SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A ofensiva capitalista e (as nossas) Informação "versus" Agitação

Informação e Agitação são dois diferentes conceitos para designar duas acções distintas: o primeiro trata do acto de informar, da acção de fornecer dados de avaliação e análise do real que permitam o esclarecimento/conhecimento dos fenómenos; o segundo designa a acção de agitar, de alertar, de colocar em movimento algo que está parado, o acto de promover o alerta, a vigília, a inquietação, a atitude activa de suscitar a adesão e a disposição dos outros para agir. Justifica-se assim que os tratemos como antagónicos, ao lhes intercalarmos o termo "versus". Em política, as diferenças entre ambos os termos são óbvias e vitais para a compreensão do que significam as suas diferentes práticas.
No nosso léxico de comunistas, os seus usos são mediados no tempo por algumas décadas. Uns bons trinta anos atrás, falávamos de Agit/Prop; posteriormente, passámos a falar de Informação/Propaganda. Tendo-se mantido sem alteração o segundo componente da composição, o primeiro foi objecto de substituição, caindo a "agitação" e sendo substituída pela "informação". É caso para dizermos que podiamos ter ficado com os três termos, em alegre e frutuoso convívio - Informação/Agitação/Propaganda - e, se o tivéssemos feito, nenhum mal daí adviria para a nossa terminologia militante. Mas não; decidimos a supressão/liquidação, pura e simples, da "Agitação". Criaram-se as SIP's, as secções de informação e propaganda.
Creio que fizemos mal, não só porque empobrecemos a nossa linguagem própria mas sobretudo porque a razão pela qual o fizemos configura - hoje, a todos estes anos de distância, é possível afirmá-lo - uma cedência político-ideológica de monta. Isto é, quisemos esconder a nossa condição de agitadores (uma conotação muito radical!), ou até talvez (pior ainda), fizemo-lo por considerarmos que os tempos da "agitação" estavam ultrapassados e que, muito "civilizadamente", nos bastaria informar e propagandear/propor.
Estas considerações servem para introduzir a questão a tratar, a saber: actualmente, a actividade de agitação tornou-se absolutamente decisiva na acção política dos comunistas, razão pela qual devemos avaliar em que grau e medida a praticamos.
Dirão alguns camaradas, eventualmente, que mesmo deixando de falar nela nunca deixámos de fazer agitação, a par de informarmos e propagandearmos/propormos. Mesmo aceitando que assim tenha sido, a questão hoje é interrogarmo-nos se estamos a fazer a agitação - a-g-i-t-a-ç-ã-o, mesmo! - que corresponde aos tempos presentes, às exigências do momento actual. Por mim, respondo que não, não estamos. E não a estando fazendo, não estamos a responder adequadamente à situação existente, desprezando/subestimando uma área do nosso trabalho que poderá ser crucial para atingirmos os nossos objectivos.
Os actuais desenvolvimentos da crise do sistema, com a geral ofensiva neoliberal em curso que todos estamos a viver, passam agora na Europa pela intensificação da exploração do trabalho e pelo esbulho dos recursos e capacidades dos povos dos países "periféricos" da UE, nomeadamente, nesta fase e com redobrada violência, da Grécia, de Portugal e da Espanha.
As decisões que estão a ser anunciadas pelos governos subservientes dos três países configuram um autêntico assalto (à mão armada!) aos salários e pensões, aos rendimentos das classes e camadas produtivas, com as tentativas de todos eles de reduzirem as remunerações do trabalho através de novas taxas e impostos, os directos e os indirectos sobre o consumo, uns e outros atingindo violentamente as classes e camadas já de si as mais exploradas e empobrecidas. Numa articulação já muito descarada, os governos e os partidos dos arcos da governação pró-capital, anunciam em dias praticamente sucessivos tais medidas e fazem-nas ser objecto de discussões e aprovações "a mata cavalos" nos respectivos parlamentos, querendo com isso inculcar a ideia, nos atingidos directamente e nas opiniões públicas, que "não há nada a fazer, isto é geral, é para todos, é a crise!..."
Daqui decorrem, evidentemente, muitas tarefas e muito trabalho para os PC's e outras forças verdadeiramente patrióticas e de esquerda (*). O desmascaramento e a denúncia da manobra, articulada na cimeira de dirigentes dos países do euro e cumprida imediata e fielmente pelos governos "socialistas"(?!) de turno; a organização e a mobilização das respostas operárias e populares; o planeamento e a montagem dos eixos de contra-ataque que a situação exige; a mobilização das energias juvenis e intelectuais, o apelo à coragem e à audácia, à criatividade de amplos sectores para que se levantem e lutem.
