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sábado, 12 de junho de 2010

As iníquas resoluções do Conselho de Segurança da ONU, sobre o Irão e sobre Israel


No passado dia 9/6, o Conselho de Segurança da ONU, por doze votos a favor, com uma abstenção e dois votos contra, aprovou uma nova resolução - a quarta - que impõe sanções ao Irão pelo seu programa nuclear. O Líbano absteve-se, Brasil e Turquia, protagonistas recentes de um acordo com o Irão destinado a aliviar a tensão naquela região do mundo, dando força às acções pela Paz contra a política agressiva dos EUA e dos seus directos aliados, votaram ambos contra.

A favor desta resolução, além dos restantes sete países que actualmente integram o CS, votaram também - tornando-a legítima - todos os membros permanentes do Conselho, a saber, EUA, Reino Unido, França, Rússia e China. Tal votação surpreende, apesar dos procedimentos políticos e diplomáticos destes membros permanentes nos últimos anos já não deixarem muita margem para surpresas. De facto, nesta situação concreta - o direito de um país a usufruir da energia atómica - vemos o Brasil adoptando uma posição mais "à esquerda" que a posição colaboracionista da China.

Quem o diria, alguns anos atrás. A China, um país socialista durante várias décadas, hoje votando no Conselho de Segurança ao lado do que de pior existe na actualidade política mundial - EUA, Reino Unido, França -, para além da Rússia, selvaticamente capitalista, de Putin e Medvedev. Lamentavelmente, para o povo chinês e para os povos de todo o mundo, são cada vez mais numerosas as posições de evidente alinhamento e "cooperação estratégica" entre a China e as potências imperialistas mundiais, particularmente com os EUA, dos quais é hoje um muito próximo e indestrinçável aliado de "mercado". (1)



Kourosh Ziabari é um jovem jornalista iraniano que acaba de completar em Abril p.p. 19 anos. Nascido no litoral do Mar Cáspio, já publicou várias traduções do inglês para o persa e entrevistou personalidades como Noam Chomsky, o ex-presidente mexicano Vicente Fox, o prémio Nobel de Física Wolfgang Ketterle, o ex-assistente do Departamento do Tesouro dos EUA Paul Craig Roberts, dentre várias outras dezenas de personalidades do mundo político e jornalístico.
É dele o artigo que aqui se transcreve, publicado no "Global Research", segundo tradução publicada no "Vermelho". Trata-se de um oportuno inventário de algumas das mais significativas das 223 Resoluções aprovadas naquele órgão das Nações Unidas condenando a política genocida de Israel contra os povos árabes, todas arrogantemente ignoradas pelos sucessivos governos sionistas israelitas.
O autor trata genericamente um importante capítulo das agressões sionistas, a chamada "Guerra dos Seis Dias" - na verdade iniciada em Abril e só terminada em Novembro, quando o Conselho de Segurança da ONU adopta a resolução 242 que ordena a retirada de Israel dos territórios ocupados -, um conflito militar contra vários países árabes através do qual Israel, com a conivência e apoio activo dos EUA, impõe a anexação de Jerusalém Oriental, a ocupação dos Montes Golã, do Sinai, da Faixa de Gaza e da Cisjordânia.
Ao dar a sua visão sobre as ameaças da dupla EUA/Israel, Kourosh Ziabari avança também a sua opinião sobre o caminho a seguir pelo seu país, o Irão. Esta reprodução do seu artigo não significa acordo com todas as suas ideias, antes constitui uma singela saudação a este jovem patriota e anti-imperialista de dezanove anos e, através dele, uma sincera homenagem às capacidades e às energias inesgotáveis da juventude combativa dos povos em luta, em busca de uma radical viragem do mundo para o progresso social e político, para a Paz, para o Socialismo.


O Conselho de Segurança, que desde o seu estabelecimento tem tomado decisões discriminatórias contra vários países do mundo, especialmente em relação às nações não alinhadas que tentam escapar da hegemonia das super-potências, é notório pelo seu habitual padrão de um peso e duas medidas e está claro para todo mundo que suas resoluções são, na maioria das vezes, nada mais que fúteis, ineficazes, tendenciosas e não vinculativas.

