SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A propósito dos novos dados sobre o flagelo capitalista do desemprego em Portugal



Há muito que já se sabe que o capitalismo não existe para garantir trabalho e empregos estáveis aos trabalhadores. Muito pelo contrário, para se reproduzir e sempre obtendo as maiores taxas de juro para o capital, o capitalismo é o criador constante de uma massa colossal de trabalhadores desempregados, aquilo que os seus economistas chamam de "exército de mão-de-obra na reserva". Na actualidade, com o sistema económico-social que adquiriu estatuto de planetário, com a ascensão triunfante dos seus segmentos financeiro-especulativos, as suas características predadoras e destrutivas do Homem e da Humanidade tornaram-se exuberantes.


Se o objectivo do capitalismo fosse a criação da riqueza material e o desenvolvimento das sociedades contemporâneas, como apregoam os seus numerosos e multi-facetados propagandistas, é óbvio que estaria garantido o pleno e constante emprego de toda a força de trabalho existente, bem como se verificaria a ocupação plena das capacidades materiais produtivas, em todos os países e em todas as épocas. Mas não é assim.


Segundo a ciência económica séria, a produção material é o elemento central da actividade económica. Assim, a produção da riqueza é, por definição, o objecto principal na organização social e nas relações humanas, tendo estas por objectivo último organizar a actividade produtiva para a satisfação das necessidades humanas. Mas nesta nossa época, nesta viragem para a segunda década do século, uma época de acelerada “globalização” económica do capitalismo, as políticas neoliberais dominantes, tripudiando sobre as suas próprias "democracias" burguesas e recorrendo crescentemente a práticas neofascistas de governação, endeusam o lucro máximo, a mobilidade do capital, a competitividade internacional (leia-se, a sua lei da selva) e impõem sistemas sociais de super-exploração da força de trabalho, achatando permanentemente o emprego e o valor do trabalho e multiplicando os contingentes de desempregados.


Vem isto a propósito da recente divulgação dos números do desemprego em Portugal, estabelecendo a comparação entre os níveis observados entre o ano de 1975 e a actualidade. Segundo os dados divulgados pela imprensa, a subida do número absoluto de desempregados tem sido uma constante nos últimos 35 anos, atingindo actualmente 589,8 mil pessoas, o que equivale a mais que quatro vezes o valor registado em 1975.

Sabemos todos que os números reais do desemprego actualmente em Portugal, desmentindo as manipuladas estatísticas do INE, ultrapassam largamente os 700.000 trabalhadores, o que se traduz numa taxa de desemprego já superior a 13% e não os adoçados e mentirosos 10,6% publicados.


Entretanto, para aquilo que aqui nos interessa agora sublinhar, os dados divulgados revelam um elemento sócio-político de enorme significado, a saber: em 1975, no ano seguinte à Revolução de Abril, o desemprego afectava 138 mil pessoas mas 10 anos depois aquele n° subia para 405,4 mil desempregados, passando assim de uma taxa pouco superior aos 3%, em 1975, para os 8,7%, em 1985. Dito de outra maneira, bem mais clara: durante os primeiros dez anos de contra-revolução iniciada pela dupla Mário Soares/Frank Carlucci, o n° de trabalhadores portugueses lançados no desemprego cresceu vertiginosamente 193%! Uma década ainda pior que esta última (2000/2010), na qual, sempre segundo o INE, o desemprego duplicou.


Acresce ainda um outro facto essencial, para uma correcta avaliação política do fenómeno do flagelo do desemprego em Portugal, naqueles anos de setenta e oitenta do século passado. O capitalismo mundial registava, nos primeiros anos da década de setenta, a eclosão de uma primeira grande crise global após o "boom" verificado durante as duas décadas e meia seguintes ao final da II Grande Guerra, crise cujo pico é atingido precisamente nos anos de 1974/75, crise capitalista mundial à qual se seguiriam, ciclicamente, novas crises globais em 1985, em 1995, e a última em 2007/2008, que prossegue ainda sem sinais de recuperação.

Entretanto, enquanto por todo o mundo o sistema entrava assim em recessão e levava os números da inflação a disparar, pela primeira vez em muitas décadas, para os dois dígitos - originando aquilo que desde então se passou a chamar de "estaglafação" -, em Portugal esses dois anos foram de crescimento económico, de elevação muito significativa dos salários, de níveis de produtividade do trabalho elevadas, de grandes conquistas sociais, com a aquisição pelas classes trabalhadoras de novos bens materiais e alcançando índices do nível de vida e bem-estar nunca antes atingidos.


Uma conclusão se torna óbvia: fruto directo da Revolução de Abril, Portugal caminhava na contra-mão da crise, vivendo um vigoroso crescimento da produção material e alcançando um aumento da procura e do mercado interno para níveis que não mais foram alcançados até ao presente. Aliás, na época, espantosamente, foram vários os economistas e dirigentes políticos do capital que, mais desassombrados, afirmaram o carácter para eles paradoxal desse período económico florescente dos portugueses, em pleno período das grandes transformações revolucionárias.


Deste modo, observando os números estatísticos e frios do INE e lendo somente as parangonas das notícias publicadas, trombeteando que o desemprego em Portugal quadruplicou nos últimos 35 anos, fica deliberadamente oculto este dado essencial: a terrível chaga social do desemprego, filho dilecto do hediondo sistema capitalista, pode e deve ser vencida se e quando for operada a ruptura democrática e patriótica que recoloque Portugal no caminho do desenvolvimento económico, do estímulo à produção material de novos bens e serviços, da elevação substancial dos salários e das pensões e do correspondente aumento do mercado interno.


Receita bem simples e realizável, a partir de uma alteração revolucionária na composição do poder político e nas funções sociais e patrióticas de um Estado realmente democrático, como os anos luminosos da nossa Revolução de Abril brilhantemente confirmaram. Receita e rumos que estão em frontal contradição com os objectivos, políticas e métodos governativos do capitalismo.


Rumos que um dia o povo imporá pela sua vontade livremente afirmada, escorraçando os governantes de serviço ao capital, rindo de todas as mentirolas e chantagens que actualmente são despejadas diariamente pelos canais da manipulação ideológica, lançando no ridículo todos os arautos do dilúvio que tanto se esforçam, nas suas ameaças tolas, pela manutenção da submissão do país às ordens dos mandantes da UE e do FMI.

Descerradas as janelas da mente que lhes querem cerrar, os trabalhadores e o povo português, aprendendo com a sua própria História recente, vislumbrarão novos horizontes, confirmando que há muito mais mundo e muito mais vida, para lá dos estreitos e penosos limites do capitalismo.

1 comentário:

Formiga disse...

"Não basta ensinar ao homem uma especialidade, porque se tornará assim uma máquina utilizável e não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto."
Albert Einstein