SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Analisemos então o terceiro acontecimento do final de 2008, dos três escolhidos para esta reflexão.
Marcando indelevelmente o final do segundo mandato presidencial norte-americano, no dia 14 de Dezembro, perante as câmaras de televisão que cobriam a conferência de imprensa encenada para divulgar imagens de Bush na sua última visita à fortificada e super-protegida "zona verde", instalada pelas tropas dos E.U.A. na Bagdad ocupada, o mundo assistiu surpreso ao gesto de Muntazer al-Zaidi, repórter de um canal de televisão iraquiano (sunita), arremessando os seus dois sapatos à figura do presidente imperialista, ao mesmo tempo que proferia justas acusações e lhe chamava "cão". Após ser violentamente detido e objecto de agressões físicas, primeiro por agentes de segurança fingindo de jornalistas - foi visível nas imagens que, no espaço daquela sala, poucos dos presentes seriam de facto jornalistas - e depois espancado enquanto era levado para interrogatório, al-Zaidi continua preso e a aguardar julgamento por um tribunal do regime fantoche. Este seu gesto, que parece ser uma decisão pessoal, imediatamente desencadeou uma enorme onda de solidariedade por todo o mundo, especialmente no Iraque e em todos os países árabes e muçulmanos, com milhares de manifestantes saindo às ruas nos dias imediatos, considerando-o um herói, exigindo a sua libertação e usando também simbolicamente sapatos para bater em fotos de Bush, gesto que na cultura muçulmana constitui uma das maiores ofensas.
Este repórter já anteriormente tinha passado por outras experiências com o aparelho de repressão instalado pelos ocupantes do Iraque. Foi detido duas vezes pelos militares americanos, a segunda das quais no seu apartamento, que foi alvo de buscas, episódio que ocorreu dois meses após um outro semelhante, quando foi sequestrado por desconhecidos, vendado, preso e espancado, sendo interrogado durante três dias sobre o seu trabalho de jornalista, até ser posteriormente libertado.
Nas alegações do recurso que interpôs, reclamando o anulação do julgamento e obtendo o seu adiamento, que estava inicialmente marcado para 31/12, o advogado de al-Zaidi afirma que este, atirando os sapatos sobre o presidente norte-americano, "expressou apenas o seu repúdio à ocupação e à política de repressão contra os iraquianos", e que tal gesto "está dentro da liberdade de expressão" - uma das muitas liberdades que a propaganda do imperialismo prometia ao povo iraquiano. Certeiras palavras estas, as deste corajoso advogado iraquiano.

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