações merecedoras da nossa confiança para o garantir.
Sindicatos, autarquias locais, associações cívicas, colectividades, todos podem ajudar, garantindo-se em seguida que entidade nos garante que os donativos cheguem mesmo às mãos dos haitianos necessitados. Uma tarefa nada fácil, sem dúvida, mas a exigir-nos as capacidades e os esforços necessários para a realizar.

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