Perante a envergadura da ofensiva do capital, atingindo todas as classes e camadas excepto o grande capital e a grande burguesia, são necessários verdadeiros levantamentos nacionais, com capacidade de acção para se oporem e fazerem fracassar os planos de ataque dos banqueiros e grandes grupos económicos. Empresas e sectores de actividade, ruas e praças, orgãos de poder, orgãos de comunicação "social", entidades empresariais do grande patronato, organismos do Estado, todos devem ser objecto de acções de protesto e de luta, de repúdio e de resistência.
Para tal e para o êxito da luta, o papel a desempenhar pela agitação é fundamental. A par da informação, dos dados, das demonstrações, dos relatos circunstanciados, os assalariados e os sectores populares, no seu percurso de resistência e de luta, carecem de consignas, de frases rápidas e de imediata apreensão, de palavras de ordem para a acção que todos compreendam rapidamente e possam facilmente adoptar como certas e justas. As consciências mais adormecidas e anestesiadas têm que ser estremecidas, têm que ser agitadas, no sentido mais literal do termo, têm que ser despertadas da fase do "esperar para ver", acordadas da apatia e da manipulação mediática das mentes.
Para se atingirem aqueles objectivos, não bastam as intervenções bem estruturadas e fundamentadas, as denúncias com boas explicações do que está a acontecer. Sendo parte importante, só elas já não bastam. Tornou-se uma urgência política fazer sair a política às ruas. Apesar dos seus limites materiais, os movimentos operários e as forças revolucionárias possuem um poderoso e riquíssimo património de formas de acção que urge mobilizar e pôr em marcha, umas agito-propagandísticas (carros de som, pinchagens, distribuição de panfletos, mini-comícios, faixas, braçadeiras, homens-sanduíche, etc,etc) e outras prático-interventivas (ocupação de ruas e lugares públicos, de edifícios, cortes de estradas, etc). Umas e outras, visando agitar/sensibilizar as pessoas, apelando à participação de todos no combate que é de todos e diz respeito à vida e ao futuro de todos.
A política séria e fundamentada, elaborada e aprisionada nas sedes, nos parlamentos e assembleias, nos sindicatos, tem de saltar para as ruas, ganhando a forma da linguagem directa e popular, tomando a forma popular do ajuntamento, da passeata ruidosa, da fala de rua, da inscrição de frases curtas e certeiras, chamando os nomes às coisas e aos bois; conhecemos todos o grande valor que pode ter um único autocolante (bem visível e directo) numa lapela, numa camisola, num local de grande passagem; o impacto positivo que sempre têm as ilustrações e bandas desenhadas ridicularizando os políticos burgueses, ou a importância que pode assumir uma conversação, serena mas firme, num transporte público, se falarmos das preocupações e dos problemas sentidos pelos presentes.
Concluindo: a agitação política tem que reassumir o destacadíssimo papel político que deve e pode ter na transformação das mentes e estados de espírito, sendo uma responsabilidade revolucionária a cumprirmos, tanto em realizações e iniciativas colectivas como na militância e activismo individuais. Pode tomar múltiplas e criativas formas. Pode ser contundente e mordaz. Pode (e deve!) ser criativa e fazer-nos rir. Em todos os casos, deve ser corajosa, fraternal, apelativa, "agitadora", procurando suscitar a adesão de todos quantos atinja.
Temos em arquivo, decerto, manuais que nos ensina(ra)m como se faz bem agitação política revolucionária. Trata-se somente de voltarmos a folheá-los e, sobretudo, de sabermos libertar as nossas energias inovadoras e criativas, com soluções novas que nos permitam traduzir para os que nos rodeiam o que conhecemos e avaliamos, voltando assim a assumirmos essa honrosa condição de partidos e militantes agitadores de vanguarda.
(*)Nota: Comprovando rasteiramente a sua condição social-democrata europeísta, os "esquerdistas" do Bloco de Esquerda acabam de aprovar na A.República portuguesa o "pedido"/imposição de "empréstimo" à Grécia, juntando os seus votos aos do PS (no governo) e aos do PSD e do CDS...

