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domingo, 11 de julho de 2010

A correlação de forças e a luta actual pelo socialismo (IV)

Confrontados com uma violenta ofensiva do capital multinacional, os trabalhadores de vários países europeus vêm intensificando as suas lutas, não obstante as diferentes condições e características dessas lutas. Luta-se na Grécia, em Portugal, em Espanha, na França, na Itália, na Roménia, na Grã-Bretanha, sendo ainda visíveis mobilizações noutros países.
Nos post's anteriores, foram abordados numerosos aspectos sobre uma correcta avaliação da correlação de forças existente numa dada situação, bem como a imperiosa necessidade de os revolucionários não se deixarem enredar na campanha ideológica dos inimigos de classe, sempre apostados em difundir uma ideia distorcida da realidade e favorável aos seus objectivos. A esta actividade diversionista e mistificatória do seu inimigo de classe, respondem as forças operárias europeias - sindicatos e partidos - em contextos diversos de unidade e mobilização.
Assim, as correlações de forças são muito influenciadas pela actividade e pelos correctos posicionamentos de classe de sindicatos e partidos, contrapondo-se à acção divisionista das correntes sindicais reformistas, sejam as social-democratas, as de direita ou as esquerdistas, todas elas apostadas na conciliação e na co-gestão do sistema com base em colaboracionismos de colorações várias, umas objectivamente e outras mesmo subjectivamente aliadas com o capital.
Nas últimas semanas, com a grande manifestação em Lisboa, a 29 de Maio, e com a nova greve geral do PAME grego, a 29 de Junho, e a convocação para a passada quinta-feira (8/7) de novas lutas nos dois países, com a realização de importantes manifestações da CGTP em várias capitais de distrito em Portugal, e, com a realização da 13ª. greve em sete meses (!) pelos sindicatos organizados no PAME na Grécia, também com manifestações em seis dezenas de localidades, ficaram de novo evidentes as enormes potencialidades da luta de massas nos dois países e a real perspectiva da sua intensificação e alargamento a novos sectores operários, bem como a possibilidade concreta de atrair para a luta várias camadas intermédias da pequena burguesia, também violentamente atingidas por este ataque concertado dos governos do capital presentemente em curso na EU. Tornou-se evidente que a luta de classes na Europa, no momento actual, tem no proletariado grego e português os seus destacamentos mais avançados.
Entretanto, e um pouco paradoxalmente, avaliando o desenvolvimento das lutas populares nos dois países nos últimos anos, enquanto em Portugal estão presentes melhores condições de partida para a sua intensificação, é na Grécia que a luta assume no presente contornos mais radicais e avançados. Uma maior violência relativa das medidas de extorsão, desencadeadas pelo governo grego, explica em parte este quadro diferenciado. Mas parece insuficiente ficarmos por aqui. Tentar perceber porque é assim tornou-se um exercício necessário e útil, tanto para o Movimento Operário como para os comunistas, não só para os portugueses mas também para os Movimentos Sindicais e PC's em geral, as duas áreas fundamentais e primeiras responsáveis pelo desenvolvimento da luta social e da luta política de classe.

Contrariamente ao que ocorre com o Movimento Sindical português, fortemente unificado pela CGTP e com uma UGT "amarela" minoritária e quase circunscrita a alguns dos sectores de serviços, o sindicalismo grego vive uma situação de muito maior dispersão e divisão, com grandes sindicatos e confederações dirigidos por correligionários do partido do governo, outros por esquerdistas e outros ainda por activistas de partidos de direita.
Por exemplo, no que respeita aos sindicatos do funcionalismo público, um sector que na Grécia está dominado pelos "socialistas" do PASOK, com uma confederação (a ADEDY) vergonhosamente detentora de um historial colaboracionista de décadas, em Portugal e desde a sua criação, em 1975, nos sindicatos da função pública sempre foram eleitas direcções com fortíssima presença de comunistas e de amigos e simpatizantes do PCP. Constituindo um fenómeno político relevante, a confirmar um trabalho sindical notável ao longo destes últimos 35 anos, nem o PS, nem o PSD/CDS, nem os esquerdistas, em nenhuma das numerosas eleições realizadas até hoje apresentam sequer listas de oposição às listas unitárias de classe! Não obstante algumas contradições e dificuldades existentes no seu seio, resultantes da presença de três dezenas de sindicatos de diferentes profissões - desde auxiliares e operários até aos investigadores e professores universitários - a Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública é uma forte e coerente organização de classe, constituindo um segmento essencial na orientação e na actividade da CGTP-IN.

