SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

domingo, 1 de março de 2009

Eleições em democracia do capital

Em ano de três disputas eleitorais, parece pouco apropriado abrir uma discussão sobre os processos eleitorais numa democracia da burguesia, como é actualmente o modelo de “democracia” vigente em Portugal. E digo, pouco apropriado, partindo da ideia que o mais importante no imediato é reunir, organizar e mobilizar, todas as energias dos militantes comunistas e as dos simpatizantes do Partido para essas três batalhas políticas deste ano. Entretanto, tratando-se de uma discussão circunscrita a este meio de comunicação e, sobretudo, envolvendo camaradas que, pelo seu grau de consciência e conhecimentos, em nada prejudicarão o seu esforço e dedicação para elevar ao máximo possível os próximos resultados da CDU, então seja-nos permitido continuar a discussão aqui iniciada recentemente, com um texto do camarada Antonio Ferrão, sob o título "Vencer pela Razão".
Muitas razões, e acertadas, foram já expostas nesse texto, procurando percebermos o porquê dos portugueses continuarem a entregar o seu voto aos partidos que, eleição após eleição, vão traindo as suas aspirações a uma vida melhor e mandando às urtigas as promessas feitas. Mas penso que existem mais razões e, da sua mais alargada exposição, podemos colher todos mais rigorosas e justas avaliações sobre o nosso próprio povo. Estas linhas são uma tentativa de contribuição nesse sentido.

Falamos frequentemente - e bem! – nos malefícios que quarenta e oito anos de fascismo originaram na consciência cívica e política dos portugueses. Mas é-nos necessário avaliá-los na sua exacta dimensão. Um episódio vivido pelo camarada Álvaro Cunhal e por ele posteriormente relatado, espelha bem esse condicionamento. Perdoem citar de memória e decerto com falhas, mas a situação passou-se numa região rural, durante uma campanha eleitoral, num diálogo entre o camarada e um grupo de agricultores. Depois de discutirem as condições de exploração a que eram sujeitos, com o camarada expondo as posições e propostas do Partido, já no final, quando do apelo a que votassem na CDU, um dos agricultores afirmou: “Sr. Dr., nós reconhecemos que a vossa política é a que melhor nos defende, mas o que quer, na hora de votar, a mãozinha foge-nos para a direita…”. Penso ser um testemunho rico do condicionamento que o anti-comunismo opera nas mentes das pessoas menos letradas, mais desguarnecidas de instrumentos de defesa para uma melhor avaliação de quem é quem e o que defende no universo das formações políticas.
Estas debilidades induzidas verificaram-se logo nas primeiras eleições livres (Constituinte, Abril de 1975), num quadro político ainda muito influenciado pelo 25 de Abril e suas transformações revolucionárias, com o Partido usufruindo de enorme prestígio, com todos os partidos afirmando serem pelo socialismo (que gente sem carácter!). Nessas eleições, registando embora um grande resultado eleitoral, o PCP ficou atrás do PS e do PPD(depois PSD). Foi um duro batismo de fogo, em eleições, para os comunistas, quando tantos de nós esperavamos resultados bem maiores. Lição dura, mas que nos “vacinou” contra falsas ilusões para os anos e batalhas seguintes, embora camaradas há que, tomando o que seria justo acontecer pela realidade, ainda hoje por vezes se deixam entusiasmar em excesso…
Dos males que estes últimos 33 anos provocaram nas mentes, e a deformação que produziram nas consciências, talvez não seja necessário dizer muito mais. O anti-comunismo foi reinventado e explorado até aos limites da bestialidade e do absurdo, mas agora pelos “democratas” que se reclamavam (e têm a desfaçatez de se reclamarem todos os anos) serem todos pelo 25 de Abril. Os dias actuais aí estão, a evidenciarem que a Democracia de Abril foi esmagada, sucedendo-lhe uma ditadura do grande capital mascarada de “democracia política”.

Falemos agora também dos meios financeiros disponibilizados para cada partido político. De novo vou recorrer a mais um episódio do real. Há alguns anos, numas eleições autárquicas, o grande capital imobiliário, unido ao capital corrupto do jogo, decidiram usar o PS para “ganharem” a Câmara de Cascais, pois o PSD estava desacreditado e a CDU revelava-se uma força em crescimento. Também nesta ocasião – como ainda hoje, como se acaba de confirmar – foram buscar um ex-filiado no Partido (J.L.Judas) e colocaram-no à cabeça da lista do PS. Quem viveu essa campanha por dentro, e até as pessoas em geral, lembramo-nos bem dos colossais meios financeiros colocados à disposição da candidatura do PS, numa dimensão nunca vista; os cartazes, os folhetos (em papel couchê), os out-doors, os carros de som às dezenas por cada freguesia, os video-walls, os espectáculos, as iniciativas, os coqueteis; a compra directa de pessoas e apoios, com “donativos” a colectividades, a grupos musicais e outras instituições, etc, etc. Nunca saberemos o total real das verbas do “investimento” envolvidas. Mas para nós, comunistas, uma conclusão ficou clara: Gastaram mais numa campanha “do” PS, num só concelho, que nós CDU não tinhamos para gastar nos 307 concelhos em todo o país! Foi mais um poderoso ensinamento. Com os recursos financeiros que o grande capital entrega aos partidos que o servem, fica violada a regra fundamental da igualdade entre as forças concorrentes à eleição, com óbvio prejuízo para o partido da classe operária e de todos os trabalhadores.

