SÓ NÃO SE ENGANA QUEM CEDE AO MEDO DE CAMINHAR NO DESCONHECIDO - SÓ SE PERDE AQUELE QUE NÃO ESTÁ SEGURO DO RUMO QUE ESCOLHEU.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Considerados assim os três acontecimentos de 2008 escolhidos, tratemos agora de os debater conjuntamente com a questão que levou à decisão de criar este espaço de diálogo, isto é, a importância decisiva do factor subjectivo na acção revolucionária.

Para iniciar e como apoio das ideias que adiante procurarei desenvolver, quero transcrever um trecho contido numa importante - a vários títulos - entrevista que recentemente a Agência Bolivariana de Notícias fez ao investigador argentino Néstor Kohan e cuja tradução para português foi publicada em http://www.odiario.info/, em 15/12. A determinado passo da entrevista, na qual se discute o valor da ideia de revolução para este nosso século XXI, o entrevistado, ao valorizar a revolução cubana e o seu exemplo como inspiração para todos os revolucionários, afirma: "(...) não devemos ajoelharmos perante o culto cego e fanático das 'condições objectivas' (tão cultivadas pelos manuais do marxismo ortodoxo da antiga União Soviética, questionados ácida e mais que justamente por Fidel e por Che)".
Para o objecto destas linhas e por agora, a utilidade desta citação não reside tanto na avaliação negativa que o autor atribui a Fidel e a Che, quanto à teorização das "condições objectivas" pelos comunistas soviéticos, mas sim mais nas suas repercussões práticas na actividade dos PCs, quer no período da existência da União Soviética, quer tambem ainda na actualidade. Vejamos brevemente a experiência do PCP, designadamente toda a elaboração teórica que culminou nas decisivas resoluções do VI Congresso, quando o Partido apontou o caminho para o derrube do fascismo. Com efeito, à época predominavam as concepções do PCUS que, absolutizando a teoria da "coexistência pacífica" - justificando com o propósito de evitar uma nova guerra mundial - , tiveram como consequência as teses da impossibilidade da via revolucionária como objectivo político programático para os PCs. na Europa (e não só). Contrariando frontalmente os camaradas soviéticos, os comunistas portugueses analisaram as relações de classes na sociedade portuguesa, definiram a etapa da revolução democrática e nacional como anti-monopolista, anti-latifundista e anti-imperialista, apontando o caminho da insurreição popular para a liquidação do regime fascista. O Programa do PCP aprovado em 1965 constitui uma das mais brilhantes elaborações teórico-programáticas marxistas-leninistas contemporâneas, seja pela sua capacidade de análise, seja pela sua inteira fidelidade revolucionária aos interesses do povo e do país, seja pela capacidade revelada de apontar o caminho aos comunistas e à classe operária portuguesa, seja pelo seu poder de síntese, seja pelo conteúdo concreto que imprimiu a toda a actividade política dos comunistas e dos outros anti-fascistas identificados com as aspirações mais profundas do povo. A Revolução Portuguesa do 25 de Abril, nove anos depois, veio sancionar e confirmar essas análises e esse Programa hoje históricos. Anos esses nos quais foram necessárias muita coragem, firmeza, determinação, para manter e apontar esse caminho insurrecional, derrotando as concepções oportunistas no interior do país e defrontando a discordância e descrença de camaradas de outros partidos. A alegada ausência das necessárias "condições objectivas" estavam presentes no argumentário de uns e nas avaliações de outros. Aqui chegados, devemos deixar registados estes factos como uma importante e exemplar vitória do "factor subjectivo", naquela etapa revolucionária do povo português.

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