Quanto aos partidos operários grego e português, actuando em países com dimensões territoriais e populacionais muito semelhantes, como os principais responsáveis políticos pela mobilização e dinamização das lutas em marcha, devemos anotar, muito rapidamente: diferentemente do histórico do PCP, que conta quase noventa anos de existência ininterrupta e que, não obstante diversos períodos de desvios oportunistas, se manteve firmemente fiel aos seus objectivos políticos de classe (inclusive nos 48 anos de clandestinidade), o KKE, sendo igualmente um partido com um histórico de firmeza e combatividade (com uma grande galeria de mártires na luta revolucionária do pós-II Guerra Mundial), viveu nos anos recentes um percurso bem mais acidentado, tendo mesmo enfrentado em 1990 uma cisão grave (após uma outra, nos anos sessenta), com o afastamento de quase metade dos anteriores membros do CC e uma profunda reorganização e reposicionamento político do partido.
Acaba de ocorrer na última semana, a convite do PC Grego, um encontro entre os dois partidos, em Atenas. Trata-se de uma iniciativa importante, tanto pelo reforço dos laços de solidariedade internacionalista que afirma como pela troca de informações e experiências entre ambos que decerto permitiu realizar, no actual contexto de elevação do nível político das lutas em curso nos dois países.

Vejamos então agora alguns factores que influenciam - positiva e negativamente -, deste ponto de vista das organizações políticas de classe, as correlações de forças existentes em ambos os países e que determinam, não obstante as suas grandes semelhanças, momentos e desenvolvimentos diferentes das respectivas lutas de massas. Os pontos principais deverão estar relacionadas com:
- a) a orientação política de classe e os posicionamentos na luta dos Movimentos Sindicais respectivos;
- b) o posicionamento nas lutas e a actividade político-ideológica dos partidos operários.
O desenvolvimento ulterior das duas situações nacionais dependerá, em grande medida, das formas como esses posicionamentos e actividades evoluírem e se desenvolverem.

Quanto à primeira razão - a actividade dos sindicatos - as sucessivas greves gerais na Grécia, a par da combatividade e dimensão das manifestações de rua, evidenciam a existência de sindicatos muito combativos, com uma intervenção muito determinada e aguerrida, bem evidente na concretização de firmes piquetes de greve e na ocupação de edifícios de organismos do Estado, tal como nos visíveis e robustos serviços de ordem nos desfiles e concentrações. Torna-se óbvio que esta actividade dos sindicatos do PAME conta com o apoio claro e empenhado do PC Grego e é o resultado evidente de uma boa ligação com os sectores de actividade e os trabalhadores que participam nas lutas.

Em Portugal, o Movimento Sindical Unitário, não obstante a sua fidelidade de classe, demonstra estar mais "pesado" quanto à sua movimentação social e capacidade mobilizadora. Quadros sindicais valorosos, fustigados ao longo de muitos anos pela política de direita - em muitos casos, há mais de vinte e mesmo trinta anos - denotam grande desgaste, um visível cansaço político que se traduz, em muitos casos, em metodologias rotineiras, práticas administrativistas, uma deficiente ligação aos locais de trabalho e aos trabalhadores, ligação esta que é decisiva e indispensável para os informar, unir, persuadir e mobilizar para a luta.
Fenómenos reformistas como o da Auto-Europa não se explicam somente pela eficácia da acção divisionista do patronato, acolitado pela CT maioritariamente dirigida pelos "esquerdistas" do Bloco de Esquerda; neste caso, como afinal em todos os casos, sem subestimarmos as capacidades e meios do inimigo de classe, os insucessos (tal como os sucessos), nunca são resultantes de uma mão única - também a actividade (ou inactividade) dos sindicatos unitários e do Partido, por erros e insuficiências próprias, contribuem indirectamente para os êxitos temporários desta administração empresarial capitalista.