Desde o ano de 1948, o Conselho de Segurança adoptou 223 resoluções condenando as violações de Israel à lei internacional, inclusive a ocupação de território palestino, incursões unilaterais em territórios libaneses e sírios, desenvolvimento de armas nucleares, deportação de cidadãos palestinos de seus lares e construção ilegal de assentamentos na Cisjordânia. Curiosamente, o regime israelense não deu atenção a qualquer uma dessas resoluções e o CS nunca colocou em prática as suas exigências para responsabilizar Telavive pela manutenção contínua de flagrante rebeldia em relação às leis internacionais.

Por exemplo, a resolução de número 487 exigiu que Israel colocasse suas instalações nucleares sob abrangente vigilância da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA). Israel nunca atendeu à demanda e o CS nunca processou Israel pela sua desobediência à resolução.

Em outro exemplo, o Conselho de Segurança adoptou seis resoluções seguidas, após a invasão do Líbano por Israel, em 1982, exigindo que o país cessasse as actividades militares e retirasse suas forças do território do país vizinho, mas Israel se recusou a aceitar as resoluções, até que a de número 517 foi aprovada, na qual Telavive foi fortemente censurada pela sua recusa em obedecer às resoluções do CS, emitidas a partir de Março de 1982.

O estado criminoso de Israel, desde seu estabelecimento, atacou todas as suas nações vizinhas em várias ocasiões, levando o CS a adoptar várias resoluções; entretanto, elas nunca foram além de declarações políticas, que eram no mínimo meras reacções espontâneas à brutalidade de Israel no Oriente Médio.

Em 21 de Março de 1968, Israel iniciou a chamada Batalha de Karameh, ao atacar a cidade de mesmo nome na Jordânia, do outro lado do rio Jordão. O ataque matou de 40 a 84 jordanos e de 100 a 200 palestinos. Em seguida ao ataque, o CS adoptou a resolução 248, na qual a "flagrante violação à Carta das Nações Unidas" foi energicamente condenada por todos os membros do Conselho de Segurança, até mesmo pelos Estados Unidos. Entretanto, a condenação verbal foi a única reacção do Conselho de Segurança à violência de Israel.

Em Dezembro de 1968, as Forças de Defesa de Israel (nome fantasia do exército agressor israelense), fizeram um raid no aeroporto Internacional de Beirute, destruindo 13 aeronaves civis que pertenciam à empresa nacional libanesa de aviação Middle East Airlines. O assalto também foi 'condenado' mais uma vez por mais uma resolução do CS, a de número 262. A resolução ameaçava punir Israel de forma categórica se o seu exército não se retirasse do local. Porém, a resolução não foi obedecida e outras acções consequentes jamais foram tomadas, mesmo quando Israel repetiu as mesmas acções criminosas.

Em 1985, Israel desferiu um ataque aéreo contra a Tunísia, tendo como alvo a liderança da Organização para a Libertação da Palestina. O CS adoptou mais uma resolução, condenando Israel e exigindo que Telavive contivesse novos ataques semelhantes. A resolução também destacou que a Tunísia tinha o direito a uma indemnização, considerando as perdas de vidas e os danos causados.

Tendo assassinado milhares de civis desde a sua criação, o recorde criminoso do regime israelense é claro para o mundo e todo o ser humano consciente admite que esse regime brutal merece sofrer as mais enérgicas medidas.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas nunca foi além de declarações propagandísticas em relação às acções ilegais e desumanas de Telavive, da morte de civis inocentes e da violação das leis humanitárias internacionais. Se não fosse a pressão da comunidade internacional, o CS jamais teria emitido essas resoluções, mesmo que frágeis e ineficazes, contra Israel.

O CS jamais aprovou qualquer resolução que impusesse sanções contra Israel, embora as transgressões e crimes do país sejam tão flagrantes e evidentes que ninguém pode negar a alegação de que Israel é o regime mais violento e vicioso do mundo, uma cópia idêntica e indistinguível do regime de "apartheid" que existiu na África do Sul.

