SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O adiamento do exercício por um dia compensou, pois estão já publicados os balanços estatísticos e as conclusões políticas finais do Forum Social Mundial. Retomemos então o que vinha dizendo quanto à contraditória similitude do FSM com a cimeira do grande capital em Davos.
Segundo os organizadores, participaram neste FSM 115.000 pessoas, em representação de 5.808 organizações e entidades oriundas de várias partes do mundo, sendo cerca de 4.200 delas da América Latina, naturalmente.
A par da palavra de ordem do evento - "Outro mundo é possível" - surgiu também a consigna nova "Globalizemos a esperança", que se compreende estejam ligadas pelo mesmo propósito de transmitir/exprimir um voto de unidade entre todos os participantes e de aspiração a uma mudança progressista, contra a única globalização real - a capitalista. Também nas assembleias (22) finais de encerramento são abundantes as proposições contra o actual estado do mundo e dos povos, patentes nos seus próprios nomes: assembleia dos direitos dos povos e nações sem estado, da Paz, frente à crise impulsionar o forum permanente, da ciência e democracia, pan-amazónica, do combate à corrupção e à impunidade, das mulheres, da recuperação dos bens comuns, da água, da crise da civilização ocidental capitalista, dos povos indígenas, das crianças e adolescentes, da ciência e democracia, da economia social e solidária, dos movimentos urbanísticos, das negras e dos negros, contra a guerra, bases militares e armas nucleares, dos direitos humanos, da cultura e educação, da comunicação compartilhada, das pessoas com deficiência, da justiça climática.
Espero ter conseguido mencionar todas correctamente, acrescentando a finalizar a assembleia dos movimentos sociais, cuja declaração suponho ser a mais politizada de todas. Sob a consigna (já bastante conhecida) que declara "Não vamos pagar a crise, os ricos que a paguem", nela se enuncia que "Para fazer frente à crise são necessárias alternativas anti-capitalistas, anti-racistas, anti-imperialistas, feministas, ecológicas e socialistas". Entretanto, no seu articulado de análise-proposta-luta, nas críticas ao sistema capitalista, na solidariedade com os povos sujeitos às agressões do imperialismo, como também nos objectivos que enumera para a luta - "luta social de massas", que também afirma ser insubstituível - encontram-se numerosos pontos coincidentes com aqueles que nós, comunistas, igualmente vimos defendendo e afirmando.
Nesta resolução, que parece pelo seu articulado ter origem em organizações latino-americanas, muito moralizadas pela presença dos cinco presidentes, igualmente se afirma o socialismo como a única solução para a crise actual, terminando com o enunciado de várias datas, períodos e aniversários, para unificar a luta no plano mundial. O momento político da realização desta edição do FSM, marcado pela crise capitalista global e por numerosas lutas nacionais, proporcionou-lhe uma radicalização de posicionamentos e conclusões bastante significativa. Neste quadro, quais as razões das suas debilidades, que razões podem explicar a incapacidade do FSM para concluir e apontar o caminho para a saída desta crise sistémica do capitalismo?
Notoriamente, por três razões principais. Em primeiro lugar, a agenda dos debates, deliberadamente vasta e múltipla. Na sua vastidão reside, contraditoriamente, a capacidade de atracção sobre os participantes e a incapacidade de unificar o seu conteúdo sob um mesmo objectivo político. Em segundo lugar, os interesses contraditórios patentes na multiplicidade de tipos de organizações presentes, suas consignas e objectivos, em muitos casos visivelmente mais interessadas no seu próprio protagonismo. Em terceiro lugar as diversas origens de classe dos participantes, organizações e entidades representadas.
Aparentemente, considerando que entre os participantes não estavam monopolistas, grandes burgueses e imperialistas, tal como não deveriam estar os seus representantes e agentes, e, bem pelo contrário, a esmagadora maioria desses cem mil participantes eram trabalhadores e representantes de populações exploradas e de povos indígenas, aparentemente dizia, seria fácil avançar com um programa de acção política imediata que, mergulhando fundo nas raízes e nas causas da situação mundial actual, identificasse o grande capital internacional como o réu, declarando a sua condenação e decidindo apontar a construção de um novo sistema social e político de plena liberdade, verdadeiramente emancipador das pessoas e dos povos - o socialismo.
Como sabemos, não foi assim que terminou este FSM, aliás como todas as suas anteriores edições. Tal como em Davos, não obstante a diametral oposição das posições expressas num e noutro, em Belém do Pará nenhuma resolução unificadora foi tomada pelo conjunto dos presentes.
O que fica dito em nenhum ponto visa condenar a generalidade das entidades, organizações e pessoas participantes no FSM, decerto sinceramente empenhadas na construção de um mundo novo, liberto da opressão e das humilhações que a exploração de um sistema capitalista - predatório, agressor, criminoso e anti-humano -, na sua fase imperialista final, vai ainda fustigando os povos do mundo inteiro. O que se pretendeu foi simplesmente colocar em contraste dialéctico estes dois eventos, de impacto mediático mundial, assinalando a sua comun incapacidade, perante a gravidade da situação e confrontados com a crescente e iniludível aspiração dos trabalhadores e dos povos a uma mudança radicalmente transformadora.
A finalizar, uma última e fundamental conclusão: a verdadeira mudança, de fundo, só os partidos operários, os partidos marxistas-leninistas podem e têm como dever apontar e dirigir, com as suas orientações políticas e com as suas lutas. Neste FSM, tiveram lugar intervenções em representação de alguns dos PCs que estiveram presentes. Pela sua actualidade, vale a pena analisá-las e reflectir sobre o seu conteúdo.

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