Pela discussão e avaliação colectiva e fraterna, torna-se necessária uma viragem na metodologia e no estilo da actividade de muitos quadros e sindicatos. Os processos de renovação e rejuvenescimento têm de ser mais decididos e corajosos, encontrando-se soluções para os aspectos humanos e não aceitando que estes adiem e prejudiquem as soluções necessárias. No plano nacional - CGTP - tornam-se ainda mais urgentes tais processos, designadamente ao nível dos seus organismos executivos (Comissão Executiva e Secretário-Geral).
Concepções de trabalho, métodos e práticas de funcionamento, visão de classe quanto à imperiosa urgência de uma viragem na actividade de ligação aos sindicatos, aos sectores de actividade, aos grandes locais de trabalho, à massa dos trabalhadores representados, são aspectos inadiáveis. A concertação social é um conceito da burguesia, posto em prática pelos seus sucessivos governos e totalmente alheio às práticas de dirigentes sindicais com consciência de classe. Os processos negociais são um meio e um instrumento da luta e não um fim para a actividade sindical. A política dos sindicalistas de classe é a política do proletariado, a cada momento e em todas as circunstâncias, estando-lhes ainda vedadas todas as pretensões individualistas de promoção social ou política. Os seus verdadeiros amigos são os trabalhadores, os únicos credores da sua fidelidade fraternal e não outros líderes sociais e políticos ligados aos interesses do capital. O tempo principal das suas vidas deve ser dedicado aos interesses de classe dos assalariados, rechaçando convites para eventos e actividades que deles claramente divergem. As vantagens materiais ou mordomias sociais devem ser energicamente combatidas. A justa política de unidade dos trabalhadores não comporta a "unidade" com sectores divisionistas e conciliatórios, mancomunados com o grande patronato e com os seus governos. As reivindicações dos trabalhadores - aumentos salariais, defesa e alargamento dos direitos, garantia de novas conquistas contratuais, exigência de outras políticas aos governos -, todas devem ser construídas, afirmadas e defendidas com justas e acertadas bases técnicas e fortes argumentos, com a mais robusta e certeira informação, a par da mais profunda convicção e máxima determinação para as afirmar, exigir e alcançar.
Quanto à segunda razão - a actividade dos partidos operários - a sua componente ideológica vem assumindo uma importância crescente.
O PC grego parece firmemente engajado no combate ideológico às concepções e às práticas reformistas e revisionistas, desenvolvendo uma actividade notória para afirmar os seus ideais socialistas e comunistas. Defrontando corajosamente as manobras e campanhas anti-comunistas que se têm intensificado nos últimos tempos, opondo-se à acção que tanto o falso social-democrata PASOK como a direita conservadora tradicional desenvolvem, com o objectivo de mistificar a realidade e justificar/impor as medidas de extorsão contra os trabalhadores e outras camadas laboriosas, levanta orgulhosamente e com coragem a bandeira do Socialismo, afirmando-o como a verdadeira alternativa ao quadro de retrocesso civilizacional que está perigosamente em marcha na Grécia.
O PC português, no seu XVIII Congresso, realizado no final de 2008, definiu a actividade ideológica como uma prioridade para a sua actividade no presente período da sua luta revolucionária, tanto pela necessidade de dar combate às mistificações históricas e ideológicas, operadas pelo inimigo de classe, como pela urgência de relançar as ideias revolucionárias da indispensável construção do Socialismo. No presente, esse reforço e intensificação do trabalho ideológico surge ainda mais indispensável e instante.
Perante o caminho para o desastre nacional que a actual ofensiva do governo "socialista" acarreta, os comunistas e os revolucionários carecem de uma sólida base ideológica para o seu combate político. Afirmar a necessidade de uma ruptura democrática, patriótica e de esquerda, para ultrapassar vitoriosamente a actual etapa reaccionária e autoritária de recuperação capitalista, em curso em Portugal, não supõe a ocultação ou subalternização da ideia do Socialismo, antes exige uma grande clareza na sua afirmação como o objectivo histórico pelo qual devem lutar os trabalhadores portugueses, objectivo tornado actual e possível de conquistar na nossa época.
Nos dois países, esta firme sustentação ideológica do carácter irrecusável e indispensável do Socialismo é um poderoso suporte para a luta política, passando a assumir uma grande importância no desenvolvimento ulterior dos actuais estágios da luta de classes. Na sua afirmação determinada junto dos assalariados, na sua constante presença em todas as lutas sociais e políticas, na actividade dirigida às camadas sociais aliadas, a divulgação das ideias para a construção de uma sociedade nova e socialista é a mais sólida sustentação para trazer à unidade e à luta todos aqueles que hoje estão a ser atingidos violentamente pela ofensiva do sistema capitalista em curso. A crise do capitalismo no mundo, as suas manobras e mistificações intimidatórias, os seus riscos e ameaças reais, não serão ultrapassados e vencidos sem uma firme e vigorosa "âncora" ideológica no sistema que é a sua única e verdadeira alternativa histórica contemporânea - o Socialismo.
Para terminar e relembrando ideias já tratadas nos três post's antecedentes: uma correlação de forças é a resultante de um processo dinâmico e dialéctico, na qual intervêm - mais ou menos, melhor ou pior - todas as forças que se confrontam na luta de classes. Se é de facto assim, então - mais e melhor -, "Façamos nós por nossas mãos, Tudo o que a nós diz respeito!"

3 comentários:

lp16 disse...

