Grandes transformações políticas estão em curso nos países árabes mediterrânicos. Inicialmente na Tunísia e surpreendendo o mundo, eclodiu uma revolução popular que fez fugir precipitadamente Ben Ali, um presidente apoiado pelos EUA e outras potências imperialistas "ocidentais" (Israel, França, Itália e outras), contrariando as expectativas dos defensores do "status quo" imperialista, sempre activos propagandistas da "pax americana" vigente. Como um rastilho, as manifestações populares sucederam-se e prosseguem no Líbano, no Iémene, na Argélia e, nestes últimos dias, no Egipto.
De novo um acontecimento dramático, protagonizado por um jovem tunisino desesperado - Muhammad Bouazizi - que decide suicidar-se imolando-se pelo fogo, transforma o seu autor num mártir/herói nacional e bandeira para os jovens árabes dos países limítrofes, mobilizando-os em grandes manifestações que rapidamente adquirem contornos de insurreições e revoluções populares em numerosas cidades, fazendo tremer os regimes pró-imperialistas da região.
Não é possível antecipar os próximos desenvolvimentos políticos destas insurreições de expressão nacional nos países árabes envolvidos e menos ainda o seu crescente poder de "contágio" noutras regiões do mundo islâmico. Mas é evidente o temor que percorre as chancelarias do mundo capitalista "ocidental". Perante a estupefação dos governos capitalistas, nomeadamente na U.E., assiste-se a manobras de emergência do Governo estadunidense e a declarações de descarada ingerência por parte de Hillary Clinton e, hoje mesmo, do próprio Barak Obama. As grandes cadeias televisivas ao serviço do imperialismo difundem insistentemente para todo o mundo sob o seu domínio ideológico a ideia do caos, como contra-ponto à paz tumular antes vigente naqueles países. Com Hosni Mubarak já abandonado pelos seus "fiéis" aliados e com um novo títere em perspectiva para o Egipto - Al Baradei, um personagem de confiança dos "states" na inventona das "armas de destruição maciça" no Iraque e, depois, nas ilegítimas pressões sobre o programa nuclear iraniano - , o que se irá passar na Arábia Saudita e nos outros países do Golfo Pérsico? Os próximos dias mostrarão novos desenvolvimentos destes acontecimentos insurrecionais, tanto nos países citados como eventualmente em outros do Médio Oriente e da Ásia Central.
Para nós, povos europeus do sul mediterrânico, também fustigados pela repressão de classe dos governos de turno ao serviço do grande capital transnacional, a solidariedade activa com os povos do norte de África é um dever indeclinável e uma tarefa imediata para todas as forças revolucionárias, seja qual venha a ser a evolução e os desenvolvimentos ulteriores do quadro actual.
E para todos nós - portugueses, gregos, espanhóis, italianos, franceses, irlandeses, etc - a mensagem que nos enviam os nossos povos irmãos de infortúnio na nossa comum sujeição aos ditames do imperialismo, é uma mensagem bem forte e bem clara: será pela intensificação da luta de classes nas ruas - tal como nas fábricas, nas empresas, nos locais de trabalho e de exploração - que alcançaremos a ruptura patriótica e popular que finalmente imporá o derrubamento dos regimes corruptos e anti-democráticos que, acobertados há muito em esgotadas "democracias" burguesas, exploram, reprimem, humilham e infelicitam os povos das margens norte do nosso comum Mediterrâneo.
Os tempos actuais exigem profundas mudanças na situação dos países e nas condições de vida dos povos. No nosso país, os recentes episódios de repressão policial sobre trabalhadores que se manifestavam pela defesa dos seus inalienáveis direitos, são também - pela negativa - um sinal claro destes tempos de mudança. Nos estreitos limites das democracias burguesas vigentes, dentro das violentas baias que diariamente nos impõem, para nos cercearem e liquidarem as liberdades sindicais e políticas, não haverá nunca a solução democrática e patriótica de esquerda que propugnamos para o nosso povo. Tal como o 25 de Abril foi conquistado nas ruas, também a profunda mudança que a situação actual nos exige será fruto da luta determinada e corajosa dos trabalhadores e dos patriotas, exigindo nas ruas o fim do regime actual e a instauração de um regime político autênticamente democrático, enfim cumpridor dos propósitos originais da nossa Revolução de Abril.
Tal como no seu passado recente, o povo português - o nosso povo -, saberá seguir os exemplos actuais de combatividade dos povos árabes nossos vizinhos do oriente sul. E isso reclama-nos muita determinação, muita decisão corajosa, uma atitude verdadeiramente de vanguarda, em todas as condições e circunstâncias. "Carpe Diem".
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