SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Honduras - solidariedade com a resistência popular

A situação nas Honduras deixou de ser notícia na grande Imprensa, desde que os golpistas realizaram as "suas" eleições, com a cobertura dos EUA e a complacência vergonhosa das organizações da chamada "comunidade internacional", a par da quebra de solidariedade que se observa por parte de vários governos dos países da região que durante o golpe tiveram posições de condenação dos golpistas. Com o passar dos dias, vai-se impondo o "pragmatismo" sem princípios, privilegiando as relações comerciais e a diplomacia da cedência aos EUA e abandonando o povo hondurenho à sua sorte.

Entretanto, ao contrário das suas promessas de reconciliação e regresso à democracia, com a posse do governo do "democrata" Lobo intensificaram-se as actividades fascistas no país, com prisões e torturas dos resistentes ao golpe e às "eleições" fraudulentas por parte das autoridades policiais e militares e os assassinatos "selectivos", praticados por "esquadrões da morte" nos centros urbanos e por milícias de jagunços ao serviço dos grandes proprietários de terras nas áreas rurais.
Com o agradecimento devido, transcreve-se um artigo traduzido e publicado no "Blog do Velho Comunista", que retrata bem a actual situação:

Cinco jornalistas assassinados em um mês em Honduras

Cinco jornalistas assassinados em Honduras só no mês de Março, 150 execuções extra-judiciais desde o golpe de 28 de Junho, todas atribuídas aos organismos de repressão e a paramilitares contratados pelo regime, não são suficientes para chamar a atenção da imprensa comercial do continente que entretanto arremete contra Cuba e Venezuela.
Enquanto o mecanismo de propaganda do Departamento de Estado, apoiado pelas agências internacionais, as cadeias internacionais de órgãos de imprensa comerciais e sua rede de clientes regionais multiplicam as manchetes contra as nações progressistas e informa sobre a violência em Honduras fora de seu contexto político, a Resistência hondurenha reclama por manifestações de solidariedade internacional ante as execuções cometidas diariamente pelo aparato repressivo articulado pelos golpistas.
Nos últimos dias tanto a Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP) como o Colectivo de Artistas em Resistência e outras organizações, têm se manifestado contra a escalada de violência desencadeada pelo governo de ¨Pepe¨ Lobo com um enorme saldo de mortos e feridos.
A imprensa hondurenha tem sido a primeira vítima da onda de assassinatos das últimas semanas. Em 1° de Março foi baleado o jornalista Joseph Hernández e ferida a colega Carol Cabrera; dia 10, foi assassinado David Enrique Meza; na segunda-feira 15, Nahum Palacios Arteaga, enquanto José Bayardo Mairena e Manuel de Jesús Juárez foram executados na sexta-feira, 27 de Março.
Outro jornalista, José Alemán teve que abandonar o país precipitadamente, depois de sicários tentarem assassiná-lo em plena rua, logo após alvejarem a sua residência. Para cúmulo, agentes de uma delegacia de polícia onde procurou refugio responderam-lhe que eram incapazes de garantir a sua segurança.
Os grupos de resistência têm denunciado o Secretário de Segurança, Óscar Álvarez, responsável pelo sistema de repressão herdado do regime ditatorial de Roberto Micheletti e que é mantido em plena actividade.
Pouco depois do assalto à Casa Presidencial pelos golpistas, em 28 de Junho de 2009, quando o Presidente Manuel Zelaya foi surpreendido em sua casa e expulso do país, com a cumplicidade dos Estados Unidos, vários meios de imprensa, entre eles Radio Globo e o Canal 36, foram fechados em batidas policiais selvagens. Mas por outro lado, os donos de todos os principais meios de comunicação fizeram parte da conspiração. Não só deram a Micheletti um apoio absoluto como também o principal representante desta imprensa ultra-direitista, Jorge Canahuati, foi até pagar de seu próprio bolso parte da campanha de convencimento que se desenrolou então em Washington, a favor da ditadura.
Enquanto os auto-proclamados “defensores da imprensa” tais como "Repórteres Sem Fronteiras", o "Committee to Protect Journalists", a "Sociedade Interamericana de Imprensa", observam uma total discrição, diametralmente oposta à atitude constantemente agressiva e politizada demonstrada contra Cuba e Venezuela, o que só confirma a sua vinculação com o aparato de inteligência norte-americano.
Chama a atenção como da parte destas organizações, que se beneficiam de uma cobertura integral de parte das grandes agências de imprensa, se evita a todo custo politizar as suas discretas solicitações de investigação dirigidas às próprias autoridades hondurenhas que, segundo a resistência popular, geram o massacre.
Para os defensores dos Direitos Humanos, trata-se de uma “estratégia de terror, imobilização e perseguição, contra opositores ao golpe de Estado e ao governo de facto” ante a qual pedem “a intervenção da comunidade internacional e dos organismos internacionais de direitos humanos para que o regime actual detenha esta onda de criminalidade e investigue as mortes” das vítimas.
Para evitar a derrubada de seu regime golpista, Micheletti e os seus cúmplices golpistas foram recorrer a criminosos tais como Billy Joya, criador com seus assessores norte-americanos de “Los Cobras”- comandos de elite treinados para matar - e veterano membro do sinistro batalhão 3-16 criado pela CIA, que perseguiu, torturou e deu sumiço a centenas de hondurenhos na guerra suja dos anos 80.
Joya trabalhou sob as ordens do embaixador e oficial da CIA John Negroponte, que dirigia os "Contras" nicaraguenses desde a embaixada norte-americana em Tegucigalpa. Implicado na coordenação do golpe de estado de Junho passado, John Negroponte trabalha actualmente como assessor da Secretária de Estado Hillary Clinton.
Em Miami, onde está radicada a maior colónia de ex-mandatários corruptos, torturadores e assassinos do continente, o silencio mediático é quase absoluto, igual ao dos políticos que há apenas alguns meses viajavam a Tegucigalpa para elogiar a Micheletti.
Nenhuma investigação sobre agressão contra algum jornalista desde o golpe de estado levou preso um só suspeito.
Jean-Guy Allard
Original em "Habla Honduras"


