SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

sábado, 18 de abril de 2009

A propósito da "classe média" e da "esquerda"

O exame constante, regular, actualizado, das classes e dos seus comportamentos, é uma tarefa central dos marxistas-leninistas. Sua acertada análise e compreensão são indispensáveis para elaborar uma linha política de intervenção revolucionária correctamente ajustada às realidades sociológicas nas quais se luta, e, para elaborar uma justa política de alianças e intervir na acção política de forma adequada a essas alianças a construir.

No plano subjectivo, aquele plano que desde o início polariza o eixo principal destes escritos, trata-se afinal de estudarmos as classes "em si" e simultâneamente as classes "para si". Há poucos dias atrás, num outro blog, J.V.Aguiar ensaia uma aproximação ao problema, analisando neste caso a burguesia, sobretudo como classe "para si". Enquanto não encontro o caminho melhor para avançar aqui o exame da classe operária, que seria aquilo que desejaria fazer prioritariamente, para dar continuidade à discussão - até por se tratar da classe antagónica principal àquela que mobilizou o escrito mencionado -, vou entretanto usar um artigo de opinião que me parece interessante e que poderá motivar algumas observações quanto à "classe média" (assim designada pelo autor), isto é, a pequena burguesia urbana e camadas assalariadas desfrutando de meios materiais e hábitos que em muito as assemelham àquela, principalmente nas suas concepções ideológicas e no seu posicionamento político actual, perante um mundo marcado por uma crise profunda do sistema capitalista, com as suas crescentes contradições.
O artigo de opinião referido, publicado em jornal diário, é assinado por Alcindo Gonçalves, engenheiro, cientista político, professor do Programa de Mestrado em Direito da UniSantos/Brasil. O seu conteúdo radica-se, naturalmente, na realidade brasileira, designadamente a urbana, mas que penso conter alguns traços que aproximam o seu objecto à mesma "classe média" urbana noutros países, daí o seu interesse. Passo a transcrever o artigo em causa.


Já faz tempo que não escuto uma referência elogiosa à esquerda. Ao contrário, de maneira geral, as pessoas hoje desdenham e desprezam as ideias mais afinadas com o pensamento dito socialista, ou coisa parecida. Não era assim, entretanto. Não estão longe os dias em que transformação, igualdade ou justiça social eram valores apreciados por muita gente. Fico de certa forma espantado como tudo isso foi varrido do mapa, e tão depressa. A classe média, onde vivo e com quem convivo, tem uma história de flerte e namoro com a esquerda. Não concordo com a tese de que os sectores médios são necessariamente conservadores: a informação e a maior educação aproximaram-nos das ideias de mudança social. O interessante é que nos dias actuais raramente vejo a tal classe média interessada em política, muito menos pelo viés da esquerda. O que percebo é algo bem diferente: um desprezo generalizado pela actividade política, vista como inútil, corrupta e perniciosa; um interesse exclusivo pela vida privada e por seus negócios; um misto de aproveitar o momento, ganhar dinheiro e tocar o barco, sem maiores preocupações. Não era assim: vivi períodos recentes onde gente da classe média se emocionava com campanhas como as da amnistia ou das directas-já, quando havia a crença ­ e quase a certeza ­ de que era possível construir um mundo novo, e que seríamos actores e artífices desse novo momento. De quem é a culpa de tudo isso? Creio que se podem estabelecer dois conjuntos de razões. O primeiro diz respeito às mudanças estruturais recentes: o fim do socialismo real (e de seus sonhos e utopias) a partir da queda do Muro de Berlim, de certa forma o triunfo do chamado neoliberalismo, uma visão que é contra pobres e trabalhadores, e que despreza a democracia e o Estado social, negando o interesse público e valorizando ao extremo o individualismo consumista. Mas, de outra parte, há que se recriminar a própria esquerda pela actual crise. De facto, ela perdeu as suas referências e bandeiras. O seu discurso é vago e impreciso, não conseguindo exprimir as vontades e anseios da maioria, limitada a genéricas referências ao "social", mas no fundo prisioneira do corporativismo, de interesses eleitorais imediatos em projectos megalomaníacos de poder, e de populismos perigosos.Num mundo novo, onde a tecnologia da informação predomina, onde o sector de serviços é o principal empregador (e onde o trabalho vem sendo reformulado e repaginado a cada dia), onde valores tradicionais ­ família, cultura, lazer ­passam por acentuada crítica, a esquerda parece adormecida, insensível e distante dessa realidade. Sejamos ou não simpáticos à esquerda, a sua presença é necessária e saudável (como os conservadores também o são). Numa roda de classe média, gostaria de não ouvir só comentários de desprezo a Chávez ou a Evo Morales, a apologia do viver bem, aqui e agora, ou a certeza de que o nosso único mal é a corrupção endémica dos políticos, que nunca será resolvida. Mas para isso, cara esquerda, é preciso recomeçar. Compreender a realidade, unir ideias à acção, dar conteúdo à actividade política. E devolver, urgente, a emoção e a sensibilidade às causas, empolgando e entusiasmando as pessoas.


