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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A pobreza, o capitalismo, a hipocrisia - em Portugal, na E.U. e no mundo

O jornal semanário "Avante!", órgão central do P.C.P., editado às quintas-feiras e com sítio na net - http://www.avante.pt/ -, é uma leitura indispensável para todas as pessoas interessadas em obter uma informação verdadeira e independente, sobre o que ocorre no país e no mundo e sobre a visão própria dos comunistas portugueses acerca da actualidade.

Pelo interesse que reveste, transcreve-se em seguida um artigo, publicado na sua última edição, de 21/1.



A União Europeia designou 2010 como o Ano Europeu contra a Pobreza. E por isso aparecem já e cada vez com mais frequência as muito adequadas notícias nos órgãos de comunicação social. Dão a boa nova e deixam a ideia de um grande empenhamento das instituições europeias e nacionais, no combate a este flagelo social e do qual são vítimas milhões de seres humanos, não apenas na União Europeia mas em todo o mundo.

Eis alguns números e factos que ilustram esta realidade. Mais de 1100 milhões de pessoas vivem com menos de um dólar por dia; o número daqueles que vivem abaixo do limiar da pobreza aumenta diariamente. Mais de dois milhões, estão nessa situação no nosso País. Destes, cerca de 700 mil são assalariados e outros tantos são pensionistas e reformados.
Em todo o mundo milhões de trabalhadores são empurrados para o desemprego. Em Portugal já ultrapassam os 700 mil e as multinacionais, mas não só, continuam a encerrar empresas e a levantar a tenda deixando atrás de si um rasto de miséria e infelicidade para milhares de operários e outros assalariados. Na maior parte dos casos, sem qualquer perspectiva de voltarem a arranjar um posto de trabalho.

Segundo a ONU, morrem por ano mais de 36 milhões de seres humanos devido à fome. Ou seja, 70 seres humanos morrem em média por minuto por falta de alimentos. Em Portugal são já mais de 200 mil os que já não ganham o suficiente para se alimentarem e já passam fome. E tudo isto sucede quando, em consequência dos avanços da ciência e da técnica, a capacidade de produção de bens alimentares nunca foi tão grande e quando somos informados pela comunicação social de que centenas de milhares de toneladas desses mesmos bens são destruídos e colocados no lixo, para não prejudicar as margens de lucro dos senhores que dominam e mandam no circuito, desde a produção até à distribuição.
Ainda segundo a ONU, mais de 30 mil crianças morrem por dia devido a causas que podiam ser evitadas se tivessem acesso aos extraordinários avanços da ciência na área da Saúde. Mas, mais uma vez, a ganância dos parasitas (que são apresentados como grandes defensores dos direitos humanos!) pelos escandalosos lucros que o gigantesco negócio do medicamento lhes proporciona, condena à morte esses milhares de crianças todos os dias. Se outros exemplos não houvesse – e infelizmente há muitos mais – este bastaria para ilustrar o carácter profundamente desumano e cruel do capitalismo.

Trata-se de autênticos crimes contra a Humanidade pelos quais os seus autores deviam ser julgados e punidos. As causas da pobreza estão, pois, na essência do sistema capitalista. Na exploração de que são vítimas os operários e restantes trabalhadores que criam a riqueza do País e na sua injusta repartição – que concentra uma grande parte nas mãos daqueles que sendo uma minoria – os capitalistas – detêm os meios de produção e atiram para a pobreza e a miséria aqueles que são a imensa maioria – os assalariados – que têm como única riqueza a sua força de trabalho e, através dela, quando a conseguem vender, o salário, desvalorizado permanentemente.
Mas não é isto que vamos ver e ouvir sobre a pobreza durante o ano de 2010 da parte dos dirigentes europeus, do Governo/PS e de toda a direita. Porque não são as causas que os preocupam mas sim a crescente tomada de consciência por parte dos trabalhadores e dos povos do carácter explorador, injusto e desumano do sistema capitalista.
Vamos sim vê-los ao lado dos Belmiros, Amorins e outros que tais, em iniciativas de caridade doando cheques, refeições, roupas, etc. E, com grande hipocrisia, deitar lágrimas de crocodilo pelos coitados dos pobres que o destino condenou (e não eles!) a viver na pobreza.
Neste contexto, ganha ainda mais importância a grande acção nacional do Partido, a começar para a semana e a desenvolver-se até final de Março, que deve envolver todas organizações e militantes e através da qual daremos a conhecer as nossas propostas para uma nova política, ao serviço dos trabalhadores, do povo e do País, tendo como horizonte o socialismo – onde a exploração e a pobreza darão lugar à justiça social, à liberdade e à democracia em todas as suas vertentes: política, económica, social e cultural.

(Armindo Miranda, da CP do CC do PCP, in "Avante!", n° 1886)



Confirmando inteiramente esta justa denúncia, um estudo do economista Eugénio Rosa - cujos estudos são autênticas ferramentas de combate, a usar pelos explorados na sua luta contra o capital - indica exactamente como, com a conivência do governo do Partido "Socialista" e à custa dos recursos do Estado português, a banca enriquece com a crise. Assim, apesar da crise grave que enfrenta o País e das crescentes dificuldades para a maioria dos portugueses, só nos primeiros 9 meses de 2009 os cinco maiores bancos a funcionar em Portugal – CGD, BCPMillennium, Santander Totta, BES e BPI – obtiveram lucros líquidos que atingiram 1.448 milhões de euros!

Como se vê, para os banqueiros não há crise, ou melhor, em Portugal a banca enriquece com a crise e com as dificuldades dos portugueses. Para além das formas clássicas de extracção de mais valia (taxas de juro e spreads elevados, comissões exorbitantes, especulação que de novo surge em força, etc.) que utiliza para obter elevados lucros, a banca também lança mão de uma outra forma, menos conhecida mas não menos escandalosa; no período 2005-2009, arrecadou mais cerca de 1.468 milhões de euros de lucros apenas por não ter pago a taxa legal de IRC e de derrama, taxa que qualquer pequeno empresário é obrigado a pagar mas que à banca ninguém obriga - isto é, em vez dos 27,5% a que estaria obrigada, segundo dados divulgados pela sua própria Associação Portuguesa de Bancos, a banca pagou em 2008 somente 12,8% em impostos, e, para 2009, a estimativa é que pague só 9,8%!

Tudo isto ocorre a par da sobre-exploração do trabalho dos assalariados ao serviço dos banqueiros; enquanto os vencimentos dos trabalhadores bancários vêm perdendo peso na percentagem dos encargos dos bancos, atingindo em 2008 o valor mais baixo com apenas 27,5%, neste mesmo ano a remuneração média dos seus administradores variou entre 698.000 euros e 777.100 euros!

São estas e outras verdades que vão desmascarando as mentiras da propaganda do capitalismo e os venenosos apelos à concertação e conciliação de classes daqueles que lhe fazem o jogo. A luta pelo Socialismo está definitivamente na ordem do dia.


1 comentário:

Anónimo disse...

Muitos estudos fazem estes srs. sobre os problemas mais prementes e graves deste país. Até nos faz recordar A SAgrada Família ou a Crítica da Crítica Crítica de Marx. E já agora porque não estudam com a devida atenção As Teses sobre Feuerbach e alguns artigos que Lenine publicou entre 1906 e 1917. Com eles aprenderiam finalmente qualquer coisa aqcerca do marxismo-leninismo. Não acham?