4 comentários:

Anónimo disse...

Depois deste brilhante texto didáctico seria bom que o autor "conhecesse", por exemplo, o panfleto de agitação escrito por Stalin, em nome do Comitê de Tíflis, com o título Aos Cidadãos escrito em Outubro de 1905 e comparasse com aquilo que o PCP distribui e "agita" nas ruas e na televisão. A ladaínha do "choramingas" é sempre a mesma.

Nelson Ricardo disse...

Há que agitar, sem dúvida. Para isso é preciso conhecer os significados escondidos dos discursos políticos burgueses e expôr a realidade de classes como ela é.

Um Abraço.

CRN disse...

Só posso compartir a tua opinião, especialmente na parte final.

Abraço!

A CHISPA! disse...

Caro Filipe
Quando se substituí a crítica ao sistema capitalista,pela crítica há forma como os governos e os partidos capitalistas gêrem o capitalismo,é evidente que a agitação anti-capitalista não faz nenhum sentido,daí a razão de há longas décadas e não recentemente como afirma, se substítuir a AGIT/PROP, pela quanto baste INFORMAR/PROPAGANDEAR e PROPORMOS;Ou seja é o resultado da transformação politica proletária em burguesa revisionista,social-chauvinista pacifista que o PCP e a maioria esmagadora dos PCs no mundo sofreram,quando se pré-disposeram a seguir e a servir as orientações politicas pacifistas e pró-imperialistas de N.Khruschev de retorno ao capitalismo e,penso que é por aqui que o Filipe tem que aprofundar a sua crítica,caso contrário nada se modificará.
Quanto há crítica que faz ao grupo social-democrata BE, a sua crítica é justa, mas limitada, quando não crítica as mesmas posições da direcção e do grupo parlamentar do PCP,quando este crítica o atraso da UE em socorrer a Grécia,ou será que os "apoios" que estes deram foi para atender aos interesses dos trabalhadores e do povo grego?
Quanto há ofensiva capitalista e às iniciativas que propõe concordo por inteiro com a sua opinião, mas veja só o que Jerónimo de Sousa afirma:" Quem vai comer a talhada maior é quem vive do seu trabalho.É falso dizer que há aqui uma repartição equitativa dos sacrifícios.A parte de leão vai ser paga por quem trabalha,embora de uma forma disfarçada.Os trabalhadores não podem baixar os braços." Ou seja,em vez de tomar uma posição anti-capitalista consequente,limita-se a denunciar e a apelar para que os sacrifícios sejam mais bem distribuidos "equitativamente" e quanto há forma "disfarçada", só se for para ele e para a direcção do partido,pois a politica dos vários governos PS e anteriores têm sido bastante claras,pelo menos, para quem as sente na pele,e só não têm sido rejeitadas por estes de modo mais consequente e combativo,ou seja,"baixar os braços" porque a conciliação e a colaboração das ditas forças de esquerda e as direcções sindicais da CGTP e UGT com os vários governos, têm-se sobreposto à luta de classes que é urgente travar contra a ofensiva capitalista e contra o sistema capitalista.

Nota: Apesar de tudo o que nos separa,mas que o tempo e a ofensiva capitalista nos vai obrigar a ultrapassar, que bom que era para o movimento comunista em Portugal, o seu retorno ao País.
Um abraço,para si Filipe.
"achispavermelha.blogspot.com"
A CHISPA!