Que papel e consequências desempenham os chamados Orgãos de” Comunicação Social”, de facto orgãos de manipulação social? Que programação seguem, designadamente os canais de televisão – os por cabo incluídos - ao longo dos dias, meses, anos, durante as três últimas décadas? Quais os programas informativos-formativos-educativos? Qual a ocupação nas grelhas, durante os períodos de maior audiência? Que pluralismo praticam nos blocos de “informação”? Que critérios de selecção de temas e que composição nos paineis dos debates? Que comentaristas, residentes e convidados? Que isenção, seriedade, independência, idoneidade dos seus profissionais? Pior, que orientações das direcções e das impostas chefias redactoriais? Francamente, penso que chegam estas interrogações e as respostas a darmos-lhes para que resulte brutalmente evidente a completa ausência de métodos e práticas efectivamente democráticas na generalidade dos grandes meios de Imprensa, seja a escrita, a audio ou a audiovisual. As repercussões profundamente negativas deste quadro, na formação de uma opinião que deveria ser crítica e fundamentada, são por demais óbvias.
A iletracia, outro factor decisivo. Que práticas de leitura, que meios bibliotecários estão disponibilizados às populações, que programas educacionais no pós-ensino básico obrigatório, que estímulos ao estudo e à busca do conhecimento são fomentados, que apoios na aquisição de livros? Mesmo para a minoria de pessoas que pode prosseguir os seus estudos, a degradação generalizada do conteúdo dos cursos e do Ensino em geral é de há muito uma tristíssima e penosa evidência, com profundas consequências na formação das camadas da “inteligência” nacional. A completa ausência de uma democracia cultural, que permitiria o acesso e fruição aos meios da cultura e das artes, a par de um baixo índice de desenvolvimento, completa um quadro muito adverso às escolhas políticas esclarecidas e conscientes.

A terminar, passadas assim em revista mais algumas das condições objectivas, duas palavras sobre o factor subjectivo presente em todas as eleições. Por oposição a todas as restantes formações políticas, todas elas integrantes da ideologia burguesa dominante – embora com grandes investimentos na mistificação de procurarem aparecer como diferentes, fomentando a impossibilidade de uma real escolha para os eleitores – nós, os comunistas, constituimos a formação política que denuncia e trabalha para a desconstrução/destruição do sistema estabelecido e sua substituição por um sistema totalmente novo. Nunca o escondemos, somos a única estrutura partidária que se coloca “de fora” do sistema, recusando participar na sua reforma, antes apontando a escolha – nova e arriscada – de um caminho totalmente novo e desconhecido. Mais: contrariamente às práticas mentirosas, fraudulentas, demagógicas, vendilhonas, que são o traço genético de todos os outros partidos, nós usamos a verdade como um instrumento político fundamental de toda a nossa actividade, tendo inscrito profundamente na nossa matriz a recusa, em todas as circunstâncias, dos procedimentos oportunistas/manobristas. Inteiramente coerentes com a nossa ideologia e com os nossos propósitos revolucionários, não poderia ser de outra maneira.

Aqui chegados, sinto uma vontade irreprimível de vos perguntar: acham, seriamente, ser uma escolha fácil para a generalidade dos eleitores o voto em nós? Por mim, respondo: votar em nós, não só é uma opção extraordinariamente difícil e exigente, como também revela da parte de quem nos escolhe e elege um já razoável grau de adesão às nossas concepções, são já homens e mulheres aos quais, em boa medida, poderemos chamar “novos”. Votarem em nós, defrontando as condições descritas, ultrapassando hoje a quase completa falta de liberdade política nas empresas, arrostando com as consequências que os caciques locais descaradamente ameaçam, vencendo a total ausência de uma real democraticidade quanto aos meios e à igualdade de tratamento informativo, mesmo assim votarem em nós, é obra!

Termino, com uma citação chocarreira, que há uns bons anos vi inscrita nas paredes, penso que da autoria dos anarquistas, que dizia: “Se as eleições fossem boas para os trabalhadores, a burguesia já tinha acabado com elas”. A ideia, independentemente dos autores, merece reflexão. Entretanto, disputemos as batalhas políticas eleitorais com redobrada força, usando as nossas armas do esclarecimento e da persuasão, estreitando os nossos contactos com todos aqueles que nos rodeiam. Sem ilusões, quanto aos nossos limites, mas convictos que quaisquer que sejam os nossos resultados, o nosso trabalho e militância estarão, sem margem de dúvida, integralmente neles contidos. Tal como os explorados só têm a sua força de trabalho para sobreviver, também nós só devemos confiar nas nossas próprias forças e no apoio dos nossos amigos e simpatizantes. E, irmos à luta, pois ganharemos sempre.

Para um próximo escrito, deixo a tarefa de ensaiar uma forma de democracia e de consulta eleitoral adequada aos tempos presentes e ao nosso projecto político – o socialismo. Fieis ao marxismo-leninismo, não nos basta fazer a análise crítica à democracia burguesa; é-nos indispensável termos o nosso próprio modelo e afirmá-lo ao nosso povo. Cada dia que passe, com maior urgência.

1 comentário:

Anónimo disse...

Obrigada pelo escrito
Bom texto, boa oportunidade para meditar e alimentar a nossa força revolucionária.
Claro "Se as eleições fossem boas para os trabalhadores a burguesia já tinha acabado com elas"
Mas não precisam, o jogo está viciado, Têm dinheiro, têm poder para comprar tudo.
Compram o saber, são vão para o ensino os filhos dos burgueses(colégios, explicações,etc.)Compram a informação(os jornais , revistas, rádios e televisões)
Enfim, mas não vamos baixar os braços, prá luta camarada!
Um abraço
A Lagartinha de Alhos Vedros