Fim de transcrição.
Em primeiro lugar, duas ideias sobre o autor. A primeira, revela uma clara simpatia pela esquerda, assumindo uma opinião crítica e avançada sobre a sua própria "classe". É aquilo a que poderemos chamar um democrata honesto, uma pessoa de esquerda, um intelectual politicamente sério, interessado na concretização dos objectivos da "Esquerda", mesmo um patriota preocupado com o seu país; a segunda, pretende que essa "Esquerda" volte a ser capaz de mobilizar a "classe média", volte a ter força, influência e capacidade de persuasão para atingir esse objectivo e, para tal, o autor avança as suas avaliações críticas e sugere formas para vencer as debilidades apontadas.
Vejamos então agora algumas questões, levantadas por este testemunho. Embora mencionando eventualmente uma ou outra das suas afirmações, para o nosso caso não interessa tanto dissecar o pensamento escrito do autor - seus erros, seus vícios de avaliação, suas imprecisões políticas e ideológicas - mas muito mais interessante será, a partir do que afirma, tentar analisar o que contenha de universalmente útil, seja quanto aos presentes estados de espírito desta "classe média" e seus elementos de esquerda, seja quanto às respostas e às orientações correspondentes por parte dos partidos comunistas e operários. Deixemos a tarefa para o próximo escrito, ao mesmo tempo que ganhamos um maior espaço para os que lêem possam também dispor de maior folga para a sua própria reflexão e para o debate.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ouçam a nova música da Banda Zé Ninguém:

Corrupção

Corrupção em Portugal
Não vai nada nada mal
Este país é a loucura
Está pior que uma ditadura

O governo é uma piada
Nem o circo tem tanta palhaçada
Este país à beira mar
Vamos todos afundar

Por isso eu digo não
Por isso eu digo não
À corrupção
À corrupção

E depois, quem vai pagar!
Andamos todos a brincar!
Nem o gato nem o cão!
Eu aposto um milhão

Autarquia fraudulentas
Presidentas pestilentas
Sabem de quem estou a falar
Ou é preciso explicar?

Senhoras e senhores:
Bem vindos a Portugal!
O País mais corrupto da Europa!
Mais corrupto da Europa!
Não tenha medo, aqui ninguém vai preso!
Ninguém vai preso!
Mais corrupto da Europa!
Mais corrupto da Europa!

Este país é uma demência
É uma grande decadência
Autarquia fraudulentas
Presidentas pestilentas

E depois, quem vai pagar!
Andamos todos a brincar!
Nem o gato nem o cão!
Eu aposto um milhão

Por isso eu digo não
Por isso eu digo não
À corrupção
À corrupção

Banda Zé Ninguém
www.myspace.com/bandazeninguem

Unknown disse...

Portugal não é o País mais corrupto da europa. A classe política portuguesa
e os empresários portugueses, sobretudo os banqueiros de bancos falidos, como
o senhor Ricardo Salgado, ex-Presidente do falido e extinto BES, que têm uma
estranha relação de promiscuidade com a classe política, é que são corruptos.
Servem-se indevidamente dos dinheiros públicos (que são o dinheiro dos nossos
impostos) e do dinheiro do único banco Público português, a Caixa Geral de
Depósitos (que é o dinheiro dos seus milhões de depositantes, particulares e
empresas) para as suas negociatas, fazem lavagem de dinheiro sujo proveniente
de longínquos países tais como Angola, fazem uso imoderado de Sociedades Offshore e paraísos fiscais e, quando são apanhados nas teias da Lei, mantêm um sorriso
arrogante mesmo quando estão em Tribunal, sorriso esse que irá desaparecer quando
se virem atrás das grades de uma prisão qualquer, por muito bons advogados que
tenham. Zeca Afonso chamava-lhes "os vampiros". Eram vampiros no tempo de Salazar
e Caetano e continuam a sê-lo, agora com roupagem "democrática".

Este meu comentário não é moderado nem pretende sê-lo. Se não quiserem publicá-lo
estão no vosso direito.

Fernando Justino