Deste sítio, "Habla Honduras", vale a pena ainda divulgar uma informação ontem publicada, transcrevendo o seguinte comunicado:

Aviso sobre os novos actos de violência na Aguán
A Comissão de Familiares de Presos e Desaparecidos em Honduras - COFADEH - faz um apelo urgente à comunidade internacional sobre os novos actos de violência no Aguán, nesta quinta-feira, 01 de abril:
1.-Nós condenamos o assassinato do jovem Miguel Alonso Oliva, de 22 anos, que foi morto por guardas de segurança quando o camponês Movimento Unificado Aguán (Muca) assumiu a exploração da terra "Boleros", que está na posse ilegal do senhorio René Morales.
2.-Ao mesmo tempo, condenamos a falta de acção rápida para resolver a disputa de terra na Baixa Aguán pelo regime de Porfirio Lobo Sosa, mostrado condescendente com o proprietário para evitar assumir a responsabilidade pela devolução da terra que é do Estado e imediatamente deve ser dada aos camponeses, como é de lei
3.-Instamos a comunidade internacional para tomar medidas urgentes a enviar representantes ao Estado de Honduras para pôr fim a esta situação precária e difícil contra as mulheres, homens, meninos e meninas que sofrem o terror das armas de seguranças dos fazendeiros Facussé Miguel René Morales e Reinaldo Canales, e o exército e a polícia, fortemente armados que estão preparados para ir para a área, com a intenção para expulsar os camponeses que têm terra recuperada na margem esquerda do Rio Aguán e onde estão localizadas as cooperativas Suyapa e Guanchfas Aguán, Good Friends, Whirlpool, Wake, Trinidad, San Esteban, Quebrada Honda, Paso Aguán Squad ilhas 1 e 2, Marañón e Bolero.
4.-Estamos solidários com a família do jovem Miguel Oliva Alonso, que está sendo velado na comunidade de Guadalupe Carney em Silin, Columbus, onde dezenas de colegas e companheiras vieram acompanhar as suas famílias.
5.-O COFADEH recebeu informações não confirmadas de possíveis mortes adicionais por guardas de segurança, o que confirma a urgência da resolução deste conflito, para evitar mais derramamento de sangue e a polarização da família hondurenha.

Comissão de Familiares de Detidos e Desaparecidos em Honduras, COFADEH
Tegucigalpa, 01 de abril de 2010


Estas denúncias e as manifestações que corajosamente continuam a ser convocadas pela Resistência, as lutas que vários sectores vêm conduzindo contra a privatização dos bens públicos e em defesa dos direitos dos trabalhadores, continuam a exigir de nós a solidariedade que lhes devemos.
O povo hondurenho trava um combate muito duro pela sua liberdade, pela sua dignidade, pela sua independência nacional, contra a oligarquia parasita e exploradora que é activamente apoiada pelo governo imperialista de Barak Obama. A nossa solidariedade calorosa é um apoio indispensável e insubstituível para aqueles que resistem e lutam nas Honduras.

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