A recente resolução do Conselho de Segurança contra o Irão foi um exercício claro de um peso e duas medidas pelo cada vez mais enfraquecido organismo internacional e deve ser respondida pela república islâmica de forma categórica. A postura da China e da Rússia sobre o programa nuclear iraniano e o surpreendente acompanhamento de nações como Gabão, Nigéria, Uganda, Bósnia e Herzegovina e o México da trajectória falaciosa dos cinco grandes não deixam espaço para a continuação da diplomacia e uma interacção pacífica com o Irão.

O país persa demonstrou uma cooperação construtiva e produtiva com a AIEA, com o Grupo dos 5 mais 1 (China, Rússia, EUA, Reino Unido e França mais a Alemanha) e com a União Europeia, mantendo as portas abertas para a negociação, porém o tempo da diplomacia chegou ao fim. Agora, depois que as cinco potências tomaram uma postura de confronto, decidindo por um caminho unilateral, o Irão deve mudar sua táctica e a solução que pode escolher é retirar-se do Tratado de Não Proliferação Nuclear e da AIEA.

Se o Paquistão, a Índia e Israel podem gozar de impunidade internacional para desenvolver armas atómicas, simplesmente porque não são signatários do TNP, o Irão tem todo o direito de dar prosseguimento ao seu programa retirando-se de um tratado que o país ratificou voluntariamente.



(1) Nota: A evolução política das orientações seguidas pelas lideranças chinesas nos últimos trinta anos exige-nos uma avaliação crítica séria e rigorosa. Tal exame, obviamente, não é o objecto deste post, nem o seu autor tem tal pretensão. Entretanto, tal avaliação histórico-política é hoje manifestamente do interesse de todos os revolucionários, nomeadamente do interesse dos partidos operários e comunistas, de todos aqueles que nos afirmamos identificados com os princípios e métodos teóricos do marxismo-leninismo. As preocupações com a situação actual na China, as perplexidades crescentes, assim como o grau das discordâncias já atingido, colocam-nos essa exigência e essa responsabilidade.
Nenhum tacticismo, nenhuma herança ideológica (fragilizada) de um passado chinês revolucionário, nenhuma sólida solidariedade internacionalista e de classe nos autorizam a "enfiar a cabeça na areia". Pelo contrário, são os nossos deveres de classe e as nossas responsabilidades realmente internacionalistas que o exigem.
É uma verdade, há muito que aprendida, que o Socialismo é uma realização criativa da classe operária e dos assalariados de cada país e de cada povo, absolutamente única e irrepetível - mas, em todas as circunstâncias e latitudes, sob a condição "sine qua non" de ser uma realização revolucionária verdadeiramente democrática e socialista do trabalho contra o capital, uma realização inovadora inteira e exclusivamente ao serviço dos trabalhadores e dos povos, sempre dirigida contra as classes oligárquicas exploradoras, visando extinguir historicamente a exploração do homem(produtor) pelo homem(explorador).

2 comentários:

Anónimo disse...

"AS INÍQUAS RESOLUÇÕES"?
Em 1963 a revista Renmin Ribao dizia num artº o seguinte: ...os E.U.A. com a "ajuda" económica e outros meios continuA, a fazer desses países um mercado para as suas mercadorias, fontes de matérias primas,áreas de exportação de capitais,saqueando as suas riquezas e sugando o sangue dos seus povos. ALÉM DISSO SERVE-SE DA ONU COMO IMPORTANTE INSTRUMENTO para intervir nos assuntos internos desses países e contra eles perpretar AGRESSÕES MILITARES,ECONÓMICAS E CULTURAIS...
Isto foi escrito em 1963.

Anónimo disse...

É natural que alguém com 19 anos não tenha assimilado com o conhecimento mais ou menos aprofundado a teoria do marxismo-leninismo, mas o mesmo não se pode dizer de indíviduos com cerca de 60 que se auto-proclamam como tal...