SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

É necessário dizermos "Não!" à globalização imperialista (I)


A situação Actual

Em resultado de uma poderosa acção ideológica, desenvolvida ao longo dos últimos vinte anos pelo capitalismo e difundida por potentes centrais de desinformação, explorando o desequilíbrio de forças em seu favor originado pelas derrotas do socialismo, as erradas ideias de uma falsa "universalidade" dos povos e dos cidadãos tomaram conta dos mass-medias, dos programas de ensino, das actividades culturais. Induzidas pela corrente neoliberal dominante e pregando uma globalização planetária da vida e dos países, ganharam profundamente muitas consciências da "intelligentsia" mundial.

Nenhuma área das ciências humanas lhe escapou, para além de tomar igualmente as mentes em muitos outros ramos do Conhecimento. Teorias simpáticas, como a da "aldeia global" ou a da co-responsabilização de todos pelos desastres ambientais e pela preservação do meio ambiente, a tão apregoada quanto falsa "liberdade" de circulação sem fronteiras dos indivíduos, a par das transformações nas consciências operadas pelo acesso massificado à Informação via internet, criaram uma realidade virtual que foi formatando as mentes para a aceitação passiva do domínio globalizado do capital - este sim, o único que realmente se tornou global.

Estimulando artificialmente as ideias de partilha e de pertença de cada um a uma ilusória societização planetária, o capitalismo foi capaz de mascarar os seus verdadeiros objectivos de dominação internacional global. Os defensores dos patrimónios culturais nacionais passaram a ser vistos como gente ultrapassada e conservadora; quem erga a voz em defesa das riquezas materiais de cada povo é apodado de retrógrado ou perigoso nacionalista; a defesa da independência e da soberania nacionais de cada povo tornaram-se ideias obsoletas, indefensáveis. A nova "modernidade" exigiu que fossem votados à execração intelectual e ao desprezo cívico todos aqueles que teimosamente se mantiveram fieis à ideia de pátria, à defesa da dignidade patriótica de cada povo.

Esta quase geral rendição da intelectualidade, perante a ofensiva ideológica global do capital, deixou indefesas as mentes e as opiniões públicas nacionais para lhe fazer frente, amolecendo as consciências e, em grande medida, permitindo-lhe impor múltiplas teses fundacionais de uma "nova ordem mundial global". Tornou-se coisa comum - e, pior, aceitável - a livre circulação do capital, a deslocalização entre continentes das empresas industriais e de serviços, a reorganização empresarial capitalista que pulverizou os processos produtivos, generalizando a criação de "holding's" que dirigem de algures as unidades produtivas de componentes dispersas por vários países e concorrendo - e competindo - para um mesmo e único produto manufacturado final. Justificadas com a varinha mágica da "inevitabilidade", a liquidação da produção industrial, a destruição da produção agrícola, dos sectores da pecuária, das pescas, tornaram-se um objectivo estratégico dos governos dependentes, deixando os países totalmente vulneráveis à penetração do capital multinacional.
Decorrente desta sistemática destruição da independência económica dos povos, foram também sendo "drenados", dos países economicamente periféricos para os países centrais, os cérebros mais capazes e qualificados, deixando as ID&E nacionais empobrecidas de investigadores e cientistas e mais dependentes. A colonização cultural pelos mecanismos ideológicos dos países dominantes tornou-se avassaladora, soterrando literalmente as culturas e patrimónios nacionais e deixando-os em escombros irreconhecíveis.
Num processo conexo, as condições legais e contratuais da exploração do trabalho debilitaram-se e atomizaram-se, subalternizando os direitos do trabalho aos "direitos" da propriedade dos meios de produção. Assistiu-se à generalização dos modelos sociais de organização da produção assentes na "flexibilização laboral", conduzindo à derrota e à resignação milhões de assalariados que viram ser violadas e destruídas conquistas e direitos seus antes conquistados aos exploradores, ao longo da vida e das lutas de várias gerações proletárias. Ludibriados pelo falso brilho de uma "modernidade" triunfante e inevitável, trabalhadores dos serviços, quadros técnicos, intelectuais e artistas assistiram, quase paralizados, à sua acelerada e brutal proletarização, com a perda de prerrogativas das quais, como camadas privilegiadas, anteriormente tinham usufruído.

Nesta caminhada forçada para a globalização, imposta "manu militari" e pela manipulação e mistificação ideológicas, os povos chegaram ao ponto culminante destas transformações económicas, sociais, culturais e mesmo civilizacionais, com a transformação política globalizante dos seus Estados nacionais, transformandos em marionetes manipuladas às ordens de entidades políticas supranacionais e não-democráticas. Os Estados nacionais foram declarados mínimos e estritamente obrigados a exercer somente os seus poderes locais em nome e à disposição das imposições e interesses exclusivos do capital global.

Durante as últimas duas décadas e meia, temos assistido a um gradual mas violento processo de "desnacionalização" dos Estados. Por todo o mundo capitalista o capital lançou uma estratégia de desapropriação dos povos dos seus Estados e das suas soberanias nacionais. Intensificou, sob a sua batuta, os processos de integração económica e política regionais, criando ou reforçando estruturas políticas pluri-nacionais na forma de "Alianças" e "Organizações" ou "Uniões", como é o caso da UE no continente europeu, esvaziando e substituindo-se às constituições e edifícios legislativos dos países integrantes e chantageando os países candidatos a uma integração.