Exacto, o Movimento Sindical de Classe tem de estar intimamente enraízado no Proletariado e na sua Luta, tirando vantagem das convulsões do Capitalismo, usando estes períodos de "depressão económica" como impulso mobilizador de massas..
Greves, Manifestações, Acções de Rua, Piquetes nos locais de trabalho, eventos nos Bairros, Vilas e Cidades e demais iniciativas são a chave para um Sindicalismo comprometido com a Luta de Classes..
É na Ruas que reverberará o eco do Proletariado.. OUR DAY WILL COME.

A CHISPA ! disse...

Caro Filipe
O seu texto apesar de apontar o dedo a alguns figurões da nossa praça sindical e até aos orgáos executivos da CGTP, não deixa de ser um texto que oculta as verdadeiras razões da prática politica partidária e sindical reformista,como em si é contraditório.
Como é possivel defender que a CGTP tem uma prática sindical de classe e "fiel" aos interesses dos trabalhadores, quando depois defende de forma pacífica, para não se criar ondas de resistência o afastamento "humano" de todos aqueles que ao longo destes 35 anos, têm tido uma intervenção colaborante com os vários governos e têm como eixo central da sua actividade, a sua promoção social,e uma politica de DIÁLOGO,de CONCERTAÇÃO e de COLOBORAÇÃO de CLASSES no orgão de concertação social "criados pela burguesia" com o fim de melhor segurarem os interesses da classe capitalista.
Mas esta prática que o Filipe condena não foi feita em nome da CGTP? Como foi possivel a CGTP se ter mantido fiel aos interesses de classe dos trabalhadores,quando os ditos dirigentes deixaram ir por água abaixo os direitos conquistados pelos trabalhadores, sem que houvesse uma oposição firme e combativa?
Como é possivel fazer comparações com a PAME, quando esta tem uma actividade inteiramente anti-capitalista na defesa do seu proletariado e a CGTP ter uma prática não de condenação do capitalismo, mas de censura às formas politicas como o governo gere o capitalismo.
Enquanto a P.A.M.E. mobiliza os trabalhadores, contra a totalidade das medidas anti-sociais e anti-laborais do governo grego e em Portugal a CGTP apela ao BOM SENSO do governo e da classe capitalista e defende uma melhor EQUIDADE dos custos da crise?
Caro Filipe
A mesma diferença se coloca em relação ao partido grego e porquê? Porque um vasto grupo de revolucionários no interior do partido, souberam conduzir um enorme processo ideológico,em torno da degenerescência da União soviética e do campo socialista e ao processo de degenerescência em que o seu partido esteve envolvido,processo esse que teve início muito antes de 1990, mas que culminou precisamente nesse ano,não com uma cisão como refere, mas com a expulsão de um grupo numeroso de oportunistas revisionistas,aprofundando a sua auto-critica em relação ao seu passado vergonhoso e revisionista rejeitando as teses Khrushchovistas de transição pacífica para o socialismo e de colaboração com o imperialismo, construindo um novo programa revolucionário que tem como eixo central da sua politica estratégica a luta pela Revolução Socialista e pela Ditadura do Proletariado, transformação esta que o PCP não conseguiu fazer, mantendo o seu anterior programa, onde continuam a permanecer as FAMOSAS teses de transição pacífica e constitucional para o "socialismo", onde a sua táctica reside numa dita Ruptura Democrática,Patriótica e de Esquerda,(pacifica) no quadro de uma Democracia Avançada,limitada a uma economia anti-monopolista, onde os interesses da pequena e média burguesia estejam assegurados e onde os trabalhadores continuam a ser explorados.
Dado que os quadros do partido e sindicais velhos e novos foram e são formados de acordo com estas teses é perfeitamente natural que hajam de acordo com a formação que obtiveram, tenham uma prática politica sindical reformista e colaboracionista, onde para eles as acções de massas, não são para fazer recuar os propósitos reacçionários do governo, mas antes exigir o direito da NEGOCIAÇÃO.
Quanto aos encontros a convite do KKE, e dado as simpatias que os militantes mais conscientes do PCP, têm pela politica revolucionária e combativa do Partido Grego, só esperamos que dê bons frutos e que os militantes levem a cabo o trabalho necessário, que os comunistas Gregos já fizeram em 1990.No qual pensamos que o Filipe pode ter um papel muito activo e interessante.

Um abraço para si Filipe.
"achispavermelha.blogspot.com"
"A CHISPA!"

el comunista disse...

em relação ao comentário anterior, onde se lê "quando depois defende de forma pacífica para não se criar ondas de resistência o afastamento humano" Deve-se lêr:
quando depois defende que se deve afastar tais indíduos de forma "humana" afim de se evitar resistências quanto ao seu afastamento de todos aqueles que ao longo destes 35anos...

Desculpem o lapso e o incómodo que vos possa causar.
A CHISPA!