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quinta-feira, 15 de abril de 2010

Ho Chi Min - Um testemunho revolucionário


Nascido em 1890 e falecido em 1969, desde muito jovem Ho Chi Min se decidiu a dedicar os seus 79 anos de vida à causa da emancipação social e política dos trabalhadores e do povo da sua pátria, o Vietname. Foi emigrado em França que conheceu o Partido Comunista e se tornou seu militante, tendo posteriormente dirigido a criação do Partido Comunista Indochinês, depois mais tarde, e até hoje, designado Partido Comunista do Vietname. Com os seus camaradas, em especial com aquele que seria conhecido mundialmente como um dos maiores estrategas militares de todos os tempos, o general Vo Nguyen Giap - fundador e comandante supremo do Exército do Povo vietnamita -, o dirigente comunista Ho Chi Min, o "Tio Ho", como era carinhosamente chamado, organizou e dirigiu a gloriosa guerra de libertação anti-colonialista e anti-imperialista do povo vietnamita, primeiro derrotando e expulsando o exército colonial francês na Indochina, no célebre cerco e batalha final de Dien Bien Phu, e mais tarde derrotando e expulsando o poderoso exército estadunidense, numa guerra de guerrilha anti-imperialista que duraria oito anos, entre 1965 e 1973, ano em que, após terem originado as maiores carnificinas e as mais criminosas desflorestações químicas do século XX, finalmente derrotados e humilhados, os militares dos EUA fogem em debandada de Saigão.

Mas muitos anos antes, o ainda jovem Nguyen Au Duoc ( Ho Chi Min foi o nome de guerra pelo qual ficou universalmente conhecido e passou à História, dentre dezenas de outros que utilizou durante a dura clandestinidade), na condição de emigrado, percorreu vários países, de entre eles o Brasil, tendo passado por estas paragens o marinheiro Neguyen Tat Thanh (o seu nome à época), como lavador de pratos no navio francês "Amiral Latouche-Treville". Com vinte e poucos anos, desembarcou no porto do Rio de Janeiro e nesta cidade permaneceu alguns meses, por razões de saúde, residindo numa pequena pensão, no bairro de Santa Tereza. É desta época, o interessante testemunho que Ho Chi Min deixou registado nos seus apontamentos, um episódio da luta de classes no Brasil, ocorrido na então capital, Rio de Janeiro, ao qual deu o título "Solidariedade de Classe". É este texto do grande revolucionário, escrito em francês e recuperado em Hanói, depois traduzido e entregue aos camaradas brasileiros, em 2000, pelo embaixador Christiano Whitaker, que a seguir se transcreve.

"No início de 1921, deflagrou no Brasil uma greve de grandes proporções entre os trabalhadores portuários. Justamente então, aportou no Rio de Janeiro um navio cuja tripulação não sabia que os seus camaradas no porto estavam em luta contra os patrões. Um grevista negro, José Leandro da Silva, quis subir a bordo do navio recém-atracado, a fim de informar a tripulação deste acerca do movimento grevista. No cais, José encontrou um policial que o impediu de prosseguir.
- Mas eu tenho pleno direito de ir ver os meus camaradas!, disse José ao representante da ordem.
- Não quero saber de explicações! Circule!, replicou este último.
José insistiu. Como resposta, o policial limitou-se a sacar do seu revólver e disparar. Ágil, José conseguiu evitar ser atingido e, rápido como um raio, agarrou o policial e atirou-o ao mar. Acorreram uns cinquenta policiais armados que se lançaram sobre José. Com a sua faca de marinheiro, matou dois policiais e feriu outros tantos. Por fim, foi vencido pelo número dos seus opositores e caiu quase morto, tendo recebido dezoito tiros. Enquanto o transportavam ao hospital, ele teve forças suficientes para ir murmurando a "Internacional". Depois, foi levado a juízo, tendo sido condenado a 30 anos de trabalhos forçados.
Assim que souberam da sentença, os trabalhadores revolucionários formaram um comité de defesa. Por um lado, confiaram o caso do seu camarada a vários advogados e, por outro, organizaram manifestações e demonstrações de protesto em todo o país. Durante três meses, levou-se a cabo uma vigorosa campanha de agitação em prol de José. A opinião pública indignou-se a tal ponto que as autoridades se viram forçadas a reabrir o processo. No dia 8 de Fevereiro, realizou-se o novo julgamento de José. Quinze mil trabalhadores assistiram aos debates, que se prolongaram pela noite adentro. Os patrões não queriam deixar ir livre a sua vítima, e o procurador levou cinco horas expondo as suas longas acusações. Com eloquência, o camarada Paulo Lacerda e os seus colegas da defesa refutaram vitoriosamente os argumentos do procurador. O julgamento terminou às quatro e meia da manhã. O resultado final foi a absolvição. O veredicto foi recebido com uma tempestade de aplausos. E José, o grevista negro, deixou-se cair nos braços dos seus camaradas e defensores, e dos representantes dos trabalhadores. Assim, apesar da multiplicidade de cores, há apenas duas raças no universo: a dos exploradores e a dos explorados. E há apenas uma verdadeira fraternidade: a fraternidade proletária.

Nguyen Au Duoc"

(publicado na revista "Princípios", n° 101, Maio/Junho, 2009)

1 comentário:

Nelson Ricardo disse...

Ho Chi Mihn, um revolucionário de grande humanidade e certo das ideias que seguia. Foi um daqueles homens que era uma fortaleza de espírito e em que o povo vietnamita confiou para o liderar à vitória. Ficará na História como um homem do povo.