Organizações globais como o FMI e o Banco Mundial passaram a actuar com sobranceria, ditando tudo o que os países e Estados dependentes devem e não devem fazer, seja nas políticas internas, seja nos seus posicionamentos internacionais. As reuniões do G-8 e do G-20 ganharam novas "institucionalidades", visando tornarem-se foruns de articulação política da dominação dos países mais ricos sobre os mais pobres, perante a quase ausência de reacção por parte dos últimos.

Nos centros de comando ocultos do imperialismo, já se planeiam novas agregações e federalizações de países em várias regiões e continentes, com um mesmo e único objectivo: espoliar os povos do indeclinável direito às suas independências políticas e às suas soberanias nacionais, da liberdade de organizarem e gerirem as suas sociedades de acordo com a exclusiva vontade e decisão dos seus povos.

Nas relações e no direito internacionais, a ONU e o seu Conselho de Segurança são paulatinamente transformados em meros executantes das ordens do capital transnacional, sancionando todas as operações de esbulho e saque das riquezas nacionais dos povos e todas as operações militares do imperialismo de agressão, genocídio e ocupação colonialista/imperial dos países que não aceitem cumprir caninamente as directrizes do sistema capitalista global.
Em simultâneo, os governos de serviço e a mando do capital passaram a justificar as suas políticas anti-populares e de traição nacional com pretexto nas "tendências" de um mirífico e indeterminado "mercado global" - hoje uma designação quase deificada -, propagandeando adentro dos seus países a necessidade de submissão aos ditames daquelas organizações "globais" e estimulando ainda mais a resignação dos cidadãos e a sua aceitação passiva das terríveis consequências sociais e humanas da sua sujeição à globalização capitalista.

Uma política de desmantelamento dos serviços públicos e a privatização desenfreada e selvática do património e das riquezas nacionais de cada povo assumem o carácter de orientações globais sem alternativa. Paralelamente, a componente mais agressiva e globalizada do capital - a oligarquia financeira-especulativa - passa a determinar os rumos das políticas económicas, financeiras e cambiais dos Estados, em detrimento dos segmentos do capital produtivo, da criação autónoma de riqueza e do desenvolvimento independente das economias nacionais.

Antecipando a inevitável resistência dos povos e as lutas sociais que se vão intensificando, teorias aterrorizadoras são diariamente propaladas sobre as camadas sociais mais vulneráveis acerca de supostas "ameaças terroristas", conduzindo-as à ilusão psicopática de se considerarem permanente ameaçadas e potenciais alvos de violências, um estratagema que vai pavimentando o caminho para a aplicação de políticas de repressão e violação das liberdades e "justificando" os novíssimos métodos de governação neofascistas. No âmbito das organizações pluri-nacionais criadas, são constituídos corpos policiais repressivos, autorizados a agir sem limitações fronteiriças. As forças armadas nacionais são enquadradas por estados-maiores além-fronteiras e submetidas a doutrinas de intervenção na área da segurança interna, contra os clássicos "inimigos internos" dos velhos manuais militares estadunidenses.
(conclui no próximo post)

1 comentário:

A CHISPA ! disse...

Caro Filipe

Vou deixá-lo com a parte final da intervenção que Karl Marx fez em 1848 numa conferência sobre a divisão internacional do trabalho e sobre livre concorrência .Para que veja como a sua opinião traduzida neste texto é contrária à de Marx.
Passo a citar:
"Não penseis, senhores, que,fazendo a critica da liberdade comercial,temos a intenção de defender o SISTEMA PROTECCIONISTA.
Pode-se ser inimigo do regime constitucional, e não se ser por isso amigo do antigo regime.
Aliás, o sistema proteccionista é apenas um meio de estabelecer num povo a grande industria, isto é fazê-lo depender do mercado do universo, e a partir do momento em que se depende do mercado do universo depende-se já mais ou menos do livre câmbio.Para além disso, o sistema protector contribui para desenvolver a livre concorrência no interior de um país.É por isso que vemos que nos países onde a burguesia começa a fazer-se valer como classe, na alemanha,por exemplo, ela faz grandes esforços para termos direitos protectores. Eles são para ela armas contra o feudalismo e contra o governo absoluto, são para ela um meio de concentrar as suas forças, de realizar o livre- câmbio no interior do próprio país.
Mas em geral, nos nossos dias, o sistema protector é CONSERVADOR, enquanto que o sistema do livre-câmbio é DESTRUIDOR.
Dissolve as antigas nacionalidades e leva ao extremo o antagonismo entre a burguesia e o proletariado.Numa palavra,o sistema da liberdade comercial apressa a REVOLUÇÃO SOCIAL.
É apenas neste sentido revolucionário, senhores, que eu voto a favor do livre-câmbio."

O texto integral desta intervenção,encontra-se na parte final do livro "A Miséria da Filosofia" Edições "Avante"

Espero que depois de ter lido ou relido este texto, compreenda finalmente, até que ponto as teses da "revolução democrática e nacional" são um documento revisionista, contrário aos interesses da Revolução e aos interesses do proletariado e como servem os interesses da burguesia nacional.

Quanto ao resto do seu texto: Sobre o anti-globalismo e o dito neo-liberalismo e sobre os sectores que menciona que estão "brutalmente" a ser proletarizados, brevemente lhe darei a minha opinião.

Um abraço para si,Filipe
"achispavermelha.blogspot.com"
A CHISPA!
NOTA: se quiser discutir e aprofundar este assunto, aqui lhe deixo de novo o meu e-mail "jotaluz@gmail.com"